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[Resenha] A Hora do Lobisomem, de Stephen King e Suma (Grupo Companhia das Letras)

A Hora do Lobisomem (The Cycle of the Werewolf)
Coleção Biblioteca Stephen King - capa dura
Stephen King - Suma / Grupo Companhia das Letras
Tradução: Regiane Winarski
Ilustração: Bernie Wirghtson | Ilustração extra: Giovanna Cianelli, Rafael Albuquerque, Rebeca Prado e Lucas Pelegrineti
152 páginas - 2017 - R$ 44,90 (impresso) e R$ 29,90 (e-Book) - trecho
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Sinopse:
"O primeiro grito veio de um trabalhador da ferrovia isolado pela neve, enquanto as presas do monstro dilaceravam sua garganta. No mês seguinte, um grito de êxtase e agonia vem de uma mulher atacada no próprio quarto. Agora, a cada vez que a lua cheia brilha sobre a cidade de Tarker’s Mill, surgem novas cenas de terror inimaginável. Quem será o próximo? Quando a lua cresce no céu, um terror paralisante toma os moradores da cidade. Uivos quase humanos ecoam no vento. E por todo lado as pegadas de um monstro cuja fome nunca é saciada. Um clássico de Stephen King, com as ilustrações originais de Bernie Wrightson."

Resenha:
A Editora Suma, a casa editorial brasileira do mestre do terror e suspense, inaugurou em 2016 a coleção Biblioteca Stephen King com Cujo, de 1981. A segunda publicação é A Hora do Lobisomem (The Cycle of the Werewolf), clássico de King originalmente publicado em 1982 que estava fora de catálogo.
Todo leitor conhece Stephen King, mesmo que nunca o tenha lido. Várias de suas obras literárias, tanto livros como contos, foram adaptadas em filmes, séries, quadrinhos; fora que é referência e inspiração para vários escritores e roteiristas; possui mais de cinquenta livros best-sellers no mundo todo, além de incontáveis prêmios literários. Finalmente o mestre ganha no Brasil uma coleção à sua altura, muito bem produzida pela Suma.
Mas no caso de A Hora do Lobisomem, o ilustrador é tão importante quanto o escritor. É Bernie Wrightson (1948-2017), consagrado desenhista de histórias em quadrinhos, cocriador do Monstro do Pântano e responsável por trabalhar em séries das principais editoras estadunidenses, como Marvel, DC, Dark Horse, Image e IDW, e em vários quadrinhos de terror, como Frankenstein (adaptação do romance de Mary Shelley). Ele participou das equipes de criações artísticas de filmes como Os Caça-Fantasmas, Terra dos Mortos, O Nevoeiro e Creepshow (estes dois últimos foram adaptações de obras do King).


Originalmente o projeto de A Hora do Lobisomem não era um livro, mas um calendário com o tema lobisomem. King deveria escrever doze textos breves que acompanhariam cada uma das ilustrações de Wrightson no calendário. Semelhante aos quadrinhos mais antigos, de antes dos balões e textos serem introduzidos à arte (era como legenda em cada um dos desenhos). Ao longo da produção a ideia mudou e, finalmente, o projeto ganhou sua forma final, se transformando em uma noveleta com ilustrações.
Por isso, quem conhece o trabalho de King provavelmente estranhará o formato do livro. São pouco mais de 50 páginas de texto (15.955 palavras no original) e quando comparamos ao estilo do autor, conhecido também por lançar livros grossos, notamos o quanto a história é enxuta; seus leitores sabem que até mesmo seus contos costumam ser longos. Portanto, A Hora do Lobisomem é uma história curta, simples, sem enrolações ou muitas descrições. Excelente opção para quem busca uma leitura rápida. É um terror gore, com sangue, mutilações e fúria - incluindo na arte sombria de Wrightson. O lobisomem é assustador!
A influência da ideia original permaneceu na estrutura da história. Cada capítulo mostra um acontecimento por mês durante um ano de mortes na cidade de interior Tarker's Mill. King teve liberdade artística de não seguir nenhum calendário à risca. Você percebe ao tentar cruzar os dias de lua cheia com datas comemorativas dos Estados Unidos; King admite isso em uma nota para os mais distraídos.
A narrativa é em terceira pessoa e mostra ponto de vista de várias personagens.


