publicidade

[Resenha] A Guardiã de Histórias volume 1, de Victoria Schwab e Bertrand Brasil (Grupo Editorial Record)

A Guardiã de Histórias (The Archived)
The Archived - livro 1
Victoria Scwab - Bertrand Brasil / Grupo Editorial Record
Tradução: Daniel Estill
322 páginas - 2016 - R$34,90
Comprar: Amazon | Livraria Cultura | Livraria da Travessa | Livraria da FolhaLivraria Saraiva | Submarino

Sinopse:
"Imagine um lugar onde, como livros, os mortos repousam em prateleiras.
Cada corpo tem uma história para contar, uma vida disposta em imagens que apenas os Bibliotecários podem ler. Aqui, os mortos são chamados de Histórias, e o vasto domínio em que eles descansam é o Arquivo. Mackenzie Bishop é uma implacável Guardiã, cuja tarefa é impedir Histórias – geralmente violentas – de acordar e fugir do Arquivo. Naqueles domínios, os mortos jamais devem ser perturbados, mas alguém parece estar, deliberadamente, alterando Histórias e apagando seus trechos essenciais. A menos que Mac consiga juntar as peças restantes, o próprio Arquivo sofrerá as consequências."

Resenha:

Ao ler a sinopse de A Guardiã de Histórias só pensei em uma coisa: "Criativo. Preciso ler e conferir!" Não procurei informações sobre a autora, não verifiquei o gênero literário ou público-alvo nem li resenhas da obra em inglês, que possui o nome The Archived (2013).
Publicado em abril de 2016 pela Bertrand Brasil, do Grupo Editorial Record, A Guardiã de Histórias na verdade é o primeiro volume de uma série homônima. Ao finalizar o livro pesquisei sobre a autora e, portanto, descobri que o segundo volume é The Unbound (2014) e que o terceiro volume está em andamento e ainda será publicado em inglês. No exemplar não há informação sobre pertencer a uma série. Garanto que funciona como um livro independente, ou seja, com início, meio e fim. Porém, ao saber da existência de sequência, estou superansiosa, pois amei A Guardiã de Histórias em todos os aspectos!
O exemplar possui orelhas, capa macia, folhas amareladas, diagramação simples e fontes e margens confortáveis. A revisão é excelente.
É literatura Young Adult (Jovem Adulto), mas o público-alvo pode ir além do juvenil. O livro é Fantasia Urbana (Urban Fantasy), ou seja, subgênero de ficção especulativa, pois apresenta elementos fantásticos e narrativa dentro de um cenário urbano. O enredo engloba variados itens sobrenaturais, fantásticos e / ou paranormais, estando estes aspectos diretamente mesclados à cidade. Na Fantasia Urbana existe um conflito ou choque entre o "mundo real" e o "mundo mágico".
Não confunda com Romance Sobrenatural onde o lado romântico prevalece acima da ambientação sobrenatural. Isto não ocorre em A Guardiã de Histórias.


A protagonista é Mackenzie Bishop, a Guardiã de Histórias, a típica heroína moderna da Fantasia Urbana: independente, corajosa e ousada. Prefere trabalhar sozinha e silenciosamente, cumpre suas missões com rapidez, insistência e, muitas vezes, sem muito tato, apesar da discrição. Mantém ar de durona mesmo ao sentir medo ou dor e até usa o que seria fraqueza como combustível e adrenalina para a ação. Isto foi uma surpresa: o livro traz muita movimentação física e conflitos corpo-a-corpo. Há conflitos psicológicos e dramas particulares, mas a protagonista usa, além de inteligência, habilidades físicas e paranormais para a luta.
O cenário urbano foca no Coronado, um edifício antigo, rochoso e repleto de gárgulas quebradas no telhado. Há tempos fora um hotel, mas desde meados do século XX tem funcionado como prédio residencial. Traz mistério, muitos corredores, portas, passagens estranhas ou já em desuso. O prédio se destaca como a tradicional "casa mal-assombrada".
A trama é contemporânea e mistura passado e presente, formando um quebra-cabeça envolvendo uma série de crimes. Além de lutas corporais, artefatos mágicos e um labirinto sinistro e secreto entre dimensões, há suspense e a protagonista precisa bancar a detetive e ser rápida e precisa nas investigações. Traições, conspirações e mau uso da magia interferem diretamente sobre ela e ameaçam o território mundano, colocando em risco ambas as dimensões: a fantástica e a comum. E Mac tem muito a perder nos dois mundos. Ela não pode deixar isso acontecer!


A narrativa é em primeira pessoa e tão dinâmica e atraente que funciona como um convite para uma leitura ininterrupta. Mac se alterna entre o passado, sua história de vida e como se tornou Guardiã, e o presente, sua mudança com seus pais para o edifício Coronado.
Quando Mac narra o passado, o texto é em negrito e breve. Fala com alguém que não está mais com ela, como um desabafo sobre suas lembranças; fala com quem a treinou desde criança para ser Guardiã. Já o presente traz o trabalho atual dela como Guardiã de Histórias. É uma vida paralela de grandes responsabilidades e perigos. Além disso, é secreta, levando Mac a mentir e ocultar para manter segura sua carreira como Guardiã.
Justamente por caçar Histórias desgarradas é que Mac está sempre envolvida com o passado de outras pessoas. Por já ter perdido entes queridos, ela tem certa sensibilidade ao lidar com Histórias, mesmo sabendo que elas não são pessoas, e sim histórias de pessoas mortas.
Ela só não esperava que dessa vez moraria em um local com muitas Histórias envolvidas, especialmente de algumas assassinadas, sem pistas confiáveis e concretas sobre os casos e o mistério de que alguma coisa ou alguém parece ter apagado Histórias parcialmente. O que se inicia como conspiração misteriosa se transforma em perigo crescente. Se antes o problema era questão profissional, torna-se de repente pessoal.


