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O Jogo de Ripper, Isabel Allende e Bertrand Brasil

O Jogo de Ripper (El Juego de Ripper)
Isabel Allende - Bertrand Brasil
Tradução: Luís Carlos Sobral
490 páginas - Ano: 2014 - R$50,00

Sinopse:
"Depois de décadas sendo considerada pela crítica a maior escritora de literatura fantástica do mundo, Isabel Allende decidiu navegar por novos mares e escrever seu primeiro thriller: O Jogo de Ripper.
Mesmo sem colocar de lado características importantes como o foco nas relações entre os personagens e sua narrativa apaixonante, a escritora chilena criou uma trama repleta de suspense, cenários sombrios e, é claro, muitos assassinatos.
Allende traz a filha do inspetor-chefe da divisão de homicídios de São Francisco, Amanda, que adora tecer teorias sobre crimes sinistros e, também, ama o RPG online de mistério chamado Ripper. Quando ela decide averiguar, com auxílio de seus companheiros de jogo, misteriosos crimes investigados pelo pai, sua vida e de seus familiares começam a correr grande risco.
Além de ter conversado com agentes, detetives, legistas e escritores de thrillers, incluindo seu marido William Gordon, autor de cinco obras policiais, Isabel Allende passou meses estudando RPGs e o comportamento dos jovens que são aficionados por estes tipos de diversão. Para ela, a análise do comportamento humano nunca deixará de ser uma de suas principais preocupações."

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Resenha:
A Bertrand Brasil traz ao país um trabalho diferente da consagrada autora chilena Isabel Allende. Há alguns anos eu não lia uma obra dela e a editora me relembrou o quanto o talento da autora é único, incrível.
Após ultrapassar a marca de 60 milhões de exemplares vendidos, Allende segue por um novo caminho: O do suspense policial, sem jamais deixar de lado todas as características que a transformaram em sucesso entre o público.
A ideia inicial para O Jogo de Ripper (El Juego de Ripper) foi dada por sua agente literária. Esta sugeriu que Allende escrevesse um romance policial em parceria com seu marido, Willie Gordon, autor do gênero. Allende brinca que o projeto não deu certo por discordâncias e que, portanto, para o casal não se divorciar, preferiu escrever sozinha. Gordon limitou-se a auxiliar Allende na estrutura, enquanto uma neta a ajudou a conhecer o mundo do RPG (Role-Playing Game ou Jogo de Interpretação de Personagens).
Ripper é um RPG em que os jogadores se comunicam pela internet, incorporando as personagens criadas por si próprios. As características são bem definidas, próximas de seus autores e devem ser respeitadas ao longo do jogo. O objetivo é caçar e prender Jack, o Estripador em aventuras criadas por um mestre do jogo.
Mas algumas coisas foram modificadas. O cenário foi transferido da Londres de 1888 para a São Francisco de 2012. O alvo não é mais o Estripador, e sim um(a) assassino(a) em série em atividade e que vai matar a mãe da mestre do jogo!

Uma característica elogiável do livro certamente é a criação, o desenvolvimento e a interação das personagens. Pessoas realistas, complexas, ricas e instigantes. Em alguns momentos talvez possam parecer exageradas, mas na vida real, as pessoas são assim. Todos nós temos particularidades.
É inegável que a autora planejou todos os aspectos, o histórico e a personalidade de cada personagem do livro. Aponta as mínimas frivolidades como detalhes nos trejeitos e cotidiano.
Interessante a forma como Allende entrelaça tantas vidas com tamanha naturalidade. É uma quantidade considerável de pessoas em cena, protagonistas, personagens secundárias e figurantes.
O leitor não precisa ficar alerta com esse aspecto, apenas deixar a leitura fluir, pois o texto é muito natural. Não tem como se enrolar com o elenco, mesmo sendo amplo. Aos poucos fui me familiarizando com todos e ficando cada vez mais curiosa. Eu pressentia que essa era uma das peças fundamentais da obra.
Acompanhar o dia a dia dos indivíduos é essencial. Gostei dessa parte, porque foi envolvente e, repetindo, natural.
Clique para ampliar.
O mais curioso e divertido em relação às personagens é observar como formam um grupo multicultural. Várias nacionalidades, principalmente latino-americanas, estão presentes no livro. Tem até brasileiro. Essa mistura deixa a obra mais rica.

