O Canto das Sereias (The Mermaids Singing)
Tony Hill & Carol Jordan - Livro 01
Val McDermid - Bertrand Brasil
Tradução: Michel Marques
490 páginas - Ano: 2014 - R$50,00
Sinopse:
"Autora escocesa best-seller encontra novos meios de surpreender e chocar o leitor.
Após anos de espera, chega às livrarias brasileiras a primeira aventura do personagem mais famoso de Val McDermid: o psicólogo clínico Tony Hill. O canto das sereias foi vencedor do Golden Dagger pela Crime Writers’ Association, categoria romance policial, e foi aclamado pela crítica, que elogiou a inventividade na criação do polêmico assassino.
Quatro homens foram encontrados mutilados e torturados. Enquanto o medo se apodera da cidade, a polícia, por meio da detetive Carol Jordan, recorre ao Dr. Tony Hill para elaborar um perfil criminal do assassino. Contudo, ele logo se torna o alvo numa batalha entre intelectos e intenções em que precisa usar toda a sua habilidade profissional e coragem para sobreviver.
Um suspense psicológico tenso e muito bem escrito, O canto das sereias explora a mente atormentada de um assassino em série diferente de qualquer outro que o mundo da ficção já tenha visto. Os métodos de tortura utilizados, assim como o modo de abordagem das vítimas – narrados pelo criminoso em seus relatos sombrios – chocarão os leitores.
O sucesso do livro foi arrebatador, sendo adaptado para televisão. A produção conta, no elenco, com Robson Green (Dr. Hill) e Hermione Norris (detetive Jordan)."
Links: Bertrand Brasil | Skoob
Resenha:
Não conhecia o trabalho da autora escocesa, mas já conhecia a sua fama de boa escritora de suspenses e thrillers. O fato de escritores de países gelados europeus estarem se consolidando como os melhores no gênero também chama a atenção e espero conferir ao poucos o trabalho de alguns.
O primeiro livro da série Tony Hill & Carol Jordan me prendeu do início ao fim. O Canto das Sereias é uma publicação de 1995 e ainda sim sua história é completamente fresca, e mesmo quase 20 anos depois, muito interessante. O livro já ganha pontos com isso; por a trama ainda estar atualizada mostra o quanto ela é atemporal. Isso traz charme, porque acompanhamos a caçada da polícia a um serial killer com tecnologia restrita, trazendo mais dificuldade.
Como o ponto forte está nas motivações das personagens, pouco importa em que época a investigação ocorre.
Destaque para o trabalho da Bertrand Brasil. Primeiramente por se preocupar com a publicação do primeiro volume da série, mesmo este sendo antigo. São livros que podem ser lidos de forma independente, conforme pesquisei, mas é sempre interessante para eu conhecer a cronologia e poder optar pela leitura na ordem. Não gosto muito quando uma editora traz uma série já em andamento e a publica sem planejamento, fora da ordem.
Em segundo lugar, a capa está assustadora e obscura como é o clima da história. O material dela é suavemente emborrachado, presenteando o tato do leitor com um livro macio. O nome da autora está em relevo feito do mesmo material.
A diagramação é bem limpa e simples e se enquadra muito bem ao estilo do livro. Este é dividido em dezoito capítulos e um epílogo. Todo capítulo é iniciado por uma sombra de sereia e uma epígrafe da obra Do Assassinato como uma das Belas-Artes, de Thomas De Quincey (1827). Os capítulos não possuem títulos e eu gostei disso por reforçar o suspense do livro.
A narrativa se alterna em duas:
Trechos em primeira pessoa narrados pelo serial killer. Estes são extraídos de seu acervo pessoal guardados em disquetes (sim, disquetes, é uma publicação de 1995!). Nessas partes ele conta friamente como agiu, capturou, torturou e assassinou suas vítimas. Muito importante acompanhar com bastante atenção para tentar imaginar como é o assassino em série responsável pelos macabros homicídios.
O livro em si é em terceira pessoa mostrando como se desenvolve a busca pela identidade dele. O foco está nos dois protagonistas que compõem o título da série, mas o ponto de vista é de diversas personagens, sempre se movimentando e dando dinamismo à história.
