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[Resenha] Coragem, de Rose McGowan e HarperCollins Brasil

Coragem (Brave)
Rose McGowan - HarperCollins Brasil
Tradução: Carolina Caires Coelho
288 páginas - 2018 - R$ 34,90 (impresso) e R$ 24,90 (eBook) - trecho
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Sinopse:
"Rose McGowan nasceu em um culto e o trocou por outro, mais visível: Hollywood.
Rose McGowan se tornou uma das atrizes mais desejadas de Hollywood da noite para o dia quando foi "descoberta" nas ruas de Los Angeles. O estrelato logo se tornou um pesadelo de exposição constante e sexualização. Todos os detalhes de sua vida pessoal se tornaram públicos, e as realidades de uma indústria inerentemente machista emergiam a cada roteiro, papel, aparição pública e capa de revista.Hollywood esperava que Rose ficasse quieta e cooperasse. Em vez disso, ela se rebelou e impôs sua verdadeira identidade e voz.
Ela reemergiu sem roteiros nem desculpas, corajosa, controversa e sempre verdadeira. Liderando o movimento de denúncias de assédio sexual na indústria de entretenimento ao expor os crimes de Harvey Weinstein, Rose é hoje um dos rostos do movimento feminista e não hesita ao disparar verdades inconvenientes e exigir mudanças.
Coragem é seu livro de memórias em forma de manifesto - um relato sem censura nem piedade da ascensão de um ícone millennial, uma ativista sem medo e uma força de mudança imparável determinada a expor a verdade sobre a indústria do entretenimento, trazer à luz uma indústria multibilionária construída sobre a misoginia sistêmica e empoderar pessoas ao redor do mundo a acordarem e terem coragem."

Resenha:

Rose McGowan é atriz, diretora, empresária e ativista social, e seu destaque tem sido como defensora feminista, denunciando a misoginia sistêmica e criticando a desigualdade de gênero em Hollywood e na indústria do entretenimento de modo geral. Ela participou de filmes como Geração Maldita (The Doom Generation, 1995), Pânico (Scream, 1996), Um Crime entre Amigas (Jawbreaker, 1999) e Planeta Terror (Planet Terror, 2007), além de ter protagonizado (de 2001 a 2006) a série televisiva de sucesso Jovens Bruxas (Charmed), uma das mais longas da história da TV liderada por mulheres. Seu primeiro trabalho como diretora, o curta Dawn, foi indicado ao Sundance Film Festival. Ela trabalhou com Quentin Tarantino, Ben Afleck e Robert Rodriguez.
Se você curte cinema mais indie ou foi adolescente no final da década de 1990 e início de 2000, provavelmente a conhece; se não sabe quem ela é, mas acompanha as notícias e está ciente dos protestos e denúncias das trabalhadoras de cinema, televisão e ramos ligados ao entretenimento, especialmente atrizes de Hollywood, deveria conhecê-la. Rose é uma das líderes no movimento feminista contra os abusos sexuais e de poder praticados pelo produtor Harvey Weinstein e outros homens poderosos da área.
Seu primeiro livro, Coragem (Brave), publicado em março de 2018 pela HarperCollins Brasil, é uma autobiografia reveladora, sincera e direta. Mais que um livro de memórias, é um manifesto feminista cru, vibrante, esclarecedor e estimulante. Nele, ela debate sobre fama, cinema e consumismo, revela segredos e detalhes de sua vida pessoal, principalmente sobre sua carreira como atriz, e denuncia e acusa os chefões de Hollywood de maltratar, desvalorizar, menosprezar e abusar das mulheres, dentro e fora dos holofotes, produtoras ou consumidoras, direta ou indiretamente; e aponta a participação de todos que contribuíram com isso e ainda, retifica que os omissos que permaneceram calados e fingiam que nada acontecia, são também culpados.


Recebi um exemplar como cortesia da editora e não tinha certeza se gostaria da leitura, porque embora seja feminista e conheça a atriz, não tenho o hábito de ler biografias de artistas, com exceções dos que sou muito fã e olhe lá. Acredito que toda vida é importante e todos têm algo a ensinar a alguém, portanto, respeito muito publicações biográficas, embora dificilmente as consuma. Mas fiquei muito curiosa com o conteúdo devido ao ativismo da Rose, sempre muito sincera, brutal e subversiva em suas declarações para a imprensa ou pelo Twitter. Ela nunca me pareceu ser o tipo de pessoa que se importa com o que pensam dela. Sempre a vi como rebelde e, após suas denúncias contra Weinstein, que no livro é chamado de Monstro, passei a simpatizar ainda mais com ela. Sim, ela foi estuprada por ele e o relato está no livro.
Iniciei a leitura só para ver se curtiria o jeito da Rose escrever e fui totalmente arrebatada. É em primeira pessoa e o discurso dela além de pessoal, como se ela estivesse mesmo conversando com quem lê. Parecia uma amiga contando sua trajetória e fazendo observações sobre os assuntos, com desabafos, palavrões e confissões. É um estilo descomplicado e informal, mas bastante inteligente. Como ela se considera na lista negra de Hollywood, fala o que pensa sem medo.
Achei muito interessante e, mesmo que tenha questionado algumas coisas, acredito na veracidade do que ela experimentou em Hollywood.


