publicidade

Resenha: O Mágico de Oz, de L. Frank Baum e Zahar

O Mágico de Oz
Edição Bolso de Luxo (texto integral)
L. Frank Baum - Clássicos Zahar / Grupo Companhia das Letras
Tradução: Sergio Flaskman
Ilustração: W. W. Denslow
223 páginas - comprar na Amazon



Sinopse:
""Quando estava na metade do caminho, ouviu-se um grito fortíssimo do vento e a casa sacudiu com tanta força que Dorothy perdeu o equilíbrio e caiu sentada no chão. E então uma coisa muito estranha aconteceu. A casa rodopiou duas ou três vezes e começou a levantar voo devagar, Dorothy teve a sensação de que subia no ar a bordo de um balão."
Um ciclone atinge a casa onde Dorothy vive com os tios e ela e seu cachorro Totó são levados pela ventania e param na Terra de Oz. Por lá, Dorothy faz novos amigos - o Espantalho, o Lenhador de Lata e o Leão Covarde -, encara perigos, vive histórias fantásticas e precisa enfrentar seus próprios medos. Depois de tantas aventuras, a menina descobre que seus Sapatos de Prata têm poderes mágicos e podem levá-la para qualquer parte. Mas não existe melhor lugar no mundo do que a própria casa.
Um clássico indiscutível para todas as idades, a versão impressa apresenta ainda capa dura e acabamento de luxo."

Resenha:
Durante minha infância eu assisti ao filme O Mágico de Oz, lançado em 1939. Embora já fosse antigo, se transformou em um dos meus preferidos, mas apenas em 2013 li a obra original de L. Frank Baum, publicada nos Estados Unidos em 1900. Reli em outra edição e minha opinião não mudou: continua um conto de fadas interessante. É uma aventura única, atemporal e apreciável por qualquer faixa etária que goste de fantasia e contos de fadas. 
Continuo a gostar do filme, mas caio no clichê de que o livro é melhor. A essência está presente, mas uma boa parte da aventura ficou de fora. O filme é uma boa versão, alegre, bonita e ótima para a época em que foi filmado. A maior das diferenças entre as mídias (que não afeta a história) é que no livro Dorothy encontra os Sapatos Prateados, não de rubis. A mudança foi feita no filme, pois queriam dar grande destaque às cores fortes, já que era um dos primeiros filmes coloridos produzidos. Por outro lado, o que eu pensava ser apenas parte desse "marketing de jogo de cores", ou seja, o contraste do colorido e o sépia, existe no livro, portanto o filme foi fiel: Kansas é um local cinza, sem vida e apático, enquanto Oz é o oposto, colorido, brilhante, rico e misterioso. Outra grande mudança é em relação às Bruxas: são quatro, não duas. Isto sim afeta a trama.


A obra é narrada em terceira pessoa e, embora seja infantojuvenil, é rica e detalhada. O acinzentado Kansas é triste e entediante. Dorothy é uma criança órfã que vive com os tios e Totó, seu cachorrinho e sua alegria cotidiana. Baum descreve como a fazenda se encontra infértil, o tio Henry trabalha demais e tia Em sempre preocupada. Para onde Dorothy olha ela vê apenas pradarias mortas, de grama seca e povo triste. Seu sonho é ver campos floridos e repletos de pássaros. A cabana onde vivem é simples e muito pequena. E nela Dorothy voa em um ciclone aterrissa na misteriosa Terra de Oz.
É ótimo conhecer o lugar pelo ponto de vista da jovem, ingênua e humilde menina. Ela encontra seres exóticos, atravessa lugares inimagináveis e une um grupo de amigos estranhos. Sua inocência transparece em cada ato de bondade. Ela salva o Espantalho empoleirado, o Homem de Lata lenhador e o Leão Covarde escondido na floresta e se torna o elo e grande incentivo que precisavam para tentar mudar. Ela é a revolução em forma de doçura. Cada personagem do núcleo central possui características muito definidas.