Interessante como a narrativa em terceira pessoa se incia mais avançada cronologicamente que a em primeira. O leitor já sabe que homicídios aconteceram e vai sendo apresentado ao caso e aos responsáveis por solucioná-lo, enquanto na narrativa do assassino, é uma pequena volta no tempo. Então a trama vai se desdobrando, o ritmo da narrativa acelerando muito até que as duas partes se cruzam e passam a ser contadas ao mesmo tempo: O ponto de vista de narrador de fora da história e o ponto de vista particular do serial killer. As narrativas se chocam no clímax final da história, que por sinal, devo avisar: É incrível! Em momento algum imaginei esse resultado. Realmente impressionante a reviravolta que a autora traz.
A trama não é lenta, mas, no entanto, o último um terço dela acelera bastante. Gostei como Val Mcdermid introduz as personagens e o cenário das mortes. A autora dedicou um pouco de tempo a apresentação, principalmente pelo fato de ser o começo da série. Mesmo assim, não é monótono, já que todo o conflito e mistério centrais já são dados ao leitor. Todo o começo acontece de modo natural e neutro, sem parecer uma introdução. Claramente nota-se que a aceleração da história é manobra para ampliar a curiosidade.
Pensei que seria um livro pesado, que demoraria a finalizar a leitura. Porque é uma temática muito densa, um tema assustador e delicado. Porém fui conquistada logo no primeiro capítulo e torci para ser um suspense policial intimidador e impressionante.
A leitura engrenou desde o começo e eu nem percebia o avanço das páginas. O final é excelente, fazendo valer cada minuto investido. Deixa a critério do leitor continuar a ler a série ou não. Quem gostar do livro (e gênero) com certeza se sentirá ansioso para ler mais de Tony e Carol. Espero que todos os livros sejam assim: Mesmo possuindo ação e suspense, que foquem no impacto psicológico.
Carol é a detetive principal e é fanática pelo trabalho. Personagem que demonstra como a mulher pode ser feminina e ainda assim mostrar que não é o "sexo frágil". Ela é inteligente, profissional e precisa enfrentar no cotidiano o preconceito que mulheres no comando sofrem, ainda mais quando estão na chefia da investigação policial mais importante do momento.
Tony é o psicólogo forense especialista em lidar com assassinos violentos após serem presos. Após tanto tempo nesse trabalho ele é introduzido na polícia para criar perfis psicológicos de criminosos em ação, para ajudar os investigadores na prisão e solução dos casos.
Se Carol sofre preconceito por ser mulher e precisar se impor perante os colegas homens, Tony precisa também conquistar o respeito de todos, mas por ser psicólogo e não policial. Ele precisa provar que seu trabalho pode ser essencial na investigação e de grande ajuda para encontrar e lidar com assassinos.
Portanto eles se identificam e se tornam aliados no caso do Assassino das Bonecas (como a imprensa o apelida) ou do Faz-tudo (apelido dado pelo próprio Tony).
As personagens secundárias não são tão bem desenvolvidas, porém todas são importantes. O leitor acompanha todos os investigadores / policiais e suas interações. Os desentendimentos profissionais e pessoais são bons e a justificativa de cada um é mostrada claramente.
O leitor tem um pouco de tudo, como por exemplo, a jornalista de "imprensa marrom" que não tem escrúpulos em obter suas informações, que pensa estar fazendo o correto em não esconder nada da população, mas sem pensar no perigo de notícias sem fundamento.
Aos poucos a autora demonstra os conflitos interiores e defeitos das personagens, mostrando como podem ser heroicas e simultaneamente problemáticas. Tony e Carol precisam separar suas vidas profissionais das pessoais, pois não é simples se desvincular dos crimes brutais, parar de pensar no choque que eles provocam e ter uma vida relativamente normal.
O cenário sombrio é a Escócia de 1993 / 1994 e a série de assassinatos na cidade fictícia Bradfield. As vítimas são encontradas com sinais peculiares e assustadores de tortura violenta. Ao perceber que se trata de assassinatos em série, a polícia é obrigada a trabalhar com um psicólogo de análise criminal. O mais chocante é o método utilizado pelo assassino: Tortura medieval, principalmente da Inquisição espanhola.
Além de pausar a leitura em alguns trechos para absorver o choque, eu parei também para pesquisar sobre como e para quê os métodos eram utilizados. Isso reforçou o terror da maldade empregada nas torturas e também como uma melhor visualização. Recomendo aos leitores curiosos que pesquisem sobre os aparatos recriados pelo assassino. As ilustrações de livros históricos e fotos dos aparelhos em museus encontrados na internet ajudaram na composição do cenário.