Sempre que alguém morre, sua História é guardada em uma prateleira no Arquivo. Sua forma física é a mesma do corpo da pessoa antes da morte, mas não é a pessoa em questão. Como livros, as Histórias ficam catalogadas e eternizadas. Cada História preserva as memórias e acontecimentos de uma pessoa falecida em um invólucro semelhante a uma cópia física do respectivo corpo, este guardado em uma gaveta da prateleira. As Histórias dormem no Arquivo e os Bibliotecários as preservam, mantendo cada História inalterada. "Servamus memoriam - Protegemos o passado" é o lema do Arquivo.
Histórias podem acordar, geralmente as de pessoas que morreram jovens, por possuírem sono inquieto e mais leve. Ao despertarem, escapam do Arquivo para os Estreitos, tentando voltar para o mundo Exterior, o "mundo real". Já que os Bibliotecários não podem deixar o Arquivo, Guardiões, que vivem no Exterior, recebem a missão de penetrar nos Estreitos, caçar e capturar as Histórias acordadas e confusas e as mandam de volta ao Arquivo utilizando uma Porta de Retorno. Não é fácil, mas além de espertos, Guardiões são caçadores e lutadores. Quanto mais tempo uma História passa fora do Arquivo, mais insana e violenta se torna - ela começa a se desgarrar de si mesma. Nenhuma História pode ser perdida! Guardiões não usam armas, pois uma História não pode ser morta, mas pode matar. Por isso carregam apenas sua chave especial, que abre portas entre as dimensões e um anel, que funciona como um "isolante" de leitura de lembranças. Retirando o anel, Guardiões são capazes de "ler" pessoas, locais ou até mesmo objetos - através do toque. E mesmo com o anel, a leitura pode ultrapassar a barreira.


O livro apresenta mitologia e seu funcionamento, como as Equipes, os Matadores de Guardiões, os Avaliadores, as variadas cores nas placas das prateleiras, a necessidade do silêncio no Arquivo, as diferentes chaves e portas e a importância da preservação das Histórias.
O melhor ponto certamente é a habilidade da autora de apresentar, desenvolver e expandir o mundo por ela criado. É diferente, criativo, instigante e muito simples. Ela não se perde em explicações; mostra como funciona. O desenvolvimento é muito natural e fácil de ser absorvido, de forma divertida e gradativamente. O(a) leitor(a) logo é envolvido pelas características e informações.
A escrita da autora ajuda, pois é agradável e equilibrada, unindo vários elementos como suspense, mistério, ação, sobrenatural, drama, sem bagunçar a trama. A protagonista convence e conquista fácil e as personagens secundárias se integram com eficiência à ela e ao enredo. Todos os elementos da trama se encaixam e funcionam perfeitamente, compondo uma história completa.


Mac enfrenta uma situação rara e complicada: Histórias demais estão se desgarrando nos Estreitos e isso parece estar ligado ao passado sombrio do Coronado e à alguma coisa errada nos Arquivos. Será um fenômeno, uma falha técnica? Provocado como, por quem, com qual finalidade? Mac recebe a ajuda de outra personagem e investiga a história do Coronado. Até se deparar com uma História agindo como uma pessoa. Será realmente uma História? Em meio a tudo isso ela filosofa sobre a perda de seus entes queridos e sobre como seriam suas Histórias. Também reflete sobre como ela seria se não fosse uma Guardiã e sim uma adolescente normal. As Histórias estão fugindo descontroladamente para os Estreitos, enquanto problemas acontecem com o Arquivo. E então o Exterior também está comprometido, assim como a memória e o conhecimento.
Se uma História desaparecer, a pessoa desaparece também? Desaparece da memória e lembranças de quem a conheceu? Mesmo após a morte, se a História é preservada, a pessoa nunca deixará de existir? "Conhecimento é poder, mas a ignorância pode ser uma benção."
Fantasia Urbana / Young Adult altamente recomendada a quem gosta de leitura juvenil fantástica, mas sem sair totalmente do mundo real. O sobrenatural e a realidade estão interligados e precisam estar em harmonia para o mundo seguir normalmente. Se você gosta de aventuras, assombrações e acha que toda história de vida é importante, venha conhecer o trabalho de Mac, uma Guardiã de Histórias. É uma obra funcional, criativa e peculiar.
Torço muito para que a Bertrand Brasil publique a sequência no Brasil!

A autora:
Victoria Schwab é autora de The Near Witch, elogiado pelo Kirkus por seu “sabor arrepiante”, além de diversos outros romances, inclusive com o pseudônimo V. E. Schwab, com o qual lançou Um Tom Mais Escuro de Magia.
Victoria sofre de um sério desejo de viajar, mas, quando não está perambulando pelas ruas de Paris ou vagando pelas encostas britânicas, ela pode ser encontrada em um canto de uma cafeteria em Nashville, bebericando uma xícara de chá e sonhando com monstros.
Site | Facebook | Twitter | Youtube | blog

Um comentário

  1. To muito curiosa pra ler esse livro, bem antes de ter saído aqui no Brasil, vi uma booktuber que leu a versão Americana e a história chamou muito minha atenção. A autora parece que é bem conhecida lá fora, tomara que publiquem outros livros dela aqui. Essa capa é muito linda, mas a original consegue ser mais bonita ainda.

    Beijos:*
    Escritas na Chuva

    ResponderExcluir

Os comentários são moderados, portanto, aguarde aprovação.
Comentários considerados spams, agressivos ou preconceituosos não serão publicados, assim como os que contenham pirataria.
Caso tenha um blog, retribuirei seu comentário assim que possível.

Pesquise no blog

Parcerias