"Lenny Abramov vive num futuro muito próximo do nosso. São poucos anos na linha do tempo, mas o mundo já está bastante mudado. Os Estados Unidos são um império ruído. Imersos num colapso econômico, estão em guerra contra a Venezuela e são comandados com mão de ferro por uma força política misteriosa e onipresente, os bipartidários. Há confrontos no Central Park e tanques de guerra pelas ruas de Nova York. Enquanto isso, as pessoas vivem obcecadas por sua saúde e pelo valor de sua imagem. A compulsão consumista corre desbragada – a última moda são os sutiãs Saaamis, que deixam os mamilos à mostra. No campo tecnológico, iPhones e notebooks foram substituídos por um único aparelhinho: os indefectíveis äppäräts, que tudo sabem e tudo veem. Aponte-o para alguém, e descobrirá desde a nacionalidade dos seus pais até as suas últimas compras, passando pelos seus coeficientes de personalidade e de sensualidade.
Neste cenário, Lenny Abramov é um anacrônico, quase inverossímil. Filho de imigrantes russos, à beira dos 40 anos, é dono de uma careca e de um índice de massa corporal que só servem de chacota para os mais jovens. Ainda teima em ler livros, conhecidos como “trava-portas”, objetos considerados repugnantes pelos seus contemporâneos. Não é nada hábil com seu äppärät, confunde-se com as inúmeras siglas que representam as gírias mais cool, e mantém um diário – provavelmente o último a ser escrito – onde descreve suas trapalhadas e seu sentimento de incompatibilidade com o mundo. Não bastasse tudo isso, ele ainda por cima comete a obsolescência de se apaixonar. Perdidamente, como nos velhos tempos.
É da reprodução do diário desse improvável personagem que nasce Uma história de amor real e supertriste, aclamado nos Estados Unidos como o melhor livro de Gary Shteyngart e uma das grandes obras da década. A trama inventada pelo autor russo foi classificada como uma criativa sátira do american way of life, ao mesmo tempo que é comparada ao clássico 1984, de George Orwell, por mostrar previsões assustadoras sobre o futuro – desta vez, muito mais perto de nós.
Mas não é só isso o que explica o sucesso da obra. Lenny Abramov, um homem em luta contra sua época, conquistou a crítica como um dos mais adoráveis heróis picarescos dos últimos tempos. A engraçadíssima narrativa de sua jornada quixotesca cativa os leitores por preservar, em meio às ruínas de valores e ideais, pequenas nesgas de ternura.
Como disse a resenha do New York Times, assinada por Michiko Kakutani, o novo romance de Shteyngart é, simultaneamente, “superengraçado” e “supertriste” – e aí reside o seu charme irresistível. Caído de amores por Eunice Park, uma jovem de 24 anos, filha de imigrantes coreanos, que o acha não mais do que um velho esquisito, Lenny experimenta dia a dia a sensação de ser esmagado pela juventude ao seu redor. Funcionário de uma empresa de Prorrogação Indefinida de Vida, que oferece a promessa de imortalidade a clientes ricos, ele enfrenta o bullying dos jovens colegas, numa atmosfera que preza pelo preconceito, pela disputa e pelo exibicionismo.
No livro, as páginas do diário de Lenny são entremeadas pelas mensagens que Eunice troca com sua família e amigos via GlobalTeens. O despojamento e a futilidade da moça, profundamente contrastantes com o texto romântico de Lenny, vão cedendo lugar, aos poucos, a um tipo de insegurança que também soa profundamente antiquada à sua época. E é daí que surge, com as sutilezas indispensáveis a uma grande obra literária, o elo improvável entre os dois protagonistas.
Assim a escrita de Lenny, moldada pelos grandes clássicos da literatura, em paralelo à narrativa fragmentada e rápida de Eunice vão tateando juntos quais lugares ainda há para o amor, a segurança, a lealdade e mesmo o humor, num mundo que, ruído, ainda se revela, ao seu modo, surpreendente."
Estou muito interessada no livro, ambiente futurístico, bizarro, com um protagonista que se sente como um peixe fora d'àgua, apaixonado por uma moça totalmente diferente dele... aposto que é um livro que se faz diversas reflexões sobre a história e também reflexões existenciais. Deve ser um livro para rir e chorar e praticar a auto-ironia... Hum... quero ler...
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