Destaque para os textos de Tony, o seu trabalho burocrático. Valioso para o leitor ter acesso aos seus arquivos sobre a criação do perfil psicológico do Faz-tudo. Começa com a ideia do esboço até se tornar algo sólido e plausível. Fiquei muito curiosa para descobrir os erros e acertos do psicólogo.
Outros textos que acrescentam dinâmica ao livro são os da imprensa e o impacto que as publicações causam na opinião pública, na fama da polícia e no ponto de vista do serial killer, que faz questão de acompanhar as atualizações.
Embora seja apenas ficção (e a autora faz questão de ressaltar isso nos agradecimentos), o Canto das Sereias é uma história perturbadoramente muito convincente (como uma pessoa pode ser tão cruel?), principalmente no cenário dos anos 1990, quando a tecnologia era bem diferente. Nada do boom da internet, telefones celulares e mensagens instantâneas.
Gostei de perceber como em pouco tempo as investigações criminais ganharam a tecnologia como aliada. No livro os investigadores contam com pagers (ou bipes) e telefones convencionais para se comunicarem. Os computadores e softwares eram bem caros e apenas um grupo seleto possuía modelos atuais. A mídia impressa e a rádio e televisão ainda eram os principais métodos da população se informar sobre os acontecimentos, não a internet.
A autora convence o leitor no desenvolvimento do enredo em todas as etapas, seja o perfil do serial killer e seus passos ou a tecnologia disponível na época ou o trabalho da perícia e da investigação. Creio que isso seja resultado do trabalho de pesquisa dela. Desde o surgimento da ideia do romance em 1992 até seu término, ela consultou psicólogos (incluindo um analista criminal), médicos, detetives, advogados e especialistas em informática.
O Canto das Sereias é um suspense policial que mostra uma boa rede de personagens em uma caçada ao serial killer que utiliza métodos bizarros de tortura medieval. Uma trama inteligente, pois não deixa nenhuma lacuna em branco no desenvolvimento do enredo. Uma ficção tão convincente que os homicídios poderiam ser reais. Um serial killer que entra para o time dos piores assassinos.
Uma história chocante, não apenas pelos fatos, mas também por mostrar o quanto a mente do ser humano pode ser má, sanguinária e complexa. O suspense psicológico prevalece, porém a ação e todos os ingredientes necessários para uma satisfatória trama policial estão presentes.
Protagonistas que tentam ser heróis e precisam provar a todos (e a si mesmos) que mesmo possuindo defeitos podem alcançar seus objetivos. Carol quer provar que é uma policial e investigadora forte e que o gênero sexual não importa. Tony quer comprovar que um analista criminal é necessário para a solução do caso, mesmo ele não sendo um policial.
No fim os dois precisam enfrentar tudo isso na prática. Na realidade assustadora.
A autora:
Val McDermid cresceu numa pequena comunidade de mineiros na Escócia e posteriormente se formou em Literatura em Oxford. Trabalhou como jornalista durante dezesseis anos, sendo os últimos três como editora-chefe de sucursal de um importante jornal da Inglaterra. Dedicando-se atualmente à literatura, ela divide seu tempo entre South Manchester e Northumberland.
Seus romances policiais foram aclamados internacionalmente e receberam aclamados prêmios. O livro Um Corpo para o Crime ganhou o Anthony Awards de melhor romance e o prêmio de Livro do ano pelo Los Angeles Times, em 2001 (categoria Mistério / suspense).
O Canto das Sereias, sexto livro da autora publicado pela Bertrand Brasil, foi vencedor do Golden Dagger pela Crime Writters' Association como melhor romance policial. Além desse prêmio, Val ganhou o Anthony Award, o Dilys Award, o Los Angeles Times Book Prize, o Sherlock Award, o Portico Prize e o Diamond Dagger, também da Crime Writters' Association, este em reconhecimento ao talento que tem demonstrado durante mais de vinte anos.
O próximo livro da série (Tony Hill & Carol Jordan), que foi adaptada pela HBO, se chamará Rastros de Sangue.
Site | Facebook
A série:
Título original (ano de publicação original) / Título no Brasil (ano de publicação no Brasil)
Tony Hill & Carol Jordan - Livro 01
Val McDermid - Bertrand Brasil
Tradução: Michel Marques
490 páginas - Ano: 2014 - R$50,00
Sinopse:
"Autora escocesa best-seller encontra novos meios de surpreender e chocar o leitor.
