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[Resenha] Nightflyers de George R. R. Martin e Suma (Grupo Companhia das Letras)

Nightflyers
George R. R. Martin - Editora Suma / Grupo Companhia das Letras
Tradução: Alexandre Martins - Ilustração:
144 páginas - R$ 44,90 (impresso em capa dura) e R$ 29,90 (ebook)
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Sinopse:
"Nas fronteiras do Universo, uma expedição científica composta de nove acadêmicos dá início à missão de estudar os volcryn, uma misteriosa raça alienígena. Existem, no entanto, mistérios mais perigosos a bordo da própria nave. A Nightflyer, única embarcação que se dispôs à missão, é uma maravilha tecnológica: completamente automatizada e pilotada por uma única pessoa. O capitão Royd Eris, porém, não se mistura com a tripulação – conversando apenas através de comunicadores e se apresentando somente por holograma, ele mais parece um fantasma do que um líder.
Quando Thale Lassamer, o telepata do grupo, começa a detectar uma presença desconhecida e ameaçadora por perto, a tripulação se agita e as desconfianças aumentam. E a garantia de Royd sobre a segurança de todos é posta à prova quando uma entidade malévola começa uma sangrenta onda de assassinatos."

Resenha:

George R. R. Martin é escritor, roteirista e editor de gêneros da fantasia, de ficção científica e de terror, mundialmente conhecido pelo fenômeno As Crônicas de Gelo e Fogo, saga literária transformada pela HBO na série de TV Game Of Thrones / Guerra dos Tronos.
Sem nenhuma ligação com GoT, Nightflyers é um conto de ficção científica escrito por Martin em 1980 e publicado originalmente na revista Analog Science Fiction and Fact. No ano seguinte, foi expandido e republicado, o que ocorreu novamente em 1985, porém lançado em uma coleção de outras histórias ambientadas no mesmo universo: Thousands Worlds, composto por Dying of the Light, Sandkings, A Song for Lya, The Way of Cross and Dragon, Nightflyers e Tuf Voyaging. Dentre elas, Nightflyers se destaca por ganhar em 1981 o Locus Award e ter sido indicada ao Hugo Award. Foi adaptada em 1987 para um filme e, em 2019, tornou-se uma série para televisão pelo SyFy (disponível na Netflix), mas teve vida curta e foi cancelada após a primeira temporada com dez episódios. Não assisti a nenhum dos dois, por isso não posso dizer se são fieis ao livro.
Embora pertença ao universo Thousands Worlds, Nightflyers é um livro independente e uma história completa, recém-chegada pela nova casa editorial de George R. R. Martin no Brasil, a Editora Suma, selo de ficção especulativa e sobrenatural do Grupo Companhia das Letras. O título já chega em grande estilo, em edição incrível impressa em capa dura e com caprichadas ilustrações internas de David Palumbo, e de capa e guardas por Julio Zartos, além de excelente revisão e tradução de Alexandre Martins.


Com narrativa em terceira pessoa, é um conto longo, mas ainda assim um conto e, portanto, uma leitura rápida; não apenas pela quantidade de páginas, mas também pelo suspense e o ritmo movimentado, um thriller misturado ao terror. No mínimo quem lê sente um clima sombrio predominante e, até mesmo sinistro, em vários momentos, incluindo muita paranoia. Bem ao estilo do final da década de 1970 e início de 1980, época em que obras de ficção especulativa envolvendo vida extraterrestre, viagens espaciais ou impérios inter-galácticos, como Contatos Imediatos do Terceiro Grau (1977), Star Wars (1977, 1980 e 1983), Alien: o Oitavo Passageiro (1979), E. T.: o Extraterrestre (1982) e Contato de Carl Sagan (1985), faziam sucesso com o público.
Uma equipe diversificada de cientistas, formada por cinco mulheres e quatro homens, embarca na nave espacial Nightflyer para uma missão de pesquisa. O líder do grupo de acadêmicos, o generalista Karoly d’Branin, deseja contatar e, se possível, estudar ou descobrir qualquer coisa sobre os volcryn, uma espécie lendária e avançada que viaja ininterruptamente pelo Espaço. A Nightflyer é autossustentável e mantida por um capitão misterioso e excêntrico chamado Royd Eris. Mas ninguém nunca o viu pessoalmente e ele surge somente sob a imagem de hologramas.


