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[Resenha] Crônicas das Cidades Famintas, livro 1: Máquinas Mortais de Philip Reeve e HarperCollins Brasil

Máquinas Mortais (Mortal Engines)
 Crônicas das Cidades Famintas (The Hungry City Chronicles) - livro 1
Philip Reeve - HarperCollins Brasil
Tradução: Guilherme Kroll
320 páginas - 2018 - R$ 44,90 (impresso) e R$ 29,90 (ebook) - comprar

Sinopse:
"Neste brilhante mundo criado por Philip Reeve, a humanidade quase teve um fim em um conflito nuclear e biológico chamado de Guerra dos Sessenta Minutos. O mundo virou um descampado, a tecnologia foi praticamente extinta e todos os esforços humanos se voltaram para um único objetivo: fazer suas cidades sobreviverem. Para isso, elas precisam se mover, se tornando Cidades de Tração, para se afastar da radioatividade e doenças. Londres é uma grande cidade e está sempre a busca de novas cidades para se alimentar, como dita o Darwinismo Municipal: metrópoles consomem as cidades menores, que consomem vilarejos e assim por diante. No meio de um ataque de Londres à uma cidadezinha desesperada, Hester Shaw, uma menina com uma cicatriz horrível, tenta matar Thaddeus Valentine, o maior arqueólogo da metrópole. Valentine é salvo por Tom Natsworthy, um historiador aprendiz de terceira classe. De repente, ambos acabam caindo para fora da Cidade de Tração. Agora perdidos no vasto Campo de Caça, sem uma cidade para protegê-los, os dois precisam unir forças para alcançar Londres e sobreviver a um caminho cheio de saqueadores, piratas e outras Cidades de Tração. Além disso, ao que tudo indica Londres está planejando um ato desumano, envolvendo uma arma não usada na Guerra dos Sessenta Minutos, que pode dar fim ao pouco que restou do planeta."

Resenha:
Em 10 de janeiro de 2019 estreia nos cinemas brasileiros o filme Máquinas Mortais (Mortal Engines), uma superprodução dirigida por Christian Rivers (ganhador do Oscar de efeitos visuais por King Kong) e produzida por Peter Jackson (vencedor de 3 Oscars pela trilogia O Senhor dos Anéis). O filme é a adaptação do primeiro livro da série Crônicas das Cidades Famintas do inglês escritor e ilustrador Philip Reeve, originalmente publicado em 2001. Máquinas Mortais continua em Ouro de Predador (Predator's Gold), Artefatos Infernais (Infernal Devices) e Uma Planície Sombria (A Darkling Plain). A saga conta ainda com volumes spin-off, onde o universo foi expandido mostrando o passado (Fever Crumb, A Web of Air e Scrivener's Moon) e o futuro (Night Flights).
Juntos, os quatro volumes centrais abrangem duas décadas da história da Era da Tração, em um futuro muito distante, após o colapso mundial conhecido como a Guerra dos Sessenta Minutos. Agora, as cidades se movem por áreas desoladas, devastadas, perigosas e misteriosas, sempre em busca de outras, de preferência menores, desmantelando-as e absorvendo a força de trabalho (quase sempre em regime de escravidão) e todos os recursos vitais para uso de sua própria população. Portanto, nenhuma cidade pode parar, pois isso significa correr o risco de ser capturada e engolida por outra, enfrentando uma batalha sem estar preparada.


