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Um Lugar para Ficar, Deb Caletti, Novo Conceito

Um Lugar para Ficar (Stay)
Alguns segredos são fortes o bastante para destruir você.
Deb Caletti - Novo Conceito
Tradução: Maria Angela Amorim de Paschoal
272 páginas - Ano: 2012 - R$29,90

Sinopse:
"O relacionamento de Clara com Christian é intenso desde o começo e diferente de tudo o que ela já havia experimentado. No entanto, o que começa como um grande afeto rapidamente se transforma em obsessão, e já é muito tarde quando Clara percebe que as coisas foram longe demais e que Christian está disposto a fazer de tudo para ficar ao seu lado.
Então, Clara parte da cidade e Christian fica para trás. Ninguém sabe onde ela está, mas, mesmo assim, Clara ainda luta para se livrar do medo. Ela sabe que Christian não vai permitir que ela suma tão facilmente. Não importa para onde ela vá, nunca será longe o bastante..."

Links: Novo Conceito | degustação | Skoob

Resenha:
Um livro jovem que me surpreendeu. Devido à sinopse, confesso que esperava pouco da trama. Portanto nunca se deve julgar um livro pela capa/sinopse/título. Mais um excelente trabalho da Novo Conceito, sempre acumulando elogios sobre a qualidade gráfica e editorial.

A começar pela capa escolhida, imagem perfeita. A jovem de costas num litoral tranquilo, de cabeça baixa e com apenas os pés no mar observando o leve movimento da água. Um momento que deveria ser de puro relaxamento.
Simboliza toda a angústia e dúvidas da protagonista, que apesar de serem conflitos pessoais e familiares, existe uma forte ligação com o mar e com o local para onde ela e o pai se escondem: uma pacata cidade litorânea, rodeada de histórias de fantasmas.
O título também se enquadra bem porque a protagonista busca literalmente por um lugar para ficar, um local seguro e tranquilo.

São vinte e cinco capítulos quase sempre se alternando entre o presente e o passado recente de Clara, a responsável pela narrativa. No começo não gostei muito da forma como Clara conta a história, no entanto logo nos primeiros capítulos passei a achar interessante.
Ela coloca notas no rodapé, não como as explicações comuns de livros e sim observações sobre sua própria narrativa, com justificativas e detalhes; e algumas brincadeiras para quebrar o gelo.
Enquanto lia o presente, tinha curiosidade em como tudo chegou ao extremo. Desejava saber o porquê dela e o pai estarem fugindo do ex-namorado. Também fiquei empolgada com o que ocorria durante essa viagem, que foi mais que uma fuga e esconderijo: Foi uma busca interior, por respostas, um retorno ao passado de ambos.
E quando lia o passado, ficava cada vez mais alarmada com os fatos enfrentados por Clara, em como um simples relacionamento se modificava lentamente e se tornava algo negativo, sufocante e quase sem saída. Como uma bola de neve que rola, cresce e derruba tudo pelo caminho.

A ironia de tudo é que Clara sempre foi a boa moça nos relacionamentos anteriores. Sempre foi a namorada certinha, bem comportada e controlada. Quando ela resolveu ser ousada, escolheu logo um rapaz problemático - detalhe desconhecido, até porque ele aparentava ser normal e muito correto, nada bad boy. Pelo contrário, ele era charmoso e educado. A respeitava e possuía um jeito estrangeiro exótico e atraente. Um verdadeiro cavalheiro.
Clara age de forma intimidadora e inédita ao investir no rapaz que ela conheceu num jogo de basquete. Ela se sente poderosa ao perceber que pode ser a dominadora da relação, sensual e decidida. É ela quem toma a iniciativa.
Ela só não esperava que justamente por ela iniciar o relacionamento agindo de uma forma diferente das anteriores traria problemas.

Christian é muito ciumento e controlador. E por ela tê-lo abordado e demonstrado o interesse por ele, Christian pensa que Clara é promíscua, o que achei um total absurdo!
Entre uma gentileza e outra ele explode de ciúmes infundados. Por mais que Clara tenha olhos apenas para ele e demonstre seu amor, ele está cego e a vê muito mais poderosa e se sente inseguro. Sempre com receio de ser traído, rejeitado ou abandonado, seu controle e violência sobre Clara crescem ao ponto dela e seu pai fugirem para outra cidade. Férias forçadas.

