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Sem Tetas Não Há Paraíso, de Gustavo Bolívar Moreno e Editora Record (Grupo Editorial Record)

Sem Tetas Não Há Paraíso (Sin Tetas No Hay Paraíso)
Gustavo Bolívar Moreno - Editora Record / Grupo Editorial Record
Tradução: Luís Carlos Moreira Cabral
308 páginas - 2015 - R$45,00
Comprar: Americanas | CulturaSaraiva | Submarino

Sinopse:
"Um olhar original sobre o cruel mundo do narcotráfico colombiano.
Catalina tem 14 anos e leva uma vida difícil em Pereira, na Colômbia. Sua melhor perspectiva para o futuro é se casar com o namorado, Albeiro, e construir uma vida simples. Mas não é o suficiente para ela. A felicidade é sinônimo de carros imponentes, imóveis majestosos, roupas de grife, perfumes caros, joias.
E o primeiro passo para conseguir tudo isso é colocar próteses de silicone. Afinal, Catalina é muito bonita, mas, por experiência própria, quando o assunto é sexo, peitos são o que os homens realmente querem. E os homens em questão são os traficantes de drogas colombianos. Assim, Catalina se vê em um ciclo vicioso: precisa do dinheiro de um traficante para a cirurgia, mas, ao mesmo tempo, só conseguirá chamar atenção de um deles quando tiver seios fartos. Determinada a encontrar um meio de obtê-los, ela é obrigada a enfrentar uma longa, violenta, exaustiva e, muitas vezes frustrante, jornada. Mas seria mesmo o silicone sinônimo de felicidade?"

Resenha:

Sem Tetas Não Há Paraíso (Sin Tetas Não Hay Paraíso, 2005) é do escritor, roteirista e compositor colombiano Gustavo Bolívar Moreno, publicado no Brasil em julho de 2015 pelo Grupo Editorial Record. Em 2006, sob o título original, a obra foi adaptada para a televisão colombiana em 23 episódios. A maxissérie foi exibida também em mais de uma dúzia de países. Em 2008 / 2009, com título mais brando (Sin Senos Não Hay Paraíso) e em parceria de uma produtora da Colômbia com outra dos Estados Unidos, foi lançado um remake em formato de telenovela com 175 capítulos. Em seguida, um canal estadunidense se interessou por produzir mais uma adaptação (Without Breasts There Is No Paradise), mas o projeto não saiu do papel.
No Brasil, o livro não teve o título abrandado e manteve firme a palavra "tetas", sem modificá-la para "seios" (no remake para a televisão mudaram o "tetas" para "senos" - seios.). E a tradução foi correta, apoio a decisão. A primeira vista parece forte ou grosseiro, mas não. Conforme a obra literária, o título é cru, direto, combinando com a dureza da realidade retratada e os temas fortes. A imagem da capa, mostrando parcialmente um corpo nu feminino em tons opacos, passa a sensação de desolação da protagonista e, juntamente com o título, destaca um seio.

É Catalina, uma adolescente de apenas 14 anos de idade que idealiza um mundo fútil de poder, luxo e riqueza. É a utopia de ser a "namorada oficial" de um grande traficante de drogas. Pertence a uma família pobre e desestruturada, composta pela mãe, D. Hilda, e irmão, Bayron. Moram no bairro humilde em Pereira, na Colômbia.
O autor mostra o desamparo social, cultural e educacional sofrido por esta camada da população, representada não apenas por Catalina, mas também por suas amigas e vizinhas Yésica, Vanessa, Ximena e Paola. Há também o namorado apaixonado, Albeiro. Aos 23 anos de idade vive estampando camisetas e sonhando com seu casamento e filhos com Catalina. Eles têm objetivos de vida e aspirações muito diferentes.
Enquanto Albeiro espera pelo dia em que Catalina lhe dará sua virgindade, a menina é estimulada pelas colegas a vendê-la a um traficante e, quem sabe, conseguir ser uma das preferidas dos bandidos. As prostitutas recebem dinheiro, roupas, artigos de luxo e presentes caros após se deitarem com os traficantes e seus convidados. Catalina, insatisfeita com a pobreza e desiludida com a dificuldade de terminar a escola ruim e de enfrentar empregos medíocres com baixos salários e longas jornadas, observa suas colegas. Estas parecem enriquecer com facilidade, além de sempre estarem realizando procedimentos estéticos e de beleza, enquanto Catalina mal consegue manter a raiz do cabelo em dia e comprar seus absorventes, tendo mãe e namorado pobres. As outras moças contam as histórias de transas com bandidos e orgias em festas luxuosas como se fossem verdadeiros contos de fadas.
Aliciada pela amiga Yésica, ela começa a ser oferecida aos bandidos. Por sem muito jovem e possuir busto muito pequeno para o padrão de beleza local, Catalina é recusada, sempre trocada por outra jovem mais peituda no último momento. Percebe que não basta estar magra e malhada, alisar e pintar os cabelos, manter a pele bronzeada e macia. Precisa ter seios avantajados. Sempre é elogiada como "linda", "muito bonita", porém sempre escuta "mas não tem peitos".
Então ela inicia a odisseia em busca de suas próteses de silicone, para seduzir traficantes, se tornar prostituta de luxo e tentar realizar seu sonho: ser a preferida ou namorada de um dos grandes, mergulhando em roupas de grife e joias. Mas como conseguir os peitos falsos sem dinheiro? Essa é a premissa da história.

