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Resenha: O Rouxinol, de Kristin Hannah e Editora Arqueiro

O Rouxinol (The Nightingale)
Kristin Hannah - Arqueiro
Tradução: Claudio Carina
432 páginas - 2015 - R$39,90
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Sinopse:
"França, 1939. No pequeno vilarejo de Carriveau, Vianne Mauriac se despede do marido, que ruma para o fronte. Ela não acredita que os nazistas invadirão o país, mas logo chegam hordas de soldados em marcha, caravanas de caminhões e tanques, aviões que escurecem os céus e despejam bombas sobre inocentes. Quando o país é tomado, um oficial das tropas de Hitler requisita a casa de Vianne, e ela e a filha são forçadas a conviver com o inimigo ou perder tudo. De repente, todos os seus movimentos passam a ser vigiados e Vianne é obrigada a fazer escolhas impossíveis, uma após a outra, e colaborar com os invasores para manter sua família viva.
Isabelle, irmã de Vianne, é uma garota contestadora que leva a vida com o furor e a paixão típicos da juventude. Enquanto milhares de parisienses fogem dos terrores da guerra, ela se apaixona por um guerrilheiro e decide se juntar à Resistência, arriscando a vida para salvar os outros e libertar seu país."

Resenha:

The Nightale, da autora Kristin Hannah (com mais de 12 milhões de exemplares vendidos e 21 livros publicados), foi lançado em inglês em fevereiro de 2015, tornando-se best-seller e ganhador do Goodreads Choice Awards 2015 na categoria melhor ficção histórica. A Editora Arqueiro trouxe O Rouxinol ao Brasil em novembro, mantendo a capa original. A versão brasileira é linda, com capa macia e detalhes em relevo na cor dourada. A edição contém orelhas, folhas amareladas e bom trabalho de revisão e diagramação.
Conhecida por ficção contemporânea, Kristin Hannah publicou seu primeiro romance histórico. Aprecio muito ficção histórica e sou sempre atraída por tramas envolvendo guerras. Escolhi O Rouxinol pela temática, pela autora e por ver que o centro do enredo é a história de duas irmãs. O livro se tornou uma surpresa agradável, porque me emocionou muito e foi uma das minhas melhores leituras em 2015. Historiadores provavelmente encontrarão falhas, mas o(a) leitor(a) comum não terá problemas; está mais para drama que livro histórico, mas a guerra é bem caracterizada e explorada.
O Rouxinol é inspirado por histórias reais, principalmente a de uma mulher belga que durante a Segunda Guerra Mundial ajudou a atravessar soldados Aliados a pé da França para a Espanha (Andrée de Jongh; 1916-2007). A autora sondou também documentos históricos e encontrou evidências de mulheres que salvaram bebês judeus (como a polonesa Irena Sendler; 1910-2008). Considerando ou não o conteúdo histórico e / ou verídico do livro, a trama é extremamente comovente e representativa. A escrita de Kristin Hannah é uma das melhores que eu já conheci, pois é viva e poderosa. Terminei a leitura chorando e envolvida de tal forma que foi difícil me desapegar das personagens e ler outro livro.


"No amor descobrimos quem queremos ser; na guerra descobrimos quem somos."
A história começa com narrativa em primeira pessoa no ano de 1995. Não sabemos quem é a narradora e este é um suspense que permanece até as últimas páginas. Nascida na França e radicada nos Estados Unidos, a senhora idosa remexe em suas memórias e segredos e relembra os anos intensos e perigosos vividos durante a Segunda Guerra Mundial. Imediatamente a autora retorna para 1939 e, em terceira pessoa, conta toda a história da família dessa senhora, mostrando como foi estar na França invadida pelos nazistas. E é assim quase toda a composição do livro. São poucos os momentos em que a volta ao presente, criando expectativa sobre a identidade da narradora. Tanto no passado em terceira pessoa como no presente em primeira, Kristin Hannah mantém emoção, intimidade e beleza em sua escrita, com detalhes de época interessantes e tramas ricamente entrelaçadas. O clímax do enredo é o arrebatamento de conflitos, consequências e emoções, finalizando no presente em uma cena final inesquecível. Os sentimentos são tantos que parece que realmente estive na pele das protagonistas.
É um épico dramático de amor, coragem, resistência e família. As protagonistas são duas irmãs francesas, bastante diferentes nas personalidades e opiniões. Não são amigas, mas no decorrer da guerra compreendem que o sentimento está acima da razão e o amor vence as diferenças. Ambas precisam resistir ao caos e a dor, cada uma a sua maneira.
Vianne é a mais velha e Isabelle a mais jovem (com uma década de diferença). A mãe morreu quando Vianne tinha 14 anos de idade e Isabelle apenas 4. O pai estava despreparado para cuidar das filhas. Não apenas pela viuvez, mas também pelos traumas da Primeira Guerra Mundial. Após servir em combate, Julien nunca mais foi o mesmo ao retornar para a família e seu pequeno negócio, uma livraria na capital francesa. Sem a esposa como a peça fundamental para sustentar a família Rossignol, Julien abandona as meninas aos cuidados de terceiros. Vianne logo se casa com Antoine e se muda para o vilarejo Carriveau, mas Isabelle permanece em internatos.
Notável a ponte brilhante que a autora faz entre as duas guerras mundiais, salientando como as consequências da primeira regem as pessoas na segunda.
Em 1939, Vianne e Antoine vivem felizes com a filha de 8 anos Sophie, até ele ser intimado ao fronte de batalha da Guerra. Isabelle presencia a invasão de Paris pela Alemanha e é obrigada pelo pai a migrar para a casa de Vianne, mas seu desejo é se unir à Resistência francesa e lutar contra os nazistas.