Na maioria dos capítulos King usa o formato de whodunnit, pois o leitor sabe que o responsável pelas mortes é um lobisomem, mas não sabe sua identidade. A princípio, a trama gira ao redor desse mistério, até que uma personagem sobrevive a um dos ataques e tem uma ótima pista para descobrir qual dos moradores de Tarker's Mill é a besta. O mais interessante é que seria improvável essa personagem não apenas sobreviver, mas também antagonizar com o lobisomem e planejar sua caçada. Não é difícil imaginar quem é o lobisomem, pois King entrega muitas pistas propositalmente, ainda mais para os que estão familiarizados com lobisomens. Sua aparência é de um mestiço, um "homem-lobo", que se transforma na lua cheia, é vulnerável à prata e não parece infectar por mordidas — o lobisomem foi contaminado de outro modo.
King sempre viaja pelas profundezas da mente humana em suas histórias e explora inúmeros sentimentos e atitudes, utilizando o sobrenatural e o terror para causar reflexão. Senti carência disso, de um desenvolvimento mais psicológico. Porém, vários elementos complexos de relações humanas estão presentes, mesmo que muito superficialmente. É como se King jogasse algumas coisas, como abuso doméstico, mas as deixasse sozinhas, algo como "dessa vez não me aprofundarei nisso, pois o importante são os ataques do lobisomem".
Um ponto que se destaca é a explicação da pessoa que se transforma em lobisomem sobre como aconteceu e como se sente. Perde o controle, não pediu pelo problema, simplesmente o problema o encontrou. Quando o antagonista do lobisomem começa a enviar bilhetes sugerindo que seria melhor se matar e evitar mais mortes, é uma situação devastadora. Sobre não conseguir se controlar e pensar em suicídio. Seria algum tipo de comparação à dependência química?


Acredito que este livro não seja um dos melhores do Stephen King, mas é uma boa história gore de lobisomem, bastante simples e sem tapeação. As ilustrações de Bernie Wrightson são tão importantes quanto o texto. A arte é maravilhosa, cheia de sombras, movimento e detalhes. As principais (dos ataques do lobisomem) são coloridas e as que apresentam o capítulo (cada mês) são duplas e em preto-e-branco. A ideia inicial do calendário foi bem interessante, poderia ter sido colocada em prática conforme imaginada, mas essa versão, a de livro com ilustrações, poderia ter tido o texto estendido e mais desenvolvido. Ainda assim é uma história essencial para os fãs de King ou de Wrightson, de terror ou de lobisomens clássicos.
Nesta edição a Suma convidou quatro ilustradores brasileiros para desenharem cada um uma cena: Giovanna Cianelli, Rafael Albuquerque, Rebeca Prado e Lucas Pelegrineti engrandecem a obra com releituras.


A Hora do Lobisomem foi adaptado para um filme em 1985, Silver Bullet (Bala de Prata), com Corey Haim, Everett McGill e Gary Busey no elenco e Dan Attias na direção.
Todas as obras da coleção Biblioteca Stephen King são em capa dura com arte minimalista e efeito em relevo, páginas amareladas, conteúdo extra e formato 24 por 16 centímetros. A nova integrante da Biblioteca Stephen King é uma de suas obras mais famosas: O Iluminado, de 1977. E o futuro lançamento de A Incendiária (1984) já foi divulgado pela Suma. Uma coleção impecável com clássicos e raridades de um dos melhores escritores da história!


O autor:
É autor de mais de cinquenta livros best-sellers no mundo inteiro. Os mais recentes incluem Revival, Mr. Mercedes, Escuridão Total Sem Estrelas (vencedor dos prêmios Bram Stoker e British Fantasy), Doutor Sono, Joyland, Sob a Redoma (que virou uma série de sucesso na TV ) e Novembro de 63 (que entrou no TOP 10 dos melhores livros de 2011 na lista do New York Times Book Review e ganhou o Los Angeles Times Book Prize na categoria Terror/Thriller e o Best Hardcover Novel Award da Organização International Thriller Writers). Em 2003, King recebeu a medalha de Eminente Contribuição às Letras Americanas da National Book Foundation e, em 2007, foi nomeado Grão-Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos.
Ele mora em Bangor, no Maine, com a esposa, a escritora Tabitha King.
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