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[Resenha] Uma Irmã, de Bastien Vivès e Nemo (Grupo Autêntica)

Uma Irmã (Une Soeur)
Bastien Vivès - Nemo / Grupo Autêntica
Tradução: Fernando Scheibe
216 páginas - R$ 47,90 (impresso) e R$ 28,90 (ebook) - trecho
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Sinopse:
"Ao ter suas férias pacatas transformadas por Hélène, o jovem Antoine passa a viver os dias mais intensos de sua vida, repletos de emoção e receios. De forma sutil, ainda que forte, ele vai descobrindo um universo feminino tão gracioso quanto perturbador. E o que poderia ser apenas mais uma história de verão, se transforma, pelas mãos de Vivès, em uma narrativa apaixonante. Um conto delicado e sensual sobre o despertar de um adolescente que provoca um turbilhão de sentimentos."

Resenha:

Une Soeur é uma graphic novel publicada originalmente em 2017 com roteiro e arte do francês Bastien Vivès, conhecido pelas obras O Gosto do Cloro e Amitié Étroite. A história em quadrinhos chegou ao Brasil em fevereiro de 2018 com o título Uma Irmã, pela Editora Nemo, do Grupo Autêntica. Sempre leio muitas HQs, mas quase todas costumam ser de super-heróis, seriadas e dos Estados Unidos, portanto, ler uma graphic novel em volume único, de autoria francesa e sobre pessoas comuns foi uma experiência excelente.
A história retrata as emoções do primeiro amor entre dois adolescentes, sob o ponto de vista do garoto. O roteiro é simples, sobre um amor de verão. Em meio a tantas sensações novas e descobertas, a ambiguidade do relacionamento é o destaque: ora é amizade, ora paixão, em alguns momentos sexual e em outros, romântico. A linguagem é muito honesta e sincera, direta e crua, portanto, a linha tênue entre incômodo e ternura vai fazer cada pessoa que lê ter opiniões diferentes e oscilantes sobre a complexidade da relação. A aproximação entre eles parece fraternal, e na verdade, assim permanece em variados aspectos, porém posteriormente a curiosidade e tensão geram atração e erotismo e isso não é fácil de digerir, pois o casal protagonista é muito jovem e, apesar do sexo envolvido, ainda muito inocente.
Por isso que o quadrinista merece ser parabenizado, por transmitir a delicadeza necessária à narrativa e arte. Um tema que geralmente é tabu: a descoberta da sexualidade de pré-adolescentes e adolescentes, que varia de acordo com a cultura e geração e que pode ser vista muitas vezes como precoce. O importante é que é um processo natural pelo qual todas as pessoas passam, independentemente de parecer cedo ou tarde aos olhos de outra pessoa.


Antoine, prestes a completar 14 anos de idade, viaja de carro para a casa de praia da família, para passar as férias com seu irmão mais novo, Titi, de 10 anos, e o pai e a mãe. Enquanto os irmãos dividem o console portátil de games no carro, a mãe recebe uma notícia desagradável: uma amiga acaba de sofrer um aborto espontâneo. Antoine nota a preocupação dos pais e nesse momento as crianças descobrem que deveriam ter um irmão ou irmã mais velho, pois a mãe também já passou por isso. Como o marido viaja a trabalho, Sylvie e a filha de 16 anos de idade, Hélène, estão sozinhas. Os pais de Antoine e Titi logo as convidam para compartilharem as férias na casa de praia, para se distraírem nesse momento de dor e perda.
Antoine estava preparado para passar um momento entre desenhar e montar quebra-cabeças na mesa da sala de estar e caçar caranguejos e construir castelos de areia na praia. Não imaginava que seria um verão marcante onde encontraria seu primeiro amor.
Antoine e Titi têm um primeiro dia movimentado na praia. O mais novo teve um boneco de Pokémon roubado por outro menino na praia, o que causou briga com garotos mais velhos e a sorte de, logo depois, encontrarem sessenta euros perdidos. Ao acordarem no dia seguinte com a presença de uma moça desconhecida no outro beliche do quarto, correm até a mãe na cozinha que explica sobre a presença de Hélène e Sylvie nessas férias e pede aos meninos que sejam cordiais.
A princípio, Hélène parece esnobe e fechada, até se aproximar de Antoine e Titi, que imediatamente a fazem se sentir querida e próxima. Eles se divertem na praia e na casa, enquanto o quadrinista mostra de modo singelo os dois lados da adolescência: a inocência das brincadeiras infantis do trio durante o dia e as festas jovens que Hélène leva Antoine a noite, com álcool, cigarros e sexo.


