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[Resenha] Mil Palavras, de Jennifer Brown e Gutenberg (Grupo Autêntica)

Mil Palavras (Thousand Words)
Jennifer Brown - Gutenberg / Grupo Autêntica
Tradução: Cristina Sant'Anna
208 páginas - R$ 39,80 (impresso) - trecho
Comprar: Amazon | Livraria Cultura | Livraria da Folha | Saraiva | Submarino

Sinopse:
"O namorado de Ashleigh, Kaleb, está prestes a partir para a faculdade e a jovem está preocupada que ele se esqueça dela. Então, em uma famosa festa de final do verão, as amigas de Ashleigh sugerem que ela mande uma foto nua para ele. Antes que possa mudar de ideia, Ashleigh vai para o banheiro, tira uma foto de corpo inteiro em frente ao espelho, e aperta a tecla “enviar”.
Mas o término do relacionamento do casal é ruim e, para se vingar, Kaleb encaminha a foto para sua equipe de beisebol. Em pouco tempo, a foto viraliza, atraindo a atenção do conselho da escola, da polícia e da mídia local. A pena ordenada a Ashleigh pelo tribunal é prestar serviço comunitário, e é onde ela conhece Mack, um jovem que oferece uma nova chance de amizade, e é o único que recebeu a foto e não olhou.
A aclamada autora Jennifer Brown traz aos leitores um romance emocionante sobre honestidade, traição e redenção, amizade e atração, e integridade, mostrando que uma imagem pode valer mil palavras… mas nem sempre conta a história inteira."

Resenha:

A estadunidense Jennifer Brown, jornalista e escritora de Young Adult, possui três livros e um conto publicados no Brasil pela Editora Gutenberg, do Grupo Autêntica: A Lista Negra em 2012 (Hate List, 2009), Amor Amargo em 2015 (Bitter End, 2011), um conto na antologia As Fases da Lua em 2016 e Mil Palavras (Thousand Words, 2013), lançamento no Brasil em agosto de 2018.
Meu primeiro contato com o trabalho dela foi há pouco tempo com A Lista Negra (leia a resenha aqui), que aborda temas pesados como massacre na escola, bullying, suicídio e depressão, levantando um debate sobre comportamento humano em geral e sobre como evitar situações descontroladas. É um dos melhores young adult que já li e, portanto, me interessei muito por Mil Palavras, enviado pela Gutenberg para resenha. O exemplar possui orelhas, páginas amareladas, diagramação e revisão muito boas e tradução de Cristina Sant'Anna.
A obra foi originalmente publicada em 2013 e é atual e muito necessária, pois fala sobre a exposição e invasão as quais podemos nos sujeitar ao estarmos conectados e em constante comunicação. Mais especificamente, trata-se de uma exposição íntima e sexual, debatendo sobre o sexting (compartilhamento de conteúdo pornográfico via celular) e a revenge porn (pornografia de vingança, quando um ex-parceiro expõe imagens íntimas da pessoa após o rompimento da relação). Em novembro de 2018 o Senado brasileiro ampliou a pena para quem pratica revenge porn (de três meses a um ano mais multa para de dois a quatro anos mais multa, confira aqui).


A narrativa é em primeira pessoa pela protagonista Ashleigh e se alterna em duas linhas temporais. Uma acontece antes e logo após o momento fatídico, com os capítulos iniciados pelo mês de quando os fatos ocorreram; contêm sempre uma ou mais mensagens aleatórias recebidas por Ash. A outra cronologia de narrativa se passa um pouco depois e os capítulos são sinalizados com uma contagem de dias onde Ash enfrenta as consequências. A composição da narrativa é eficiente, interessante e cria empatia pelo sofrimento da protagonista. O passado recente segue até alcançar a outra narrativa e culminar no desfecho do conflito principal.
A trama começa com Ash prestando serviço comunitário por um crime que ela nem sabia estar cometendo. Agora, ela precisa passar sessenta horas lado a lado a jovens realmente delinquentes, muito diferentes dos adolescentes que ela costuma lidar no cotidiano. E o pior: ela está totalmente envergonhada, assustada e triste.
Ash mora com os pais, possui várias amizades e participa da equipe de cross-country da escola. Ainda cursa o Ensino Médio, mas seu namorado Kaleb está prestes a se mudar para o campus da faculdade e, portanto, ele tem estado ocupado com a mudança e adaptação. O problema é que Ash adoraria passar o verão com ele, mas o rapaz tem dedicado muito mais tempo aos amigos.
Após drinks na festa da piscina da melhor amiga Vonnie, Ash desabafa com ela e outras meninas sobre a saudade por Kaleb e o medo de estar perdendo o namorado que tanto ama. Elas sugerem que Ash envie a ele uma foto nua como prova de amor e de comprometimento. Ash envia uma nude para Kaleb pelo celular.


