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Euforia, de Lily King e Globo Livros

Euforia (Euphoria)
Lily King - Globo Livros
Tradução: Adriana Lisboa
248 páginas - 2016 - R$39,90
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Sinopse:
"Euforia conta a história da antropóloga Nell Stone, que em uma viagem pela Nova Guiné com seu marido Fenwick encontra Andrew Bankson, um antropólogo menos experiente que acaba se apaixonando por ela. A antropologia, ciência que começava a se popularizar na década de 1930, serve de pano de fundo para uma história de amor e cumplicidade.
Bankson, Nell e Fen se encontram enquanto o casal prepara uma viagem para a Austrália e Bankson convence os dois a ficar na Nova Guiné por mais tempo. A permanência de Nell e Fen estreita o relacionamento entre o trio. Após anos vivendo entre os nativos, Bankson encontra em Nell alguém com quem conversar sobre seu trabalho. Ela confia nele, expõe suas ideias e se sente ainda mais empolgada com a própria pesquisa. Enquanto isso, Fen, intimidado pelo reconhecimento alcançado pela esposa, cuja carreira começa a despontar, torna-se cada vez mais arredio, revelando seus sentimentos e inquietações a Bankson.
Uma obra que conquistou a crítica e o público e será adaptada para o cinema por Michael Apted, diretor da série Masters of Sex e de filmes como 007 – O Mundo Não é o Bastante e Nas Montanhas dos Gorilas."

Resenha:
Euphoria, publicado em inglês em 2014 e de autoria de Lily King, logo tornou-se sucesso de crítica e público. Entrou para a lista dos mais vendidos do New York Times, ganhou o prêmio melhor livro de ficção 2014 do Kirkus Review e fez parte da lista dos melhores livros de 2014 da Amazon e aclamado por veículos como: Time, Vogue, Washington Post, Booklist, Observer, Marie Claire, Salon e Guardian. A Globo Livros trouxe o livro ao Brasil em final de fevereiro de 2016 com bela capa e mantendo a tradução literal do título: Euforia.
O exemplar possui orelhas largas com informações, cores fortes na capa, contracapa e miolo com folhas leves e amareladas (papel soft pólen 70g/m²). A fonte e diagramação são simples e excelentes para a leitura. O trabalho de revisão é ótimo e creio que a tradução tenha sido minuciosa, pois creio que os nomes de locais, personagens e tribos devam ter exigido atenção da tradutora.
É uma leitura madura, adulta e a complexidade está presente nas inúmeras reflexões acerca de diferenças culturais; no funcionamento peculiar de cada sociedade e suas similaridades humanas; no comportamento coletivo e individual; etnocentrismo, xenofobia, machismo; e na realidade de que você é resultado da cultura ao seu redor e que chega à seguinte questão: Se você fosse criado em uma sociedade bem diferente, você seria exatamente igual ao que é agora?
É um livro fácil de ser finalizado, porém repleto de difíceis compreensões existenciais e relacionais. A obra é recomendada para quem gosta de Antropologia e Sociologia; e um pouquinho de Linguística, Etnologia, Etnografia.


A autora inspirou-se em fatos reais, baseando-se na "época de ouro da Antropologia" e focando no trabalho de uma mulher: Margaret Mead (1901-1978), antropóloga cultural norte-americana que se tornou famosa nos Estados Unidos ao estudar a influência da cultura no comportamento de crianças e adolescentes em diferentes povos. Em 1928 ela escandalizou a sociedade sendo a pioneira no estudo do comportamento sexual feminino de tribos nas Ilhas de Samoa, na região da Polinésia, Oceano Pacífico. Após observar, entrevistar e conviver em tribos locais, concluiu e compôs a tese mostrando que as jovens mulheres samoanas adiavam o casamento em prol do sexo ocasional. Isto chocou os leitores na década de 1930.
Ela também defendeu em seu trabalho que a transição da infância à adolescência na Samoa era mais suave emocional e psicologicamente quando comparada a do mundo ocidental da época, criando alvoroço entre o público dos Estados Unidos. Estando certa ou errada, utilizando como base itens de observação social e comportamental, Mead chocou e inovou na Antropologia apresentando informações de culturas consideradas "não-civilizadas" onde o gênero feminino dominava o masculino e as mulheres possuíam total liberdade sexual. Ela também teceu teorias sobre a agressividade e o gênero biológico. Ela estudou se a biologia dos sexos influencia o comportamento ou não, se homens são mais ativos e agressivos e mulheres mais passivas e caseiras e concluiu que fatores socioculturais afetam o temperamento.
Ganhou o Kalinga Prize em 1970 (prêmio dado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura - UNESCO-  por habilidades excepcionais científicas.) e postumamente a Medalha Presidencial da Liberdade em 1979 na área da Ciência (Presidential Medal of Freedom, uma condecoração concedida pelo presidente dos Estados Unidos e é, junto com a equivalente Medalha de Ouro do Congresso, a maior condecoração civil do país.).


