A Hora da História (The Story Hour)
Thrity Umrigar - Globo Livros
Tradução: Amanda Orlando
333 páginas - 2015 - R$39,90 - comprar
Sinopse:
"A indiana Lakshmi mora há anos nos Estados Unidos sem se adaptar, e entre o sentimento de inadequação e as saudades da família, se desespera e tenta o suicídio. Sua atitude extrema a levará a Margaret Bose, uma psiquiatra que apesar de sua carreira bem-sucedida, também precisa lidar com seus problemas pessoais.
A Hora da História é um romance envolvente sobre como a amizade e o perdão podem transformar as trajetórias das pessoas.
Com sutileza, Thrity Umrigar entrelaça as histórias de duas mulheres que passaram por grandes dificuldades e precisaram assumir a responsabilidade por suas vidas."
Resenha:
Thrity Umrigar nasceu em 1961 na Índia, mas vive nos Estados Unidos desde seus 21 anos de idade. Ministra cursos de escrita e literatura em uma universidade americana e publicou sete livros, que venderam milhões de exemplares em vários idiomas. Seus maiores sucessos são A Distância entre Nós e A Doçura do Mundo, ambos publicados no Brasil pela Globo Livros.
Em abril de 2015 a editora trouxe novas edições, com belas capas. Junto ao visual moderno foi lançado A Hora da História (The Story Hour, 2014), o mais recente romance da autora. Este é o primeiro livro da Thrity Umrigar com que tenho contato e já me tornei fã de seu trabalho, pretendendo ler suas outras obras. Portanto, não comparo esta obra às suas publicações anteriores.
O título combina com a trama, pois o ponto inicial é composto por sessões entre terapeuta e paciente. Através de uma hora semanal de terapia o leitor conhece as histórias de Lakshmi, a paciente indiana, e Maggie, a psicóloga afro-americana.
A imagem na capa pode parecer genérica a primeira vista, mostrando parte de uma mulher em trajes indianos olhando o mar, porém ao finalizar a leitura você não olhará mais para a capa com o mesmo pensamento. O significado torna-se claro. Além de bonita, a edição da Globo Livros está perfeita nos requisitos editoriais. Trabalhos gráficos, de diagramação e de revisão impecáveis, com miolo leve em páginas amareladas (papel pólen soft).
A obra é um romance adulto centrado em duas protagonistas cativantes. É uma trama melancólica, emocionante, singela e realista. Possui drama, um texto rico e fluido, focando nos relacionamentos, especialmente amizade, casamento e relação entre paciente e terapeuta.
A autora compôs um livro contra diversos preconceitos, principalmente o machismo e o etnocentrismo. É feminista, apresentando as histórias de vida e luta de duas mulheres muito diferentes, mas ambas deslocadas do perfil padrão da mulher norte-americana. Não é uma obra com discurso radical, pelo contrário; porém extremamente eficiente em mostrar a dificuldade das protagonistas para se enquadrarem na sociedade. Rompe barreiras ao ter como personagens principais uma negra e uma indiana.
Lakshmi vive com o marido, também indiano, e encontra-se em um momento vulnerável da vida. Com pouco mais de trinta anos, teve de deixar a família na Índia para morar nos Estados Unidos e ajudar o marido na administração e trabalho na loja e restaurante. Não fala inglês com fluência e não se adaptou totalmente às diferenças culturais. Sentindo-se avassaladoramente solitária e perdida, com um marido que mal fala com ela e nenhum amigo ou parente, Lakshmi tenta suicidar-se.
Após o socorro emergencial, se recusa a conversar com a equipe médica. O hospital decide deixar Margaret tratar da paciente, pois a psicóloga é esposa de um indiano e provavelmente conseguirá conversar com a imigrante. Maggie, apesar de casada com um indiano, consegue fazer Lakshmi falar através de sua terapia não convencional, visto que a paciente não confia em pessoas de pele negra. Desde o começo o leitor já sente como o preconceito está entranhado nas sociedades de todos os tipos.
Maggie tem pouco mais de cinquenta anos e, ao contrário de Lakshmi, passa por um momento de vida estável. Possui um bom casamento, formou-se em Psicologia, apresenta vida financeira acima da média, tem contato com acadêmicos, vida social agitada e profissão sólida. Mas nem sempre foi assim. Ela carrega um passado de sofrimento familiar e já enfrentou racismo.
Maggie se torna a terapeuta de Lakshmi não apenas por dever, mas principalmente por sentir necessidade em ajudar a mais jovem. Assim começa a história.
O livro é dividido em quatro partes, de acordo com o desenvolvimento do enredo e avanço cronológico, formando quarenta e um capítulos. A autora apresenta duas narrativas distintas e de alternância inconstante.
