Peter Straub - Bertrand Brasil / Grupo Editorial Record
Tradução: Marina Slade
392 páginas - 2016 - R$49,90
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Sinopse:
"O inigualável mestre do horror e do suspense retorna com um livro poderoso e aterrorizante que redefine o gênero de maneira única e inesperada.
Em 1966, um carismático e astuto guru, de passagem por um campus universitário do Meio-Oeste norte-americano, reúne um restrito grupo de discípulos, entre estudantes de colegial e universitário de fraternidade, num ritual secreto que resulta em um corpo horrivelmente dilacerado, um garoto desaparecido e as almas abaladas de todos os envolvidos. Quarenta anos depois, um escritor de relativo sucesso e amigo de infância da maioria dos garotos que participaram do ritual – além de marido de uma das garotas envolvidas –, sai em busca de informações sobre essa noite aterrorizante, com um projeto de livro em mente. Porém, para consegui-las, precisará não apenas reencontrar antigos colegas com quem perdeu o contato há décadas, mas também incitá-los a reexaminarem os eventos inomináveis que os têm assombrado desde então. Ao revelar as histórias individuais dos membros do grupo, Um Passado Sombrio eletrifica o leitor de maneira arrepiante e imprevisível – e prova que Peter Straub é, indiscutivelmente, um mestre do horror moderno."
Resenha:
Lançado no Brasil pela Bertrand Brasil, do Grupo Editorial Record, em fevereiro de 2016, Um Passado Sombrio (A Darker Matter) foi originalmente publicado em inglês em 2010. O exemplar brasileiro possui orelhas, folhas brancas e excelente revisão. A diagramação é simples e a página possui margens muito estreitas, portanto, as 392 páginas apresentam conteúdo um pouco maior que geralmente há em livros dessa mesma grossura.
Peter Straub é um romancista veterano, considerado mestre do horror e do suspense, elogiado por autores renomados como Stephen King, que o recomenda: "Aterrorizante... Impossível de largar... Coloque este livro no topo da sua lista.". Straub já publicou dezenas de romances, noveletas, contos, poemas; já organizou antologias e também escreveu graphic novel. Pela Bertrand Brasil é possível adquirir as obras Mr. X e Um Lugar Especial (A Special Place: The Heart of a Dark Matter).
Portanto, com uma carreira sólida e elogiada pelo King, autor que admiro muito, fiquei curiosa para conhecer Straub, ainda mais por adorar suspense, terror e horror. O problema foi que Um Passado Sombrio não me aterrorizou nem me impressionou. A leitura foi arrastada, apesar de não ter sido monótona. Mas fiquei com a sensação de que o autor explora ao máximo as personagens, deixando os acontecimentos lentos para criar o suspense e tensão e, por se tratar de fatos passados, esperei pelo impacto final atingindo o presente e, mesmo ocorrendo, não foi intenso como imaginei.
A estrutura de texto / narrativa é peculiar e não linear: O autor mistura relatos variados, ou seja, versões, experiências e opiniões diferentes de um único acontecimento. Mescla também passado e presente e deixa o(a) leitor(a) com questionamentos à respeito da veracidade das coisas. O que aconteceu no fatídico dia em debate? O que foi sobrenatural, verdadeiro ou psicológico? Uma histeria coletiva ou uma experiência de ocultismo que deu errado? Pânico e coisas bizarras aconteceram, literalmente ou apenas nas mentes dos envolvidos? Se algo ocorre na mente da pessoa, a experiência pode ser considerada tão verdadeira quando uma experiência física?
Porém há um fato avassalador e inquestionável: Todos os participantes de um ritual mudaram naquele dia, muitos sofreram sequelas irreparáveis. Uma pessoa ficou progressivamente cega, uma foi presa, outra está desde então internada em um hospital psiquiátrico. E o pior: uma desapareceu e outra morreu brutalmente ao término do ritual!
Lee "Gêmeo" Harwell é o narrador do livro e teoricamente o protagonista. É um autor de relativo sucesso que no momento não consegue prosseguir com um novo romance. Ele presencia uma cena confusa e tem um encontro inesperado com uma figura que serve como gatilho para uma enxurrada de memórias. Ao se recordar de um fato muito misterioso e terrível ocorrido com sua esposa Lee "Eel" Truax e alguns colegas da época do Ensino Médio, Lee percebe que nem Eel ou seus amigos, com os quais ele nunca mais teve contato, contaram a ele o que verdadeiramente ocorreu no nebuloso 16 de outubro de 1966.