Em cada companheiro de jornada de Dorothy existe uma ironia: buscam pelo que já possuem. Mas lhes falta autoconfiança. O Espantalho foi criado há pouco e busca um cérebro. Ele quer ser mais parecido com os homens que o criaram e ter a capacidade de raciocínio e invenção. Mas no decorrer da aventura, embora ele tema o fogo e seja bastante desajeitado na movimentação, é o responsável pelas melhores ideias quando surge um obstáculo. Ele tropeça e cai, mas sempre sabe o que fazer para prosseguir. O Homem de Lata já foi um homem de verdade, um lenhador apaixonado. Ele precisa de um coração para voltar a amar e sofrer como antes. Ele chora por boa parte do caminho, pois se emociona com as situações e tem afeição e pena por cada criatura ou situação. E ele não pode chorar, pois as lágrimas enferrujam suas juntas. Já o Leão deveria ser o "rei dos animais", porém morre de medo de descobrirem que se esconde atrás de seus potentes rugidos e nada mais. Ele busca por coragem para assumir a imagem de animal feroz, porque cansou de fingir. Durante o trajeto, o Leão demonstra bravura por diversas vezes quando se depara com o perigo. Ele é forte e corajoso, mas assim como seus colegas, não percebe suas qualidades.


Desde que Dorothy cai na Terra dos Munchkins, calça os Sapatos Prateados mágicos e segue a trilha da Estrada dos Tijolos Amarelos até a última página, muitos acontecimentos fantásticos surpreendem. A trama mais que diverte: abrilhanta, não apenas pela Cidade das Esmeraldas, o Palácio de Rubis ou a Frágil Cidade de Porcelanas. Os Cabeças de Martelo, o Chapéu de Ouro, o Campo de Papoulas Mortíferas, o Senhor Coringa e os Macacos Alados... É um mundo único e impressionante.
O destaque deveria ficar para o Mágico de Oz, o Grande e Temível. Ele governa a Cidade das Esmeraldas e é por ele que Dorothy e seus companheiros buscam. Somente ele supostamente teria os poderes necessários para ajudá-los. Será ele, recluso em seu castelo, cheio de truques, capaz de fazer magia mais poderosa que as das Bruxas? Seria ele um bom mágico e um bom homem? Afinal, as Bruxas se assumem como boas ou más, porém... e o Mágico de Oz? Ele é a incógnita. Interessante como cada uma das personagens encontra um Mágico diferente para somente mais tarde descobrirem sua verdadeira face.


A geografia da Terra de Oz é outro ponto envolvente. Embora seja explicado que todo o território de Oz seja cercado por Desertos Intransponíveis, pesquisei a respeito e vi que nas obras seguintes são apresentados outros territórios além. E que de alguma forma essas terras estão secretamente ligadas ao nosso mundo. Em O Mágico de Oz o local se limita a um retângulo dividido em quatro partes e um círculo no centro: Leste, Oeste, Norte, Sul e a Capital. Cada um deles (exceto a Capital) possui uma Bruxa comandando a região e uma cor predominante. As Bruxas do Leste e Oeste são más; as do Norte e Sul, boas. Cada região tem um nome e um povo: o Leste é a Terra dos Munchkins (cor azul) e dominado pela Bruxa Má do Leste; o Oeste (cor amarela) é o País dos Winkies e escravizado pela Bruxa Má do Oeste; o Norte (cor roxa) é liderado pela Bruxa Boa do Norte, onde vivem os Gillikins; e o Sul (cor vermelha) é governado por Glinda, a Bruxa Boa do Sul, e seus habitantes são os Quadlings. O centro (cor verde) é a lendária Cidade das Esmeraldas, Capital e domínio do principal monarca das Terras de Oz, o Mágico de Oz.
A região e detalhes do Norte não são mostrados em O Mágico de Oz, apenas em livros posteriores. É apresentada a Bruxa Boa do Norte, uma boa senhora que ajuda Dorothy a iniciar sua jornada e beija sua testa para protegê-la dos perigos; já o país e povo permanecem desconhecidos neste volume. Todas as outras Bruxas aparecem no livro, no entanto, o destaque é a maldade da Bruxa Má do Oeste, a antagonista direta de Dorothy. Já Glinda, a Bruxa Boa do Sul, desempenha o papel mais importante do livro e afirmo que ela sim é a personagem que merecia dar título ao livro, embora apareça menos que o Mágico de Oz.


