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[Resenha] Os Imortalistas, de Chloe Benjamin e HarperCollins Brasil

Os Imortalistas (The Immortalists)
Chloe Benjamin - HarperCollins Brasil
Tradução: Santiago Nazarian
336 páginas - 2018 - R$ 39,90 (impresso em capa dura) e R$ 29,90 (ebook)
Comprar: Amazon | Google Play | Kobo | Livraria CulturaSaraiva

Sinopse:
"Se você soubesse a data de sua morte, como viveria sua vida? É 1969 no Lower East Side de Nova York e os rumores na vizinhança são sobre a chegada de uma mulher mística, uma vidente que se diz ser capaz de dizer a qualquer um qual será o dia de sua morte. As crianças Gold – quatro adolescentes que estão começando a conhecer a si mesmos – saem de casa sorrateiramente para saber sua sorte. As profecias informam as próximas cinco décadas de sua vida. Simon, o menino de ouro, escapa para a costa oeste, procurando por amor na São Francisco dos anos 80; a sonhadora Klara se torna uma ilusionista em Las Vegas, obcecada em misturar realidade e fantasia; Daniel, o filho mais velho, luta para se manter seguro como um médico do exército após o 11 de setembro; e Varya, a amante dos livros, se dedica a pesquisas sobre longevidade, nas quais ela testa os limites entre ciência e imortalidade. Um romance notavelmente ambicioso e profundo com uma brilhante história de amor familiar, Os Imortalistas explora a linha tênue entre destino e escolha, realidade e ilusão, este mundo e o próximo. É uma prova emocionante do poder da literatura, da essência da fé e da força implacável dos laços familiares."

Resenha:
Recebi uma cortesia caprichada da HarperCollins Brasil: um exemplar do lançamento de julho Os Imortalistas de Chloe Benjamin, edição em capa dura, miolo em papel amarelado, excelente revisão e diagramação, bela capa e tradução de Santiago Nazarian. O primeiro livro de Chloe, The Anatomy of Dreams, é ganhador do prêmio Edna Ferber 2014. The Immortalists foi publicado no original em janeiro de 2018, se tornou best-seller instantâneo do The New York Times, recebeu incontáveis críticas positivas e chegou rapidamente ao Brasil. Seu trabalho já foi traduzido para mais de trinta idiomas.
É um romance espetacular e agridoce voltado para o público adulto que começa em 1969, vai até 2010 e se passa nos Estados Unidos. Com narrativa em terceira pessoa e cheia de nuances e personalidade, a obra é dividida em prólogo, onde ocorre a apresentação dos protagonistas e do conflito que os marcará por toda a trama e mais quatro partes, cada uma centrada em cada personagem principal, que são irmãos: Varya, Daniel, Klara e Simon. Portanto, o livro segue a cronologia e um enredo principal, porém foca a cada momento em um dos irmãos. É como se fossem quatro histórias em um único livro, mas ainda assim com uma ligação muito poderosa que se acentua exponencialmente com o passar das páginas, explorando a saga de uma família.
Se você soubesse a data de sua morte, como viveria sua vida? O conhecimento seria uma benção ou uma maldição? Você se libertaria ou se prenderia?


O prólogo (A Mulher em Hester Street) mostra um único acontecimento, mas causador de um efeito dominó que modificará muitas vidas. No verão de 1969, período movimentado culturalmente nos Estados Unidos, Varya, a irmã mais velha, tem 13 anos, enquanto Daniel possui 11, Klara 9 anos e o mais jovem, Simon, apenas 7. De família judia de ascendência húngara, moram com os pais Saul e Gertie em Manhattan, Nova York. As crianças seguem o boato da vizinhança e se encontram com uma vidente que diz acertar a data da morte de quem se consulta com ela.
Quase dez anos depois, ocorre uma tragédia familiar, trazendo à tona aquele fatídico dia em que visitaram a adivinha. E começa em 1978 a primeira parte (Vá Dançar, Moleque), que vai até 1972 e engloba nove capítulos. É a história de Simon, com boa participação de Klara. Os dois mais jovens Gold se mudam para São Francisco, onde vão tentar realizar seus sonhos.
Mais outro hiato de uma década para então se iniciar a segunda parte (Proteus), também em nove capítulos. De 1982 a 1991 é o momento de Klara, que trabalha como ilusionista em casas noturnas variadas, até levar seu espetáculo A Imortalista para Las Vegas, Nevada.
Em seguida chegamos à terceira parte (A Inquisição) e esta prossegue até 2006, em oito capítulos e destaca Daniel. Ele se casou, se mudou para Kingston (estado de Nova York) e trabalha como médico do Exército, mas mantém o emprego por um fio.
Os nove capítulos finais pertencem à parte de Varya (Lugar de Vida) e acontece até 2010. Ela é bióloga e atua na pesquisa sobre o envelhecimento em Marin Count, Califórnia.
Os quatro foram permanentemente impactados pela visita àquela mulher em 1969 e conforme o tempo passa e as datas das profecias se aproximam, cada um se sente de uma forma; os sentimentos influenciam diretamente seus comportamentos e decisões.


