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[Resenha] Literalmente, de Lucy Keating e Globo Alt (Globo Livros)

Literalmente (Literally)
Lucy Keating e Globo Alt / Globo Livros
Tradução: Alice Klesck
208 páginas - R$ 29,90 (impresso) e R$ 19,90 (ebook) - trecho
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Sinopse:
"E se a vida perfeita já estivesse escrita para você?
Annabelle leva uma vida perfeitamente sob controle. Ela tem amigos, segue sua rotina à risca, está prestes a se formar e mora com os pais e o irmão mais velho em uma casa que ama.
Mas as coisas começam a fugir do controle quando Lucy Keating, autora best-seller de livros juvenis, vai à sua escola falar sobre seu novo romance e, curiosamente, passa a descrever a vida de Annabelle.
Logo fica claro que Annabelle é a mais nova protagonista da história de Lucy e, de súbito, o relacionamento de seus pais não parece mais tão perfeito, a casa que tanto ama corre sérios riscos de ser vendida, Will — um aluno transferido que parece literalmente feito para ela — não é mais tão interessante e Elliot, o melhor amigo de seu irmão, passa a ser algo mais que apenas um coadjuvante em sua história.
Lucy Keating pode ter um plano para ela. Mas Annabelle está disposta a escrever sua própria história."

Resenha:

Em junho de 2018 a Globo Alt, selo juvenil e alternativo da Globo Livros, lançou o novo livro de Lucy Keating, autora de O Garoto dos Meus Sonhos (Dreamology): Literalmente (Literally), publicado originalmente em inglês em abril de 2017. O exemplar possui páginas amareladas, orelhas, ótimas revisão e diagramação e tradução de Aline Klesck.
É um romance infantojuvenil contemporâneo de leitura fluida e agradável e de temática criativa e diferente, onde a protagonista Annabelle descobre que sua vida é, na verdade, um livro Young Adult (Jovem Adulto) que está sendo escrito por Lucy Keating, que ela conhece numa palestra na escola. A premissa é realmente incrível, porém o potencial é parcialmente desperdiçado durante o desenvolvimento, embora ainda seja uma história muito divertida e de desfecho interessante.
O pano de fundo é curioso, pois detrás do enredo vivido pela protagonista, há a produção dele. Por parte da obra ser uma brincadeira com os clichês e estereótipos típicos dos YA contemporâneos, o livro é muito divertido e eu sinceramente gostei da leitura, mesmo reconhecendo que alguns pontos são fracos. Além do mais, também aborda com bom humor o processo de escrita e métodos de profissionais envolvidos na produção de um livro, mostrando curiosidades sobre o assunto.
É uma narrativa em primeira pessoa pelo ponto de vista da protagonista e isso faz com que não se saiba o que a escritora (que também é personagem) planeja.


Annabelle tem 17 anos de idade, a aparência de uma modelo, cursa o último ano da escola e mora numa casa maravilhosa em Venice, um distrito turístico muito charmoso de Los Angeles, Califórnia, nos Estados Unidos. Ela vive com o pai, que é roteirista de televisão, a mãe, uma arquiteta de sucesso, e o irmão mais velho Sam, que tem uma banda em busca de fama formada com o melhor amigo e vizinho Elliot. O único probleminha na vida perfeita é Napoleão, o cachorro resgatado pelo pai, que cisma em mastigar as coisas de Annabelle. O que é insuportável, porque ela é extremamente organizada e detesta algo fora do lugar, além de estar sempre planejando tudo, desde suas corridas e surfe, passando por programas com os amigos e família, até provas e trabalhos escolares. Todavia há uma surpresa desagradável: os pais estão se divorciando e vão vender a casa da família! Annabelle fica muito abalada com a notícia.
Ela é nerd, inteligente e estudiosa, portanto tem ótimas notas em todas as matérias, com exceção de uma disciplina eletiva: ficção. Ela se inscreveu nas aulas porque para entrar na faculdade desejada e cursar jornalismo, ela precisa ter no histórico escolar matérias que desafiem a criatividade. Annabelle adora escrever sobre coisas, lugares, acontecimentos e pessoas que existem e não imaginava que teria tanta dificuldade na aula de ficção. Numa dessas aulas, a professora convida uma famosa autora de livros YA, Lucy, para conversar com os alunos sobre métodos de escrita. Annabelle fica em pânico quando Lucy descreve seu novo manuscrito em andamento, onde ela promete dar um lindo final feliz, visto que seus últimos best-sellers foram rodeados de muito drama e sofrimento. É a vida de Annabelle, incluindo a grande reviravolta com o divórcio dos pais. O plot-twist do livro de Lucy também é o grande problema da vida de Annabelle.