A obra é de ficção especulativa e de premissa e caracterização muito criativas e interessantes; perfeita para quem ama distopias e cenários pós-apocalípticos, mas acima de tudo, é um épico fantástico e o aspecto principal é a aventura ininterrupta e atraente. O foco certamente é o público juvenil, mas é uma leitura também para os adultos que gostam de fantasia, ação e aventura. A trama é simples mas inteligente, e leve, sem o peso de detalhes sobre máquinas ou tecnologia. Não é sombria, embora também não seja ingênua e mostre que os perigos são realmente assustadores e mortais. As críticas sociais são profundas, porém não se destacam como poderiam.
O que mais gostei, além do clima audacioso foi a excentricidade no ar, misturando pós-apocalipse a steampunk com várias parafernálias, máquinas e figurinos. Portanto, classificaria a obra como Young Adult épico, uma aventura juvenil steampunk.
Outro item em destaque é o funcionamento e estrutura da sociedade em geral e das hierarquias nas cidades tração (e ainda mais complexas no mundo fora delas). A história também é ótima, tanto da guerra e fim do mundo como do renascimento e a nova forma de se viver.
Além disso, o protagonismo foge do comum, com um rapaz que não é herói e uma moça que não é nada bonita. Mas eles são carismáticos, memoráveis e apaixonantes.

Cidades inteiras se movimentam com rodas e mecanismos complexos e estranhos. Aeronaves como dirigíveis sobrevoam os céus, submarinos espreitam águas desconhecidas, exploradores e piratas procuram por pedaços perigosos de tecnologia extinta da guerra. Sucata e lixo têm muito valor, pois em meio a isso há possibilidade de se encontrar itens perdidos importantes como objetos históricos e artefatos que podem ser estudados e reaproveitados, especialmente tecnologia perdida que pode ser ressuscitada ou adaptada. O que existe é uma corrida armamentista em prol da sobrevivência do mais forte em um ambiente hostil, dizimado e quase sem recursos naturais, criando um conflito entre as cidades e um terceiro: os inimigos anti-tracionistas.
A trama começa com a grande Cidade de Tração Londres. O ponto de vista inicial é de um jovem aprendiz historiador de terceira classe, um órfão que trabalha no Museu de História Natural de Londres como um faz-tudo. Tom Natsworthy sempre viveu em Londres e admira o estilo de vida londrino e o Darwinismo Municipal, porque é a vida e sociedade que ele conhece. A segurança de uma Cidade de Tração bem-sucedida, mesmo sendo um indivíduo de terceira classe, é essencial para ele, assim como o bem-estar do desenvolvimento e a movimentação constante. Até o dia em que uma garota invade Londres para tentar assassinar Thaddeus Valentine, arqueólogo renomado e famoso, um dos heróis de Tom.


Nesta confusão, Tom vai parar fora de Londres. Sua única companhia é a enigmática e assustadora Hester Shaw, uma jovem com o rosto deformado por uma enorme cicatriz. Sedenta por sangue e vingança, viu sua missão ser frustrada, mas não quer desistir do alvo, ainda em Londres. Em movimento, a metrópole atingiu alta velocidade, ou seja, além de existir um motivo para isso, será quase impossível alcança-la a pé, ainda mais com os perigos no Campo da Caça, onde Tom e Hester estão atolados. O rapaz está em pânico, pois nunca esteve fora de Londres e jamais imaginou estar em local tão assustador até mesmo para grandes heróis exploradores. Hester odeia todo mundo, inclusive Tom.
A partir desse momento é mostrado o mundo fora de Londres e a leitura se torna mais interessante. Especialmente o choque de Tom quando ele descobre que viver numa Cidade de Tração não é a única forma. Mesmo com narrativa em terceira pessoa, o ponto de vista de Tom é o predominante, mas ainda tem os de Hester, também protagonista e de outras personagens, destacando-se o de Katherine Valentine, filha do arqueólogo que Hester quer assassinar e que tom tanto admira. Há também a elite de Londres e um pouco de habitantes de outras cidades e locais, como catadores de sucata, cientistas, piratas e espiões. Há até mesmo ciborgues zumbis, os stalkers. Uma personagem que adorei foi uma aviadora anti-tracionista.
Os anti-tracionistas acreditam que as cidades devem viver fixas no solo como antigamente e não em movimento, o que soa como completo absurdo aos tracionistas. Junto ao embate, onde uma cidade literalmente come a outra, encontramos críticas ao capitalismo extremista, exploração do trabalhador em prol da produção máxima e a destruição do ecossistema e fontes de energia e alimento. Também observei um alerta sobre os perigos do isolacionismo econômico, social e cultural.