À primeira vista, a nave parece um veículo de viagem normal, até que vários problemas e imprevistos surgem, e gradualmente diversos acontecimentos desagradáveis cercam a equipe. Especialmente quando o poderoso mas inseguro e nervoso telepata do grupo, Thale Lasamer, começa a alertá-los de que um perigo muito forte os ameaça. O capitão da Nightflyer é quase onipresente, pois possui câmeras e escutas em todos os locais, invadindo a privacidade dos passageiros. E enquanto o chefe da expedição é egoísta e só pensa no encontro com os volcryn (literalmente o sonho e trabalho de sua vida), e os acadêmicos pensam em fazer seus respectivos trabalhos, o telepata entra em pânico, a desconfiança acerca do capitão cresce e a missão principal deixa de ser o centro das preocupações.
O destaque é a protagonista Melantha Jhirl, uma mulher geneticamente aperfeiçoada para ser superior física e mentalmente. Justamente por ser boa demais, é arrogante. Completando a equipe, temos ainda Agatha Marij-Blackos, uma psíquico-analista hipocondríaca, e outras personagens que não tiveram o mesmo destaque para mim: a brilhante e fria especialista em cibernética Lommie Thorne; os linguistas Dannel e Lindran, que são um casal em público, mas em particular vivem se desentendendo; o exobiólogo ranzinza e desagradável Rojan Christopheris; e a exotécnica nada asseada Alys Northwind.


A própria Nightflyer pode ser considerada uma personagem; porque são várias questões centrais, e em diversos momentos eu sentia que ela era mais que o cenário. No mínimo, a nave é um dos pontos mais fortes da trama, enigmática e importante. Pois ela ou alguém (ou alguma coisa) é a responsável por impulsionar a trama, mas você não sabe o quê.
Outro item interessante são os relacionamentos entre as personagens. Quando o conflito principal eclode, ninguém sabe exatamente em quem confiar, quem diz a verdade, quem coloca interesses pessoais acima dos do grupo, se todos são quem dizem ser... é curioso acompanhar toda a desconfiança e paranoia e se alguém vai passar por cima do outro caso esteja em risco. Seria um delírio coletivo, influência da nave, ou exterior? Ou a proximidade com os volcryn, os aliens que a expedição busca? Ou seriam apenas humanos enclausurados, exaustos, sob risco de morte, tentando se salvar? Eu nem tinha certeza se todos eram humanos, ao menos humanos comuns. E pensei também no que faz de alguém humano.


Como um encontro de 2001: Uma Odisseia no Espaço com Alien: o Oitavo Passageiro, Nightflyers mistura ficção científica, terror e suspense, apresentando uma nave espacial assombrada, um elenco complexo (que deveria ter sido melhor aproveitado) e mortes sinistras, em um cenário inóspito. É uma breve e boa space opera com forte pegada sobrenatural e terrível, e bem sucedida neste requisito, de terror e suspense. Classifico este conto mais como terror que si-fi, embora também acerte na parte da ficção científica, afinal, é uma aventura espacial, envolvendo tecnologia, engenharia genética, inteligência artificial, mas neste campo a ciência é mais cenográfica que central.
O conto pontua ainda por ser instigante mesmo possuindo poucas páginas. A mitologia é curiosa e desejei saber mais, especialmente sobre a ascensão e expansão da humanidade ao Espaço e os contatos com outros mundos. Por isso, ressalto que embora breve, é nitidamente um universo interessante e rico, e ansiei por mais informações e maiores detalhes. Fiquei com a sensação de que é um resumo de uma trama maior, uma premissa de alto potencial e uma boa execução, mas que poderia ter sido melhor. Logo, imagino que os demais contos de Thounsands Worlds também sejam excelentes e torço para que sejam publicados no Brasil pela Suma, como uma coleção.
É uma obra perfeita para quem quer ler algo do Martin, mas quer um material curto e finalizado, porém com algumas características da escrita do pai de Game of Thrones e Wildcards, com muita tensão, boa construção psicológica, mortes chocantes e um final inquietante.


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O autor:
George R. R. Martin nasceu em 1948, em Nova Jersey, e formou-se em jornalismo pela North Western University, em Chicago. Em 1996, começou a publicar a série de fantasia As Crônicas de Gelo e Fogo, que alcançou o topo da lista de mais vendidos e consagrou o autor como um dos cânones da literatura fantástica. Seus livros já venderam quase 5 milhões de exemplares no Brasil.
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