As férias do adolescente se transformam em um momento inesquecível, o despertar para sua sexualidade, o interesse pelo proibido, a impressão de que o tempo passa rapidamente e várias emoções desconhecidas. O desfecho aparenta rumar ao clichê, ou seja, o fim de um amor de férias de verão, mas então há um belo parêntese romântico. Uma graphic novel realista e muito sincera, mas que traz um pouco de ternura.
Os protagonistas são um tanto caricaturais: a bela jovem moderna, ousada e mais experiente que apresenta novidades ao jovem artista muito tímido e introspectivo. Sobre sexo entre eles, de 13 e 16 anos, pode incomodar algumas pessoas, mas acho importante tratarmos com compreensão e naturalidade a descoberta da sexualidade de adolescentes e entre adolescentes. Histórias em quadrinhos e determinados livros permitem acompanhar histórias que não seriam fáceis de estarem no cinema ou TV. É uma ferramenta certa para contar a história do adolescente que cresce e amadurece. Existe certa liberdade nos quadrinhos que nem sempre se alcança em outras plataformas. Bastien Vivès alcança o equilíbrio entre sinceridade e respeito em Uma Irmã.
O álbum é muito bonito, com arte em preto, branco e cinza, muito suave, com traços finos e delicados. As ilustrações são tão minimalistas que por quase toda a HQ as pessoas aparecem sem rostos, apenas formas e sombras em meio ao cenário também muito simples. Então quando uma personagem em determinado quadrinho ostenta detalhes como olhos e boca, as expressões se destacam fortemente, como se aquele momento merecesse maior importância. As expressões faciais e corporais se tornam então muito harmoniosas, ampliando sentimentos.
A leveza nos traços também me passou a sensação de memórias, como quando lembra-se de algum momento onde nem tudo é destacado, somente os detalhes realmente importantes. Como se nossa mente preservasse apenas alguns pontos definidos enquanto o restante apenas envolvesse a lembrança como um esboço. Outra impressão que se pode ter é a sensação de sonho ou fantasia do protagonista, misturando franqueza infantil e, em certos pontos, pormenores expressivos que remetem à uma postura mais adulta da adolescência.
Cada pessoa tem uma experiência pessoal com a arte, mas o traço de Vivès merece elogios. Imagino como a obra pode ficar ainda mais graciosa com uma coloração em tons pastel com uma paleta decores que combine com o cenário praiano.



A tradução é de Fernando Scheibe e a edição tem ótimo trabalho de revisão. O exemplar da Nemo mede 17 x 24 cm e possui páginas brancas e orelhas. O livro físico custa R$ 47,90 enquanto o digital sai por R$ 28,90. Você pode ler as primeiras páginas como cortesia da Nemo e conferir se a HQ te interessa.



O autor:
Bastien Vivès nasceu em 11 de fevereiro de 1984 e chamou atenção pelas graphic novels O Gosto do Cloro e, posteriormente, Amitié Étroite. Graduou-se em Animação pela Gobelins após estudar três anos de design gráfico. Iniciou sua carreira em uma oficina de quadrinhos em Paris, da qual foi cofundador. Desde então, tem publicado diversos trabalhos, boa parte deles aclamados pela crítica. Um desenhista em plena ascensão, Vivès é um dos principais nomes dos quadrinhos contemporâneos.
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