Oi, Leitoras e Leitores Viciados. Assim que terminei a leitura de A Garota Sem Nome (The Girl with no Name), biografia de Marina Chapman escrita por Lynne Barrett-Lee e publicada no Brasil pela Editora Record (Grupo Editorial Record), pesquisei sobre histórias reais de crianças criadas por animais ou que conviveram com eles. Marina Chapman viveu com um grupo de macacos-prego dos 5 aos 10 anos de vida. Você encontra a resenha do livro aqui no blog.
A pesquisa ganhou outro rumo quando descobri o trabalho da fotógrafa Julia Fullerton-Batten. Após ler A Garota Sem Nome ela pesquisou casos semelhantes e recriou alguns em imagens. O resultado é Feral Children (Crianças Selvagens). Baseada em relatos reais, utilizou modelos para encenarem cada história.
Julia conta que são histórias de crianças que se perderam na selva ou foram negligenciadas em seus próprios lares. São casos muito tristes, ocorridos em diferentes países e sempre acompanhados de pobreza, violência ou abandono. Como mãe, ela diz que ficou chocada e intrigada, mas que após a pesquisa, admirou a coragem e força dessas crianças que viveram situações extremas.
Mary-Ann Ochota é antropóloga e auxiliou a fotógrafa na pesquisa. Algumas crianças ainda estão vivas, após processo de reintegrações social e psicológica. Nem todas as histórias terminaram bem como a de Marina Chapman. Não são como as ficcionais histórias de Tarzan ou Mogli. A maioria das crianças estava traumatizada, sem falar e subnutrida ou doente.
Esta não é uma postagem feliz. É um alerta sobre abandono, maus tratos e exploração infantil. Mostra também como a socialização é essencial. Se todas as histórias são verídicas, eu não sei.
Marina Chapman (A Garota Sem Nome / The Girl with no Name), Colômbia, década de 1950:
Foi sequestrada nos anos 1950 aos 5 anos de idade de uma vila na Colômbia ou Venezuela. Abandonada na selva, viveu com uma família macacos-prego por cinco anos. Sua história está na biografia A Garota Sem Nome. Atualmente ela tem mais de 60 anos e vive uma vida normal.
Separei mais oito das histórias originais, por se assemelharem a de Marina Chapman (viver com animais).
Menina Lobo (Wolf Girl), fronteira do México com os Estados Unidos, 1845:
Em 1845, segundo lendas, uma menina sem roupas foi encontrada correndo de quatro junto a uma matilha de lobos perto de Del Rio, Texas. Histórias locais contavam que a menina atacava rebanhos de cabras. Notícia espalhada, vaqueiros mexicanos a caçaram. Ela fugiu após a captura e foi vista pela última vez em 1852, supostamente com dois filhotes de lobo. Nunca mais foi vista. Nenhuma notícia surgiu posteriormente.
John Ssebunya (The Monkey Boy / O Menino Macaco), Uganda, 1991:
Aos 3 anos de idade, em 1988, viu o pai matar a mãe. Fugiu de casa para a selva e lá viveu com macacos. Comia raízes, nozes, batata doce e mandioca e tinha calos nos joelhos por andar como um macaco. Foi resgatado em 1991, com cerca de 6 anos de idade, e colocado em um orfanato. Ao ser limpo verificou-se que todo o seu corpo estava coberto de cabelo. Sofreu um caso gravíssimo de vermes intestinais. John aprendeu a falar e a se comunicar normalmente. Ele canta em um coral.
O Menino Leopardo / The Leopard Boy, Índia, 1912:
Ele tinha 2 anos de idade quando foi levado por um leopardo, em 1912. Três anos depois, um caçador matou o animal e encontrou três filhotes, sendo que um deles era o menino. Ele foi devolvido à sua família na pequena aldeia, que buscava por ele. O menino andava apenas de quatro, mas tão rápido quanto se estivesse de pé. Seu joelhos, pés e mãos eram extremamente calosos, mordia e lutava com todos. Chegou a comer uma galinha crua na aldeia. Aprendeu a falar e a andar ereto, mas infelizmente passou a sofrer de catarata, doença comum na família.
