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[Resenha] A Mulher na Janela, de A. J. Finn e Arqueiro

A Mulher na Janela (The Woman in the Window)
A. J. Finn Jordan - Arqueiro
Tradução: Marcelo Mendes
352 páginas - 2018 - R$ 39,90 (impresso) e R$ 24,99 (eBook)
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Sinopse:
"Anna Fox mora sozinha na bela casa que um dia abrigou sua família feliz. Separada do marido e da filha e sofrendo de uma fobia que a mantém reclusa, ela passa os dias bebendo (muito) vinho, assistindo a filmes antigos, conversando com estranhos na internet e... espionando os vizinhos.
Quando os Russells – pai, mãe e o filho adolescente – se mudam para a casa do outro lado do parque, Anna fica obcecada por aquela família perfeita. Até que certa noite, bisbilhotando através de sua câmera, ela vê na casa deles algo que a deixa aterrorizada e faz seu mundo – e seus segredos chocantes – começar a ruir.
Mas será que o que testemunhou aconteceu mesmo? O que é realidade? O que é imaginação? Existe realmente alguém em perigo? E quem está no controle?
Neste thriller diabolicamente viciante, ninguém – e nada – é o que parece. A mulher na janela é um suspense psicológico engenhoso e comovente que remete ao melhor de Hitchcock."

Resenha:

A Mulher na Janela, estreia impressionante de A. J. Finn como autor, foi publicado em março de 2018 no Brasil pela Editora Arqueiro. A obra já foi vendida para 36 países e está sendo adaptada para o cinema numa grande produção da 20th Century Fox. É um suspense em ritmo de thriller, com alto conteúdo psicológico, voltado para o público adulto, com protagonismo feminino e que tem um grande mistério envolvendo muita, muita paranoia. Cria uma ambientação sombria e assustadora, mesmo sem apresentar nenhum elemento sobrenatural, porque não existe terror maior que não poder confiar na própria mente e consciência. O que fazer quando você tem certeza que viu algo terrível, mas ninguém acredita? E quando ninguém confia em você? Mesmo sem inovações, surpreende e empolga com diversas reviravoltas e perturbações, especialmente detalhes despercebidos que jamais pareciam ter importância quando foram apresentados. Você pode até acertar algumas questões, entretanto, próximo ao desfecho, não adivinhará o grande segredo.
Excepcionalmente bem escrito, com narrativa em primeira pessoa e ponto de vista único, possui vários itens imprescindíveis para um bom suspense, elementos clássicos, mas que funcionam, se encaixam e atiçam a curiosidade. Sabe quando você encontra uma trama em que tudo vai fazendo sentido e funciona perfeitamente bem? A Mulher na Janela é assim, tem qualidade e excelente planejamento de enredo, personagens e detalhes. Uma sensação ótima: de desejar emendar um capítulo no outro, sem querer pausar a leitura, ainda mais com a escrita viciante do autor, e capítulos curtos e curiosos. Excelente para ler no silêncio da noite e se deixar mergulhar no clima de paranoia.
Um livro difícil de resenhar, porque qualquer informação demais pode estragar o prazer da leitura. Esta resenha não contém spoilers!


As personagens são complexas, mesmo as mais reservadas, incluindo as secundárias. São relacionamentos duvidosos, atitudes suspeitas. A intenção é apresentar uma protagonista-narradora não confiável. Minha experiência foi fascinante: desconfiava de todos e de tudo, fiquei com os sentidos em alerta. A protagonista me conquistou e, embora estivesse indecisa sobre ela estar certa ou sobre sua sanidade, me preocupei intensamente com ela, como se fosse uma pessoa real. Porque ela não está mentindo, mas devido ao quadro psicológico em que se encontra, não dá para saber se alucinou ou realmente viu... o que viu. Eu torci por ela. Sendo paranoica ou não, torci imensamente para ela compreender o que aconteceu e se recuperar.
Anna Fox mora com o gato de estimação e não sai de casa há dez meses, desde que se separou do marido e da filha, embora sempre converse com eles ao telefone. Solitária, desenvolveu agorafobia, depressão, pânico e ansiedade, além de abusar do álcool e misturá-lo aos medicamentos tarja preta, os quais ela não tem controle, simplesmente se automedica conforme o momento. Ela é psicóloga infantil, doutora e possuía muitos clientes. Abandonou o consultório do psiquiatra e sócio e deixou de trabalhar. A ironia é que agora é ela quem faz terapia, com o Dr. Fielding, psiquiatra que vai até sua casa para as consultas.
Anna reside numa bela casa de cinco pavimentos no Harlem, Nova York, com um jardim no terraço e um porão com entrada independente que ela aluga para David, um solteiro que faz serviços caseiros gerais. Além do inquilino e do terapeuta, a única pessoa com quem Anna se encontra é a amiga Bina, fisioterapeuta. Anna faz tudo online, assinaturas, compras e pagamentos. Tudo entregue na sua porta. Nem telefone gosta de usar, restringindo sua socialização à internet, teclando conversas num site que reúne pessoas como ela, que sofrem de pânico e agorafobia, ou jogando partidas de xadrez online. De vez em quando, gosta também de stalkear no Google ou em redes sociais, tanto ex-pacientes, para saber como estão passando, como conhecidos, principalmente seus vizinhos.


