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A Menina que Contava Histórias, de Jodi Picoult e Verus Editora (Grupo Editorial Record)

A Menina que Contava Histórias (The Storyteller)
Jodi Picoult - Verus Editora / Grupo Editorial Record
Tradução: Cecília Camargo Bartalotti
490 páginas - 2015 - R$45,00
Comprar: AmazonAmericanas | Casas Bahia | Extra | Livraria Cultura | Livraria da FolhaLivraria da TravesaLivraria Saraiva | Ponto FrioSubmarino

Sinopse:
"Neste romance, Jodi Picoult examina com elegância até onde estamos dispostos a ir para proteger nossa família e impedir o passado de governar o futuro.
Sage Singer trabalha a noite toda, preparando pães e doces para o dia seguinte e tentando escapar de uma realidade de solidão, lembranças ruins e da sombra da morte de sua mãe.
Quando Josef Weber, um idoso que participa do grupo de luto de Sage, passa a frequentar a padaria, eles começam uma amizade improvável. Apesar de suas diferenças, ambos enxergam um no outro as cicatrizes ocultas que as demais pessoas não veem. Tudo muda no dia em que Josef confessa um segredo vergonhoso e há muito enterrado — ele foi membro da SS na Alemanha nazista — e pede a Sage um favor impensável: que ela o ajude a morrer.
O que ele não sabe é que a avó de Sage é uma sobrevivente do Holocausto... ou será que sabe? Se Sage concordar em fazer o que Josef pediu, enfrentará não apenas repercussões morais, mas talvez também legais. Com a integridade de seu amigo mais próximo manchada, ela começa a questionar suas suposições e expectativas sobre a vida e a própria família."

Resenha:

A Verus Editora, do Grupo Editorial Record, me surpreendeu. Li O Mapa de Vidro (S. E. Grove) e fiquei fascinada. Então iniciei mais um título da editora, porém voltado para outro público, e de estilo totalmente diferente. Não imaginei que me apaixonaria tão intensamente por outro livro assim, um atrás do outro, e da mesma editora. Também entrou para minha lista de melhores do ano!
A emoção e admiração tomaram conta de mim enquanto lia A Menina que Contava Histórias (The Storyteller, 2013), da Jodi Picoult. Ela é autora de vários livros comoventes e não havia ainda lido nada dela. Foi através de A Guardiã da minha Irmã que a conheci. Na verdade, assisti por acaso a sua adaptação para o cinema (Uma Prova de Amor, com Cameron Diaz, Sofia Vassilieva e Abigail Breslin) e fiquei interessada pelos livros de Jodi Picoult.
Com este, fui comovida, enternecida e confesso: de repente, chorei. Chorei muito. Bastante. Porém, é aquele misto de sentimento triste e positivo. Triste, porque é ficcional, mas baseado na realidade. Positivo, pois é o tipo de história que a Humanidade jamais deve se esquecer. Não foi determinada cena que me fez chorar. Nem foi culpa de um trecho específico. Foi o acúmulo das páginas, meu envolvimento cada vez maior com a narrativa, meu coração explodindo e meus sentimentos se misturando aos da personagem Minka. Eu me senti totalmente na pele de Minka e isso é raro e arrebatador. Não é leitura apenas para favoritar e se emocionar; é inesquecível, única, devastadora.
O exemplar possui bela capa, (a mesma da americana) dentro do padrão gráfico que a editora mantém para as publicações da autora (como se fosse uma coleção). A diagramação é simples e bonita e a revisão é perfeita. Possui orelhas largas e folhas amareladas.


A narrativa é em primeira pessoa, porém são quatro narradores e não há padrão de revezamento, além de apresentar uma "história dentro da história". São eles: Sage, a padeira ateia; Minka, avó de Sage e judia sobrevivente do Holocausto; Josef, um alemão ex-nazista; e Leo, um advogado que caça criminosos de guerra. A estrutura é dividida em três partes. Embora Sage seja a protagonista, foi a narrativa de Minka que me impressionou. O relato dela é texto único e incomparável. Muito realista, pois a autora conversou com vários sobreviventes para formar a personagem.
O tema é o Holocausto, o genocídio de mais de seis milhões de judeus praticado pelo Estado Nazista, sob o comando de Adolf Hitler. Durante a Segunda Guerra Mundial o Nazismo assassinou mais de 11 milhões de civis de dezenas de nacionalidades diferentes; matou além dos judeus, ciganos, comunistas, homossexuais, deficientes físicos e mentais, prisioneiros de guerra e outras minorias.
A trama é contemporânea e histórica; embora se passe nos anos 2010, retorna através de relatos, a Segunda Guerra.
O livro é voltado ao público adulto. O classificaria como 14 ou 16 anos, mas isso depende da maturidade psicológica e se o leitor está habituado a livros com temática dramática de guerra. Os saltos temporais e a complexidade do assunto também devem ser observados.
O que difere A Menina que Contava Histórias do restante da ficção já conhecida acerca do tema são os quatro pontos de vista diferentes: A vítima e o criminoso; além de mostrar duas gerações envolvidas, a que participou do Holocausto e a que o herdou.
O cenário se reveza entre os Estados Unidos, em New Hampshire (na narrativa atual) e, a Polônia, em Łódź e Campos de Concentração e Extermínio, destacando Auschwitz (na narrativa do passado).
Além disso, existe um plano "irreal" dentro da própria ficção. São trechos escritos pela personagem Minka. Estão fragmentados entre um capítulo e outro, com outra fonte gráfica. Trata-se de um projeto de romance baseado no folclore eslavo e misturado a realidade vivida por Minka nos anos 1930 / 1940. Ela o escreveu aos poucos, tendo a "protagonista" Ania e um ser sobrenatural como foco, o upir, vampiro que não apenas se alimenta do sangue, mas sim devora todo o corpo da vítima. Atenção aos trechos, pois são simbólicos. Mostram medo, terror, violência, dúvida e curiosidade sobre o ser humano e a Guerra, sob o ponto de vista de uma jovem judia que sonha em ser escritora, mas está sofrendo em um campo de concentração, tendo a vida sugada aos poucos. Ela é sobrevivente do Holocausto, mas não fala sobre o assunto. Guarda seus textos e memórias como um segredo doloroso.