Mas a autora prometeu um final feliz, então Annabelle não deveria se preocupar, não é? Ainda mais com o novo aluno da escola: Will, o garoto perfeito, lindo, inteligente, simpático e gentil. Feito literalmente sob medida para Annabelle. Entretanto ela começa a sentir uma enorme atração por Elliot, o amigo do irmão que é como membro da família. Justamente por conhecer o rapaz a vida toda, ela sabe que ele é um bad boy com as garotas, está sempre trocando de namoradas e nunca consegue organizar a própria vida.
Assim sendo, além do plot-twist, está formado o triângulo amoroso, famoso clichê amado ou odiado da literatura YA. O livro é propositalmente repleto de clichês: a melhor amiga unidimensional que serve como suporte para a protagonista; esta nunca reconhece a própria beleza e talentos; que é, de alguma forma, a "escolhida" (aqui no caso ela tem consciência disso, já que todos de seu convívio são secundários); a vida perfeita que sofre uma ruptura; o amigo que aparenta ser o par ideal; a atração irracional pelo bad boy; uma garota rival que é muito popular. O diferencial é que tudo é bastante engraçado, uma vez que a autora brinca com esses elementos.
A questão central de Annabelle pode até ser com qual garoto ela vai ficar, porém vai mais além. Por desconfiar que não é responsável pelas próprias decisões, Annabelle começa então a se inconformar com sua vida de protagonista. Ela não quer mais ser controlada e vigiada, deseja liberdade total e poder fazer o que quiser. Também não quer mais que as coisas e pessoas girem ao seu redor. Como ela pode ter essa autonomia se é apenas personagem do manuscrito de uma autora que pode mudar tudo repentinamente? Ela se rebela!


Gostei do conceito básico de "personagem ficcional descobrindo que sua vida é criada, controlada e desenvolvida por uma escritora e decide lutar contra isso". Meu problema foi com a fragilidade da verossimilhança, essencial para o funcionamento de tramas fantásticas. É  interessante que existam regras em meio aos elementos mágicos e senti falta desse aspecto. Já que o livro que Lucy escreve é transformado em um mundo vivo, como que as personagens controladas por ela conseguem encontrar sua residência? Sua casa deveria ser fora do mundo ficcional, ou seja, no mundo real e inalcançável pelas personagens. Acho que ela não deveria morar no livro, apenas visitá-lo através da sua versão fictícia. A autora não deu outro nome para seu alter ego e em seu mundo fictício, ela é best-seller do The New York Times, mundialmente famosa (várias personagens são suas fãs) e tem um livro sendo adaptado para o cinema. Uma curiosidade é que na trama Lucy publicou vários YAs que, na verdade, pesquisei e eles não existem.
Por outro lado, o fato dela ser a criadora e poder literalmente fazer qualquer coisa acontecer, mesmo as fisicamente impossíveis, pode parecer fabuloso para a maioria de leitores. A trama possui acertos, como o mistério sobre Lucy. Ela está mais para vilã ou fada madrinha? Ela é a antagonista de Annabelle no momento em que esta se rebela.
Paralelamente a "autora deusa", a protagonista precisa escrever uma boa história de ficção, sem ter sucesso nas tentativas. Parece que a mensagem de Lucy (a verdadeira, não a personagem) é mostrar que mesmo que o YA seja composto de clichês, ainda assim não é nada fácil escrever um. Outro pensamento que tive é sobre como é comum adolescentes nunca estarem satisfeitos com suas vidas, nem se tudo parecer perfeito pelo olhar de alguém de fora.
Recomendado para quem busca uma leitura rápida, leve, fofa e divertida. Especialmente para o público pré-adolescente e no início da adolescência.

A autora:
Lucy Keating é da Nova Inglaterra, mas se apaixonou pela Califórnia e hoje divide seu tempo entre Venice Beach e São Francisco. Quando não está escrevendo, Lucy está provavelmente levando seu cachorro para passear, ouvindo música ou comendo sorvete. Uma dessas coisas é quase sempre verdade e, em um dia particularmente bom, todas são. Ela é a autora de O garoto dos meus sonhos, também publicado pela Globo Alt.
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