A narrativa destaque é de Lakshmi. Em primeira pessoa, sob seu ponto de vista muito íntimo, o leitor acompanha seu discurso peculiar. Para equilibrar o livro, a outra narrativa, é em terceira pessoa e neutra, apresentando pontos de vista de outras personagens. A princípio, me perguntei por que a autora não substituiu a narrativa em terceira pessoa por uma narrativa de Maggie. Compreendi que a escolha em mostrar os pontos de vista serve para ressaltar ainda mais as diferenças culturais em geral, não exatamente as diferenças entre Lakshmi e Maggie.
Por Lakshmi não ser fluente no inglês, sua narrativa é rudimentar e no início da leitura estranhei seu discurso. Instintivamente o texto parecia errado e eu cismava em corrigi-lo mentalmente. Logo me adaptei, porque ela é uma personagem interessante e boa contadora de histórias. A narrativa em terceira pessoa complementa a trama, mostrando outras visões e acontecimentos, fora do alcance de Lakshmi.
Embora sejam terapeuta e paciente, Maggie acaba rompendo a ética e se tornando amiga de Lakshmi, embora não assuma isso no começo. A desconstrução do relacionamento incomoda quando analisada profissionalmente. No entanto, os conflitos da psicóloga em quebrar a relação com a paciente e transformá-la em amizade enriquece a trama.
Junto ao seu marido, ambos simpatizam com Lakshmi. Eles a veem como vítima e carente, decidindo auxiliá-la a criar laços sociais, se tornando mais independente do marido. Ajudam Lakshmi a tentar se encaixar melhor nos Estados Unidos e a ser mais feliz, embora sinta muitas saudades da família e cultura.
A autora equilibra suavidade e sofrimento, mostrando duas mulheres diferentes, enfrentando momentos opostos de vida, mas ambas sofrendo com o peso de segredos do passado - e do presente. A trama se inverte quando paciente passa a ajudar terapeuta, tornando-se muito emocionante. Tanto Lakshmi como Maggie enfrentam tragédias e momentos difíceis.
Uma história sobre como é difícil se adaptar a um mundo diferente do seu, a superar dores emocionais e a quebrar tabus sociais. Sobre como a vida é feita de altos e baixos e ter sucesso e felicidade é questão de ponto de vista. É uma história que aborda união versus desunião.
A vida é uma montanha-russa de sentimentos e situações, que nos destrói e reconstrói constantemente. Esta é uma obra de ficção que poderia muito bem ser real, tamanha intensidade do sentimento transpassado da escrita da autora para o coração do leitor, além de o enredo apresentar acontecimentos e conflitos críveis.
As personagens parecem reais e o fator principal para o leitor observar isso está nas duas faces de cada protagonista. A autora nos mostra os defeitos e qualidades de Lakshmi e Maggie, sem nenhuma tentativa de criar heroínas perfeitas. Pelo contrário, elas erram drasticamente pelo menos uma vez na vida, quando seguem seus corações e instintos. Elas são humanas, já sofreram muito e o leitor se apaixona pela trama exatamente por isso.
Você se identificará com elas, mesmo que você e elas nada tenham em comum; vai odiá-las e amá-las; terá um conjunto muito variado de ideias e sentimentos.
Uma lição de vida sobre como, por mais diferentes que as pessoas sejam e vivam, os sentimentos são muito semelhantes quando há amor envolvido.
A autora aborda no romance questões sobre etnia, classe social, nacionalidades e, com destaque, o gênero. Frisa como nas sociedades patriarcais, as mulheres sofrem algum tipo de discriminação ou inferiorização, especialmente as que não se enquadram no perfil estético ideal. A autora mostra o impacto disso nas vidas de suas protagonistas. Mulheres realistas que precisam aprender a se fortalecer, mesmo não estando na posição de poder.
Sorteio de 10 exemplares!
De 08 a 15 de janeiro de 2016.
05 exemplares no Facebook e 05 exemplares no Instagram. Confira!
A autora:
Thrity Umrigar nasceu em Mumbai, na Índia, em 1961. Mudou para os Estados Unidos aos 21 anos e trabalhou como jornalista por quase 20 anos. Atualmente dá aulas de literatura e escrita criativa na Case Western Reserve University, em Cleveland, e colabora com jornais como o The Washington Post e The Boston Globe. É autora de A Hora da História, A Doçura do Mundo e do best-seller A Distância entre Nós.