Sage é uma jovem que trabalha como padeira durante a noite. É solitária e envergonhada, pois não se dá muito bem com a família, seus pais morreram e tem uma longa cicatriz em parte do rosto. É de origem judaica, mas é ateia e trabalha em uma padaria dentro de um santuário católico. É neta de Minka, mas não sabe os detalhes horríveis vivenciados pela avó. Remói suas próprias dores e traumas, sem pensar muito nos de Minka. Até que, de repente, tudo muda, e a história de sua avó e dos judeus torna-se particularmente importante.
É frequentadora de um grupo de apoio ao luto, com pessoas diferentes que perderam entes queridos. Embora sua mãe tenha falecido há 3 anos, Sage continua a participar, percebendo como a "perda" possui inúmeros significados. Lá conhece um senhor quase centenário que nunca conta a sua história: Josef, cliente assíduo da padaria. Sage não tem amigos e com a aproximação de Josef, surge uma amizade. Até seu novo amigo a pedir ajuda para morrer.
O luto de Josef é por suas vítimas da época em que foi oficial da SS, a organização nazista que englobou todo o exército de Hitler e foi responsabilizada por crimes contra a Humanidade durante a Segunda Guerra. Josef é um criminoso e, buscando o que parece redenção, quer a ajuda de uma judia para morrer. Ou o que ele tem mais próximo de um judeu.
Sage enfrenta muitos dilemas morais e pessoais. Esse senhor tem aparência tão inocente... Será um mentiroso... ou um monstro? Ele a "encontrou" por acaso? Josef sabe que sua avó é uma sobrevivente do Holocausto?
Pela primeira vez, Sage sai de sua área de conforto (e, sob certos aspectos, egoísta) e busca a ação. Nesse ponto da trama ela conhece Leo, um advogado que trabalha como agente para os Estados Unidos juntando provas para processar, deportar ou prender pessoas que praticaram crimes contra a Humanidade. Também com isso, Sage se aproxima de verdade da avó, de suas origens e de um momento cruel e marcante da História.
O lado enigmático da trama é que Sage se vê obrigada a se aproximar intimamente de Josef. Leo e Sage precisam descobrir a verdade sobre Josef, como e porque ele a encontrou, e se teria alguma ligação com Minka.

Leo é um herói tradicional, correto e ético. Deseja salvar o mundo ao prender pessoas que praticaram atos terríveis. Mas também se sente particularmente satisfeito. É uma personagem que inicialmente carece de profundidade, mas a autora deixa esta para o final.
Josef é o vilão, que mesmo após ter praticado por décadas o bem na sociedade americana (como, por exemplo, professor de alemão), ainda assim é autor de detestáveis crimes. Seu passado como nazista da SS pode ser perdoado? Amenizado? Esquecido?
A autora consegue, ainda, esboçar ao leitor a história de vida de Josef. O outro lado, por mais desagradável que possa ser. Como um rapaz comum se torna um assassino? Como ele se torna oficial da SS? Por que ele fez o que fez? É interessante mostrar essa parte, mesmo que não seja o destaque. É uma história bem mais curta que a de Minka, mas não menos importante. E é diferente. Quase nunca na ficção encontra-se essa versão sombria.
Sage é uma personagem que tem tudo para ser fraca e medrosa, porém, aos poucos, se fortalece. Mas, como será que, após ouvir a dolorosa e longa história de sua avó, recheada de sofrimento e violência, encarará Josef e suas confissões de assassinatos? Como Sage conseguirá se manter fria, sabendo que sua avó é apenas uma dentre milhões de pessoas vítimas do genocídio do qual Josef participou? E ela é sua avó. Sage e Minka se amam. Sem a resistência, sorte e sobrevivência de Minka, Sage jamais teria existido. Necessita ser forte, por ela, por Minka, por todas as vítimas. Precisa prosseguir no auxílio a Leo na investigação e coleta de provas para incriminar Josef. Ou deve ajudar Josef a morrer?
Minka é a melhor personagem e, para mim, a verdadeira protagonista. Não apenas por ser sobrevivente do Holocausto, mas pela forma como sobreviveu. Nunca desistiu de viver e, principalmente, de imaginar, sonhar, criar, escrever.
Minka é a menina que contava histórias. No presente, conta sua história para a neta; em seguida, para o agente federal. Mesmo sem se sentir preparada, sabe que precisa contar. Minka fora a menina que contava histórias. No passado, contava (e escrevia quando podia) histórias para sua melhor amiga; contava para as prisioneiras no barracão do campo de concentração; contava para o oficial da SS que parecia mantê-la viva apenas para saber "o que acontece depois".