Não sabia exatamente o que esperar, pois desconhecia os detalhes, incluindo a adaptação cinematográfica. Certa vez me deparei com o livro em uma postagem em inglês com livros no estilo da franquia Mad Max e o coloquei na lista de desejados. Em seguida, soube que a HarperCollins Brasil havia agendado a publicação para novembro de 2018 e me empolguei com o lançamento. Foi uma leitura muito divertida, original e excelente, mas diferente do imaginado (algo semelhante a Mad Max), talvez porque tenha colocado na cabeça que era um livro mais sinistro ou maduro. Ainda assim foi uma excelente experiência, e o fato de ser diferente do esperado no fim contribuiu para eu ter gostado. Na verdade, a base é bastante original, muito mais original que a maioria dos juvenis, e as personagens, mesmo que não aprofundadas, me conquistaram. Mas é isso: é juvenil, não adulto. O desenvolvimento do enredo é bom e os cenários bastante fascinantes, mesmo que superficiais em alguns momentos (provavelmente para não pesar na leitura por causa da faixa etária).
Além da tecnologia em sucata e bugigangas, você encontra vários tipos de armas (de bombas, lasers a espadas) e veículos (terrestres, aéreos e aquáticos), cidades com vários e vários andares (conforme mais alto, maior a casta e mais limpo, moderno e rico) e personagens intrigantes, carismáticas e malucas de todos os tipos étnicos.

Então se você gosta de literatura juvenil com aventura, sem ser pesada e dark, especialmente se for steapumk, vai adorar Máquinas Mortais. O livro também é indicado para quem deseja conhecer steampunk, mas receia uma trama complicada e maçante. Leia sem medo.
Espero pelo lançamento da sequência, pois o final me deixou curiosa. Parece que quando realmente me apeguei à trama, ela foi interrompida, embora o livro possa funcionar bem como volume único, pois há um ciclo completo, com desfecho. Imagino possibilidades de mil viagens e explorações pelo mundo das Cidades Famintas, embora a continuação não seja prioridade em minha lista de desejos.
O exemplar da HarperCollins possui páginas amareladas, orelhas, diagramação bonita e tradução de Guilherme Kroll. A linda ilustração da capa é de Jaguar Lee.

O autor:
Philip Reeve nasceu em Brighton Inglaterra, em 28 de fevereiro de 1966. Além de escritor é ilustrador e cartunista e escreve desde os cinco anos de idade e seu primeiro livro, Máquinas mortais, foi publicado em 2001, da série Crônicas das Cidades Famintas, que havia sido publicada no Brasil pela Novo Século. com a estreia da adaptação cinematográfica, os livros estão sendo republicados em novas edições pela HarperCollins Brasil. Philip vive em Dartmoor com a esposa Sarah e o filho Samuel.
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Trailer do filme:

Dicas de leitura para quem gostou de / se interessou por Máquinas Mortais: (clique no título de cada livro e saiba mais)

O Filho do Vento (Kenneth Oppel, Prumo/Rocco); Leviatã (Scott Westerfeld, Galera Record)Sociedade dos Meninos Gênios (Lev AC Rosen, Novo Conceito)A Máquina Diferencial (William Gibson e Bruce Sterling, Aleph)Voos e Sinos e Misteriosos Destinos (Emma Trevayne, Seguinte)A Corte do Ar (Stephen Hunt, Saída de Emergência Brasil/Arqueiro); A Lição de anatomia do Temível Dr. Louison (Enéias Tavares, Fantasy - Casa da Palavra)O Mapa de Vidro (S. E. Grove, Verus);.

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