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[Resenha] A Grande Ilusão, de Harlan Coben e Arqueiro

A Grande Ilusão (Fool me Once)
Harlan Coben - Arqueiro
Tradução: Marcelo Mendes
304 páginas - 2018 - R$ 29,90 (impresso) e R$ 19,99 (eBook) - trecho
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Sinopse:
"Maya Stern é uma ex-piloto de operações especiais que voltou recentemente da guerra. Um dia, ela vê uma imagem impensável capturada pela câmera escondida em sua casa: a filha de 2 anos brincando com Joe, seu falecido marido, brutalmente assassinado duas semanas antes.
Tentando manter a sanidade, Maya começa a investigar, mas todas as descobertas só levantam mais dúvidas.
Conforme os dias passam, ela percebe que não sabe mais em quem confiar, até que se vê diante da mais importante pergunta: é possível acreditar em tudo o que vemos com os próprios olhos, mesmo quando é algo que desejamos desesperadamente?
Para encontrar a resposta, Maya precisará lidar com os segredos profundos e as mentiras de seu passado antes de encarar a inacreditável verdade sobre seu marido – e sobre si mesma."

Resenha:

Harlan Coben, autor premiado e único a ter recebido a trinca de ases da literatura policial estadounidense (o Anthony, o Shamus e o Edgar Allan Poe Awards),  já vendeu mais de 70 milhões de livros no mundo e é conhecido como "o mestre das noites em claro" e é exatamente isso que provoca com A Grande Ilusão, publicado no Brasil pela Editora Arqueiro em junho de 2017: você não consegue parar antes de terminar a leitura; vai não vai querer dormir para desvendar os mistérios desse suspense policial. Isto pode soar como um enorme clichê, não é? Mas fique ciente: Harlan Coben vai enganar você diversas vezes! Não fui capaz de adivinhar as questões principais e adorei ter sido enganada, foi uma leitura excelente.
O título original é Fool Me Once, do provérbio "Fool me once, shame on you; fool me twice, shame on me". Em tradução livre, significa "me engane uma vez, vergonha para você; me engane de novo, vergonha para mim". Parece que a protagonista, Maya Stern, está sendo enganada não uma, mas sim mais de uma vez. Ela sente que não pode confiar em ninguém, apenas em seu melhor amigo Shane. E, mesmo assim, não deve contar com ele para tudo. Cercada por intrigas, ilusões e mentiras, a morte a persegue. Primeiro, foi o falecimento de sua irmã Claire. Agora, seu marido Joe foi assassinado. Se o luto duplo não for suficiente para derrubá-la, um grande distúrbio começa: Maya assiste a uma cena impossível registrada pela da câmera de vigilância de sua sala de estar. Sua filhinha Lily, de dois anos de idade, brincando com Joe. No entanto, esta não é uma gravação anterior ao assassinato dele. É um registro de duas semanas após o funeral! Prepare-se para duvidar de tudo, até mesmo da protagonista, visto que ela sente que perde a sanidade.


A trama vai além da dúvida sobre Joe estar vivo ou morto. Maya descobre segredos do passado do marido e do envolvimento escandaloso da família dele em assuntos antes desconhecidos. E para movimentar ainda mais a história, descobre também que existem outras mortes que parecem ter ligações com as de Claire e Joe. O desenvolvimento do enredo é sustentado por várias (supostas?) mortes e a busca de Maya pela verdade e justiça, enquanto supera problemas muito particulares.
Ela é ex-piloto de ações especiais, Capitã do Exército americano, esteve em conflitos no Afeganistão e Iraque, até uma missão terminar de modo catastrófico. Ela sofre de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e escuta esporadicamente os ruídos do helicóptero, as explosões e os gritos. Uma condição complexa, terrível e assustadora. Enquanto tenta dormir e relaxar, sua mente revive aquele maldito momento, noite após noite. Cerca de onze a trinta por cento dos militares das Guerras do Vietnã, do Golfo, do Iraque, e do Afeganistão têm TEPT. O autor aborda e explora essa questão no livro, ressaltando a necessidade de tratamento psicológico e psiquiátrico. Outro tema delicado citado é a questão do porte de armas e suas consequências, apontando os dois lados envolvidos, a favor ou contra a Segunda Emenda da Constituição dos Estados Unidos: "Uma milícia bem-controlada, sendo necessária à segurança de um Estado livre, o direito do povo de manter e portar armas não deverá ser infringido.". Outro item que merece ser citado é o papel da mídia, especialmente a online, em investigações e revelações de segredos de Estado, e toda a questão ética relacionada.
Mas o melhor sobre Maya é que não é uma personagem típica de pena. Não é apenas uma veterana traumatizada que deve arrancar compaixão de quem lê. Ela parece ter literalmente culpa pela catástrofe da missão. Ao menos demonstra se sentir assim. É notável que ela não é uma heroína e que tudo pode vir à tona a qualquer momento, aumentando ainda mais o estresse em sua vida e a tensão no enredo. Perder a irmã, ser afastada da profissão que tanto se orgulhava, perder o marido de modo violento, ter que criar uma filha sozinha, sofrer de TEPT e, além disso, sentir dor e remorso pelo ocorrido e frustração por grave falha. O que será que Maya esconde?