Lee não participou do evento nem se envolveu com as mesmas pessoas que sua esposa e ex-colegas, porém decide desvendar o mistério e, simultaneamente, ter material para seu novo romance. Para isso, ele precisa não apenas da ajuda da esposa, mas também rever seus antigos amigos de escola (ou o que sobrou deles): Howard "Hootie" Bly, Donald "Dilly" Olson e Jason "Boats" Boatman. O ritual envolveu ainda dois rapazes universitários, Keith Hayward e Brett Milstrap, o guru líder do grupo Spencer Mallon e sua parceira Meredith Bright, outra universitária.
A partir de então, entre encontros e reproduções dos relatos, percebe-se que Lee está, na verdade, escrevendo seu romance junto ao(a) leitor(a). Outro motivo para mostrar como a leitura é distinta, intrínseca, particular. Difícil para a maioria dos(as) leitores(as), sinceramente. O narrador está compondo seu manuscrito conforme lemos Um Passado Perdido, sendo que ele não participou da história (seu enredo). Ele se baseia em fatos reais e, em certo sentido, duvidosos e muito bizarros (muito mesmo!). Lee é o escritor-narrador-protagonista do livro sem ter vivenciado o que conta. Um trabalho difícil de finalizar, onde ele investiga fatos e informações, mas no fim, depende exclusivamente do que relatam a ele (e cada um tem a sua versão). Por isso o livro acaba se tornando muito confuso, mas interessante. Mas Lee estaria realmente preso às "entrevistas" dadas pelos colegas e esposa ou também usa sua imaginação de escritor?
Ele descreve bem como eram os relacionamentos e as personalidades de cada um em 1966, refaz seus passos, divaga bastante (por vezes se perde, como pensamentos reais de um escritor trabalhando), até ouvir os relatos dos colegas com quem ele e a esposa conseguiram contato.
O final e o relato de Eel são as melhores partes e fizeram a leitura valer a pena, visto que não me adaptei totalmente à narrativa extravagante, cheia de divagações e estrutura labiríntica.
O livro é muito bom, com uma escrita complexa e rica, mas não foi uma leitura que me conquistou. Talvez por possuir altas expectativas em cima da obra; estas não foram atingidas e, repito, mesmo sendo excepcionalmente bem escrito, não foi como eu esperava. Há suspense, personagens convincentes e um clima sobrenatural muito criativo, porém o desenvolvimento do enredo é lento demais e a estrutura de um modo geral funciona como um quebra-cabeça, mas não de um modo tão instigante como acho que deveria ser.
Talvez eu não estivesse preparada para o clima como um todo, embora tenha pescado várias mensagens. A sensação que tive (não é spoiler) é que Lee escreve seu livro e pronto: fica a critério de cada um(a) imaginar se é verdadeiro, o quanto é real e sobrenatural. Terminei a leitura filosofando até mesmo até que ponto as personagens "existem", afinal, Lee não é o escritor?? Será mesmo que Eel, Hootie, Boats, Dilly, Mallon, Meredith, Keith e Brett existem / existiram na vida de Lee, que escreveu o livro baseando-se na experiência deles? Ou ele criou (ou modificou) tudo apenas para seu novo romance, que ele tanto precisava escrever?
Então é isso: Um Passado Sombrio é um suspense adulto com cenas de horror. É passado ao(a) leitor(a) não exatamente como ocorreu e sim como uma das personagens reflete, investiga, entrevista e escreve em um manuscrito que ela pretende publicar.
Não é uma leitura recomendada para todo tipo de leitor nem para qualquer momento. Recomendo aos fanáticos por horror (não terror) e suspense, que apreciem leitura em que fragmentos tecem a trama e que exijam atenção especial para formar a obra como um todo.
Observei que Um Lugar Especial, também publicado pela Bertrand Brasil, é interligado a Um Passado Sombrio. São livros independentes, mas Um Lugar Especial traz a história de uma das personagens de Um Passado Sombrio: Keith Hayward. Embora já saiba o que aconteceu com ele (ao menos por Lee Harper) e mesmo ciente de seu passado, fiquei curiosa, visto que Keith é a personagem verdadeiramente obscura e intrincada de Um Passado Sombrio.
Peter Straub nasceu em Wisconsin, em 1943. Entre seus leitores assíduos, está ninguém menos que Stephen King, com quem já escreveu dois romances.
Sua obra já traduzida para mais de vinte idiomas e recebeu diversos prêmios, entre eles o Bram Stoker Award em 2010 por Um Passado Sombrio.
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