Temos dois ambientes em O Jogo de Ripper: o físico e o virtual, ambos influenciando o psicológico. O cenário físico é a cidade de São Francisco, nos Estados Unidos. Já o cenário virtual é composto pelos jogadores do Ripper, que utilizam a internet para se encontrarem. As ações em ambos os campos se fundem e criam a teia psicológica. O enredo é guiado por mistério, misticismo e violência.

O suspense típico dos livros policiais é bem-explorado por Allende através de assassinatos perturbadores. Cada homicídio é diferente e a polícia de São Francisco não acredita que estejam ligados a um serial killer, embora concorde que o enigma é tão grande que tudo possa ser possível.
O romance de Allende não é tão brutal e sanguinário quanto costuma ocorrer com muitas histórias policiais. Mas é um excelente thriller, porque o desenvolvimento ocorre aos poucos e vai ampliando a ansiedade e tensão, deixando o leitor psicologicamente desconfiado, curioso e aflito.
Desde o princípio sabemos que a mãe de Amanda Martín esta desaparecida. A menina necessita encontrar Indiana Jackson e tem uma certeza: O assassino mantém sua mãe em cárcere e a executará à meia-noite da Sexta-Feira Santa de 2012.
Falta muito pouco e a mestre do jogo Ripper está desesperada para convencer o Departamento de Homicídios de São Francisco de que os jogadores do Ripper não são apenas um grupo estranho de adolescentes nerds-geeks fanáticos por RPG. Eles têm a linha de raciocínio mais completa que a polícia.
Amanda possui acesso a todas as pistas e pormenores dos crimes porque é filha do inspetor-chefe das investigações, Bob Martín, ex-marido de Indiana. O pai tem dificuldade em acreditar na filha, por proteção paternal e por achar um tanto sinistra a fixação de Amanda por assassinatos em série, crimes e violência.
Mas a menina é inteligente, genial, instintiva.

Embora tenha escrito uma obra mais realista e crua, Allende é conhecida por ser autora fantástica. Portanto, uma pitada de misticismo paira no ar, e é percebida até pelos leitores mais incrédulos. Tudo possui uma explicação clara, mas as insinuações de carma e energia estão no livro, fica a critério de cada um interpretar as situações. Eu vi como um interlace entre ambas as versões, realidade e espiritualidade.
Mas esse não é o foco da história. Esta, mesmo sustentando um lado obscuro, não deixa de possuir bom-humor. Allende é irônica na narrativa em terceira pessoa e deixa estampado o sarcasmo em sua escrita.
Outra característica marcante é a mudança constante de ponto de vista, sempre sem perder o tom dinâmico. Desse modo, o leitor é convidado a conhecer o íntimo de cada personagem, principalmente a história de vida, formação da personalidade e sentimento / opinião sobre os acontecimentos da trama.
Cabe ao leitor não unicamente buscar desvendar as charadas e descobrir a identidade do(a) assassino(a), mas também julgar as personagens e suas atitudes no meio ao "banho de sangue" divulgado pela astróloga famosa Celeste Roko.

O cotidiano marca a obra e está diretamente ligado aos assassinatos. O que a primeira vista pode parecer frívolo, de repente torna-se grande surpresa. Allende caprichou nas personagens e mais ainda no final: é surpreendente. Quando chegou o momento das descobertas eu refletia se era aquilo mesmo, se eu estava lendo direito. Jamais imaginaria e fiquei mais que satisfeita com o desfecho. No entanto, um pouco de drama finaliza a história, para marcar mais ainda a parte sombria e eu fiquei um tanto abalada.
A estrutura do livro é bastante simples, porém eficiente. As primeiras páginas são reservadas a uma excitante introdução, apresentando um dos pontos do ápice e toda a ideia central da base. As últimas páginas trazem um rápido epílogo, dando algumas explicações e me deixando desamparada com o final.
O miolo é quase a totalidade da trama e seu desenvolvimento é estruturado em ordem cronológica. O livro é dividido em meses, de janeiro a abril. O que poderia ser chamado de capítulo é registrado como um dia.