Mas será apenas esse o problema? Existem mais segredos entre pai e filha que os levam para uma cidade tranquila, afastada e com um litoral magnífico. Moradores simples que vivem do mar e de forma simples. Alugam uma casa na praia, mas será toda essa descrição e afastamento realmente seguros para Clara?

Numa cidade onde lendas e histórias de fantasmas e aparições sobrenaturais, incluindo de piratas e espíritos suicidas, os fantasmas que realmente assombram Clara e seu pai são muito reais. A verdade do passado, a história da família, o ex-namorado perseguidor e moradores dessa cidade - uma mistura que pode trazer segredos à tona e muitas dúvidas à Clara.
Ela se sente coagida, com medo, pânico e muitas perguntas e lembranças despedaçadas. Enquanto reconstrói sua autoestima, espírito e coração, ela tenta montar um quebra-cabeças que falta muitas peças. Ela percebe que essas peças estão justamente ali, naquela cidade que antes ela nem sabia que existia. Peças no passado, escondidas por várias pessoas e talvez até pelo próprio pai.

Clara conhece pessoas novas, velhos conhecidos do pai, um rapaz interessante, amigos e um mundo diferente. Entre um chá e outro, ela carrega o seu celular com medo de atendê-lo e ao mesmo tempo como segurança para avisar que está em risco, caso algo aconteça. As chaves do carro sempre no bolso, fechaduras e travas sempre fechando o carro e a casa, uma lembrança de uma corda e um sapato perdido.

O pai antes era forte, excêntrico, animado e seguro. Porém começa a desmoronar perante a situação e às memórias e segredos. Ele também enfrenta fantasmas, que vão muito além do mar ou lendas. Fantasmas que pesam cada vez mais e tentam afundá-lo.
Clara fica ainda mais perdida, pois percebe que ela e o pai estão presos à cidade e a fantasmas verdadeiros.
O pai parece até mesmo omisso em certo momento, se preocupando com seus próprios problemas. Mentiras e dores do passado o estão derrubando e quem perde com isso é Clara, que passa a ter de levantar a autoestima do pai e buscar ajuda com pessoas de fora.

As personagens são apresentadas de forma simples e se tornam complexas, embora não sejam muito carismáticas.
Gostei da responsável pelo farol, seu cão e da poetisa. Já o novo amor de Clara, o jovem marinheiro, não se destaca, justamente por ser normal, um bom rapaz e não uma caricatura como as demais personagens.
A trama parece infantil e com andamento lento, porém acelera e mostra mais que segredos revelados; mostra as diversas formas que o amor pode assumir.
Existe o leve terror psicológico, pois Clara está nitidamente traumatizada e permanece em alerta permanente, não relaxa e tem medo de tudo (e nada). Ela luta contra isso, mas o passado a persegue. Não apenas o ex-namorado obsessivo, mas segredos de família e dos pais.
Existe um pouco de ação, embora não seja nenhuma aventura incrível.
O romance está presente. Não é chato nem entediante, nem arrebatador, é apenas comum e natural. Justamente para causar contraste em relação ao relacionamento anterior. Clara encontra um novo amor, porém estará preparada para entrar em um novo relacionamento de forma sadia ou os fantasmas também assombrarão a moça mudada?

É o tipo de livro que aborda o tema com simplicidade e naturalidade, mas está cheio de mensagens nas entrelinhas. Eu achei a última página fabulosa, não exatamente pelo desfecho em si, mas sim pela mensagem deixada pela autora.
Eu adoro ler histórias assim, que no começo são sem pretensão de prender a atenção do leitor e, no entanto, se transformam e se desenvolvem de forma altamente atraente. Nem todo leitor notará isso: as mensagens por trás do texto.