A narrativa é em terceira pessoa (com exceção do último capítulo, em primeira) e sob o ponto de vista principal da protagonista.
Diferentemente da maioria dos romances policiais que costumo ler, o protagonismo não é de um investigador, detetive ou policial. Não há uma linha investigativa oficial para seguir, pois até mesmo a polícia não parece confiável. Talvez até mesma esteja envolvida na grande farsa enfrentada por Maya. Ela está por própria conta e risco. É bem legal acompanhar uma pessoa amadora no ofício criminal. Na verdade amadorismo não é a definição ideal, pois ela é militar e teve treinamento especial. Sabe manusear armas, é metódica, militarmente disciplinada e resistente e tão corajosa que chega a ser intransigente. Ela é ousada e arrisca. Portanto, é muito interessante acompanhar a investigação/espionagem de alguém que não é exatamente um Sherlock Holmes, mas se sai bem, com outros métodos. À propósito, Harlan Coben acrescenta uma homenagem ao detetive clássico com a seguinte frase do protagonista de Arthur Conan Doyle: "Depois que se excluiu o impossível, o que sobra, por mais improvável que seja, deve ser a verdade."  É com esse mantra que Maya persiste nas investigações em A Grande Ilusão, pois são várias pistas bizarras e impensáveis que ela se pergunta se não estaria enlouquecendo. Também é sempre relevante o protagonismo feminino em thrillers e literatura policial e Harlan Coben acerta com Maya Stern. E ela é o contrário do estilo de protagonista de suspense que tem sido muito utilizado em thrillers domésticos, ela é badass, acostumada com adrenalina, armas e perigo e não é alcoólatra, embora enfrente seus fantasmas.


O desenvolvimento da trama é ótimo e o ponto forte do livro é justamente o autor conseguir surpreender bastante, com várias reviravoltas e novidades, apesar de algumas repetições de ideias, um reforço não tão necessário.
Você realmente vai desconfiar de todos, vai duvidar de todas as pistas e vai questionar todas as informações. O desfecho é inacreditável! Para mim, foi uma situação impensada, improvável. O lado positivo é exatamente a surpresa. Porque é ótimo ter essa experiência com um livro policial: não desvendar o mistério e errar várias vezes no raciocínio investigativo. O lado negativo para mim foi também o mesmo ponto. Não concordei em certas ações ao término, apenas aceitei. O autor me passou uma impressão diferente sobre Maya, da personalidade e convicções e, de repente, algumas coisas foram destoantes. Ainda assim, o final é épico, genial, inesperado, e embora eu o tenha adorado, fiquei com uma sensação estranha.


O exemplar físico segue o ótimo padrão da Editora Arqueiro: possui orelhas, folhas amareladas, boas revisão e diagramação. Só não curti a imagem aleatória na capa. Custa R$ 29,90, enquanto o ebook sai a  R$ 19,99. A tradução é de Marcelo Mendes. A Arqueiro disponibiliza um trecho do livro para degustação. Clique aqui e baixe o PDF.
A Grande Ilusão não pertence a uma série ou coleção, portanto é um livro único. Recomendado para quem gosta de literatura policial, suspense e thrillers, mas ainda não conhece o trabalho de Harlan Coben e não quer se arriscar a começar por livro de um protagonista veterano como Myron Bolitar. Indispensável para leitores que adoram tramas bem-elaboradas em reviravoltas que os deixem boquiabertos. Literatura policial de alto nível, voltada ao público adulto e que vicia, ao ponto de te deixar com vontade de ler todas as obras de Harlan Coben. Aliás, a Editora Arqueiro publica em abril de 2018 mais um livro do autor: Volta Para Casa, da série Myron Bolitar, já disponível nas livrarias e lojas especializadas.



O autor:
Harlan nasceu em Newark, Nova Jersey. Depois de se formar em ciência política, trabalhou no setor de turismo. Hoje mora em Nova Jersey com os filhos e a esposa.
Vencedor de diversos prêmios, é o único escritor a ter recebido a trinca de ases da literatura policial americana: o Anthony, o Shamus e o Edgar Allan Poe, todos por livros da série de Myron Bolitar. Suas obras já foram traduzidas para 41 idiomas.
Aclamado na França, Coben é conhecido como “o mestre das noites em claro”. Seu livro Não Conte a Ninguém foi transformado no premiado filme homônimo estrelado por Kristin Scott Thomas e François Cluzet, disponível no Brasil em DVD.
Outras obras: Refúgio e Uma Questão de Segundos, Fique Comigo, Confie em Mim, Desaparecido Para Sempre, Cilada, Quebra de Confiança, Jogada Mortal, Sem Deixar Rastros, O Preço da Vitória, Quando Ela se Foi e Alta Tensão.
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