A impressão que tive durante a leitura é que, embora Amanda seja a protagonista e estampe a capa do livro com seu rosto escondido em seu típico capuz, não existe um só protagonista. Arrisco dizer que o grupo de personagens principais carrega o título. Além de Amanda, seu pai, inspetor-chefe do Departamento de Homicídios, e sua mãe, massagista sensual e solícita, temos outros protagonistas.
O avô da menina, Blake Jackson, aspirante a escritor e ajudante da mestre do jogo sob o codinome Kabel, o fiel guarda-costas; o navy seal veterano de guerra e de consciência sofrida, Ryan Miller, e seu inseparável cão herói Atila; e o namorado de Indiana, o rico decadente Alan Keller.
Os integrantes do Ripper, além de Amanda (mestre do jogo) e Blake (seu ajudante), são: Um menino paraplégico da Nova Zelândia, preso a cadeira de rodas, mas com a mente livre. Ele assume o papel de uma cigana malandra e esperta, Esmeralda; do Canadá, uma jovem que luta contra transtornos alimentares é Abatha no Ripper, uma vidente que necessita de energias místicas e não físicas para suas habilidades; sob a identidade de Sir Edmond Paddington, militar experiente, está um adolescente de Nova Jersey que tem agorafobia, mas é perito em estratégias; e um menino afro-americano que é um super gênio, interpreta Sherlock Holmes e com seu excelente raciocínio, desvenda enigmas e quebra-cabeças com facilidade.
Dentre as personagens secundárias temos um garçom transformista, um brasileiro pintor, um uruguaio especialista em Inteligência Artificial , uma mulher com câncer terminal, um geólogo encabulado, uma etíope ex-modelo e ativista...
Mas minha personagem preferida é o Atila, "cão-soldado-paraquedista-ninja"!

São tantas pessoas diferentes, tantas histórias... É para viajar de verdade! Como descobrir o autor dos crimes? Será uma única pessoa? Todos estão ligados direta ou indiretamente à Clínica Holística em que Indiana trabalha... Quem a sequestrou? Por quê?
Descubra junto aos integrantes do Ripper!
Foi uma leitura irresistível que me deixou com dificuldades em prosseguir com outro livro.

Allende fala um pouco sobre o livro:




A autora:
Isabel Allende nasceu em 1942, no Peru, onde seu pai era diplomata. Viveu no Chile entre 1945 e 1975, com longos anos de residência em outros lugares, na Venezuela até 1988 e, a partir de então, nos Estados Unidos da América, Califórnia.
Iniciou a carreira literária como jornalista no Chile e na Venezuela. Em 1982, seu primeiro romance, A Casa dos Espíritos, tornou-se um dos títulos míticos da literatura latinoamericana. A eles se seguiram muitos outros, todos com grande sucesso internacional.
Os números de sua carreira impressionam: 20 livros, traduzidos para 35 idiomas, que ultrapassam os 60 milhões de exemplares vendidos. Possui 50 prêmios em mais de 16 países e inúmeras adaptações de suas obras para o cinema (incluindo 2 produções internacionais), teatro, rádio e musicais. Conta ainda com 14 doutorados.
Há mais de 25 anos luta pelos direitos femininos, tendo criado em 1995 a Isabel Allende Fondation. Além de palestrar como ativista social, Allende também realiza apresentações e seminários sobre política lationoamericana, processo criativo e espiritualidade.
Recentemente, recebeu o Prêmio Nacional de Literatura 2010, no Chile, e o Prêmio Hans Christian Andersen, em 2012, este último pela série As Aventuras da Águia e do Jaguar.

Links: Site | blog | FacebookTwitter | The Isabel Allende Fondation

2 comentários

  1. Com tanto elogios seus da autora fiquei curiosa.
    A trama ser desenvolvida a partir de um jogo de RPG dever ter dado um resultado ótimo. Gosto muito de policiais, então O Jogo de Ripper é pra mim.
    Ótima resenha! Bjs, linda <33

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    Respostas
    1. Oi, Dilza! Isabel Allende é muito boa, possui um estilo especial e tem um público de fãs vasto. Espero que goste do trabalho dela, mesmo sendo essa sua primeira obra de suspense policial, portanto, um pouco fora do comum e bem "Allende". Beijos ^^

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