Kamala e Amala, Índia, 1920:
Kamala, 8 anos, e Amala, 1 ano e meio, foram encontradas em 1920 em uma cova de lobos. Um dos mais famosos casos de crianças selvagens, foram encontradas por um reverendo, Joseph Singh, que se escondeu em uma árvore acima da caverna onde pessoas as avistaram. Quando os lobos saíram da caverna, viu duas figuras olharem para fora. As meninas corriam de quatro e, ao serem resgatadas, somente dormiam abraçadas, grunhiam, uivavam, arrancavam as roupas e só comiam carne crua. Estavam fisicamente deformadas, com tendões e articulações dos braços e pernas encurtados. Não tinham interesse em interagir com as pessoas, mas possuíam sentidos aguçados como audição, visão e olfato. Amala morreu no ano seguinte após a sua captura e Kamala finalmente aprendeu a andar ereta e a dizer algumas palavras, mas morreu em 1929 de insuficiência renal, aos 17 anos de idade.
Rochom P'ngien (Jungle Girl / Garota da Selva), Camboja, 2007:
Em 1988, ela, com 8 anos de idade, e a irmã, dois anos mais nova, ao pastorearem búfalos se perderam na selva. Foi encontrada em 2007, aos 27 anos, roubando comida de um homem. Estava nua, sem falar, andando de quatro e cheia de cicatrizes. No entanto, uma das marcas nas costas era enorme e ela foi reconhecida como a filha mais velha desaparecida de um policial local. A irmã nunca foi encontrada. Ela teve dificuldade para se ajustar à civilização. No ano seguinte, desapareceu por alguns dias, mas retornou. Ela aprendeu a se alimentar, a se banhar e a se vestir, mas nunca a falar. Foi hospitalizada em 2009 porque se recusava a comer. Ela voltou a se alimentar, e a começar a usar algumas palavras. Após desaparecer novamente em 2010, voltou e preferiu dormir no galinheiro da família, mas se junta a eles para as refeições a cada três ou quatro dias. Ainda não consegue falar normalmente.
Victor (The Wild Boy of Aveyron / O Menino Selvagem de Aveyron), França, 1797:
Este é um caso histórico e muito pesquisado. Victor foi visto no final do século XVIII na mata de Saint Sernin sur Rance, no sul da França. Escapou após seu capturado, mas em 1800, foi pego novamente. Tinha cerca de 12 anos de idade, era coberto por cicatrizes e incapaz de falar. Muitos especialistas o examinaram e concluíram que ele deve ter passado aproximadamente 7 anos em vida selvagem. Descobriram que ele era capaz de andar nu em plena neve sem ter o organismo afetado. Ele nunca aprendeu a falar e foi levado para uma instituição em Paris onde morreu aos 40 anos.
Oxana Malaya, Ucrânia, 1991:
Foi encontrada aos 8 anos de idade vivendo com cães em um canil em 1991. Seus pais eram alcoólatras e certa noite, quando a menina tinha 3 anos, a deixaram do lado de fora. Ela foi até o canil da fazenda e dormiu com os cães, sem raça definida. Negligenciada, passou a viver com eles. Ao ser descoberta e resgatada, era mais animal que humana. Corria de quatro, ofegava com a língua para fora, mostrava os dentes e latia. Sabia poucas palavras. Recebeu terapia intensiva, mas não ultrapassou o vocabulário de uma criança de 5 anos, mesmo já tendo 30 anos. Vive em uma clínica e trabalha com animais de fazenda do hospital, sob a supervisão de seus cuidadores.
Ivan Mishukov, Rússia, 1998:
Sofreu abusos em sua família e fugiu quando tinha apenas 4 anos de idade, vivendo nas ruas como mendigo. Desenvolveu um relacionamento com uma matilha de cães selvagens, e ao implorar por comida, foi atendido pelos animais. Os cães passaram a confiar nele, que se tornou o líder da matilha. Viveu com essa família por dois anos, até ser resgatado e colocado em um lar para crianças. Ivan não perdeu sua linguagem por não ter parado totalmente de mendigar, mas se tornou agressivo. Ele agora tem uma vida normal.