Destaque para o papel da mulher da época. Antes da Primeira Guerra a mulher era mais submissa e dependente dos homens. A guerra começou a mudar as atitudes e pensamentos das mulheres. Com a chegada da Segunda Guerra, elas estão mais ativas e questionadoras. Surge o questionamento de que as mulheres, embora sempre tenham desempenhado funções em guerras, não têm recebido destaque nos registros históricos.
Vianne é totalmente dependente do marido e, de repente, se torna a responsável pela casa e o sustento da filha em plena guerra e com um soldado inimigo aquartelado em sua residência. O perigo dorme em sua própria casa, por isso Vianne age com cautela. Ela precisa proteger a filha e esperar pelo marido e, em pensamento mais tradicional, acha que as mulheres não devem ir à guerra.
Isabelle é rebelde e ávida por fazer algo importante, pois não quer permanecer em casa como a irmã. (Não acredite no trecho da sinopse que diz "ela [Isabelle] se apaixona por um guerrilheiro e decide se juntar à Resistência.") Ela não concordo que apenas homens devam lutar na guerra, portanto, tendo uma heroína da Primeira Guerra como motivação (que existiu de verdade; Edith Cavell, 1865-1915; heroína de Andrée de Jongh) não tem medo de proteger a França. Por ser 10 anos mais jovem que a irmã e não ter filhos, Isabelle tem um pensamento mais moderno acerca do papel da mulher em tempos de guerra.
Tanto Vianne quanto Isabelle mudam drasticamente com os eventos. Além da força, coragem e resistência de cada uma, elas aprendem muito, especialmente a compreender melhor uma a outra. Também passam a entender o pai, porque descobrem na pele como uma guerra devasta o indivíduo. E Vianne, mesmo não se unindo à Resistência como Isabelle, é tão corajosa quanto a irmã, mesmo sem perceber essa força. As duas são apaixonantes e admiráveis, mesmo sob diferenças. Difícil escolher apenas uma como preferida; são duas – ou melhor, três heroínas, porque Sophie cresce em meio à guerra aprendendo a enfrentar o medo, fome, frio e perigo – amadurece prematuramente devido ao sofrimento.
As personagens secundárias também são incríveis, como Rachel, judia, vizinha e melhor amiga de Vianne; e Beck, um soldado nazista que diz estar apenas cumprindo sua obrigação e é a personagem que dividirá opiniões. A trama traz ainda integrantes da Resistência, pessoas variadas e com um objetivo em comum. A autora as apresenta, mas sem se aprofundar em seus históricos; preferiu desenvolver suas características e motivações; a história de vida fica para a imaginação do(a) leitor(a).


O Rouxinol é uma história de guerra, porém o ponto mais importante não está nos soldados, fatos históricos e batalhas. O foco são as pessoas que não foram oficialmente para as batalhas, mas também lutaram, mantendo-se vivas, protegendo entes queridos ou se rebelando de outras formas. Uma guerra não é feita apenas de soldados e armas; é feita de pessoas, e O Rouxinol mostra como mulheres, idosos e crianças sofreram e encararam a destruição, sofrimento e selvageria da Segunda Guerra Mundial. As mulheres, grande destaque e protagonistas de O Rouxinol, viveram uma guerra silenciosa e nas sombras, porque não receberam medalhas e não tiveram seus nomes lembrados nos livros de História, mas também resistiram e enfrentaram a guerra. Este é um livro para não deixar os feitos de tantas pessoas permanecerem no esquecimento. Embora não saibamos todas as suas identidades e conheçamos muito pouco de suas ações, devemos procurar informações e homenagear tantos lutadores.
Kristin Hannah apresenta uma história sobre amor e guerra emocionante.
A Editora Arqueiro disponibiliza em seu site um guia de leitura (com spoilers), o marcador do livro e os quatro primeiros capítulos como amostra.
O Rouxinol está sendo adaptado para o cinema pela TriStar Pictures!



A autora:
Kristin Hannah é autora de 21 livros que já venderam mais de 12 milhões de exemplares no mundo. Ela largou a advocacia para se dedicar à sua grande paixão: escrever.
No Brasil, já publicou Quando Você Voltar e Amigas para Sempre (Editora Arqueiro), além de Jardim de Inverno, Por Toda a Eternidade e O Lago Místico (Novo Conceito).
Tem um filho e mora com o marido no noroeste dos Estados Unidos e no Havaí.
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