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Iscas, de J. Kent Messum e Editora Record

Iscas (Bait)
J. Kent Messum - Editora Record / Grupo Editorial Record
Tradução: Flávia Carneiro Anderson
320 páginas - 2015 - R$38,00
Comprar: Submarino | Saraiva | Cultura

Sinopse:
"Dependentes químicos num jogo mortal lutando pela sobrevivência.
Seis estranhos acordam em uma ilha deserta sem qualquer lembrança de como chegaram ali, mas logo se torna evidente o que todos têm em comum: são dependentes de heroína. Sequestrados e colocados à força em um jogo mortal. 
Em poucos minutos, começam a discutir, porém os ânimos se acalmam quando eles encontram um baú com água, comida e uma carta informando que ninguém irá socorrê-los e que, do outro lado do canal, há uma segunda ilha, onde eles encontrarão mais suprimentos e uma recompensa para quem completar a tarefa: uma dose da mais pura heroína. 
Quando os primeiros sintomas da abstinência aparecem, eles não vêem alternativa a não ser se entregar à pressão psicológica imposta pelos misteriosos torturadores. Então se aventuram em um oceano de terror."

Resenha:
Iscas (Bait, 2013) é um thriller psicológico adulto em volume único do autor canadense J. Kent Messum, publicado pela Editora Record em 2015. O livro recebeu o prêmio Arthur Ellis Award 2014 por melhor romance de estreia.
A capa é simples, mas sensacional. Um vasto fundo azul e branco, que pode ser o céu ou o mar espumante. E uma isca peculiar: Um anzol com uma seringa de heroína presa a ele. Conforme resume o texto da própria capa: "Uma ilha. Seis pessoas. Um oceano de terror." É exatamente o conteúdo da trama.
Seis pessoas acordam em uma ilha deserta de Florida Keys sem saber como foram parar ali, nem o porquê. Essa região possui mais de 1.700 ilhas, um arquipélago com uma área de mais de 900 quilômetros quadrados. Essas pessoas não parecem ter algo em comum, não se conhecem e são tipos de pessoas bem distintos. Estão desconfiadas umas das outras, desorientadas e desesperadas com a situação. Ao redor da ilha, somente mar, uma vastidão de oceano. O que vai acontecer a elas?
Logo descobrem a única semelhança que possuem: São viciados em drogas, especialmente a heroína, e todos estão chegando ao fundo do poço devido ao vício. Suas vidas parecem não ter mais nada nelas, salvo o consumo de drogas.
Ao lado do grupo, um pouco de alimento e água mineral são encontrados e o principal: Instruções a serem seguidas. A promessa? Drogas da melhor qualidade, após uma etapa ser concluída. Na Psicologia, como se faz para estimular um comportamento? Recompensando o indivíduo imediatamente após a conclusão do mesmo. E aqui o prêmio é o mais desejado pelos viciados, já entrando em estágio de abstinência.
Para isso alguns obstáculos precisam ser superados. Além da obrigação de interagir uns com os outros - ou não - eles devem enfrentar o mar e seguir para a próxima ilha. Sem nenhuma ajuda. Porém, algo perverso está bem próximo... Movimentos no mar e manchas acinzentadas aqui ou ali, sombras formando espuma. Tubarões!? E, além disso, um iate os observa e logo deixa claro que não pertence a uma equipe de salvamento. O jogo começa!

A ficção possui várias histórias famosas por competição envolvendo morte e violência, com os integrantes forçados a lutar literalmente pela própria vida, como os livros Jogos Vorazes (Hunger Games, Suzanne Collins, 2008) e Battle Royale (Koushun Takami, 1999). Iscas me fez lembrar mais a franquia cinematográfica Jogos Mortais (Saw, James Wan e Leigh Whannell, 2004), talvez por ser um jogo mais rápido. Enquanto estes duram muitos dias, possuem muitas regras, muitos integrantes e formas de encarar o jogo, Iscas é mais direto e breve como Jogos Mortais. Em Iscas, não existem opções, não existe nenhuma forma de se ganhar tempo ou se esconder. E o mais interessante é que não existe uma lista de regras, apenas uma carta com algumas instruções. E ainda: Apenas seis participantes. É para ser rápido e fulminante. O jogo é muito simples. Até o cenário de Iscas é descomplicado. Nada de parafernálias. Sem itens complexos, armas ou opções de caminhos a seguir. Apenas o cenário natural: a ilha e o mar ao redor, separando os competidores de seu cobiçado prêmio.
E os tubarões rondando a praia? Lembra a franquia Tubarão (Jaws, livro de Peter Benchley publicado em 1974 e filme de 1975 escrito por ele e Carl Gottlieb, dirigido por Steven Spielberg). É muito interessante, são várias espécies de tubarões. Pausei a leitura e pesquisei sobre essas feras, foi muito curioso e relevante para que eu criasse as imagens e cenas. Depois dessa busca, o livro tornou-se aterrorizante. Tubarões são assustadores! Mas seres humanos podem ser piores...
Se isso não bastasse para agradar o leitor, o autor coloca mais uma atração. Todos os seis ilhados são viciados e estão em diferentes graus de abstinência. Portanto, a aflição e a necessidade por drogas é o fator decisivo para rapidamente começar a ação. Em vários momentos você percebe que nem sempre eles são movidos pelo instinto de sobrevivência, mas sim pela privação da heroína. Até pensei em como parecia não pensarem na possibilidade de saírem do jogo. Eles pensavam apenas em sanar a falta de drogas.


