História do Novo Sobrenome: Juventude (Storia del Nuovo Cognome / The Story of a New Name)
Tetralogia Napolitana (Ciclo L'amica Geniale / Neapolitan Novels) - livro 2
Elena Ferrante - Biblioteca Azul / Globo Livros
Tradução: Maurício Santana Dias
472 páginas - 2015 - R$44,90
Comprar: Amazon | Americanas | Fnac | Livraria Cultura | Livraria da Folha | Livraria da Travessa | Livraria Saraiva | Shoptime | Submarino
RESENHA do livro 1.
Sinopse:
"Neste segundo romance da Série Napolitana, veremos suas duas protagonistas, Lila e Elena, crescerem, e com elas todas as dores e as delícias de sua juventude em meio a um mundo repleto de caminhos que se abrem enquanto portas se fecham – se a sabedoria, o crescimento e o amor são possibilidades, eles ocorrem em um cenário limitado por uma disposição social por vezes cruel.
Neste maravilhoso romance de formação de duas meninas, certamente o leitor vai se surpreender ainda mais com as possibilidades do universo de Elena Ferrante – esse mundo árido, tenso, delicado, profundo e, sobretudo, humano."
Resenha:
A Biblioteca Azul (Globo Livros) está trazendo ao Brasil a série Napolitana (Ciclo L'amica Geniale / Neapolitan Novels), a história de vida de duas amigas, dividida em quatro volumes. É literatura italiana, amplamente elogiada pela crítica e público e voltada aos adultos.
A tetralogia foi escrita pelo pseudônimo Elena Ferrante e a única informação passada pela editora original é que trata-se de autoria feminina (será?) e que ela escolheu permanecer em anonimato. É alguém que escreve absurdamente bem sobre fatos muito cotidianos e explora ao máximo os perfis psicológicos das protagonistas.
Recebi da Biblioteca Azul o livro de prova do volume dois sem imaginar como a leitura seria envolvente e arrebatadora. O primeiro volume também me foi enviado e você pode conferir a resenha aqui. Posteriormente, o exemplar finalizado de livraria me foi entregue e confirmo que a produção da editora está caprichada, a começar pelas capas: as brasileiras são as mais bonitas do mundo! Os trabalhos de revisão (e acredito que de tradução) e diagramação são impecáveis. Os livros possuem orelhas e miolo amarelado em papel norbrite.
Tive o prazer de ler os dois primeiros volumes seguidamente, o que contribuiu ainda mais para o forte apego às personagens. Me envolvi demais com a obra, me senti dentro das protagonistas porque o poder da prosa de Ferrante é raro, intenso e sentimental.
Originalmente o livro um foi publicado em 2011 e o último, em 2016. Este quarto recebeu indicação ao Man Booker Prize e todos se tornaram best-sellers nos Estados Unidos e parte da Europa, chamando a atenção de vários outros países para a tetralogia e, consequentemente, para as publicações de Elena Ferrante e, também, para a literatura italiana contemporânea.
Os livros são: A Amiga Genial (L'amica Geniale / The Brilliant Friend), História do Novo Sobrenome (Storia del Nuovo Cognome / The Story of a New Name), — já publicados no Brasil pela Biblioteca Azul — Storia di chi Fugge e di chi Resta /Those Who Leave and Those Who Stay e Storia della Bambina Perduta / The Story of The Lost Child — ainda inéditos por aqui, porém já confirmados pela editora.
Em A Amiga Genial iniciamos no presente, com o desaparecimento de Rafaella Cerullo (Lila). Elena Greco (Lenu) é amiga de Lila e a narradora da saga. Ambas têm 66 anos e o sumiço de Lila é o gatilho para Lenu retornar ao passado para relembrar as vidas das duas nos subúrbios da Nápoles (comuna italiana). O salto vai até os primeiros anos de vida da dupla, no início da década de 1950. A narrativa em primeira pessoa segue cronologia direta, passando pela infância e adolescência delas. A Amiga Genial termina quando as protagonistas estão com 16 anos e muito mudadas: uma casada e a outra solteira; uma endinheirada e a outra pobre; uma prestes a terminar os estudos e outra sem nem ter mais o hábito da leitura; uma linda e a outra, desleixada.
História do Novo Sobrenome é o volume voltado para a juventude das moças até seus vinte e poucos anos. Todo o amadurecimento intenso e as experiências sofridas se chocam nas jovens que Lila e Lenu foram transformadas. As lutas pessoais continuam, assim como os questionamentos sobre a sociedade a qual elas pertencem. Violência, pobreza, machismo e falta de oportunidades foram os principais empecilhos que elas enfrentaram quando crianças e adolescentes.