A narrativa é peculiar, em primeira pessoa e de um narrador de fora da trama. Seu estilo é corrido, às vezes grosseiro, como se fosse alguém diretamente contando a história ao leitor, sem censuras ou preocupações em como está expondo a vida de Catalina. Também parece saber de coisas além da menina, a respeito dos traficantes e demais personagens. A escrita é muito boa e inicialmente o leitor não entende o porquê da dureza na narração e falta de cuidado textual. Nada de floreios e enfeites para um texto bonito. É proposital e funciona muito bem, especialmente quando o leitor chega a metade do livro.
Com poucos diálogos diretos (a maioria dos diálogos é indireta porque soa como tentativas, não reproduções exatas), o narrador passa a dúvida sobre pertencer ou não a trama (principalmente por encontrar uma opinião aqui ou ali que não me pareciam ser do autor) e foi uma experiência literária diferente. Sem saber se era onipresente ou uma das personagens, mas percebendo que seu modo direto e grosseiro em narrar era um ponto a ser observado, esperei e não me decepcionei. Após a revelação ficam explicados seus métodos, seu estilo e outro fator importante: Muitas informações, especialmente sobre o narcotráfico e política da Colômbia, incluindo, por todos os lados, a corrupção. Encontrei informações ricas sobre a sociedade colombiana e o funcionamento do tráfico de drogas, armas e mulheres. O autor usa de uma trama ficcional para expor dados verídicos, por exemplo.

Temas como prostituição infantil, exploração de menores, pedofilia, perda da inocência e desperdício da infância estão presentes. É triste, chocante e doloroso. Especialmente ao pensar em quantas "Catalinas"existem no mundo. Quantas meninas jogam a vida fora por pura desorientação? Quantas são iludidas, enganadas e manipuladas? Quantas deixam a ideia de dinheiro fácil prevalecer sobre sua dignidade e autoestima?
Gustavo Bolívar Moreno apresenta um livro completamente adulto e com texto de fácil acesso a todos os tipos de leitores. Recomendo a leitura a partir dos 14 anos de idade e, na verdade, é um livro que pode gerar diversas discussões importantes, seja entre adultos e adolescentes ou entre membros de clubes de leitura. O autor reforça a todo instante, através de personagens caricatas ou estereotipadas o desamparo social, cultural e financeiro sofrido por várias camadas de um país de Terceiro Mundo. No Brasil não é muito diferente.
O fato das personagens serem unilaterais e caricaturas não atrapalha a trama, pelo contrário. É essencial, pois funciona como exemplos simples do sofrimento humano. Você pode desgostar em ver meninas pobres e desorientadas se tornando prostitutas por opção. Você pode achar que o autor peca no exagero, mas, em momento algum ele generaliza. Ele apenas escolhe esse tipo e o explora.
O livro traz, além de prostituição e drogas, violência. Inclui assassinatos e estupros, mas não são cenas profundas. Não assustam pelo que mostra (só se o leitor parar e detalhar sozinho.). É como se o autor entregasse ao leitor um resumo, um roteiro a seguir, e convidasse sua mente a ir criando os itens secundários, detalhes...
O autor não se aprofunda em certos aspectos por três motivos: O livro não é um dramalhão. Não é necessário reforçar o sofrimento para o leitor chorar; não é um livro de lágrimas, e sim de reflexão. Já está tudo ali, escancarado e estampado. Você já sofre sem a necessidade de aprofundamento e exploração da dor de Catalina ou de outras personagens. O segundo motivo é que são fatos demais, acontecimentos em grande quantidade, em tão poucas páginas. Pouco tempo se passa, aproximadamente um ano ou um pouquinho mais. Porém, são tantas coisas ocorrendo, que para o livro ser um drama detalhado e com personagens mais complexas, o autor teria de escrever o dobro ou mais de páginas no mínimo, e perderia o foco, que é, certamente, a crítica social. E em terceiro e último lugar, o fator "narrador enigma".
O simbolismo do silicone carrega a escravidão feminina sobre seus corpos e aparência. A corrida por alcançar o padrão estético do momento por motivos banais e, até mesmo, bizarros. O sofrimento das mulheres para deixarem seus corpos seguindo determinada moda é violento e mortal. Mulheres anoréxicas. Mulheres anabolizadas. Mulheres plastificadas. Todas em busca do impossível, por motivos tolos.
Outro tema bastante importante do livro é a corrupção, principalmente a política. Mostra como (quase) todos têm um preço e como o sistema colombiano está mergulhado em esquemas corruptos - e ressaltando, não apenas o colombiano, não é mesmo? As exceções, ou seja, pessoas sinceras ou profissionais totalmente honestos, é que acabam parecendo irreais em meio a tantos corruptos e corruptíveis.
Um livro rápido, forte e lotado de críticas sociais, que apresenta um final impressionante e deixa o leitor refletindo sobre tantos assuntos que vão muito além de tetas.


O autor:
Gustavo Bolívar Moreno é escritor, roteirista e compositor colombiano. Autor de 8 livros e mais de 3.500 roteiros de episódios. Seu best-seller Sem Tetas Não Há Paraíso lhe proporcionou fama internacional, com diferentes adaptações para a televisão. Ele é também presidente da Fundação Manos Limpias, que luta contra a corrupção política na Colômbia.
É diretor executivo da companhia Once Upon a Time Films, trabalhando e assessorando projetos para cinema, televisão, webssérie, reality show e documentário.
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