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[Resenha] Juntando os Pedaços, Jennifer Niven e Seguinte (Grupo Companhia das Letras)

Juntando os Pedaços (Holding up the Universe)
Jennifer Niven - Seguinte / Grupo Companhia das Letras
Tradução: Alessandra Esteche
392 páginas - 2016 - R$ 34,90
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Sinopse:
"Jack tem prosopagnosia, uma doença que o impede de reconhecer o rosto das pessoas. Quando ele olha para alguém, vê os olhos, o nariz, a boca, mas não consegue juntar todas as peças do quebra-cabeça para gravar na memória. Então ele usa marcas identificadoras, como o cabelo, a cor da pele, o jeito de andar e de se vestir, para tentar distinguir seus amigos e familiares. Mas ninguém sabe disso até o dia em que ele encontra a Libby.
Libby é nova na escola. Ela passou os últimos anos em casa, juntando os pedaços do seu coração depois da morte de sua mãe. A garota finalmente se sente pronta para voltar à vida normal, mas logo nos primeiros dias de aula é alvo de uma brincadeira cruel por causa de seu peso e vai parar na diretoria. Junto com Jack. Aos poucos essa dupla improvável se aproxima e, juntos, eles aprendem a enxergar um ao outro como ninguém antes tinha feito."

Resenha:

Assim como a maioria, fui conquistada pela escrita de Jennifer Niven ao ler Por Lugares Incríveis (All the Bright Places, Seguinte, 2015). Portanto, Juntando os Pedaços (Holding up the Universe, Seguinte, 2016) chegou carregado de fortes expectativas e responsabilidade. Esta é a segunda publicação da autora no gênero Young Adult (Jovem Adulto) e percebe-se que ela utilizou basicamente a mesma fórmula, tanto em características que o gênero possui como estilo sensível da própria Jennifer. Amei Por Lugares Incríveis e o coloquei entre meus preferidos. Não encontrei uma pessoa que tenha achado o livro ruim.
Então a primeira coisa que fiz ao iniciar a leitura foi me desvincular de Por Lugares Incríveis, porque mesmo após dois anos ainda tenho a história em meu coração. Procurei não pensar em Violet e Finch para evitar comparações a Libby e Jack. Coloquei na cabeça que assim como a autora criou obras independentes, eu deveria fazer o mesmo. Desse modo a leitura se desenvolveu com naturalidade. Não procure por Violet e Finch aqui, abra seu coração e mente para Libby e Finch. Mas não se preocupe: são personagens igualmente envolventes e humanas.
A narrativa é feita pelos dois protagonistas em primeira pessoa e gostei que, embora a autora mantenha a cronologia na maior parte do desenvolvimento, os capítulos são como fragmentos, às vezes como pensamentos. Tudo sempre interligado... mas aos pedaços. Libby tem juntado seus pedaços há anos, desde a morte da mãe. Jack tenta juntar pedaços de rostos sem conseguir reconhecê-los.


Ele sofre de prosopagnosia, comumente chamada de "cegueira para feições". É uma desordem cognitiva que uma a cada cinquenta pessoas apresenta. A parte do cérebro que reconhece e interpreta rostos não funciona corretamente e não há tratamento, mas sim treinamentos específicos para melhorar a identificação. Jack enxerga rostos, mas não se lembra deles e, consequentemente, não os identifica.
Com este assunto, a autora provoca a curiosidade no leitor. Chamar a atenção para uma condição diferente e pouco divulgada é sempre importante, especialmente se feito de forma sensível e cuidadosa como a autora faz. Ela apresenta e a prosopagnosia e tenta mostrar como a pessoa que a tem vive e se relaciona.
O fato de Jack narrar parte do livro foi espetacular para mim, porque ao pesquisar a fundo sobre a condição encontrei muito material científico e didático, mas menos detalhes e depoimentos pessoais sobre como a pessoa se sente e "enxerga" o mundo.
Meu problema foi que não fui convencida pelo fato de Jack ter conseguido esconder o problema das pessoas mais próximas, especialmente dos pais. Estes me pareceram presentes, observadores e atenciosos. Então Jack não reconhecer as pessoas à primeira vista há uma década aproximadamente e isso passar despercebido pelos pais soou absurdo para mim. Se ele passasse a ter essa condição pouco antes da história começar (iniciando o Ensino Médio) e tentasse esconder da família, seu sucesso seria mais aceitável. No mínimo os adultos (parentes, professores) ao redor deveriam ter notado alguma diferença em Jack no decorrer dos anos.