Rose sofreu muitos golpes, nasceu em um culto, foi sem-teto e enfrentou repetidos abusos. Nasceu na Itália em 1973 e, na época, seus pais integravam o Meninos de Deus. Ela apanhava dos membros do culto. Este defende relações sexuais entre adultos e crianças dentre outros absurdos. Mesmo após a fuga e retorno dos pais aos Estados Unidos, sua vida doméstica não foi estável e ela mudou de residência e cidade por várias vezes, fugiu de casa, dormiu nas ruas, usou drogas, passou fome e frio. Ela fala sobre seus relacionamentos amorosos, incluindo namoros com Marilyn Manson e Robert Rodriguez e sobre como se tornou atriz e como trabalhou suas personagens. O livro contém as versões dela sobre vários acontecimentos que antes só conhecia pela ótica da mídia, como a respeito do "vestido nu" que ela usou no MTV Video Music Awards de 1998 ou das discussões sobre as plásticas faciais estéticas versus acidente de carro de 2007 - o motivo dela ter mexido no rosto não é nenhum dos citados. Muito depois de sofrer nas mãos de Weinstein, Rose foi fotografada ao lado dele. E aí muitas pessoas a criticam, como trabalhou com o Monstro depois do estupro? Rose explica o terror que foi.
Mais que falar sobre os abusos, ela discute, disseca e analisa várias outras situações onde houve injustiça ou desrespeito, como se machucar durante gravações e ter que continuar o trabalho sem suporte. Além disso, são muitas curiosidades sobre como é trabalhar no cinema ou televisão.


Mais do que uma feminista que luta por justiça e igualdade, Rose defende a liberdade de pensamento, o direito de decidir quem você quer ser, fazer ou consumir, sem a pressão imposta pela mídia em geral. Especialmente o cinema e a TV, que influenciam em altíssimo alcance. Ela defende que cada indivíduo deve ser livre para viver e sonhar sem preconceitos e sem a pressão de estar dentro de padrões e regras pré-estabelecidos pela indústria do entretenimento que usa artistas para vender a imagem que lhe convém.
Ela argumenta também que a arte, seja qual for, incluindo cinema, mesmo sendo um negócio altamente rentável e lucrativo, deveria respeitar cada pessoa e estimular e respeitar a liberdade do indivíduo, e a melhorar o mundo, não impor arquétipos inalcançáveis.
Ela alerta ainda sobre como as mulheres são as que mais sofrem com esse negócio. Como consumidoras, são afetadas continuamente com a ditadura da beleza, magreza e juventude. Como mulheres da indústria, especialmente atrizes, modelos e cantoras, são usadas e exploradas como ferramentas, dificilmente ocupando cargos importantes de liderança como a direção, sofrendo abusos sexuais, psicológicos e de poder; raramente recebendo os mesmos salários ou lucros que os homens que ocupam mesmos cargos e funções. Rose convida as produtoras de arte e conteúdo a ousarem e romperem barreiras, focando na contratação de outras mulheres e em roteiros e enredos representativos e feministas. Pede para todas denunciarem injustiças e jamais se calarem. Ela se calou por muito tempo e sentiu na pele como isso é nocivo, limitador e traumatizante.


Com esta publicação ela oficializou a quebra do silêncio em linguagem acessível e dinâmica. Todo mundo a favor da equidade entre homens e mulheres deveria ler e refletir sobre como até mulheres icônicas, exemplos e referências para milhões de outras, enfrentam machismo e misoginia em suas carreiras. Um livro que funciona como um aviso sobre como cada pessoa precisa ser mais esperta e consciente sobre a diversão e o entretenimento que consome e, portanto, evitar ser manipulada e conivente com misoginia, racismo, homofobia, entre outros preconceitos agressivos.
Sabe quando você descobre que o ator que você adora praticou violência doméstica? Quando o diretor que você admira é pedófilo? Ou o cantor que você ama abusou de alguém? Não consuma mais os produtos de homens assim se você é contra os atos dele. Pode ser difícil, mas é isso que Rose sugere. Você é responsável não apenas pelo que produz, faz ou fala, mas também pelo que consome, estimula e enriquece.
O exemplar da HarperCollins possui capa original, orelhas, páginas amareladas, excelente revisão e diagramação e tradução de Carolina Caires Coelho e custa R$ 34,90 (físico) e R$ 24,90 (digital).



A autora:
Rose McGowan é uma líder de pensamento e agente de mudança. Como escritora, diretora, musicista, ícone, empreendedora e defensora feminista, ela mirou na injustiça e na desigualdade na indústria do entretenimento e além. Como ativista, liderou um movimento para romper o silêncio e se tornou uma voz principal na luta para romper o status quo. Ao criar a plataforma de justiça social #rosearmy, ela sinalizou ao mundo que é hora de pensar diferente e melhorar. Rose ganhou reconhecimento como atriz que ocupou cargos de liderança em filmes como Geração Maldita (The Doom Generation), Pânico (Scream), Um Crime entre Amigas (Jawbreaker) e Planeta Terror (Planet Terror). Ela estrelou a série de sucesso Jovens Bruxas (Charmed), uma dos mais longas séries de televisão protagonizada por mulheres na história da TV. Sua estréia como diretora, Dawn, foi indicada ao Sundance Film Festival.
Site | #RoseArmy | Twitter | Facebook | Instagram | Youtube

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