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Mundo Novo, de Chris Weitz e Editora Seguinte

Mundo Novo (The Young World)
Trilogia Mundo Novo - livro 1
Chris Weitz - Editora Seguinte / Companhia das Letras
Tradução: Álvaro Hattnher
328 páginas - Ano: 2014 - R$29,90
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Sinopse:
"Neste mundo novo, só restaram os adolescentes… e a sobrevivência da humanidade está em suas mãos.
Imagine uma Nova York em que animais selvagens vivem soltos no Central Park, a Grand Central Station virou um enorme mercado… e há gangues inimigas por toda a parte. É nesse cenário que vivem Jeff e Donna, dois jovens sobreviventes da propagação de um vírus que dizimou toda a humanidade, menos os adolescentes.
Forçados a deixar para trás a segurança de sua tribo para encontrar pistas que possam trazer respostas sobre o que aconteceu, Jeff, Donna e mais três amigos terão de desbravar um mundo totalmente novo. Enquanto isso, Jeff tenta criar coragem para se declarar para Donna, e a garota luta para entender seus próprios sentimentos - afinal, conforme os dias passam, a adolescência vai ficando para trás e a Doença está cada vez mais próxima."

Resenha:
Mundo Novo (The Young World, 2014) é o volume um da trilogia escrita pelo produtor, roteirista e diretor cinematográfico Chris Weitz. Este é seu primeiro livro publicado e a Editora Seguinte, o selo jovem da Companhia das Letras, o trouxe ao Brasil no mesmo ano do lançamento em língua inglesa, ou seja, rapidez admirável.
A capa brasileira me agrada mais que a original. A ilustração é rica e traz personalidade, além de lembrar histórias em quadrinhos. Ajuda o leitor a já imaginar o visual que os adolescentes da trama apresentam, bastante peculiar. O crédito é do Kakofonia, gostei muito de conhecer seu portfolio. A cor do fundo é fluorescente e nenhuma imagem na web mostra bem o tom (nem a foto abaixo), que causa bom contraste com a ilustração em preto-e-branco. Quando aberta, o desenho fica completamente visível. Simplesmente adorei essa capa, durante a leitura pausava e procurava identificar as personagens.
A diagramação e revisão da Seguinte estão, como sempre, perfeitas. Páginas amareladas e duas fontes diferentes, de acordo com o narrador.


Mundo Novo é um título condizente com a realidade pós-apocalíptica que o mundo criado por Chris Weitz traz aos leitores. Um mundo novo, porque tudo mudou; os adultos e as crianças morreram após um surto mundial causado por um vírus desconhecido. Somente os adolescentes sobreviveram e sabem que assim que seus hormônios amadurecerem, morrerão: Todos estão contaminados! Um mundo novo, pois a sociedade como a conhecemos ruiu e uma nova organização e modo de vida surgiram. Um mundo novo, porque os sobreviventes não sabem o que aconteceu e suas consequências ainda estão sendo descobertas - e confrontadas. Mundo Novo é um bom livro, porém faltou novidade à criação de Weitz. Mundos violentos e desordenados formados exclusivamente por jovens não são inéditos na ficção.
A obra é um Young Adult (Jovem Adulto) pós-apocalíptico, mostrando dramas típicos da adolescência intensificados pela certeza da morte, pela dor do luto e da perda e pela inconstância e insegurança do cotidiano perigoso. Embora uma distopia, as características predominantes são as de Young Adult.
Através de um cenário urbano devastado, sujo e sombrio, adolescentes se organizaram em gangues e grupos complexos e tentam sobreviver sem adultos, leis ou governos. Não chega a ser uma distopia completa, mas apresenta algumas características do gênero.
Possui várias críticas sociais, principalmente sobre a sociedade jovem, e este é seu aspecto mais interessante e inteligente: A crítica ao consumismo desenfreado é excelente!
A opressão da elite sobre a massa popular está disfarçada. Neste primeiro livro não conhecemos um sistema governamental central, apenas líderes das gangues. Na principal, a tribo de Washington Square, a hierarquia é tranquila, os relacionamentos amigáveis e o líder é amado. Mas ao conhecermos outros grupos, percebemos que o abuso de poder existe em variadas formas. E ainda surge o embate entre as tribos, verdadeiras guerras. Faltou a obra alguns itens na construção da distopia, ou ao menos algum reforço. No entanto, a parte que mais valorizo em uma trama distópica, que é a tentativa de quebrar o sistema injusto / desolador pela personagem principal, está presente, mesmo que debilitado, poderia ser melhor. A esperança existe e um dos protagonistas deseja melhorar o mundo e a sociedade; no caso, a busca por respostas sobre o vírus e sua possível cura. Não é uma rebelião contra um governo, mas ainda sim o rompimento de um dos fatores principais que faz o mundo decadente.

