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[Resenha] A Incendiária, de Stephen King e Suma (do Grupo Companhia das Letras)

A Incendiária (Firestarter)
Coleção Biblioteca Stephen King - capa dura
Stephen King - Editora Suma / Grupo Companhia das Letras
Tradução: Regiane Winarski
450 páginas - R$ 64,90 (impresso) e R$ 39,90 (ebook) - trecho
Comprar: Amazon | Livraria Cultura | Livraria da Folha | Google Play | Kobo | Saraiva

Sinopse:
"Uma criança com o poder mais extraordinário e incontrolável de todos os tempos. Um poder capaz de destruir o mundo.
Após anos esgotado no Brasil, A incendiária volta às livrarias como parte da Biblioteca Stephen King, coleção de clássicos do mestre do terror em edição especial com capa dura e conteúdo extra. No livro, Andy e Vicky eram apenas universitários precisando de uma grana extra quando se voluntariaram para um experimento científico comandado por uma organização governamental clandestina conhecida como “a Oficina”. As consequências foram o surgimento de estranhos poderes psíquicos — que tomaram efeitos ainda mais perigosos quando os dois se apaixonaram e tiveram uma filha.
Desde pequena, Charlie demonstra ter herdado um poder absoluto e incontrolável. Pirocinética, a garota é capaz de criar fogo com a mente. Agora o governo está à caça da garotinha, tentando capturá-la e utilizar seu poder como arma militar. Impotentes e cada vez mais acuados, pai e filha percorrem o país em uma fuga desesperada, e percebem que o poder de Charlie pode ser sua única chance de escapar."

Resenha:

A Editora Suma está publicando uma coleção superespecial com as principais obras-primas clássicas do Stephen King. São exemplares em capa dura, páginas amareladas, conteúdo extra e tradução essencial da Regiane Winarski. A coleção Biblioteca Stephen King foi inaugurada com um título publicado originalmente em 1981: Cujo; seguido por A Hora do Lobisomem (1983), O Iluminado (1977) e, agora, A Incendiária (1981), que esteve por vários anos fora de catálogo no Brasil. Este era um dos livros mais solicitados pelos fãs do autor, que tem mais de cinquenta best-sellers publicados no mundo todo, incontáveis prêmios literários e se tornou um fenômeno cultural muito além dos livros, pois muitas de suas obras literárias foram adaptadas em filmes, séries e quadrinhos.
A Incendiária foi publicado depois de Carrie, Salem, O Iluminado, Rage, A Dança da Morte, The Long Walk e A Zona Morta. A carreira de King estava consolidada e ele já era conhecido como escritor de terror. Esta é uma obra icônica, que inspirou várias outras, incluindo a série Stranger Things da Netflix. Trinta e seis anos antes de Eleven, tínhamos Charlie!


Andrew "Andy" McGee conheceu Victoria "Vicky" Tomlinson em 1969, quando participaram de uma experiência científica aplicada pelo departamento de psicologia da faculdade, mas dirigida por uma agência governamental, a Oficina. Foram doze participantes no total, seis receberam um placebo, enquanto os outros foram cobaias para o Lote Seis, uma droga alucinógena que supostamente aprimoraria temporariamente atividades mentais do usuário. O resultado foi, no mínimo, muito estranho. Talvez um pouco bizarro e... sanguinário.
Andy e Vicky se casaram em um ano e dois anos depois tiveram uma filha, Charlene "Charlie" McGee. Um bebê adorável, exceto pelo fato de colocar fogo nas fraldas sujas ou nas cortinas da sala. Aprendendo a andar, tropeça no ursinho de pelúcia e o torra queimado, até seu pai avisá-la de que se continuar colocando fogo nas coisas, vai acabar fazendo essa Coisa Ruim machucar mamãe ou papai. Charlie promete não fazer mais isso e se torna uma menina de sete anos de idade bastante feliz.
Andy e Vicky foram permanentemente modificados com o experimento. O Lote Seis mudou o funcionamento da hipófise, glândula do organismo que controla outras glândulas e vários hormônios essenciais. Vicky desenvolveu fraca telecinesia, como fechar uma porta com o pensamento estando do outro lado do cômodo. Andy sugestiona as pessoas em níveis variados, o que ele chama de "impulsionar" alguém. Sua capacidade parece maior que a de Vicky e ele a usa muito mais, causando enxaquecas em si mesmo. Ele começa a desconfiar que quanto mais usa o impulso mais doente ele se sente. Consequentemente, Charlie nasceu com o DNA modificado e possui habilidades mais intensas que os pais e um potencial desconhecido. A Oficina quer agora estudar Charlie, uma futura arma bélica.


Você precisa focar no momento da publicação da obra: a "segunda parte" da Guerra Fria, quando Estados Unidos e União Soviética disputavam a influência política, econômica, ideológica, tecnológica e militar em todo o mundo, que havia acabado de presenciar a Guerra do Vietnã e via outras surgirem. Na corrida armamentista, ambos os lados testavam quaisquer tipos de armas e uma guerra nuclear era o maior medo mundial, por isso os países assinavam tratados evitando seu uso. Os serviços de inteligência e espionagem cresceram muito e, junto a eles, a paranoia política e teorias de conspiração. Na ficção científica produzida por estadunidenses o medo mudou dos invasores alienígenas para si mesmos, ou melhor, o governo dos E.U.A. e o que este seria capaz de fazer para sair na frente.
Há um posfácio nesta edição onde King explica que se baseou em acontecimentos reais: testes feitos pelo governo dos E.U.A. ou de agências dele. Administração de drogas potencialmente perigosas em pessoas alheias a isso e também existência de relatos sobre programas de isolamento de pessoas com habilidades psiônicas. A imaginação do autor criou então A Incendiária, que embora possua cenas assustadoras e inquietantes, é uma obra de ficção científica e King fez um ótimo trabalho. Mutação não era novidade no mercado, inclusive os mutantes dos quadrinhos da Marvel, os X-Men, desfrutavam de seu primeiro ápice de sucesso. Não era novo para o próprio King também, que já havia escrito sobre uma garota com telecinese e um garoto com telepatia. Todavia, enquanto lá as origens sobre as habilidades não importam muito, aqui é a base para as principais questões.
É também um excelente suspense, especialmente no começo e no final, que são movimentados, quase como um thriller.