As duas últimas já não ocorrem na selva, por isso parei aí. Deixei de fora as histórias restantes recriadas pela fotógrafa por estarem fora de cenários selvagens.
Fontes: Huffpost Arts & Culture | Correio Braziliense
Julia conta que são histórias de crianças que se perderam na selva ou foram negligenciadas em seus próprios lares. São casos muito tristes, ocorridos em diferentes países e sempre acompanhados de pobreza, violência ou abandono. Como mãe, ela diz que ficou chocada e intrigada, mas que após a pesquisa, admirou a coragem e força dessas crianças que viveram situações extremas.
Mary-Ann Ochota é antropóloga e auxiliou a fotógrafa na pesquisa. Algumas crianças ainda estão vivas, após processo de reintegrações social e psicológica. Nem todas as histórias terminaram bem como a de Marina Chapman. Não são como as ficcionais histórias de Tarzan ou Mogli. A maioria das crianças estava traumatizada, sem falar e subnutrida ou doente.
Esta não é uma postagem feliz. É um alerta sobre abandono, maus tratos e exploração infantil. Mostra também como a socialização é essencial. Se todas as histórias são verídicas, eu não sei.
Marina Chapman (A Garota Sem Nome / The Girl with no Name), Colômbia, década de 1950:
Foi sequestrada nos anos 1950 aos 5 anos de idade de uma vila na Colômbia ou Venezuela. Abandonada na selva, viveu com uma família macacos-prego por cinco anos. Sua história está na biografia A Garota Sem Nome. Atualmente ela tem mais de 60 anos e vive uma vida normal.
Separei mais oito das histórias originais, por se assemelharem a de Marina Chapman (viver com animais).
Menina Lobo (Wolf Girl), fronteira do México com os Estados Unidos, 1845:
Em 1845, segundo lendas, uma menina sem roupas foi encontrada correndo de quatro junto a uma matilha de lobos perto de Del Rio, Texas. Histórias locais contavam que a menina atacava rebanhos de cabras. Notícia espalhada, vaqueiros mexicanos a caçaram. Ela fugiu após a captura e foi vista pela última vez em 1852, supostamente com dois filhotes de lobo. Nunca mais foi vista. Nenhuma notícia surgiu posteriormente.
John Ssebunya (The Monkey Boy / O Menino Macaco), Uganda, 1991:
Aos 3 anos de idade, em 1988, viu o pai matar a mãe. Fugiu de casa para a selva e lá viveu com macacos. Comia raízes, nozes, batata doce e mandioca e tinha calos nos joelhos por andar como um macaco. Foi resgatado em 1991, com cerca de 6 anos de idade, e colocado em um orfanato. Ao ser limpo verificou-se que todo o seu corpo estava coberto de cabelo. Sofreu um caso gravíssimo de vermes intestinais. John aprendeu a falar e a se comunicar normalmente. Ele canta em um coral.
O Menino Leopardo / The Leopard Boy, Índia, 1912:
Ele tinha 2 anos de idade quando foi levado por um leopardo, em 1912. Três anos depois, um caçador matou o animal e encontrou três filhotes, sendo que um deles era o menino. Ele foi devolvido à sua família na pequena aldeia, que buscava por ele. O menino andava apenas de quatro, mas tão rápido quanto se estivesse de pé. Seu joelhos, pés e mãos eram extremamente calosos, mordia e lutava com todos. Chegou a comer uma galinha crua na aldeia. Aprendeu a falar e a andar ereto, mas infelizmente passou a sofrer de catarata, doença comum na família.
Kamala e Amala, Índia, 1920:
Kamala, 8 anos, e Amala, 1 ano e meio, foram encontradas em 1920 em uma cova de lobos. Um dos mais famosos casos de crianças selvagens, foram encontradas por um reverendo, Joseph Singh, que se escondeu em uma árvore acima da caverna onde pessoas as avistaram. Quando os lobos saíram da caverna, viu duas figuras olharem para fora. As meninas corriam de quatro e, ao serem resgatadas, somente dormiam abraçadas, grunhiam, uivavam, arrancavam as roupas e só comiam carne crua. Estavam fisicamente deformadas, com tendões e articulações dos braços e pernas encurtados. Não tinham interesse em interagir com as pessoas, mas possuíam sentidos aguçados como audição, visão e olfato. Amala morreu no ano seguinte após a sua captura e Kamala finalmente aprendeu a andar ereta e a dizer algumas palavras, mas morreu em 1929 de insuficiência renal, aos 17 anos de idade.