O problema é que o clima pós-guerra que parece estar mudando a Itália, a Europa, o mundo, com revoluções e diversificadas ideologias, não chegou até Nápoles. Especialmente ao bairro pobre as coisas parecem permanecer iguais e os ventos de mudanças são apenas leves e rasos sopros. A vida piorou, visto que Lila e Lenu não são mais tão inocentes e ingênuas, percebendo com maior dor e melancolia suas situações aparentemente imutáveis. Ainda se sentem perdidas e sem verdadeiramente pertencer àquele lugar. O esforço parece inútil, seja do estudo ou do trabalho, porque não faz com que elas se livrem das amarras sociais. Mesmo estando em posições diferentes, na verdade elas estão iguais: presas ao ciclo sem fim da estática social e sem fugir de suas origens. Elas não se sentem como as jovens de fora do gueto. Por mais estudo, dinheiro ou beleza, o gueto não as liberta. Elas não querem terminar como as demais mulheres de lá: tão surradas e marcadas quanto as ruas pobres, antigas e sujas.
O conteúdo é melhor e ainda mais denso e forte que o do primeiro livro. Conforme Lenu e Lila crescem e amadurecem, as situações se desenvolvem de acordo. A escrita da autora permanece crua e muito emocionante.
A narrativa ainda é incrível, pois se mantém apenas por Lenu, mostrando a história de Lila também. Continuo a elogiar e a destacar como é importante essa manobra da escrita: Lenu afeta a visão do(a) leitor(a) sobre si mesma e Lila. São duas protagonistas, porém apenas uma narradora, deixando em aberto se as coisas realmente ocorreram conforme é mostrado. Por vezes Lenu pode estar sendo ciumenta, invejosa; ou apaixonada, admiradora. Por isso, enaltecendo ou menosprezando algumas pessoas ou situações, incluindo a si própria e Lila. Há ainda a empatia e interpretação que cada leitor(a) tem. Aqui são ampliadas pelo estilo singelo e profundo da autora em expor os fatos e relacionamentos.
Lenu é uma narradora inteligente, atenta e de rico vocabulário e lotada de sentimentos explosivos. Sem receio da exposição, a série Napolitana é como uma confissão de não apenas uma, mas duas vidas. É uma mulher madura relembrando sem censura os momentos mais importantes de sua vida. Isso deixa o livro mais interessante do que se fosse narrado em tempo real. E embora siga a cronologia fielmente, a narrativa demonstra enorme intimidade, seguindo um inconstante fluxo emocional que emana de Lenu. É propositalmente desordenado, porém menos que o volume anterior. Talvez isso ocorra porque aqui eu estava completamente compenetrada e familiarizada com o enredo e as personagens. Estas continuam numerosas e imperfeitas, ora encantadoras, ora odiáveis, porém sempre humanas e profundamente elaboradas.
No começo desse volume Ferrante explica melhor como Lenu sabe tanto de Lila, mesmo quando as amigas se separam ou brigam. O texto continua muito detalhado e a base da trama continua sendo o quadro filosófico e social do cotidiano de Lenu e Lila, agora quase alcançando os anos 1970.
Ao contrário do primeiro volume, este não teve um início de leitura lento. Os diálogos e discursos são reproduzidos por Lenu, mas ainda assim vivos e dinâmicos, mesmo quando contados de modo indireto.
O ponto forte continua sendo a experiência de reviver através das lembranças. Ao relembrar e expor tudo, Lenu sofre novamente sensações e pensamentos, alguns diferentes dos da época.
O fato de agora tratar-se do início da precoce vida adulta de Lenu e Lila, faz a história ser mais árdua, forte e agitada. Mais acontecimentos, mais reviravoltas, mais experiência adquirida, incluindo sexual e romântica, mais descobertas.
Entre problemas e obstáculos há momentos de relaxamento, amor e amizade. Encontramos beleza dentre situações negativas. Há uma viagem para a praia — a mesma cena retratada na capa — que funciona como um marco irrefreável tanto para Lenu quanto para Lila e, principalmente, para sua amizade.
A relação entre elas é uma das mais complexas e críveis que já encontrei na ficção. Tanto que é praticamente impossível descrever com precisão o envolvimento entre elas. Admiração e inveja andam lado a lado, assim como o apoio e a rivalidade, mostrando como qualquer relação intensa e duradoura pode encontrar altos e baixos. No caso delas, uma série de adversidades como a dureza da falta de escolhas, a carência em encontrar oportunidades, respeito e reconhecimento, a brutalidade do machismo, a cobrança da família — tudo isso influencia no andamento da relação entre elas.