Após anos de espera, chega às livrarias brasileiras a primeira aventura do personagem mais famoso de Val McDermid: o psicólogo clínico Tony Hill. O canto das sereias foi vencedor do Golden Dagger pela Crime Writers’ Association, categoria romance policial, e foi aclamado pela crítica, que elogiou a inventividade na criação do polêmico assassino.
Quatro homens foram encontrados mutilados e torturados. Enquanto o medo se apodera da cidade, a polícia, por meio da detetive Carol Jordan, recorre ao Dr. Tony Hill para elaborar um perfil criminal do assassino. Contudo, ele logo se torna o alvo numa batalha entre intelectos e intenções em que precisa usar toda a sua habilidade profissional e coragem para sobreviver.
Um suspense psicológico tenso e muito bem escrito, O canto das sereias explora a mente atormentada de um assassino em série diferente de qualquer outro que o mundo da ficção já tenha visto. Os métodos de tortura utilizados, assim como o modo de abordagem das vítimas – narrados pelo criminoso em seus relatos sombrios – chocarão os leitores.
O sucesso do livro foi arrebatador, sendo adaptado para televisão. A produção conta, no elenco, com Robson Green (Dr. Hill) e Hermione Norris (detetive Jordan)."
Links: Bertrand Brasil | Skoob
Resenha:
Não conhecia o trabalho da autora escocesa, mas já conhecia a sua fama de boa escritora de suspenses e thrillers. O fato de escritores de países gelados europeus estarem se consolidando como os melhores no gênero também chama a atenção e espero conferir ao poucos o trabalho de alguns.
O primeiro livro da série Tony Hill & Carol Jordan me prendeu do início ao fim. O Canto das Sereias é uma publicação de 1995 e ainda sim sua história é completamente fresca, e mesmo quase 20 anos depois, muito interessante. O livro já ganha pontos com isso; por a trama ainda estar atualizada mostra o quanto ela é atemporal. Isso traz charme, porque acompanhamos a caçada da polícia a um serial killer com tecnologia restrita, trazendo mais dificuldade.
Como o ponto forte está nas motivações das personagens, pouco importa em que época a investigação ocorre.
Destaque para o trabalho da Bertrand Brasil. Primeiramente por se preocupar com a publicação do primeiro volume da série, mesmo este sendo antigo. São livros que podem ser lidos de forma independente, conforme pesquisei, mas é sempre interessante para eu conhecer a cronologia e poder optar pela leitura na ordem. Não gosto muito quando uma editora traz uma série já em andamento e a publica sem planejamento, fora da ordem.
Em segundo lugar, a capa está assustadora e obscura como é o clima da história. O material dela é suavemente emborrachado, presenteando o tato do leitor com um livro macio. O nome da autora está em relevo feito do mesmo material.
A diagramação é bem limpa e simples e se enquadra muito bem ao estilo do livro. Este é dividido em dezoito capítulos e um epílogo. Todo capítulo é iniciado por uma sombra de sereia e uma epígrafe da obra Do Assassinato como uma das Belas-Artes, de Thomas De Quincey (1827). Os capítulos não possuem títulos e eu gostei disso por reforçar o suspense do livro.
A narrativa se alterna em duas:
Trechos em primeira pessoa narrados pelo serial killer. Estes são extraídos de seu acervo pessoal guardados em disquetes (sim, disquetes, é uma publicação de 1995!). Nessas partes ele conta friamente como agiu, capturou, torturou e assassinou suas vítimas. Muito importante acompanhar com bastante atenção para tentar imaginar como é o assassino em série responsável pelos macabros homicídios.
O livro em si é em terceira pessoa mostrando como se desenvolve a busca pela identidade dele. O foco está nos dois protagonistas que compõem o título da série, mas o ponto de vista é de diversas personagens, sempre se movimentando e dando dinamismo à história.
Interessante como a narrativa em terceira pessoa se incia mais avançada cronologicamente que a em primeira. O leitor já sabe que homicídios aconteceram e vai sendo apresentado ao caso e aos responsáveis por solucioná-lo, enquanto na narrativa do assassino, é uma pequena volta no tempo. Então a trama vai se desdobrando, o ritmo da narrativa acelerando muito até que as duas partes se cruzam e passam a ser contadas ao mesmo tempo: O ponto de vista de narrador de fora da história e o ponto de vista particular do serial killer. As narrativas se chocam no clímax final da história, que por sinal, devo avisar: É incrível! Em momento algum imaginei esse resultado. Realmente impressionante a reviravolta que a autora traz.