A narrativa é em terceira pessoa e alternada pelos dois protagonistas: Jefferson e Donna. A ideia de mostrar dois pontos de vista diferentes em um mundo desconhecido é sempre positiva. Ainda mais se tratando de um Young Adult, onde o íntimo das protagonistas é uma das bases da trama, parece ótimo o leitor usufruir de um olhar feminino e de um masculino. O que deveria ser enriquecedor, para mim, foi um atraso.
Simplesmente a narrativa de Donna não me agradou totalmente, nem o estilo irônico dela, porque não o achei autêntico. Não aguentava mais ler a palavra "tipo" e piadas desnecessárias. O autor não soube encontrar o tom de Donna. Detestei sua forma estereotipada de narração. Ela se acha feminista, mas tem a atitude mais machista do livro.
O contrário aconteceu com o foco narrativo de Jefferson. Este me conquistou e o carisma se manteve por todo o tempo, exceto pelos pensamentos filosóficos forçados. Ele é mais centrado e culto e mesmo assim mantém o jeito jovem em sua narrativa. Seu altruísmo é admirável e algumas de suas frases heroicas chamam a atenção, como "Só é o fim do mundo se você não acreditar que existe um futuro."
De qualquer forma o autor mostra a individualidade de cada um, tanto na caracterização como na voz, apesar de falhas. A variedade cultural e étnica é o ponto forte no grupo protagonista e o autor explorou essa questão. Adorei esse detalhe. As personagens secundárias são mais que acertadas, são fascinantes e curiosas.
Outro problema encontrado por mim foi a narrativa que se dirige diretamente ao leitor. Parecia não se encaixar.
Donna e Jeff se envolvem emocionalmente, gerando o lado romântico da trama. Surge a dúvida se eles formarão um casal ou se continuarão como amigos. Não é meloso, mas achei entediante, visto que as cenas de ação são mais interessantes. Com um pano de fundo pós-apocalíptico construído e premissa de alto potencial, me pareceu dispensável criar, por exemplo, um triângulo amoroso (ou um conflito próximo disso). É claro que em breve todos morrerão e é previsível querer aproveitar um pouco de tudo, mas correndo risco de morte em uma missão quase impossível para salvar a humanidade, cheio de inimigos brutais atrás, você realmente se preocuparia com quem transou com quem?
Destaque de personagem: Minifu. Eu a teria colocado como protagonista no lugar de Donna, o braça direito perfeito para o líder Jeff.

A ideia principal do livro não é original, mas a caracterização é incrível. Visualmente falando, o autor cria personagens e cenários interessantes. Mesmo com falhas, as personagens são boas e agradarão o público-alvo, que é Young Adult. Leitores mais velhos apreciadores do gênero poderão se incomodar com algumas coisas.
O mistério sobre como apenas os adolescentes sobreviveram deveria ser o foco da trama, mas infelizmente não é. O autor aborda mesmo o enigma central mais na reta final. Como se deixasse essa ponta da trama na espera do clímax. O suspense é mantido, mas acredito que uma trama que deveria, provavelmente, ser publicada em um único volume, foi estendida para uma trilogia. Apesar da ação, o enredo parece ter sido desenvolvido devagar. Alguns cortes poderiam ter sido feitos para deixar a ação ainda mais dinâmica. Em certo momento, achei que o autor não me levaria a lugar algum.
Então finalmente a trama foi direcionada ao caos da humanidade, ao vírus, a morte dos adultos e das crianças. Trouxe grandes surpresas e um clímax excelente. Não me surpreendeu, pois pensei na questão desde as primeiras páginas, mas creio que o leitor que não adivinhar a revelação das últimas páginas, ficará satisfeito e até mesmo surpreendido.
A narrativa melhora muito nos últimos capítulos. Estes se tornam curtos e passam a estar em forma de thriller, gerando empolgação e tensão. Se o autor tivesse escrito todo o livro nesse formato, teria sido formidável.
O final deixa um gancho ótimo para termos uma história distópica mais impressionante e completa. Espero mais conflitos no próximo volume para recompensar o término abrupto de Mundo Novo.
Recomendo o livro para os fãs de Young Adult, não necessariamente para os de distopias.