Suas promessas e sonhos parecem cada vez mais distantes e afetados pelas diferenças de classe e gênero. A amizade entre elas pode não ser inabalável, porém o amor talvez seja.
Lenu e Lila continuam tentando, cada uma à sua maneira e capacidade, lutar contra a falta de expectativas de vida. Com coragem, força, resistência e insistência, duas jovens amigas tentam interromper o ciclo de bloqueio e censura que paira de gerações assombradas por guerras, criminalidade e corrupção.
Entre ladrões, assassinos e mafiosos, amizades e sonhos se desfazem. Os jovens de História do Novo Sobrenome realmente são os mesmos de A Amiga Genial? Conseguem se manter intactos?
Se você gostou do primeiro volume saiba que a sequência é essencial para conhecer mais a fundo Lenu e Lila. O segundo livro consegue superar o primeiro em qualidade e envolvimento. Os sentimentos e atitudes das personagens afetam diretamente o(a) leitor(a) como poucas obras literárias são capazes.
É um livro maduro, belo, triste e feliz, projetando um quadro social (pobreza e machismo), um cenário específico (gueto de Nápoles) e uma época conflituosa para a política e o comportamento (década de 1960). A leitura é a confirmação de que a série Napolitana é um retrato fiel e convincente de uma sociedade injusta e desordenada; onde a bondade pode ser corrompida; onde a política pode esmagar a população; onde inteligentes ou talentosos podem jamais vir a desenvolver seus dons.
História do Novo Sobrenome é um clássico instantâneo sobre como é possível se deparar com o pior de uma pessoa e, ainda assim, continuar a estar ao lado dela devido a um sentimento inexplicável. É sobre amizade duradoura e sacrifícios para mantê-la. É sobre pertencer a um mundo que odeia e tentar se livrar dele, mesmo sabendo que você sempre terá partido dele.
Aguardo ansiosamente pelo livro três!
A autora:
Elena Ferrante se recusa a divulgar fotografias e a falar de sua vida pessoal. Acredita-se que tenha nascido na região de Nápoles e que seja mãe. A autora publicou diversos romances, entre eles Dias de Abandono, que será publicado em breve no Brasil pela Biblioteca Azul.
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Tetralogia Napolitana (Ciclo L'amica Geniale / Neapolitan Novels) - livro 2
Elena Ferrante - Biblioteca Azul / Globo Livros
Tradução: Maurício Santana Dias
472 páginas - 2015 - R$44,90
Comprar: Amazon | Americanas | Fnac | Livraria Cultura | Livraria da Folha | Livraria da Travessa | Livraria Saraiva | Shoptime | Submarino
RESENHA do livro 1.
Sinopse:
"Neste segundo romance da Série Napolitana, veremos suas duas protagonistas, Lila e Elena, crescerem, e com elas todas as dores e as delícias de sua juventude em meio a um mundo repleto de caminhos que se abrem enquanto portas se fecham – se a sabedoria, o crescimento e o amor são possibilidades, eles ocorrem em um cenário limitado por uma disposição social por vezes cruel.
Neste maravilhoso romance de formação de duas meninas, certamente o leitor vai se surpreender ainda mais com as possibilidades do universo de Elena Ferrante – esse mundo árido, tenso, delicado, profundo e, sobretudo, humano."
Resenha:
A Biblioteca Azul (Globo Livros) está trazendo ao Brasil a série Napolitana (Ciclo L'amica Geniale / Neapolitan Novels), a história de vida de duas amigas, dividida em quatro volumes. É literatura italiana, amplamente elogiada pela crítica e público e voltada aos adultos.
A tetralogia foi escrita pelo pseudônimo Elena Ferrante e a única informação passada pela editora original é que trata-se de autoria feminina (será?) e que ela escolheu permanecer em anonimato. É alguém que escreve absurdamente bem sobre fatos muito cotidianos e explora ao máximo os perfis psicológicos das protagonistas.
Recebi da Biblioteca Azul o livro de prova do volume dois sem imaginar como a leitura seria envolvente e arrebatadora. O primeiro volume também me foi enviado e você pode conferir a resenha aqui. Posteriormente, o exemplar finalizado de livraria me foi entregue e confirmo que a produção da editora está caprichada, a começar pelas capas: as brasileiras são as mais bonitas do mundo! Os trabalhos de revisão (e acredito que de tradução) e diagramação são impecáveis. Os livros possuem orelhas e miolo amarelado em papel norbrite.