É uma leitura rápida, e acima de tudo, intrigante e cheia de adrenalina. O estilo enxuto do autor e a narrativa direta contribuem muito para a movimentação da trama. O texto é muito despojado, despretensioso e trivial, tanto narrativa quanto diálogos.
A narrativa é em terceira pessoa, focando primeiramente em Nash, mas depois ampliando o ponto de vista para os demais viciados: Felix, Ginger, Maria, Kenny e Tal. Com o avançar da trama, o leitor começa a ter acesso até mesmo aos pontos de vista dos responsáveis pelo jogo das iscas, os "vilões".
À princípio, a narrativa é não-linear, porque alterna os capítulos entre passado e presente. O livro introduz uma morte e logo começa a saga desse grupo. Sim, a leitura já começa com morte! A introdução alerta que o jogo das iscas não está acontecendo pela primeira vez. Seus idealizadores são experientes.
Então você acompanha Nash acordando na ilha e observando os corpos. Em seguida, conforme as personagens vão acordando e se conhecendo - e se estranhando - o autor alterna para o passado recente, mostrando aos poucos os últimos dias dos viciados em liberdade, para o leitor tentar compreender como eles foram parar na ilha, o motivo de terem sido escolhidos, como foram raptados e muito mais. Serve também para mostrar um pouco sobre quem eles são e plantar a dúvida: Por que viciados? Por que os sádicos organizadores do jogo das iscas escolhem viciados?
Nash é integrante de uma banda de rock falida. Felix é um ex-boxeador. Ginger é uma mulher que vive de bar em bar. Maria é uma imigrante ilegal. Kenny é um jovem que experimentou a heroína pela primeira vez. Tal toca violão na rua por trocados. As faixas etárias são diferentes, assim como os tipos étnicos. Ambos os sexos, incluindo um homossexual. Eles vêm de bairros variados e possuem fornecedores de drogas também diferentes. Qual será a peça fundamental do quebra-cabeça?

O meu problema com o livro foi a falta de apego às personagens. Não me envolvi com elas, mesmo gostando de Felix e Ginger. Como pessoas, não me conquistaram. Na verdade, pode soar horrendo, mas eu torcia para as mortes acontecerem, porque era a parte mais divertida da trama. Não quero ser interpretada erroneamente, estou apenas avaliando o nível de entretenimento do livro, de uma história ficcional. Óbvio que se fosse real eu nem teria estômago para saber de sua existência. Porém as melhores cenas do livro são as sangrentas.
Talvez tenha sido intencional da parte do autor. Embora suas personalidades e estilos sejam mostrados, mas precariamente definidos, um clima de superficialidade prevaleceu durante a leitura, pois conforme citado, não criei vínculo forte com os seis viciados. O autor até mostra seus traumas e problemas que os levaram às drogas e isso é essencial para humanizá-los, é uma boa tentativa, mas faltou conexão mais forte.
Acredito que seja proposital porque o sentimento é de que essa meia dúzia é apenas um exemplo de milhões de viciados sofrendo no mundo e, então, acho que o autor não quis personalizá-los excessivamente. Pessoas comuns envolvidas com drogas e que vão perdendo suas vidas, seus entes queridos, suas carreiras, e, até mesmo, suas características pessoais, deixando de lado seus gostos, autoestima, bem-estar, focando única e exclusivamente no consumo de drogas.
Acho que Messum criou seis personagens com a intenção de mostrar que poderiam ser qualquer pessoa. Que somos humanos, antes de tudo, e sucessíveis às falhas e erros. Não é um livro de julgamentos, e sim sobre o sofrimento dos dependentes químicos; sobre como a sociedade os analisa. Como podem ser ignorados, independente de estarem certos ou errados; serem vítimas ou culpados. Resumindo: O autor não se aprofunda na personagem para alertar que em seu lugar poderia estar qualquer um. Fez uma boa escolha: Entre drama ou ação, ele escolheu a última opção, deixando o livro singularizado, brutal, apurado, vertiginoso.

Iscas é uma trama direta, selvagem e simples, mas que esconde um drama mundial: A dependência química. É uma mistura de Jogos Mortais com Tubarão, onde um grupo desarmônico, composto por seis dependentes químicos, luta para sobreviver e receber drogas como recompensa. Os obstáculos são tubarões no meio do caminho e a vigília e interferência direta dos organizadores desse jogo doentio, em que os participantes podem se tornar iscas de tubarões.
Apenas um cenário, a praia, com exceções de outros locais em breves flashbacks. É uma história contemporânea e thriller.
O texto é simples, os diálogos são tão brutos quanto a ação, e também um pouco vulgares (de acordo com as personagens) e os pontos de vista se alternam.
As personagens são superficiais, embora representem uma categoria. Os vilões são unidimensionais e a motivação para o jogo das iscas é mostrada no final. Faz sentido, porém não me deixou satisfeita. No entanto, o clímax é suficiente e o final, relevante. Para não dar spoilers, posso dizer que o final é composto por dois itens. Um deles me impressionou, mas o outro poderia ser melhor.
As cenas com os tubarões são as melhores, um pouco trash, as descrições de mortes são ótimas. O ritmo da leitura é ágil e o livro é recomendado para quem busca um passatempo despretensioso e um enredo simples composto por viciados desunidos e desesperados por drogas - e tubarões famintos em seu caminho!

O autor:
J. Kent Messum é canadense, autor e músico. Já trabalhou como escritor freelancer, produtor, professor de música, bartender, entre outras funções. Ele mora em Toronto com a esposa, um cachorro e três gatos. Iscas foi vencedor do Arthur Ellis Awad, em 2014, na categoria de melhor romance de estreia.
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Um comentário

  1. Oi, Tati!!
    Achei muito interessante esse jogo, amo histórias desse tipo!
    Também acho que foi proposital o que o autor fez com os personagens.
    Com certeza vou ler por ser uma leitura ágil e sangrenta.
    Amei a resenha! Bjos <3

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