Na vida real, a Ph D. Margareth Mead e seu segundo marido, Reo Fortune (1903-1979), trabalhavam na Nova Guiné quando conheceram Gregory Bateson (1904-1980), que se tornou o terceiro marido da pesquisadora (casamento com Fortune: 1928-1936; casamento com Bateson: 1936-1950). Este é o gancho que a autora Lily King utilizou para escrever Euforia. Mesmo se baseando em fatos reais, Lily usou de total liberdade criativa para compor seu romance voltado ao público adulto. Mead é representada por Nell Stone, enquanto que seu marido Fortune tornou-se Schuyler "Fen" Fenwick e Bateson é Andrew "B" Bankson.
Inicialmente pensei que esta obra talvez fosse uma biografia livre disfarçada de romance ou um romance quase idêntico ao que seria uma biografia... mas não! Após pesquisar pelo trabalho de Margareth Mead e ler Euforia, acompanhando bem atenta à fictícia Nell Stone, concluí que existem semelhanças, como no triângulo amoroso do casal e o antropólogo novato, a importância das ousadas pesquisas e conclusões da antropóloga e o machismo que ela sofre, representado aqui pelo próprio marido. A falta de preconceito da antropóloga perante as tribos por ela estudadas e sua paixão por observar e tentar compreender as crianças e mulheres são mantidas no livro (e, acredito, até exaltadas), mesmo que seus métodos sejam bem mais fantasiosos e interessantes que os reais. Se existe algum tipo de preconceito não é um pensamento livre de Nell e sim da época em que a trama é desenvolvida, ou seja, década de 1930.
Uma observação importante é que a autora criou os locais, aldeias, tribos e personagens. Eles não existem e nunca existiram. Desse modo, sua criatividade voa e, mesmo que inspirada por estudos existentes, ela cria não apenas a trama, mas a ambientação e a cultura exótica que Nell, Fen e Bankson vão descobrindo e se envolvendo durante Euforia.
Gostei da apresentação do enredo. É muito realista e achei fascinante o trabalho dos antropólogos, assim como as tribos mostradas e como era esse "relacionamento" na década de 1930. Gostei mais ainda em ver que a profissional destaque e mais respeitada é uma mulher. Porém o que mais me chocou foi o desfecho. A autora realmente me surpreendeu e provou o principal motivo de optar por um romance, e não uma biografia.


Nell é uma antropóloga bem-sucedida com a carreira em ascensão após a publicação de um livro inovador e aplaudido por cientistas de variadas áreas e, até mesmo, pelo público. Na década de 1930, em que era mais difícil uma mulher se destacar em qualquer área de estudos, Nell conquista o respeito na Antropologia.
Ela viaja até a Nova Guiné, retornando ao ambiente responsável por sua fama. Ela pretende prosseguir com seus estudos e realizar novas descobertas. No entanto, acompanhada por seu marido Fen, está quase desistindo de encontrar algo notável que vá impulsionar sua pesquisa.
Doentes e cansados, eles encontram o jovem Bankson, um antropólogo novato que está trabalhando com tribos à margem do rio Sepik. Além de se sentir solitário, pois os nativos parecem desconfiar dele e não cooperam com sua curiosidade e entrevistas, Bankson também se sente incapaz para o trabalho de campo. Ele logo nota que teoria e ação são muito diferentes para um antropólogo e que o casal é a ajuda de que ele precisa para aprender.
Nell e Fen se unem a Bankson para viverem e trabalharem diretamente com os nativos. Bankson aprende e coopera muito com Fen e Nell, especialmente com a euforia de Nell, porém nota as diferenças do casal nos métodos e pensamentos, até observar divergências e discrepâncias. Nell respeita os nativos e é verdadeiramente apaixonada pelo trabalho, mas Fen não parece compartilhar da euforia da esposa. Bankson percebe que inveja e rivalidade emanam de Fen, ansioso por ofuscar a esposa e ter seu nome reconhecido, sem ter que dividir as honras com ela, utilizando a "desculpa" de que Nell já tem fama e espaço.
Enquanto isso, Nell trabalha arduamente e vai cumprindo aos poucos suas metas, sempre compartilhando suas descobertas e ideias com Fen e Bankson e cobrando a parte do marido em vão. Estaria Fen sendo relapso e preguiçoso, deixando todo o trabalho para Nell ou ele esconderia algo sinistro?
A admiração de Bankson por Nell se transforma em paixão e, em seguida, amor. Nell obtém mais ajuda e apoio por parte do novo amigo que do marido e, repentinamente, surge um triângulo amoroso intrigante e envolvente. Odeio triângulos amorosos, mas este aqui é convincente, curioso, engrandece a trama e eu o adorei, porque não é o item explicitamente dominante e, simultaneamente, um dos pontos de sustentação da trama, deixando suspense discreto.


A narrativa de Euforia é toda em primeira pessoa. A maior parte é realizada por Bankson, porém o livro está repleto das incríveis anotações de Nell. Famosa por estar sempre com um caderno surrado nas mãos, ela anota tudo com precisão, entusiasmo e fascínio, chegando a criar um método para avaliar o comportamento de sociedades, baseando-se em Geometria Analítica. Em meios às observações profissionais e metódicas, Nell também escreve com o coração e mistura aos escritos técnicos sua visão íntima e particular, expressando sensações e sentimentos, criando um diário único e cheio de personalidade. É um gasto caderno de couro repleto de euforia.
Quando o clímax vem à tona e o(a) leitor(a) se depara com o desfecho, nasce a compreensão do motivo da autora ter escrito o livro com a narrativa desse modo. É fantástico e, embora chocante, muito diferente da vida real de Mead. O final me deixou boquiaberta e me fez relembrar de vários acontecimentos da trama.
Nell é uma personagem incrível e, mesmo que Bankson seja o principal narrador, não há dúvidas de que Nell e sua euforia contagiante protagonizam a obra.


PS.: Minha leitura foi lenta no começo, porque estive doente e ainda estou em recuperação; porém em seguida ela fluiu, me envolveu ao meio e me impressionou ao término.

A autora:
Lily King cresceu em Massachusetts, nos Estados Unidos. Formou-se em literatura inglesa da Universidade de Carolina do Norte em Chapel Hill e fez mestrado em escrita criativa pela Universidade de Syracuse. Deu aulas de inglês e de escrita criativa em diversas universidades e escolas nos EUA e fora do país.
Euforia é seu quarto romance. Ela também escreveu os premiados The Pleasing Hour (1999), The English Teacher (2006) e Father of the Rain (2010).
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