Libby já passou por muita coisa: perdeu a mãe, entrou em depressão, se tornou compulsiva por comida e desenvolveu ansiedade e pânico. Parou de sair de casa, se tornando muito obesa. Após uma emergência traumatizante, Libby começou a encarar o luto, a superar seu sofrimento, a perder peso e a conquistar a cada dia mais vitórias contra o isolamento.
O dia mais aguardado dos últimos anos chega: Libby finalmente volta para a escola. Ela se prepara emocionalmente para ir ao primeiro dia de aula do Ensino Médio. Não é fácil, porque ela teme desencadear crise de pânico e ansiedade e a voltar a cair em depressão. Ela sabe como é sofrer bullying, pois sempre esteve acima do peso. O choque inicial da trama é que quem provoca o primeiro ataque é Jack: ele pratica bullying com Libby.
A autora aborda o tema de forma realista e delicada. Geralmente as histórias focam na dor e no sofrimento para relembrar como o preconceito e o bullying e, muitas vezes, a ignorância, podem acabar com a vida de alguém. Mas aqui o foco é outro, embora seja um livro de drama. Pois por mais triste que Libby se sinta, ela encara o bullying, tenta se manter forte e reverte a situação como pode, entre altos e baixos. Libby cria autoconfiança e como uma fênix ressurgindo das cinzas, dá lições de moral e de autoajuda a todos, até mesmo a quem lê. Descobre que não precisa seguir padrões sociais para se sentir bonita ou fazer o que ela quer e gosta, por exemplo.
É uma protagonista supercarismática, admirável e feminista. Senti vontade de abraçá-la e dizer "obrigada". Por mais "Libbys" na literatura Young Adult.


O que me incomodou um pouco foi a necessidade de Libby em encontrar um namorado. Na verdade não há problema nisso (em ser romântica). Até porque Libby é adolescente em busca de descobertas, especialmente por ter se privado de tanta coisa durante a vida. É natural a busca por aventura, liberdade e, também, um relacionamento amoroso. Assim como ela quer tirar a habilitação e dirigir, também quer amar e ser amada.
Porém o romance entre Libby e Jack não me pareceu tão natural como deveria. Não encontrei tanta química entre eles como a autora tentou passar, esta foi minha impressão. Como personagens, acho que os dois não precisavam se envolver amorosamente para o livro dar certo. Eles formam uma ótima dupla, a amizade que nasce é linda e o apoio mútuo é bem legal (embora eu tenha sentido Libby mais forte e solícita e Jack meio egoísta).
E não aponto isso devido à primeira interação entre Libby e Jack, visto que ele quase derruba todo o trabalho de superação da moça; só achei desnecessário.
Todas as personagens têm boa interação, mas somente uma personagem secundária tem o mesmo carisma de Libby: o irmão mais jovem de Jack, o destaque. Adoraria cenas entre os dois. A maioria dos adolescentes parece estereotipada e acho que a intenção da autora foi mostrar um pouco de cada um dos tipos mais comuns da sociedade dos Estados Unidos. Os adultos funcionam bem, tanto ao interagirem com os adolescentes, como com seus próprios conflitos no pano de fundo.


Jennifer Niven utilizou de experiências próprias e de pessoas íntimas para criar as de Juntando os Pedaços, assim como pesquisou bastante e o resultado é um trabalho sério e respeitoso.
Juntando os Pedaços é uma história maravilhosa e inovadora, pois eleva a literatura Young Adult e a temática bullying a outro nível, além do sofrimento, focando na autoaceitação e superação. Emociona sem romantizar o sofrimento. Funciona como autoajuda sem o leitor perceber. Conscientiza sem ser chato. Este tipo de leitura ajuda a compreender o diferente, a não se envergonhar de si mesmo e o mais importante: cria e amplia empatia.
Jennifer Niven me conquistou novamente!
O exemplar da Seguinte está lindo, combinando com o de Por Lugares Incríveis. Possui orelhas, marcador destacável e folhas são amareladas. O trabalho de revisão e diagramação está excelente. A tradutora é a mesma, Alessandra Esteche.

A autora:
Jennifer Niven vive em Los Angeles, onde seu filme Velva Jean learns to Drive ganhou um Emmy. Ela sempre quis ser uma das Panteras (Charlie's Angels), mas seguiu sua verdadeira paixão: É escritora em tempo integral.
Autora de sete livros de ficção para adultos, seu primeiro romance para o público jovem é Por Lugares Incríveis, que em breve ganhará sua versão cinematográfica estrelada por Elle Fanning.
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