O autor:
Chris Weitz nasceu em 1969 na cidade de Nova York. Formou-se em Literatura Inglesa pelo Trinity College, em Cambridge, e trabalha como produtor, roteirista e diretor de cinema. Junto com seu irmão, Paul Weitz, dirigiu e escreveu o roteiro do filme Um Grande Garoto (2002), baseado no livro homônimo de Nick Hornby e indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Chris também dirigiu A Bússola de Ouro (2007) e Crepúsculo: Lua Nova (2009).
Twitter | Site




Capa original.

10 comentários

  1. Oi tudo bem? *-*
    Achei a capa linda, e acho super legal livros assim, questão de sobrevivência e tals,
    Também achei que com os desenhos na capa a leitura fica melhor, e eu também iria parar de ler para tentar identificar os personagens kkk
    Fiquei curiosa para saber se eles vão encontrar um cura :{
    Referente ao que você falou da Donna acho que me desanimou um pouco na leitura, mas acho que o final vai me surpreender, e quero dar uma chance ao livro, adorei sua resenha, parabéns, beijos
    Lost Words

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    1. Oi! O que aconteceu entre mim e Donna foi questão de afinidade. E isso não diminui a história :)
      Vai que com você acontece o oposto? Adora Donna? Dê uma chance sim e depois me conte.
      Beijos.

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  2. Oi, tudo bom?
    Gostei da resenha, eu ainda não tinha ouvido falar do livro, parece ser bom, mas não pretendo ler ele, pois não faz muito o meu estilo de leitura.
    Beijos *-*

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  3. Acho que já vi esse livro em algum lugar, mas não me lembro onde... Enfim, gostei muito do que você disse na resenha, um young adult com um pouco de distopia. Todo esse drama, e essa incerteza da hora da morte, me deixaram com vontade de ler o livro, acho que ele conseguiria prender minha atenção. Uma pena que o ponto de vista de Donna seja meio chato, mas isso não me fez desanimar, achei a história bem legal mesmo assim.
    Vou esperar mais opiniões sobre os próximos livros, antes de começar mais uma série, já estou cheia de tantas delas.
    Beijos!

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  4. Tati!
    Devo concordar que a capa é no mínimo bem diferente e bonita.
    Quanto ao enredo, mesmo sem ser inédito, por sua resenha, achei que o autor poderia ter desenvolvido um pouco melhor certos aspectos da trama.
    Fiquei me perguntando se o casal protagonista tivesse um envolvimento mais profundo e gerassem uma criança, como seria? Ela teria nascido morta? Sim, porque se é para esses adolescentes salvarem o mundo, como será?
    Bom final de semana!!
    Cheirinhos
    Rudy
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Rudynalva! O autor explica tudinho sobre a questão que você levantou. Não direi, pois é spoiler, precisa ler =)
      Beijos.

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  5. Oi, Tati!
    O autor poderia mesmo ter deixado o livro todo cheio de tensão e deixar esses draminhas adolescentes de lado. Isso deve irritar mesmo!
    Também achei a capa linda, curiosa pra ver ao vivo. :D
    A resenha tá excelente! Abraço!

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  6. Quando vi esse livro pensei que tivesse relação com Admirável Mundo Novo mas depois de pesquisar vi que não...eu não ando curtindo muito essas distopias, para mim tem sido só mais do mesmo...autores escrevendo histórias com pequenas mudanças aqui e acolá.
    Fora isso a Seguinte tá de parabéns pela capa e pela publicação rápida aqui no Brasil.

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  7. Essa capa é maravilhosa demais, fiquei com vontade só de olhar para ela, sem falar que sou louca por distopias.
    A sua descrição sobre o livro me lembrou muito a serie Legend, até pela mudança de narração. Fiquei muito interessada na obra, apesar das grandes falhas que você citou. Acredito que faz muito meu estilo livros assim hahaha
    Já coloquei na minha listinha para as próximas compras.
    Tati você já leu Half Bad da intrínseca? estou na caça por resenhas ;D
    bjs manu

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  8. Oiee.
    O livro é totalmente diferente dos estilos que costumo ler, me parece ser bom, mas acho que pra mim a leitura não rolaria pois não me senti atraída por ele, então é melhor deixar pra quem gosta do gênero, o que não é o meu caso.
    Bjokas!

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