Baum afirmava que sua criação seria apenas fantasia para entretenimento, mas existem diversas teorias sobre mensagens e simbolismos existentes em O Mágico de Oz e demais obras. De teorias satânicas, principalmente em relação ao filme de 1939, até interpretações de críticas à política estadunidense da época.
A teoria mais aceita por estudiosos é a político-econômica, presente na representação das personagens envolvidas. Estudiosos da época achavam que muitos dos eventos e personagens lembravam as reais personalidades políticas, eventos e ideias da década de 1890.
Apenas sei que a história é um conto de fadas, por isso, cada pessoa tem sua interpretação. A mais simples, talvez seja a mais poderosa: às vezes o que mais buscamos já está dentro de nós. Talvez busquemos por mais de algo que já possuímos. Ou talvez desejemos em excesso, sem satisfação ou gratidão pelo que temos. O Espantalho, o Homem de Lata e o Leão Covarde já possuem o que desejam: cérebro, coração e coragem. Mas foi necessária a ajuda de uma criança muito sincera e ingênua, sem corrupção, para mostrar a eles. As três personagens são caricaturas que encarnam a busca por três virtudes clássicas do ser humano: inteligência, carinho e coragem. O equilíbrio delas poderia fazer do indivíduo uma pessoa completa?
Dorothy é benevolente e esta é sua resistência. Sua força está em sua delicadeza e isso prova como é possível vencer a maldade e as adversidades com amor e bondade. Mesmo viajando para um mundo fantástico, cheio de poder, cores e glamour, com palácios de esmeraldas ou rubis, sapatos prateados ou chapéus de ouro, Dorothy não deixa de pensar na simplicidade de seu lar e na sua família humilde, pois lar é o mais importante. Em momento algum ela deseja ser uma Feiticeira como o povo de Oz a vê, nem quer permanecer em um reino rico, florido e com seres diferentes. Ela não se deixa corromper pelas tentações e quer apenas ir para sua casa com Totó e estar com os tios novamente. Porque, segundo a trama, "não há lugar como o nosso lar" — resposta dada por Dorothy ao Espantalho quando indagada em como poderia querer abandonar a rica e linda Terra de Oz para retornar ao acinzentado e pobre Kansas.


Tenho vontade em ler os demais Livros de Oz, porém não sei se me interesso pelos lançados por outros escritores (formando quarenta no total: Famosos Quarenta). Já Baum publicou treze no total.
Será que Baum imaginou que um século depois sua mitologia seria adaptada e analisada constantemente?
Bata os calcanhares três vezes e adquira um exemplar em texto integral. Comprando através dos links da Amazon disponibilizados no blog (como este!) ganho uma pequena comissão sem modificar o valor para você.
Minha edição é em capa dura, a "bolso de luxo" da coleção Clássicos Zahar, do Grupo Companhia das Letras. A tradução é de Sergio Flaskman, as páginas são amareladas e inclui cerca de cinquenta ilustrações originais da época, feitas por W. W. Denslow. A editora também possui uma versão comentada e ilustrada, que vivo paquerando, mas são várias edições diferentes com texto integral, escolha a sua. Caso seja assinante do Kindle Unlimited, a edição do Grupo Autêntica está disponível no catálogo, aproveite! Saiba mais sobre o sistema de assinatura de e-books da Amazon aqui.
E caso leia em inglês, o livro é gratuito, pois é de domínio público. Faça o download no Project Gutenberg.



A teorias mais aceitas:
A ingênua Dorothy, jovem e simples representaria o povo americano perdido e em busca de um rumo. O estado do Kansas teria sido o escolhido por ser tipicamente rural e cheio de trabalhadores simples. O Partido Populista era muito forte lá — segundo dizem, Baum era populista. Além disso, o trajeto pela Estrada de Tijolos Amarelos (o ouro) leva para a Cidade das Esmeraldas (verde, o dólar), que simbolizaria o mundo fraudulento e capitalista governado por um político calculista (O Mágico de Oz, representação do presidente dos Estados Unidos). Este utiliza dispositivos de publicidade e truques para enganar as pessoas (e até mesmo as Bruxas Boas — outros governantes). Um mago que faz as pessoas acreditarem que é benevolente, sábio e poderoso, quando na verdade é egoísta e cruel. Ele envia Dorothy para um perigo grave esperando que ela vá livrá-lo de seu inimigo.
O Leão Covarde seria uma metáfora para o desempenho do exército americano na Guerra Hispano-Americana. A guerra ocorreu em 1898 e os Estados Unidos recuperaram o controle de antigas colônias no Caribe e no Pacífico. Baum afirmou ser contra qualquer tipo de colonização, direta ou indireta. Em outras versões, o Leão é o principal representante do Partido Populista, William Jennings Bryan. Um político convincente em expor suas ideias, mas que nas eleições nunca provou ser forte como aparentava, tendo concorrido (e perdido) à presidência cinco vezes seguidas. Na última candidatura ele abandonou o Partido Populista e migrou para o Democrata, o que teria contribuído para Baum representá-lo como um covarde. O Homem de Lata representaria as falhas da indústria siderúrgica estadunidense em combater o aumento da concorrência internacional no cenário de 1890-1900. Ele representaria o trabalhador das indústrias do nordeste dos Estados Unidos, explorado por ricos empresários, que já não tem mais sentimentos e não faz nada na vida além de trabalhar excessivamente para receber cada vez menos. O Espantalho seria uma representação dos agricultores dos Estados Unidos e seus problemas no final do século XIX. Os fazendeiros pobres considerados sem cérebro pelas elites, que mesmo assim são essenciais para o funcionamento da sociedade.  E o ciclone seria uma metáfora para uma revolução política necessária na década de 1890 que deveria transformar o país monótono em uma terra de cor e prosperidade ilimitada. O ciclone foi utilizado como símbolo de mudança política e social em diversas mídias e protestos.