Enquanto você acompanha uma história, os outros irmãos também participam, assim como algumas personagens secundárias como o negro bailarino Robert, o mecânico indiano Raj, a morena especialista em arte Mira, o policial ruivo Eddie, o jornalista Simon e o grande destaque Ruby. Cada uma se evidencia em determinado momento, em diferentes escalas e são importantes para a trama, uma verdadeira teia de relacionamentos e acontecimentos. Os protagonistas são judeus e conforme apontei, o elenco secundário é muito heterogêneo e interessante, assim como os figurantes. São pessoas muito diferentes entre si, representando a complexidade e a riqueza sociocultural que os Estados Unidos possuem, mas nem sempre entram em destaque na ficção. Esse foi um dos pontos mais fascinantes do livro. Os relacionamentos intensos e complexos prevalecem e os sentimentos alavancam os acontecimentos.
Simon busca por si mesmo, por liberdade de sentir, experimentar, escolher, agir. Ao saber sua data de morte, vive intensa e impulsivamente e se preocupa em ter felicidade, satisfação e prazer, ignorando muitas outras coisas, como o perigo ou arrependimento. Já Klara fica obcecada em atingir a perfeição em sua mágica e a sombra da morte amplia essa obsessão. Não pelos truques que faz no palco, mas pelo impacto que essas ilusões causam na plateia. Ela fica cada vez mais focada em se aperfeiçoar, deslumbrada com a fantasia e se desapega cada vez mais da realidade. Daniel avalia as condições de saúde de jovens e decide se estão ou não aptos para o Exército. Depois do 11 de setembro, seu trabalho se torna mais pesado, como se estivesse escolhendo morte ou vida para eles ao enviá-los ou não para as Guerras do Afeganistão e do Iraque. Simultaneamente, ele começa a pensar cada vez mais na vidente e em como ela atingiu seus irmãos e a si mesmo. Varya se dedica por completo ao estudo sobre longevidade em um centro de pesquisas que utiliza macacos como cobaias e descobrimos que ela possui problemas que a família desconhece. Muito dedicada ao trabalho, este foi todo influenciado pelo encontro com a adivinha.
Após a primeira parte fui tocada pela história de Simon, senti uma tristeza genuína e não imaginava que poderia me envolver mais ainda. Mas aconteceu, pois ao ler a parcela com Klara e chegar até a terceira estava muito mais envolvida e foi assim até a última página. Meu apego às personagens e à família Gold foi forte. Ao enfrentarem mais de uma tragédia em tão pouco tempo, os processos de tristeza e superação se tornam quase intransponíveis.


A premissa da possibilidade de elementos místicos sobre destino mantém-se por todo o desenvolvimento da trama, porém vai depender da interpretação de quem lê. Há momentos que surge o embate do real e do fantástico ou celestial, mas é uma situação discreta, ambígua e por vezes absurda. Pode puxar para algo esotérico, espiritual, psicológico ou cético e cada personagem reage diferentemente em relação a isso. Eu preferi uma compreensão mais racional sobre ação e reação, todavia, cada pessoa terá uma experiência diferente com este livro, que é excelente para clubes de leitura. Certamente vai gerar muito debate e discussão!
Uma obra fascinante que possui como pano de fundo transformações sociais ocorridas em quatro décadas. Em primeiro plano está a vida dos Gold e pessoas de seu convívio, personagens tão variadas, com relacionamentos complexos e diálogos intensos e genuínos. São muitos sentimentos como medo, pesar, culpa, vergonha e raiva, assim como amor, respeito, admiração, empatia e esperança. A obra toca ainda em muitos temas profundos em diferentes níveis como saúde mental, religião, família, sexualidade, homofobia, racismo e machismo.
É uma história que começa muito colorida e brilhante, até ir se tornando sombria e em tons de cinza e cada vez mais profunda e repleta de reflexões sobre o peso de nossas escolhas, atos e palavras.
Mais que respostas sobre questões existenciais, o livro é provocante e traz perguntas. E mais que sobre vida e morte, é sobre amor familiar e laços inquebráveis, mesmo quando parecem estar em pedacinhos.



A autora:
Chloe Benjamin é autora do livro Anatomy of Dreams, seu primeiro livro, vencedor do prêmio Edna Ferber de ficção. Nascida em São Francisco, Califórnia, escreveu também Os Imortalistas e teve seu trabalho traduzido em 30 línguas. Graduou-se na Faculdade de Vassar e estudou ficção na Universidade de Wisconsin. Atualmente vive com seu marido em Madison, Wisconsin, nos Estados Unidos.
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