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[Resenha] A Pequena Guerreira, de Giuseppe Catozzella e Editora Record (Grupo Editorial Record)

A Pequena Guerreira (Non Dirmi Che Hai Paura)
Giuseppe Catozzella - Editora Record / Grupo Editorial Record
Tradução: Aline Leal
224 páginas - 2016 - R$29,90
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Sinopse:
"A Pequena Guerreira é um romance baseado na vida de Samia Omar, a menina determinada a ser uma atleta de sucesso que cresceu numa Somália devastada pela guerra.
Samia dormia com a foto do campeão olímpico Mo Farah ao seu lado, treinava arduamente apesar da violência e do preconceito que a rodeavam, e conseguiu, contra todas as expectativas, integrar a seleção somali de atletismo, além de participar das Olimpíadas de 2008 em Pequim.
Um dia, com a família sob risco de ser irremediavelmente afetada pela guerra, sua irmã se vê forçada a fazer a perigosa viagem de barco para a Europa, como refugiada. Pouco tempo depois, Samia, temendo por sua segurança e por seus sonhos, resolve seguir os passos da irmã, e com isso coloca a própria vida nas mãos de traficantes de pessoas, demonstrando até onde alguém é capaz de ir por um sonho. A Pequena Guerreira é uma história inspiradora e tocante de guerra, família e esperança."

Resenha:
A Pequena Guerreira é um romance muito emocionante baseado na história real da atleta somali Samia Yusuf Omar. Leitura perfeita para quem gosta de histórias de vida interessantes, fortes e comoventes, mas nem sempre se sente a vontade com os textos encontrados em biografias tradicionais. No entanto, mantém a seriedade necessária quando se trata de uma história real e, pelo que parece, o autor se preocupou muito em ser fiel aos fatos verídicos.
O italiano Giuseppe Catozzella é o escritor responsável por este belo best-seller, originalmente publicado em 2014 como Non Dirmi Che Hai Paura (em inglês, Don't Tell Me You're Afraid - Nunca diga que tem medo - ou Little Warrior).
A obra venceu o Prêmio Strega Giovani 2014 na Itália, foi publicada em mais de dez idiomas e está sendo adaptada para o cinema e para um documentário de televisão. O autor, além de jornalista, é Embaixador da Boa Vontade do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados. Ele contou com o apoio e ajuda da irmã de Samia, Hodan, para escrever a história.
A Editora Record, do Grupo Editorial Record, é a responsável por trazer a obra ao Brasil em exemplar com orelhas, papel amarelado, capa delicada e tradução de Aline Leal.


É uma história delicada com um tema forte e atual: o boom de refugiados em rota para a Europa, arriscando suas vidas em viagens de barcos perigosas e nas mãos de quadrilhas desumanas. O que leva tantas pessoas de nacionalidades diversas a fugirem de seus países, deixando tudo para trás? O livro mostra um pouco da política e da situação socioeconômica enfrentada por uma menina da Somália em plena guerra civil. É contado de forma leve, focando no cotidiano da protagonista e sua família, ainda assim é um bom material cultural, principalmente por tratar com cuidado da parte sentimental.
Todo refugiado com certeza tem uma história no mínimo interessante para contar. A Pequena Guerreira participou das Olimpíadas 2008 em Pequim e seu sonho sempre foi correr e vencer todas as competições, até chegar aos Jogos Olímpicos e alcançar o primeiro lugar. Movida por esse sonho, Samia Omar planejou fugir do horror da guerra e treinar na Europa. O livro começa com Samia em seus primeiros treinos caseiros, quando tinha apenas 8 anos de idade.
Ela nasceu no interior da Somália em 1991 e treinou de forma amadora, com o apoio moral dos pais e a ajuda do melhor amigo Alí, que morava na mesma casa. Seus pais eram amigos e, mesmo de etnias diferentes, conviviam como se fossem da mesma família. Samia e Alí tinham a guerra como irmã mais velha, que chegou à Somália um pouco antes deles nascerem.
Samia corria porque gostava e se sentia livre. Logo criança começou a se destacar e a vencer competições locais. Mesmo sem nenhuma estrutura, Samia se dedicava sem jamais desistir, correndo pelas ruas da capital Mogadíscio. Além das precariedades que qualquer somali enfrentava, Samia lutou contra o machismo, pois provocou a ira de militantes extremistas que acreditavam que mulheres não deveriam praticar esportes. Samia enfrentou a guerra, a fome, a violência, o medo. Nunca deixou o sonho de lado, dedicando-se com afinco. Outra figura importante é sua irmã mais velha, Hodan, que adorava cantar e também sonhava com uma vida sem censura, guerras e terrorismo. Mas ela foi proibida de cantar. Não se podia correr, cantar... mas Samia e Hodan sonhavam.