Rochom P'ngien (Jungle Girl / Garota da Selva), Camboja, 2007:
Em 1988, ela, com 8 anos de idade, e a irmã, dois anos mais nova, ao pastorearem búfalos se perderam na selva. Foi encontrada em 2007, aos 27 anos, roubando comida de um homem. Estava nua, sem falar, andando de quatro e cheia de cicatrizes. No entanto, uma das marcas nas costas era enorme e ela foi reconhecida como a filha mais velha desaparecida de um policial local. A irmã nunca foi encontrada. Ela teve dificuldade para se ajustar à civilização. No ano seguinte, desapareceu por alguns dias, mas retornou. Ela aprendeu a se alimentar, a se banhar e a se vestir, mas nunca a falar. Foi hospitalizada em 2009 porque se recusava a comer. Ela voltou a se alimentar, e a começar a usar algumas palavras. Após desaparecer novamente em 2010, voltou e preferiu dormir no galinheiro da família, mas se junta a eles para as refeições a cada três ou quatro dias. Ainda não consegue falar normalmente.
Victor (The Wild Boy of Aveyron / O Menino Selvagem de Aveyron), França, 1797:
Este é um caso histórico e muito pesquisado. Victor foi visto no final do século XVIII na mata de Saint Sernin sur Rance, no sul da França. Escapou após seu capturado, mas em 1800, foi pego novamente. Tinha cerca de 12 anos de idade, era coberto por cicatrizes e incapaz de falar. Muitos especialistas o examinaram e concluíram que ele deve ter passado aproximadamente 7 anos em vida selvagem. Descobriram que ele era capaz de andar nu em plena neve sem ter o organismo afetado. Ele nunca aprendeu a falar e foi levado para uma instituição em Paris onde morreu aos 40 anos.
Oxana Malaya, Ucrânia, 1991:
Foi encontrada aos 8 anos de idade vivendo com cães em um canil em 1991. Seus pais eram alcoólatras e certa noite, quando a menina tinha 3 anos, a deixaram do lado de fora. Ela foi até o canil da fazenda e dormiu com os cães, sem raça definida. Negligenciada, passou a viver com eles. Ao ser descoberta e resgatada, era mais animal que humana. Corria de quatro, ofegava com a língua para fora, mostrava os dentes e latia. Sabia poucas palavras. Recebeu terapia intensiva, mas não ultrapassou o vocabulário de uma criança de 5 anos, mesmo já tendo 30 anos. Vive em uma clínica e trabalha com animais de fazenda do hospital, sob a supervisão de seus cuidadores.
Ivan Mishukov, Rússia, 1998:
Sofreu abusos em sua família e fugiu quando tinha apenas 4 anos de idade, vivendo nas ruas como mendigo. Desenvolveu um relacionamento com uma matilha de cães selvagens, e ao implorar por comida, foi atendido pelos animais. Os cães passaram a confiar nele, que se tornou o líder da matilha. Viveu com essa família por dois anos, até ser resgatado e colocado em um lar para crianças. Ivan não perdeu sua linguagem por não ter parado totalmente de mendigar, mas se tornou agressivo. Ele agora tem uma vida normal.
As duas últimas já não ocorrem na selva, por isso parei aí. Deixei de fora as histórias restantes recriadas pela fotógrafa por estarem fora de cenários selvagens.
Fontes: Huffpost Arts & Culture | Correio Braziliense
Ola Tatiana,
ResponderExcluirNem sei o que dizer de todas essas experiências, só sentir, desconhecia o livro também, adoro a Editora Record e vou procurar saber mais.
Beijos Mila
http://dailyofbooks.blogspot.com.br/