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[Resenha] Império das Tormentas, livro 1, de Jon Skovron e Arqueiro

Império das Tormentas (Hope & Red)
Império das Tormentas (Empire of Storms) - livro 1
Jon Skovron - Arqueiro
Tradução: Alves Calado
368 páginas - R$ 49,90 (impresso) e R$ 29,99 (ebook) - trecho
Comprar: Amazon | Livraria Cultura | Livraria da Folha | Google Play | KoboSaraiva | Submarino

Sinopse:
"Em um império fragmentado, circundado por mares selvagens, dois jovens de culturas diferentes se unem por uma causa comum.
Uma menina de 8 anos é a única sobrevivente do massacre de sua vila por biomantes, uma das mais poderosas forças do imperador. Batizada com o nome de seu vilarejo para nunca se esquecer do que perdeu, Bleak Hope é treinada em segredo por um mestre guerreiro para se tornar um instrumento de vingança.
Um estranho garoto de olhos vermelhos fica órfão nas esquálidas e sujas ruas de Nova Laven, mas é adotado pela pior pessoa que o destino poderia lhe apresentar: Sadie Cabra, uma das criminosas mais infames do submundo. Batizado como Red, ele é treinado para ser um exímio atirador de facas – além de ladrão, mentiroso e trapaceiro.
Quando um senhor do crime estabelece um acordo de poder com biomantes para tomar o controle do submundo de Nova Laven em troca da miséria da população, as histórias de Hope e Red finalmente se cruzam. Seja por honra ou vingança, essa improvável aliança os levará para a maior batalha da vida deles.
Jon Skovron marca aqui o início da trilogia Império das Tormentas, uma fantasia embalada por uma espadachim habilidosa, piratas, vigaristas, jogos de poder e revolução."

Resenha:
Hope & Red é o primeiro volume da trilogia de fantasia Empire of Storms e a estreia do autor de Young Adult Jon Skovron na ficção adulta. Em março de 2018 a Editora Arqueiro publicou o livro no Brasil como Império das Tormentas, optando por manter o nome da saga como título. Adoro fantasia e me interessei pela história, especialmente porque a sinopse me passou a sensação de ser uma grande aventura com protagonistas anti-heróis: uma espadachim implacável com sede de vingança e um ladrão golpista em busca de fama.
Passei outros a frente até que a vontade de ler fantasia voltasse, porque ansiava por novidade, uma fuga do lugar-comum. Queria algo diferente do tradicionalismo quase sempre presente na fantasia inspirada em J. R. R. Tolkien, sua eterna luta do bem contra o mal e supremacia branca e masculina. Por outro lado, não queria uma tentativa de cópia de As Crônicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin. Embora adore Game of Thrones e suas personagens de caráter acinzentado, a saga também não foge do clichê racista do Tolkien. Então quando comecei a ler e percebi que Império das Tormentas parecia ter boa parte do que eu procurava, me senti muito à vontade e satisfeita. É um épico incrível, bastante empolgante, com itens clássicos de aventura e fantasia, personagens vigaristas mas apaixonantes e uma explosão de ação! Tudo isso com representatividade espontânea e muitas críticas ao machismo e também a homofobia. O começo parecia mais do mesmo, até que fui arrebatada por detalhes incríveis, que tornam a história marcante e inesquecível.


Aos oito anos de idade, Hope se tornou a única sobrevivente do massacre em sua pequena vila de pescadores nas Ilhas do Sul. Foram mortos num experimento científico feito por biomantes do império, que parece se fortalecer para uma guerra biológica. Após ser resgatada, ela vai parar em uma ordem muito antiga e poderosa de guerreiros. Seu mestre Hurlo quebra a regra de que nenhuma menina/mulher é permitida entre os vinchens e a mantém como criada da ordem, mas, entretanto, a treina secretamente para ser uma guerreira. Ela se torna a melhor vinchen, disciplinada e incansável, e jura se vingar pelas mortes de seus pais e de todos de sua aldeia. Para isso vai matar todos os biomantes, especialmente o responsável pela matança. Após o fatídico dia em que deixou a ordem, juntou-se a um navio mercante e ganhou um novo tutor, o capitão Carmichael, e foi quando aprendeu tudo sobre navegação.
Red é filho de um prostituto e uma pintora em ascensão usuária da especiaria coral. Devido ao usa da droga pela mãe durante sua gestação, Red nasceu com olhos vermelhos, um caso raríssimo quando se vive mais que um bebê. Depois de ficar orfão, também aos oito anos, passa a viver como ladrão pelas ruas e favelas de Nova Laven, até impressionar por suas habilidades e ser adotado pela infame Sadie, que se torna a Rainha Pirata. Sob a tutela de Sadie, Red se transforma num dos mais rápidos e respeitados ladrões do submundo do crime no Círculo do Paraíso. Exímio atirador de facas, especialista no Jogo das Pedras, mentiroso, trapaceiro e galanteador, é o típico anti-herói que no fundo prioriza a camaradagem.