Tive o prazer de ler os dois primeiros volumes seguidamente, o que contribuiu ainda mais para o forte apego às personagens. Me envolvi demais com a obra, me senti dentro das protagonistas porque o poder da prosa de Ferrante é raro, intenso e sentimental.
Originalmente o livro um foi publicado em 2011 e o último, em 2016. Este quarto recebeu indicação ao Man Booker Prize e todos se tornaram best-sellers nos Estados Unidos e parte da Europa, chamando a atenção de vários outros países para a tetralogia e, consequentemente, para as publicações de Elena Ferrante e, também, para a literatura italiana contemporânea.
Os livros são: A Amiga Genial (L'amica Geniale / The Brilliant Friend), História do Novo Sobrenome (Storia del Nuovo Cognome / The Story of a New Name), — já publicados no Brasil pela Biblioteca Azul — Storia di chi Fugge e di chi Resta /Those Who Leave and Those Who Stay e Storia della Bambina Perduta / The Story of The Lost Child — ainda inéditos por aqui, porém já confirmados pela editora.
Em A Amiga Genial iniciamos no presente, com o desaparecimento de Rafaella Cerullo (Lila). Elena Greco (Lenu) é amiga de Lila e a narradora da saga. Ambas têm 66 anos e o sumiço de Lila é o gatilho para Lenu retornar ao passado para relembrar as vidas das duas nos subúrbios da Nápoles (comuna italiana). O salto vai até os primeiros anos de vida da dupla, no início da década de 1950. A narrativa em primeira pessoa segue cronologia direta, passando pela infância e adolescência delas. A Amiga Genial termina quando as protagonistas estão com 16 anos e muito mudadas: uma casada e a outra solteira; uma endinheirada e a outra pobre; uma prestes a terminar os estudos e outra sem nem ter mais o hábito da leitura; uma linda e a outra, desleixada.
História do Novo Sobrenome é o volume voltado para a juventude das moças até seus vinte e poucos anos. Todo o amadurecimento intenso e as experiências sofridas se chocam nas jovens que Lila e Lenu foram transformadas. As lutas pessoais continuam, assim como os questionamentos sobre a sociedade a qual elas pertencem. Violência, pobreza, machismo e falta de oportunidades foram os principais empecilhos que elas enfrentaram quando crianças e adolescentes.
O problema é que o clima pós-guerra que parece estar mudando a Itália, a Europa, o mundo, com revoluções e diversificadas ideologias, não chegou até Nápoles. Especialmente ao bairro pobre as coisas parecem permanecer iguais e os ventos de mudanças são apenas leves e rasos sopros. A vida piorou, visto que Lila e Lenu não são mais tão inocentes e ingênuas, percebendo com maior dor e melancolia suas situações aparentemente imutáveis. Ainda se sentem perdidas e sem verdadeiramente pertencer àquele lugar. O esforço parece inútil, seja do estudo ou do trabalho, porque não faz com que elas se livrem das amarras sociais. Mesmo estando em posições diferentes, na verdade elas estão iguais: presas ao ciclo sem fim da estática social e sem fugir de suas origens. Elas não se sentem como as jovens de fora do gueto. Por mais estudo, dinheiro ou beleza, o gueto não as liberta. Elas não querem terminar como as demais mulheres de lá: tão surradas e marcadas quanto as ruas pobres, antigas e sujas.
O conteúdo é melhor e ainda mais denso e forte que o do primeiro livro. Conforme Lenu e Lila crescem e amadurecem, as situações se desenvolvem de acordo. A escrita da autora permanece crua e muito emocionante.
A narrativa ainda é incrível, pois se mantém apenas por Lenu, mostrando a história de Lila também. Continuo a elogiar e a destacar como é importante essa manobra da escrita: Lenu afeta a visão do(a) leitor(a) sobre si mesma e Lila. São duas protagonistas, porém apenas uma narradora, deixando em aberto se as coisas realmente ocorreram conforme é mostrado. Por vezes Lenu pode estar sendo ciumenta, invejosa; ou apaixonada, admiradora. Por isso, enaltecendo ou menosprezando algumas pessoas ou situações, incluindo a si própria e Lila. Há ainda a empatia e interpretação que cada leitor(a) tem. Aqui são ampliadas pelo estilo singelo e profundo da autora em expor os fatos e relacionamentos.