O livro é classificado como literatura italiana ficcional baseada em história real. Há equilíbrio na forma como Giuseppe planejou contar a história de Samia. Giuseppe narra em primeira pessoa como se fosse a própria. O que poderia soar falso ou ser arriscado, é na verdade convincente, lindo, inspirador e triste. O tom dado a Samia é simples e encantador e a evolução da protagonista é notável. As batalhas interiores de Samia são expostas. Ela quer se manter fiel à sua terra natal, mas isso a segura na tentativa de lutar por seu maior sonho. Ela gostaria de vencer uma Olimpíada como mulher, como somali e como muçulmana, mas ela está sendo impedida. Ela não perde a esperança, sem saber se fica ou se vai. Se vai em busca de sua Viagem - quase todo somali em algum momento da vida ou tenta procurar por melhores condições e oportunidades em outro lugar ou sonha em partir.
Ao iniciar a leitura, pensei que seriam momentos leves apenas. Começa singela, mas aos poucos a obra cresce, se desenvolve e eu fui completamente agarrada por ela. Sério, eu comecei a leitura curiosa e logo pensei se não seria uma leitura meio técnica ou superficial comum de muitas biografias, ou se não se aprofundaria o suficiente para me emocionar, já que o livro não foi escrito pela protagonista. Engano total. A leitura se torna intensa de modo arrebatador. Como o autor conseguiu dar voz a Samia de forma tão bonita e realista? É espetacular.
Mesmo já sabendo a base da história eu chorei com o final. Chorei de verdade, tentei segurar as lágrimas, mas não foi possível. Eu já sabia o que aconteceria e acho que quem acompanha os fatos recentes do atletismo ou acompanhou os Jogos Olímpicos de 2008 também sabe. A internet traz muitas matérias sobre Samia e o final está resumido na orelha do exemplar. Mesmo assim, fiquei bastante emocionada com a leitura.

Os caminhos que Samia, Hodan e Alí seguem me emocionaram muito, cada um à sua maneira. Livros me fazem viajar e conhecer pessoas, locais e épocas variadas. Muitos provocam em mim pensamentos e emoções intensos, como se eu estivesse vivenciando o conteúdo. Esse é um livro especial, ainda mais por ser baseado em uma história verdadeira e por representar milhares de outras.
A Pequena Guerreira é para quem gosta de histórias bonitas que misturam alegria e tristeza e têm protagonistas guiadas por sonhos poderosos; para quem ainda está com o espírito Olímpico no coração; para quem se preocupa com a situação dos refugiados.
Muitas histórias precisam ser contadas e a de Samia Yusuf Omar é essencial. É arrebatadora e poderosa, uma história para jamais ser esquecida.
Recomendado pela Editora Record para leitores que gostaram de O Caçador de Pipas (Khaled Hosseini), Persépolis (Marjane Satrapi) e Pequena Abelha (Chris Cleave). Acrescento à lista O Pomar das Almas Perdidas (Nadifa Mohamed).


Pesquisando sobre Samia encontrei uma história em quadrinhos sobre ela, de Reinhard Kleist: An Olympic Dream: The Story of Samia Yusuf Omar. É uma graphic novel de abril de 2016 e a publicação no Brasil seria bacana.
Abaixo deixo dois registros em vídeo de Samia: o primeiro na abertura das Olimpíadas 2008 e o segundo, sua participação nos 200 metros.



O autor:
O jornalista italiano Giuseppe Catozzella escreve para La Repubblica, L’Espresso, Vanity Fair e para a edição italiana do Financial Times. É Embaixador da Boa Vontade do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.
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