A narrativa é em terceira pessoa, sob os pontos de vista das protagonistas. Há ainda uma terceira visão em paralelo, porém com menor quantidade de capítulos, e embora não seja protagonista, sua participação aumenta com o tempo e esta passa a ser uma pessoa muito importante na trama, dividida em quatro partes. As duas primeiras mostram as infâncias e adolescências de Hope e Red. Somente na terceira parte ocorre o encontro entre eles, mas o início é essencial para o desenvolvimento do enredo, ainda mais se tratando de uma trilogia. Eles aparentemente não têm nada em comum, mas seus caminhos se cruzam e se unem com um objetivo em comum. Hope e Red iniciam uma enorme revolução popular que se mistura aos seus interesses particulares e o livro passa a ser viciante! A reta final e o desfecho são impressionantes.
Portanto, a leitura pode parecer não tão empolgante no começo, quando o mundo e personagens são apresentados. As experiências de vida de Hope e Red serão depois muito importantes para o andamento da história, então vale a pena acompanhar o crescimento e desenvolvimento psicológico e de caráter deles, assim como suas qualidades e defeitos.
Adorei os protagonistas, porém todas as personagens são interessantes, Teltho Kan, Velha Yammy, Sadie, Rolha, Finn Perdido, Alash, Brigga Lin e Urtiga, minha preferida no elenco de apoio. Temos personagens com faixas etárias diversas, etnias variadas e diferentes classes sociais, embora predomine as mais populares. São ladrões, piratas e mercenários, mas temos um inventor e uma adivinha dentre as personagens secundárias. Destaco algumas coisas importantes que achei geniais: uma personagem transgênera, a amizade e camaradagem entre mulheres, alguns papéis de gênero propositalmente invertidos e o fato de homens tratarem as mulheres com igualdade entre os vagas do Círculo.


Além de personagens carismáticas e complexas, Jon Skovron também criou um mundo completo, mostrado principalmente através de navegações e viagens. Hope é do sul, com vilarejos rurais e onde as pessoas costumam ser de pele clara e pouco civilizadas em comparação ao norte, altamente urbanizado e com variadas classes sociais separadas pela desigualdade econômica. É de onde vem Red e as demais personagens, quase todas morenas, escuras ou bronzeadas. O norte parece explodir em movimento e cores, com variados núcleos, guetos, favelas e bairros controlados por variadas facções e gangues. Interessante destacar que Red, filho de prostituto e artista, é renegado pela classe alta e não completamente aceito pelos vagas das ruas e guetos. "Vaga" é uma das gírias mais utilizadas pelas personagens. Definição para um amigo ou colega usada para ambos os sexos. Então se alguém é um "bom vaga" é uma pessoa de confiança, valorizada pela comunidade. O livro está repleto de gírias e definições próprias, praticamente todas utilizadas pelas classes populares. Então você encontra por todo o texto, principalmente nos diálogos, expressões originais como "molly", "mijo", "rendado", "pote velho", "capeta", "cabeça de sal", "escorreguento" e outras. No final há um pequeno glossário, mas não se preocupe, as expressões são totalmente compreensíveis devido ao contexto.
A obra apresenta muitas pessoas, lugares, gírias marítimas e linguagem de rua, sempre de forma fascinante e atraente, causando muita curiosidade. Há muita ação e aventura, com direito a lutas, fugas, derramamentos de sangue, viagens, espionagem, trapaças. Tudo combinado a um humor leve e inteligente. Por ser uma obra adulta e com personagens fora-da-lei possui forte linguagem, sexo e violência, mas nada pesado ou sombrio.


A ficção especulativa precisa de novos mundo e novas fantasias que desfaçam estruturas preconceituosas, sempre embutidas e disfarçadas de tradição. Na ficção de modo geral, tenho buscado por representatividade, em produtos com pessoas de cor e de cultura não-europeia. Procuro por mundos inventados sem o lance elfo-anão-humano-orc-hobbit, com personagens de etnias variadas, mulheres com papéis tão ativos e importantes quanto os dos homens, personalidades e sexualidades complexas e de caráteres muito além do bom versus mau. É ótimo notar que as editoras brasileiras têm se preocupado em publicar material com representatividade e Império das Tormentas é um livro que mantém os itens atraentes da fantasia, mas que quebra alguns paradigmas preconceituosos.
Os próximos livros são, no original, Bane & Shadow e Blood & Tempest, e estou louca por eles, espero que a Editora Arqueiro não demore com a sequência.
Leitura indicada para quem gosta de séries como A Primeira Lei de Joe Abercrombie, Ciclo Terramar de Ursula K. Le Guin, Anjo da Noite de Brent Weeks e Trono de Vidro de Sarah J. Maas . É perfeita para fãs de Nobres Vigaristas de Scott Lynch, tanto que a Arqueiro manteve o mesmo tradutor para ambas as sagas, Alves Calado. Acredito que tenha sido um trabalho complicado, pois são várias gírias e expressões próprias, por isso parabenizo a equipe. O exemplar possui páginas amareladas, ótimas revisão e diagramação e orelhas. A edição conta ainda com o mapa do Império das Tormentas.
Você pode ler uma amostra de Império das Tormentas no site da Arqueiro. Clique aqui.



O autor:
Jon Skovron já foi ator, músico, salva-vidas, bilheteiro da Broadway, funcionário de depósito, escritor de manuais e desenvolvedor web. Finalista do prêmio Morningstar por Império das Tormentas, Jon é autor de diversos livros para jovens leitores e seus contos já figuraram em várias publicações e antologias. Mora no subúrbio de Washington com dois filhos e dois gatos, e gosta de histórias sombrias, estranhas e ligeiramente engraçadas.
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