Site | Facebook | Twitter
Thrity Umrigar - Globo Livros
Tradução: Amanda Orlando
333 páginas - 2015 - R$39,90 - comprar
Sinopse:
"A indiana Lakshmi mora há anos nos Estados Unidos sem se adaptar, e entre o sentimento de inadequação e as saudades da família, se desespera e tenta o suicídio. Sua atitude extrema a levará a Margaret Bose, uma psiquiatra que apesar de sua carreira bem-sucedida, também precisa lidar com seus problemas pessoais.
A Hora da História é um romance envolvente sobre como a amizade e o perdão podem transformar as trajetórias das pessoas.
Com sutileza, Thrity Umrigar entrelaça as histórias de duas mulheres que passaram por grandes dificuldades e precisaram assumir a responsabilidade por suas vidas."
Resenha:
Thrity Umrigar nasceu em 1961 na Índia, mas vive nos Estados Unidos desde seus 21 anos de idade. Ministra cursos de escrita e literatura em uma universidade americana e publicou sete livros, que venderam milhões de exemplares em vários idiomas. Seus maiores sucessos são A Distância entre Nós e A Doçura do Mundo, ambos publicados no Brasil pela Globo Livros.
Em abril de 2015 a editora trouxe novas edições, com belas capas. Junto ao visual moderno foi lançado A Hora da História (The Story Hour, 2014), o mais recente romance da autora. Este é o primeiro livro da Thrity Umrigar com que tenho contato e já me tornei fã de seu trabalho, pretendendo ler suas outras obras. Portanto, não comparo esta obra às suas publicações anteriores.
O título combina com a trama, pois o ponto inicial é composto por sessões entre terapeuta e paciente. Através de uma hora semanal de terapia o leitor conhece as histórias de Lakshmi, a paciente indiana, e Maggie, a psicóloga afro-americana.
A imagem na capa pode parecer genérica a primeira vista, mostrando parte de uma mulher em trajes indianos olhando o mar, porém ao finalizar a leitura você não olhará mais para a capa com o mesmo pensamento. O significado torna-se claro. Além de bonita, a edição da Globo Livros está perfeita nos requisitos editoriais. Trabalhos gráficos, de diagramação e de revisão impecáveis, com miolo leve em páginas amareladas (papel pólen soft).
A obra é um romance adulto centrado em duas protagonistas cativantes. É uma trama melancólica, emocionante, singela e realista. Possui drama, um texto rico e fluido, focando nos relacionamentos, especialmente amizade, casamento e relação entre paciente e terapeuta.
A autora compôs um livro contra diversos preconceitos, principalmente o machismo e o etnocentrismo. É feminista, apresentando as histórias de vida e luta de duas mulheres muito diferentes, mas ambas deslocadas do perfil padrão da mulher norte-americana. Não é uma obra com discurso radical, pelo contrário; porém extremamente eficiente em mostrar a dificuldade das protagonistas para se enquadrarem na sociedade. Rompe barreiras ao ter como personagens principais uma negra e uma indiana.
Lakshmi vive com o marido, também indiano, e encontra-se em um momento vulnerável da vida. Com pouco mais de trinta anos, teve de deixar a família na Índia para morar nos Estados Unidos e ajudar o marido na administração e trabalho na loja e restaurante. Não fala inglês com fluência e não se adaptou totalmente às diferenças culturais. Sentindo-se avassaladoramente solitária e perdida, com um marido que mal fala com ela e nenhum amigo ou parente, Lakshmi tenta suicidar-se.
Após o socorro emergencial, se recusa a conversar com a equipe médica. O hospital decide deixar Margaret tratar da paciente, pois a psicóloga é esposa de um indiano e provavelmente conseguirá conversar com a imigrante. Maggie, apesar de casada com um indiano, consegue fazer Lakshmi falar através de sua terapia não convencional, visto que a paciente não confia em pessoas de pele negra. Desde o começo o leitor já sente como o preconceito está entranhado nas sociedades de todos os tipos.
Maggie tem pouco mais de cinquenta anos e, ao contrário de Lakshmi, passa por um momento de vida estável. Possui um bom casamento, formou-se em Psicologia, apresenta vida financeira acima da média, tem contato com acadêmicos, vida social agitada e profissão sólida. Mas nem sempre foi assim. Ela carrega um passado de sofrimento familiar e já enfrentou racismo.
Maggie se torna a terapeuta de Lakshmi não apenas por dever, mas principalmente por sentir necessidade em ajudar a mais jovem. Assim começa a história.
O livro é dividido em quatro partes, de acordo com o desenvolvimento do enredo e avanço cronológico, formando quarenta e um capítulos. A autora apresenta duas narrativas distintas e de alternância inconstante.