Outras suposições colocam a Bruxa Malvada do Oeste como o próprio Oeste dos Estados Unidos; então os Macacos Alados seriam outro "perigo ocidental": os nativos americanos. Baum possuía supostamente simpatia pelos nativos americanos das planícies, simbolizados na história pelos Macacos colonizados e escravizados. Há ainda a teoria de que Glinda, a jovem e bonita Bruxa Boa do Sul desejou utilizar Dorothy para derrubar seus concorrentes e que ansiaria ser a única soberana com poderes em Oz. Retirando o Mágico e as duas Bruxas Más de seu caminho, sobraria apenas a idosa e omissa Bruxa Boa do Norte. Em outra teoria, As duas Bruxas Boas são a mesma pessoa. Seria uma das heroínas da história na verdade uma fraude?
Focando na teoria que Baum foi seguidor fiel do Partido Populista, ele utilizou da obra para defender a principal ideia do partido: a introdução da prata como moeda de circulação no país, quebrando a hegemonia do ouro, que estava escasso e quase que totalmente sob o domínio dos donos das indústrias e siderúrgicas (em sua maioria membros do Partido Republicano). Então Dorothy, ao pisar com sapatos de prata em cima da estrada de ouro, estaria representando a vitória da prata sobre o ouro. Outro simbolismo da Estrada de Tijolos Amarelos é que ela representaria a busca e o caminho para a liberdade e realização de sonhos dourados de um povo.

O autor:
Lyman Frank Baum (15/05/1856 – 06/05/1919) foi um escritor e teosofista nascido em Chittenango, Nova Iorque. De família com origem alemã, foi o sétimo de nove filhos.
Escrevia desde jovem e publicava jornais com seu irmão. Foi lojista e vendedor ambulante antes de ser escritor famoso.
Foi criador de um dos mais populares livros escritos na literatura americana infantil - O Mágico de Oz .
Em 1897, tornou-se membro da Sociedade Teosófica. Sempre esteve ligado ao teatro, sua outra paixão. Era adorador de aves exóticas. Foi casado e morou por anos em Aberdeen, Dakota do Sul e Chicago, Illinois.
No final da vida Baum estava repleto de dívidas e doente. Devido ao seu amor pelo teatro, ele geralmente financiava peças de teatro, a maioria das vezes com grande prejuízo.
Escreveu diversos livros com vários pseudônimos: Edith Van Dyne, Laura Bancroft, Floyd Akers, Suzanne Metcalf, Schuyler Staunton, John Estes Cooke e Capt. Hugh Fitzgerald.

O filme:
Baseado no livro O Mágico de Oz de L. Frank Baum a Metro-Goldwyn-Mayer lançou em 18 de setembro de 1939 o filme homônimo, dirigido por Victor Fleming, King Vidor e Mervyn LeRoy. Com 1 hora e 41 minutos, este foi uma das primeiras produções a cores no cinema.
O elenco principal contou com Judy GarlandFrank MorganRay BolgerBert LahrJack HaleyBillie Burke e Margaret Hamilton.
Foi indicado a seis Oscars (Melhores Efeitos Especiais, Melhor Fotografia, Melhor Direção de Arte, Melhor Filme, Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original — ganhou estes dois últimos).

Nenhum comentário

Os comentários são moderados, portanto, aguarde aprovação.
Comentários considerados spams, agressivos ou preconceituosos não serão publicados, assim como os que contenham pirataria.
Caso tenha um blog, retribuirei seu comentário assim que possível.

Pesquise no blog

Parcerias