Anna os fotografa com sua câmera profissional equipada com uma lente especial. Ela conhece os hábitos, horários, interações e passatempos de todos ao redor. Antes da terapia, dos medicamentos e do vinho, quando era psicóloga, mãe e esposa, seu hobby era a fotografia. E todos sabem: quando você fotografa a natureza você não interfere, apenas observa, às vezes documenta. Outro entretenimento são os filmes clássicos, de preferência em preto-e-branco, que Anna coleciona, assiste e decora cenas e diálogos. São películas policiais, de suspense e mistério. Ela é vidrada em thrillers e clichês, praticamente uma especialista. São incontáveis citações, referências e analogias. Quem é fã desse tipo de filme vai acompanhar melhor, mas quem desconhece vai ficar morrendo de vontade de pesquisar; e só anotar as dicas e depois fazer maratona de filmes antigos. Ela jamais imaginaria que sua vida seria um roteiro real de suspense, sobretudo por nem sair de casa.
Tudo muda com a chegada da família Russell na casa que fica em frente a de Anna. Decidida a descobrir quem são pai, mãe e filho adolescente, Anna observa sorrateiramente, até presenciar pela janela um acontecimento terrível na residência dos Russells, sendo jogada em uma rede de desconfianças e medo. Talvez vidas estejam em risco, talvez a da própria Anna.


Com exceção de flashbacks da vida de Anna antes da agorafobia, a trama se desenvolve em sua casa e no presente. Por isso, o livro é uma obra-prima do thriller psicológico, porque são muitos acontecimentos e movimentação, mesmo com a protagonista presa ao ambiente. Isso é parte do terror do livro: Anna não consegue sair de casa, não tem autoconfiança. O autor consegue transmitir a angústia e é realista com as sensações e sentimentos de uma pessoa em pânico e depressão. Ademais, trata-se de uma pessoa culta e inteligente, uma psicóloga doutora, ou seja, alguém que sabe exatamente o que deve ser feito, mas que por estar muito doente, não consegue resolver o problema e não aceita que precisa de ajuda. Achei isso enriquecedor, para mostrar às pessoas que problema psicológico não é banalidade e que qualquer pessoa, sem distinção, até mesmo profissionais da saúde, podem adoecer.
A obsessão de Anna pelos Russells e os demais vizinhos faz parte da doença e é justificada pela desestruturação da própria família e a incontrolável saudade. Na verdade, todos os comportamentos de Anna têm procedência, profundidade e sentido. É um drama sem excesso de melancolia, apenas o bastante para criar empatia pela protagonista solitária e incapacitada, pois seu sofrimento é palpável. O livro aborda, além de doenças psicológicas, outros temas difíceis como dependência química, violência doméstica, infidelidade, relações familiares, luto, solidão.


O livro basicamente apresenta três mistérios principais: o que aconteceu para Anna se tornar agorafóbica, se é verdade ou alucinação o que ela viu pela janela e como ela vai sair da situação. Achei o primeiro bem óbvio. Estava nítido desde o princípio, creio que seja proposital. Assim como Anna não aceita, quem lê pode apenas observar, visto que Anna é a única narradora, e tive vontade de falar para ela "Anna, eu já sei, aceite você". O segundo é a parte mais importante da trama e cheia de nuances e o terceiro se torna urgentíssimo na reta final. Sobretudo, mais conflitos surgem para impactar. Todos os mistérios principais possuem pormenores e isso é realmente fascinante.
A Mulher na Janela vai agradar aos fãs de thrillers de suspense, principalmente os que preferem os clássicos. Sobre comparações da imprensa com os romances Garota Exemplar (Gillian Flynn, Intrínseca, 2013) e A Garota no Trem (Record, Paula Hawkings, 2015), achei A Mulher na Janela bem superior. Mais bem organizado, mais rico em detalhes, mais misterioso e ousado, sem desperdícios. O autor homenageia os clássicos do suspense, não apenas em referências, mas também seguindo à risca a receita que os melhores filmes e livros do gênero têm. Cria uma protagonista realista, crível e complexa. E guarda as melhores surpresas para o final, segurando a tensão e o enigma até as últimas páginas! Você precisa ler e descobrir como Anna Fox, uma anti-heroína inteligente porém perturbada, tenta superar seus traumas e sua fobia para provar a todos que não é paranoia. Não é paranoia se está realmente acontecendo. Será que ela sabe mesmo o que viu?
O exemplar da Arqueiro custa R$ 39,90, possui capa emborrachada, com efeito em relevo, orelhas, miolo amarelado e boa revisão e diagramação. A tradução é da Marcelo Mendes.

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O autor:
Formado em Oxford, A. J. Finn é ex-crítico literário e já escreveu para diversas publicações, incluindo Los Angeles Times, The Washington Post e The Times Literary Supplement. A Mulher na Janela, seu primeiro romance, foi vendido para 36 países e está sendo adaptado para o cinema numa grande produção da 20th Century Fox. Natural de Nova York, Finn viveu por dez anos na Inglaterra antes de voltar para sua cidade natal, onde mora atualmente.
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