O enredo é realista, embora possa não agradar a todos a forma como é desenvolvido. Aborda um problema muito mais comum que se imagina: Mulheres que se enrolam em um relacionamento negativo, não enxergam o perigo disso e acham que tudo é apenas exagero, imaginação ou uma fase que vai passar e ser superada. Que tudo voltará ao normal. E não volta. Ainda mais quando o sujeito realmente possui problemas psicológicos.
No caso de Christian, ele se faz de vítima, mas ataca. Finge estar sofrendo, mas sufoca. Ele é o típico psicopata: Se finge de bom moço, ninguém jamais desconfiaria de atitudes violentas ou terríveis por parte dele; é inteligente, educado, culto e aparentemente normal, mas se transforma para conseguir o que deseja -  que no caso é manter Clara como um objeto seu, só seu. Ele age por impulso, não mede consequências, embora sempre contorne a situação a seu favor.

Muitas pessoas pensam que um psicopata é sempre um serial killer, assassino, estranho antissocial, criminoso, etc., enquanto na verdade muitos deles são pessoas aparentemente comuns, ponderadas, tranquilas e carismáticas. São gentis, caridosas e amigas.
Christian é assim: contido e discreto, mas um rapaz como qualquer outro. Ele não precisa necessariamente matar Clara para acabar com a vida dela! Afinal, ela é o item valioso dele, ela pertence a ele, no mundo irreal criado pela mente perturbada dele. Então ela a quer, mesmo que a machuque, mesmo que se machuque.
O leitor pode até se perguntar: "esse Christian é mesmo perigoso?" Bem, coloque-se no lugar da Clara e então avalie. Não pense como um leitor, pense em como mulheres perseguidas sentem medo. Pense nos pais de jovens que passam por isso. Lembre-se de notícias de assassinatos e violência contra mulheres, no suicídio de apaixonados que não aceitam um término.
Quantas mulheres não sofrem com relacionamentos destrutivos assim e permanecem presas e coagidas por muito tempo? Quantas demoraram a perceber que o perigo é real, está muito além de uma cena de ciúmes?

Gostei da abordagem do tema, sem exageros para chocar. A exposição do assunto é discreta. São acontecimentos na vida de uma moça que tenta esquecer e se livrar de um ex-namorado perseguidor.
Não espere uma aventura fantástica com cenas de ação intensa nem dramas familiares de se fazer chorar.
Não é spoiler, mas um aviso: o livro é um leve drama, não terror ou policial. Então não espere que Christian saia matando todos no caminho ou explodindo tudo para encontrar Clara. No entanto, ele é muito perigoso e inconsequente.
O livro é mais simples que um thriller de perseguição; é realista e cumpre o seu papel no alerta às mulheres sobre as consequências de um falso amor. A história poderia ter um desenvolvimento mais frenético, porém acho que a ideia da autora foi exatamente mostrar como esse tipo de situação pode ser sólida e não apenas histórias de filmes e livros ou lendas urbanas.
Quem ama dá liberdade ao companheiro, não o prende só para si.
O uso de um casal jovem foi bom, e tratar desse assunto com ar jovial também foi uma boa escolha. Isso serve para mostrar que adolescentes também podem ter relacionamentos doentios.
O final não é fantástico. Tem algumas surpresas, mas como eu já expliquei, é realista e simples. Uma história muito comum (embora perigosa) da vida real.

Booktrailer:


A autora:
Deb Caletti e sua família vivem metade do tempo no subúrbio de Seattle e outra metade em um barco, num tipo de casa flutuante. Suas melhores inspirações vêm de sua mãe, seus filhos e de seu cachorro, os quais não parecem se importar. Quando não está escrevendo ou lendo livros, Deb se dedica à pintura e a aulas.





Sorteio:
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5 comentários

  1. EU gostei bastante desse livro.

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  2. Adorei tudo neste livro, a conexão que ela faz entre o passado e presente e gostei de ter as notas de rodapé onde ela coloca sua opinião à parte. Me interessei pela trama e estou ansiosa para lê-lo.

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  3. Eu não dava nada por esse livro e de uns tempos para cá leio algumas resenhas que estão mudando muito meu ponto de vista e a sua Tati foi o ápice.
    Um resenha bem construída que me deixou com o gostinho de conhecer mais a fundo Clara, o seu pai e os fantasmas que os assombram.
    E o tema abordado também desperta curiosidade.

    Bj,
    Garotas de Papel

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