A trama não é lenta, mas, no entanto, o último um terço dela acelera bastante. Gostei como Val Mcdermid introduz as personagens e o cenário das mortes. A autora dedicou um pouco de tempo a apresentação, principalmente pelo fato de ser o começo da série. Mesmo assim, não é monótono, já que todo o conflito e mistério centrais já são dados ao leitor. Todo o começo acontece de modo natural e neutro, sem parecer uma introdução. Claramente nota-se que a aceleração da história é manobra para ampliar a curiosidade.
Pensei que seria um livro pesado, que demoraria a finalizar a leitura. Porque é uma temática muito densa, um tema assustador e delicado. Porém fui conquistada logo no primeiro capítulo e torci para ser um suspense policial intimidador e impressionante.
A leitura engrenou desde o começo e eu nem percebia o avanço das páginas. O final é excelente, fazendo valer cada minuto investido. Deixa a critério do leitor continuar a ler a série ou não. Quem gostar do livro (e gênero) com certeza se sentirá ansioso para ler mais de Tony e Carol. Espero que todos os livros sejam assim: Mesmo possuindo ação e suspense, que foquem no impacto psicológico.
Carol é a detetive principal e é fanática pelo trabalho. Personagem que demonstra como a mulher pode ser feminina e ainda assim mostrar que não é o "sexo frágil". Ela é inteligente, profissional e precisa enfrentar no cotidiano o preconceito que mulheres no comando sofrem, ainda mais quando estão na chefia da investigação policial mais importante do momento.
Tony é o psicólogo forense especialista em lidar com assassinos violentos após serem presos. Após tanto tempo nesse trabalho ele é introduzido na polícia para criar perfis psicológicos de criminosos em ação, para ajudar os investigadores na prisão e solução dos casos.
Se Carol sofre preconceito por ser mulher e precisar se impor perante os colegas homens, Tony precisa também conquistar o respeito de todos, mas por ser psicólogo e não policial. Ele precisa provar que seu trabalho pode ser essencial na investigação e de grande ajuda para encontrar e lidar com assassinos.
Portanto eles se identificam e se tornam aliados no caso do Assassino das Bonecas (como a imprensa o apelida) ou do Faz-tudo (apelido dado pelo próprio Tony).
As personagens secundárias não são tão bem desenvolvidas, porém todas são importantes. O leitor acompanha todos os investigadores / policiais e suas interações. Os desentendimentos profissionais e pessoais são bons e a justificativa de cada um é mostrada claramente.
O leitor tem um pouco de tudo, como por exemplo, a jornalista de "imprensa marrom" que não tem escrúpulos em obter suas informações, que pensa estar fazendo o correto em não esconder nada da população, mas sem pensar no perigo de notícias sem fundamento.
Aos poucos a autora demonstra os conflitos interiores e defeitos das personagens, mostrando como podem ser heroicas e simultaneamente problemáticas. Tony e Carol precisam separar suas vidas profissionais das pessoais, pois não é simples se desvincular dos crimes brutais, parar de pensar no choque que eles provocam e ter uma vida relativamente normal.
O cenário sombrio é a Escócia de 1993 / 1994 e a série de assassinatos na cidade fictícia Bradfield. As vítimas são encontradas com sinais peculiares e assustadores de tortura violenta. Ao perceber que se trata de assassinatos em série, a polícia é obrigada a trabalhar com um psicólogo de análise criminal. O mais chocante é o método utilizado pelo assassino: Tortura medieval, principalmente da Inquisição espanhola.
Além de pausar a leitura em alguns trechos para absorver o choque, eu parei também para pesquisar sobre como e para quê os métodos eram utilizados. Isso reforçou o terror da maldade empregada nas torturas e também como uma melhor visualização. Recomendo aos leitores curiosos que pesquisem sobre os aparatos recriados pelo assassino. As ilustrações de livros históricos e fotos dos aparelhos em museus encontrados na internet ajudaram na composição do cenário.
Destaque para os textos de Tony, o seu trabalho burocrático. Valioso para o leitor ter acesso aos seus arquivos sobre a criação do perfil psicológico do Faz-tudo. Começa com a ideia do esboço até se tornar algo sólido e plausível. Fiquei muito curiosa para descobrir os erros e acertos do psicólogo.