A narrativa destaque é de Lakshmi. Em primeira pessoa, sob seu ponto de vista muito íntimo, o leitor acompanha seu discurso peculiar. Para equilibrar o livro, a outra narrativa, é em terceira pessoa e neutra, apresentando pontos de vista de outras personagens. A princípio, me perguntei por que a autora não substituiu a narrativa em terceira pessoa por uma narrativa de Maggie. Compreendi que a escolha em mostrar os pontos de vista serve para ressaltar ainda mais as diferenças culturais em geral, não exatamente as diferenças entre Lakshmi e Maggie.
Por Lakshmi não ser fluente no inglês, sua narrativa é rudimentar e no início da leitura estranhei seu discurso. Instintivamente o texto parecia errado e eu cismava em corrigi-lo mentalmente. Logo me adaptei, porque ela é uma personagem interessante e boa contadora de histórias. A narrativa em terceira pessoa complementa a trama, mostrando outras visões e acontecimentos, fora do alcance de Lakshmi.
Embora sejam terapeuta e paciente, Maggie acaba rompendo a ética e se tornando amiga de Lakshmi, embora não assuma isso no começo. A desconstrução do relacionamento incomoda quando analisada profissionalmente. No entanto, os conflitos da psicóloga em quebrar a relação com a paciente e transformá-la em amizade enriquece a trama.
Junto ao seu marido, ambos simpatizam com Lakshmi. Eles a veem como vítima e carente, decidindo auxiliá-la a criar laços sociais, se tornando mais independente do marido. Ajudam Lakshmi a tentar se encaixar melhor nos Estados Unidos e a ser mais feliz, embora sinta muitas saudades da família e cultura.
A autora equilibra suavidade e sofrimento, mostrando duas mulheres diferentes, enfrentando momentos opostos de vida, mas ambas sofrendo com o peso de segredos do passado - e do presente. A trama se inverte quando paciente passa a ajudar terapeuta, tornando-se muito emocionante. Tanto Lakshmi como Maggie enfrentam tragédias e momentos difíceis.
Uma história sobre como é difícil se adaptar a um mundo diferente do seu, a superar dores emocionais e a quebrar tabus sociais. Sobre como a vida é feita de altos e baixos e ter sucesso e felicidade é questão de ponto de vista. É uma história que aborda união versus desunião.
A vida é uma montanha-russa de sentimentos e situações, que nos destrói e reconstrói constantemente. Esta é uma obra de ficção que poderia muito bem ser real, tamanha intensidade do sentimento transpassado da escrita da autora para o coração do leitor, além de o enredo apresentar acontecimentos e conflitos críveis.
As personagens parecem reais e o fator principal para o leitor observar isso está nas duas faces de cada protagonista. A autora nos mostra os defeitos e qualidades de Lakshmi e Maggie, sem nenhuma tentativa de criar heroínas perfeitas. Pelo contrário, elas erram drasticamente pelo menos uma vez na vida, quando seguem seus corações e instintos. Elas são humanas, já sofreram muito e o leitor se apaixona pela trama exatamente por isso.
Você se identificará com elas, mesmo que você e elas nada tenham em comum; vai odiá-las e amá-las; terá um conjunto muito variado de ideias e sentimentos.
Uma lição de vida sobre como, por mais diferentes que as pessoas sejam e vivam, os sentimentos são muito semelhantes quando há amor envolvido.
A autora aborda no romance questões sobre etnia, classe social, nacionalidades e, com destaque, o gênero. Frisa como nas sociedades patriarcais, as mulheres sofrem algum tipo de discriminação ou inferiorização, especialmente as que não se enquadram no perfil estético ideal. A autora mostra o impacto disso nas vidas de suas protagonistas. Mulheres realistas que precisam aprender a se fortalecer, mesmo não estando na posição de poder.
Sorteio de 10 exemplares!
De 08 a 15 de janeiro de 2016.
05 exemplares no Facebook e 05 exemplares no Instagram. Confira!
A autora:
Thrity Umrigar nasceu em Mumbai, na Índia, em 1961. Mudou para os Estados Unidos aos 21 anos e trabalhou como jornalista por quase 20 anos. Atualmente dá aulas de literatura e escrita criativa na Case Western Reserve University, em Cleveland, e colabora com jornais como o The Washington Post e The Boston Globe. É autora de A Hora da História, A Doçura do Mundo e do best-seller A Distância entre Nós.
Site | Facebook | Twitter
Gostou da resenha e não tem tempo para comentar? Clique no "G+" abaixo da postagem. Obrigada!
Nenhum comentário
Os comentários são moderados, portanto, aguarde aprovação.
Comentários considerados spams, agressivos ou preconceituosos não serão publicados, assim como os que contenham pirataria.
Caso tenha um blog, retribuirei seu comentário assim que possível.