O relacionamento que já estava desgastado se rompe de vez após brigas e distância. O choque: Ash descobre que todos da escola têm sua foto nua no celular. Todos os seus amigos e colegas.
Muito envergonhada, se torna a fofoca principal e também alvo de ataques grosseiros, machistas e assustadores. As pessoas a evitam ou xingam e a foto viraliza na internet e chega até os pais de alunos, funcionários e professores da escola. Alcança então as autoridades e, o pior: seus pais. A vida de Ash desmorona. Além da exposição, vergonha e humilhação, o problema se torna um processo civil, colocando a estabilidade familiar de Ash em risco.
É uma sequência de decepções, começando pelo namorado que ela amava e respeitava, passando por todos os colegas que reenviaram a foto e os que debocham da situação, até alcançar a frieza dos pais e a insensibilidade do Estado.
Será que uma imagem vale mais que mil palavras? Será mesmo uma pessoa deve ser julgada por um único ato? Uma adolescente comete um pequeno deslize, que foi confiar no namorado. Uma foto que deveria ter sido vista apenas por ele, foi mostrada a todos da região. Uma menina que sempre foi respeitada como boa atleta e aluna, com a vida toda pela frente, é taxada de promíscua e encara muita hostilidade e um processo com punição legal por parte do Estado. Quantas palavras são necessárias para derrubar alguém?
São muitas questões adiante, como perdoar ou não Kaleb. Ash precisa lidar com a culpa e aprender a lição. E as pessoas que compartilharam a imagem? Não apenas Kaleb, mas todos aqueles que clicaram em visualizar e o pior, reenviaram para outros.


O que mais gostei na história foi a amizade entre Ash e Mack, rapaz que ela conhece no projeto Diálogo Adolescente, durante a prestação do serviço comunitário. O núcleo de personagens adolescentes infratores é mostrado apenas superficialmente para não roubar o protagonismo de Ash nem diminuir o foco da revenge porn que ela sofre, mas funciona como pano de fundo que merece reflexão. E sabe aquele clichê de rapaz bad boy bem distante do mundo da heroína? E que surge uma química ou romance entre eles que logo se torna o centro do enredo? Não é isso o que acontece entre Ash e Mack. É uma amizade verdadeira e Mack é uma personagem peculiar, com características interessantes e história de vida digna de ganhar seu próprio livro!
Além disso, Mack foi o único que recebeu a foto e não a abriu e isso antes de se tornar amigo da Ash. Para ela é reconfortante receber esta notícia, porém assustador saber que todos os demais foram incapazes de respeitá-la.


As consequências e sofrimento que uma única sexting pode causar são enormes e a autora transmite muito bem a mensagem de que visualizar e compartilhar imagens íntimas sem o consentimento é crime e que no caso de ser de um menor de idade, crime de qualquer forma, ou seja, pornografia infantil. Ash precisa enfrentar as consequências duríssimas e dolorosas. O livro é formidável em alertar o adolescente sobre isso. Young Adult que deveria ser obrigatório para conscientizar jovens sobre o assunto, que é delicado e atual.
A narrativa é muito humana. O bullying já é perigoso e dolorido, mas aliado à invasão da privacidade se intensifica. E o cyberbullying pode alcançar níveis mais assustadores de crueldade, pois o anonimato e a distância podem encorajar muitas pessoas a serem mais ríspidas e a praticarem atos ainda mais terríveis.
Assim como A Lista Negra, Mil Palavras é um livro forte que frisa a importância da empatia e respeito. Sobre sempre se colocar no lugar do próximo e compreender que sua liberdade termina quando invade a integridade física, psicológica ou moral do outro.
A superação é complicada e lenta e foi ótimo acompanhar esta história, pois além da escrita excelente, a autora apresenta uma protagonista crível e humana e ótimo desfecho.

A autora:
Jennifer Brown vive na região de Kansas City, Missouri, Estados Unidos, com seu marido e seus três filhos. Quando não está escrevendo sobre assuntos sérios, Jennifer, que venceu duas vezes o Prêmio Erma Bombeck de Humor Global, é colunista do jornal Kansas City Star. A Lista Negra é seu romance de estreia.
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