Outros textos que acrescentam dinâmica ao livro são os da imprensa e o impacto que as publicações causam na opinião pública, na fama da polícia e no ponto de vista do serial killer, que faz questão de acompanhar as atualizações.
Embora seja apenas ficção (e a autora faz questão de ressaltar isso nos agradecimentos), o Canto das Sereias é uma história perturbadoramente muito convincente (como uma pessoa pode ser tão cruel?), principalmente no cenário dos anos 1990, quando a tecnologia era bem diferente. Nada do boom da internet, telefones celulares e mensagens instantâneas.
Gostei de perceber como em pouco tempo as investigações criminais ganharam a tecnologia como aliada. No livro os investigadores contam com pagers (ou bipes) e telefones convencionais para se comunicarem. Os computadores e softwares eram bem caros e apenas um grupo seleto possuía modelos atuais. A mídia impressa e a rádio e televisão ainda eram os principais métodos da população se informar sobre os acontecimentos, não a internet.
A autora convence o leitor no desenvolvimento do enredo em todas as etapas, seja o perfil do serial killer e seus passos ou a tecnologia disponível na época ou o trabalho da perícia e da investigação. Creio que isso seja resultado do trabalho de pesquisa dela. Desde o surgimento da ideia do romance em 1992 até seu término, ela consultou psicólogos (incluindo um analista criminal), médicos, detetives, advogados e especialistas em informática.
O Canto das Sereias é um suspense policial que mostra uma boa rede de personagens em uma caçada ao serial killer que utiliza métodos bizarros de tortura medieval. Uma trama inteligente, pois não deixa nenhuma lacuna em branco no desenvolvimento do enredo. Uma ficção tão convincente que os homicídios poderiam ser reais. Um serial killer que entra para o time dos piores assassinos.
Uma história chocante, não apenas pelos fatos, mas também por mostrar o quanto a mente do ser humano pode ser má, sanguinária e complexa. O suspense psicológico prevalece, porém a ação e todos os ingredientes necessários para uma satisfatória trama policial estão presentes.
Protagonistas que tentam ser heróis e precisam provar a todos (e a si mesmos) que mesmo possuindo defeitos podem alcançar seus objetivos. Carol quer provar que é uma policial e investigadora forte e que o gênero sexual não importa. Tony quer comprovar que um analista criminal é necessário para a solução do caso, mesmo ele não sendo um policial.
No fim os dois precisam enfrentar tudo isso na prática. Na realidade assustadora.
A autora:
Val McDermid cresceu numa pequena comunidade de mineiros na Escócia e posteriormente se formou em Literatura em Oxford. Trabalhou como jornalista durante dezesseis anos, sendo os últimos três como editora-chefe de sucursal de um importante jornal da Inglaterra. Dedicando-se atualmente à literatura, ela divide seu tempo entre South Manchester e Northumberland.
Seus romances policiais foram aclamados internacionalmente e receberam aclamados prêmios. O livro Um Corpo para o Crime ganhou o Anthony Awards de melhor romance e o prêmio de Livro do ano pelo Los Angeles Times, em 2001 (categoria Mistério / suspense).
O Canto das Sereias, sexto livro da autora publicado pela Bertrand Brasil, foi vencedor do Golden Dagger pela Crime Writters' Association como melhor romance policial. Além desse prêmio, Val ganhou o Anthony Award, o Dilys Award, o Los Angeles Times Book Prize, o Sherlock Award, o Portico Prize e o Diamond Dagger, também da Crime Writters' Association, este em reconhecimento ao talento que tem demonstrado durante mais de vinte anos.
O próximo livro da série (Tony Hill & Carol Jordan), que foi adaptada pela HBO, se chamará Rastros de Sangue.
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A série:
Título original (ano de publicação original) / Título no Brasil (ano de publicação no Brasil)
- The Mermaids Singing (1995) / O Canto das Sereias (2014)
- The Wire in the Blood (1997) Rastros de Sangue (inédito)
- The Last Temptation (2002) (inédito)
- The Torment of Others (2004) (inédito)
- Beneath the Bleeding (2007) (inédito)
- Fever of the Bone (2009) (inédito)
- The Retribution (2011) (inédito)
- Cross and Burn (2013) (inédito)
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