Lenu é uma narradora inteligente, atenta e de rico vocabulário e lotada de sentimentos explosivos. Sem receio da exposição, a série Napolitana é como uma confissão de não apenas uma, mas duas vidas. É uma mulher madura relembrando sem censura os momentos mais importantes de sua vida. Isso deixa o livro mais interessante do que se fosse narrado em tempo real. E embora siga a cronologia fielmente, a narrativa demonstra enorme intimidade, seguindo um inconstante fluxo emocional que emana de Lenu. É propositalmente desordenado, porém menos que o volume anterior. Talvez isso ocorra porque aqui eu estava completamente compenetrada e familiarizada com o enredo e as personagens. Estas continuam numerosas e imperfeitas, ora encantadoras, ora odiáveis, porém sempre humanas e profundamente elaboradas.
No começo desse volume Ferrante explica melhor como Lenu sabe tanto de Lila, mesmo quando as amigas se separam ou brigam. O texto continua muito detalhado e a base da trama continua sendo o quadro filosófico e social do cotidiano de Lenu e Lila, agora quase alcançando os anos 1970.
Ao contrário do primeiro volume, este não teve um início de leitura lento. Os diálogos e discursos são reproduzidos por Lenu, mas ainda assim vivos e dinâmicos, mesmo quando contados de modo indireto.
O ponto forte continua sendo a experiência de reviver através das lembranças. Ao relembrar e expor tudo, Lenu sofre novamente sensações e pensamentos, alguns diferentes dos da época.
O fato de agora tratar-se do início da precoce vida adulta de Lenu e Lila, faz a história ser mais árdua, forte e agitada. Mais acontecimentos, mais reviravoltas, mais experiência adquirida, incluindo sexual e romântica, mais descobertas.
Entre problemas e obstáculos há momentos de relaxamento, amor e amizade. Encontramos beleza dentre situações negativas. Há uma viagem para a praia — a mesma cena retratada na capa — que funciona como um marco irrefreável tanto para Lenu quanto para Lila e, principalmente, para sua amizade.
A relação entre elas é uma das mais complexas e críveis que já encontrei na ficção. Tanto que é praticamente impossível descrever com precisão o envolvimento entre elas. Admiração e inveja andam lado a lado, assim como o apoio e a rivalidade, mostrando como qualquer relação intensa e duradoura pode encontrar altos e baixos. No caso delas, uma série de adversidades como a dureza da falta de escolhas, a carência em encontrar oportunidades, respeito e reconhecimento, a brutalidade do machismo, a cobrança da família — tudo isso influencia no andamento da relação entre elas.
Suas promessas e sonhos parecem cada vez mais distantes e afetados pelas diferenças de classe e gênero. A amizade entre elas pode não ser inabalável, porém o amor talvez seja.
Lenu e Lila continuam tentando, cada uma à sua maneira e capacidade, lutar contra a falta de expectativas de vida. Com coragem, força, resistência e insistência, duas jovens amigas tentam interromper o ciclo de bloqueio e censura que paira de gerações assombradas por guerras, criminalidade e corrupção.
Entre ladrões, assassinos e mafiosos, amizades e sonhos se desfazem. Os jovens de História do Novo Sobrenome realmente são os mesmos de A Amiga Genial? Conseguem se manter intactos?
Se você gostou do primeiro volume saiba que a sequência é essencial para conhecer mais a fundo Lenu e Lila. O segundo livro consegue superar o primeiro em qualidade e envolvimento. Os sentimentos e atitudes das personagens afetam diretamente o(a) leitor(a) como poucas obras literárias são capazes.
É um livro maduro, belo, triste e feliz, projetando um quadro social (pobreza e machismo), um cenário específico (gueto de Nápoles) e uma época conflituosa para a política e o comportamento (década de 1960). A leitura é a confirmação de que a série Napolitana é um retrato fiel e convincente de uma sociedade injusta e desordenada; onde a bondade pode ser corrompida; onde a política pode esmagar a população; onde inteligentes ou talentosos podem jamais vir a desenvolver seus dons.
História do Novo Sobrenome é um clássico instantâneo sobre como é possível se deparar com o pior de uma pessoa e, ainda assim, continuar a estar ao lado dela devido a um sentimento inexplicável. É sobre amizade duradoura e sacrifícios para mantê-la. É sobre pertencer a um mundo que odeia e tentar se livrar dele, mesmo sabendo que você sempre terá partido dele.
Aguardo ansiosamente pelo livro três!
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O livro anterior é A Amiga Genial. Leia a resenha aqui. |
A autora:
Elena Ferrante se recusa a divulgar fotografias e a falar de sua vida pessoal. Acredita-se que tenha nascido na região de Nápoles e que seja mãe. A autora publicou diversos romances, entre eles Dias de Abandono, que será publicado em breve no Brasil pela Biblioteca Azul.
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Não conhecia esse livro, mas gostei muito da capa e do enredo. É uma história, que eu gostaria de conhecer sim.
ResponderExcluirMil Beijos!
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