A narrativa é em terceira pessoa com vários pontos de vista, incluindo trechos com pensamentos diretos. São onze capítulos subdivididos em cenas numeradas, sempre de acordo com o local dos acontecimentos.
O livro pode ser dividido em duas partes principais. A primeira é basicamente com Charlie e Andy fugindo e se escondendo da Oficina, enquanto flashbacks são mostrados para melhorar a compreensão de quem lê. Se não bastasse a Oficina assustando, (imagine o pesadelo de ser caçado pelo próprio governo e não poder pedir socorro a ninguém), na segunda parte tudo piora com a entrada de uma personagem que se mostra a pior vilã da trama: uma pessoa obcecada por Charlie, de modo doentio. Uma pessoa psicopata que ganha poder e controle sobre a própria Oficina. Realmente temi por Charlie e Andy.
Algumas cenas de ação são muito incríveis e brutais, como a na residência dos Manders e a dos estábulos. Mas um trecho que não consegui retirar da cabeça foi a do experimento com Andy e Vicky. King sempre imagina e descreve momentos memoráveis.

Um dos destaques é o relacionamento entre pai e filha e como parceiros de campo. A confiança entre eles ao formarem uma dupla contra as ameaças é muito intensa. Charlie possui um potencial enorme e além da pirocinese. Outras habilidades psíquicas meio adormecidas são mostradas. Ela pode literalmente rasgar a Terra ao meio ou causar a explosão como a de uma bomba, e isso é apenas o começo. A menina tem conflitos, pois não quer mais machucar, conforme prometeu ao pai ainda criança, mas como reagir quando o próprio pede que ela use seus poderes? E quando os incêndios e explosões podem ser a única proteção dela e do pai? O maior medo que senti, não foi apenas pelo que aconteceria com eles, mas pela dor profunda de um pai, em meio a um labirinto interminável, que apenas quer salvar a filha. Que deseja a liberdade para ela, que não tem culpa de ser uma mutante.
Charlie é uma personagem incrivelmente complexa. Ela tem sete anos de idade, mas no início eu a achei tão inocente que me parecia ainda mais jovem, como se tivesse no máximo cinco anos. Conforme o andamento da leitura e vários momentos de esperteza da menina, não apenas em tomar decisões, mas também no uso inteligente dos poderes, me parecia mais velha. Ela completa oito anos, mas ao término eu a via como uma pré-adolescente, de onze ou doze anos.


Gostei do desfecho, mas fiquei angustiada imaginando porque King não escreveu uma sequência. Além do filme de 1984 (Chamas da Vingança, com Drew Barrymore como Charlie) existe uma continuação em duas partes para a televisão (Vingança em Chamas, de 2002), mas esta não possui roteiro do Stephen King. Eu queria mesmo era uma segunda parte pelas mãos dele.
A edição traz um apêndice no final, um texto de Grady Henderson, onde é explicado o momento editorial de Stephen King (que trocou de editora), suas críticas políticas nas obras e o simbolismo do fogo em A Incendiária, que é o "despertar sexual de Charlie" (esta representa as mulheres) controlado (ou tentativa de controle) pelo pai e por todos os homens ao redor. É uma análise bastante psicológica, figurativa e válida.
Você pode ler um trecho com o começo do livro no site do Grupo Companhia das Letras. Clique aqui.
Quer mais King? Atendendo aos pedidos os próximos lançamentos na coleção Biblioteca Stephen King serão Trocas Macabras e A Metade Sombria, mas em junho de 2018 a Suma publicou o mais recente livro do rei: Outsider, que já está à venda e vai virar série. E tem mais: o próximo livro, Elevation, ainda inédito, vai sair no Brasil também pela Suma.

Os demais livros da coleção Biblioteca Stephen King.

Veja abaixo o trailer do filme de 1984 (em inglês):



E aqui, a música que não saiu da minha cabeça durante a leitura: Firestarter, da banda The Prodigy:


O autor:
É autor de mais de cinquenta livros best-sellers no mundo inteiro. Os mais recentes incluem Revival, Mr. Mercedes, Escuridão Total Sem Estrelas (vencedor dos prêmios Bram Stoker e British Fantasy), Doutor Sono, Joyland, Sob a Redoma (que virou uma série de sucesso na TV) e Novembro de 63 (que entrou no TOP 10 dos melhores livros de 2011 na lista do New York Times Book Review e ganhou o Los Angeles Times Book Prize na categoria Terror/Thriller e o Best Hardcover Novel Award da Organização International Thriller Writers). Em 2003, King recebeu a medalha de Eminente Contribuição às Letras Americanas da National Book Foundation e, em 2007, foi nomeado Grão-Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos.
Ele mora em Bangor, no Maine, com a esposa, a escritora Tabitha King.
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