Uma incomparável obra literária que aborda por completo vários olhares sobre o Holocausto da Segunda Guerra. Uma autora sensível e talentosa, que respeita as vítimas ao criar uma obra ficcional baseada em uma realidade que seria melhor não existir. Um livro que traz como exemplo o valor de cada vida, a importância de cada indivíduo e alerta para as atrocidades que seres humanos são capazes de executar por conceitos e pensamentos inacreditáveis. Cada momento histórico tem um ponto de partida e uma evolução, e cada cultura e ideia tem uma base fundamental.
Mas também é uma obra sobre força, resistência e bondade. Sobre como é importante repassar e se aprofundar na História para que futuras gerações não ignorem a força de destruição de guerras, não apenas sobre nações, povos, culturas e religiões, mas sim, sobre pessoas. Estar ciente da História é essencial para lutar contra a repetição de barbaridades. Livros como A Menina que Contava Histórias e alguns outros têm um papel importante de alerta. Sejam obras ficcionais ou biográficas, sobre a Segunda Grande Guerra ou qualquer outra, não importa: São importantes. Porque continuamos a repetir os mesmos erros: Preconceito, intolerância, xenofobia, genocídio. Respeitemos as diferenças étnicas, religiosas, de gênero... Respeitemos a liberdade.

"A história não é feita de datas, lugares e guerras. É feita das pessoas que preenchem o espaço entre eles." - Sage em A Menina que Contava Histórias, de Jodi Picoult.

A autora:
Jodi Picoult é autora de mais de vinte livros, publicados com grande sucesso de crítica e público em mais de trinta países, incluindo o best-seller, A Guardiã da minha Irmã, lançado no Brasil pela Verus Editora e que foi transformado no filme Uma Prova de Amor. Seus livros já venderam mais de 26 milhões de exemplares no mundo todo.
Estudou redação criativa em Princeton e é mestre em educação pela Universidade de Harvard. Já ganhou diversos prêmios e é uma das escritoras mais queridas no mundo inteiro.
Jodi, o marido e os três filhos vivem em Hanover, New Hampshire, nos Estados Unidos.
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3 comentários

  1. Oi Tati,

    Tenho um pé atrás com os livros da Jodi Picoult, não sei o que é, talvez a melancolia e
    o excesso de tristeza intrínsecos em suas obras me façam ter um pouco de receio quanto a
    leitura. Acredito que esse "trauma" seja em decorrência do livro A guardiã da minha irmã,
    que apesar de lindo, me deixou extremamente triste com toda a situação. Enfim, espero superar
    essa trava que tenho com os livros da autora e finalmente dar uma chance para Jodie me conquistar.
    Afinal, só leio coisas lindas a respeito de seus escritos.
    Resenha maravilhosa, parabéns!
    Beijos

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    Respostas
    1. Oi, Lindsay, já eu procuro livros assim, sabe? Que me tirem da zona de conforto, que me façam chorar. Mas, claro, depende muito do momento, pois às vezes não faz bem. Quero muito ler A Guardiã da minha Irmã, mesmo sabendo que vou chorar bastante. No caso de A Menina que Contava Histórias, além da emoção toda, você observa capricho, cuidado, complexidade na narrativa e desenvolvimento do enredo, tudo muito envolvente e "envolvido", sabe? Como ocorre em livros de suspense quando as peças se encaixam, mas em um drama muito realista. Me comovi especialmente porque minha família sofreu com duas guerras (Civil Espanhola e II Mundial), então várias cenas tocaram muito meu coração, mesmo sendo diferente. Obrigada e beijos.

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  2. Oi Tati, resenha simplesmente perfeita! Esse é o tipo de livro que fica na nossa mente por muito tempo. Foi o primeiro livro da Jodi que li e já me tornei fã! Estou ansiosa para ler outros!
    Parabéns pela resenha!
    Beijos

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