publicidade

A Invenção das Asas, de Sue Monk Kidd e Editora Paralela

A Invenção das Asas (The Invention of Wings)
Sue Monk Kidd - Editora Paralela
Tradução: Flávia Yacubian
328 páginas - Ano: 2013 - R$29,90 (impresso) e R$19,90 (e-Book).

Sinopse:
"Sue Monk Kidd apresenta uma obra-prima de esperança, ousadia e busca pela liberdade.
Inspirado pela figura histórica de Sarah Grimké, o romance começa no 11º aniversário da menina, quando é presenteada com uma escrava: Hetty “Encrenca” Grimké, que tem apenas dez anos. Acompanhamos a jornada das duas ao longo dos 35 anos seguintes. Ambas desejam uma vida própria e juntas questionam as regras da sociedade em que vivem."

Links: Editora Paralela | Skoob | comprar | degustação

Resenha:
É clichê, porém inevitável, dizer que não sei resenhar um livro que me comoveu bastante. A Invenção das Asas se tornou um dos meus preferidos ainda mesmo durante a leitura.
É meu primeiro contato com a autora Sue Monk Kidd. Havia apenas assistido à adaptação homônima para o cinema de seu romance A Vida Secreta das Abelhas - sem saber que o filme era baseado em livro. Após ter me apaixonado pela escrita da autora em A Invenção das Asas publicado pela Editora Paralela, espero em breve conhecer mais de Sue Monk Kidd.
É um livro de forte impacto, que conta histórias de mulheres fortes.

A autora, que mora na Carolina do Sul, desejava escrever um romance que contasse a história de duas irmãs. Durante uma visita ao Brooklyn Museum, em Nova York, ela descobriu sobre quais irmãs escrever. Ao ler as centenas de nomes de mulheres que contribuíram para a História na Galeria Biográfica, ela encontrou os nomes de duas irmãs que viveram em Charleston, Carolina do Sul: Sarah e Angelina Grimké. Ao ir embora, Sue Monk Kidd se perguntava: Como viveu tanto tempo na mesma cidade dessas figuras históricas sem conhecer nenhum vestígio delas?
Sarah e Angelina Grimké, duas das primeiras agentes femininas abolicionistas e duas das primeiras importantes pensadoras feministas americanas. Mulheres revolucionárias.

A intenção da autora foi criar uma obra ficcional baseada em fatos reais. Após muita pesquisa sobre a história das Grimké, especialmente a de Sarah, e também sobre a vida pessoal de várias pessoas envolvidas, a autora decidiu escrever um romance firme e convincente como se realmente fosse a vida das personagens, brotando das páginas.
Ou seja: Elas existiram, muitos acontecimentos do livro realmente ocorreram (e a autora explica quais ao final do livro, em um anexo incrível), porém a forma como tudo é mostrado ao leitor, é de invenção da autora. As lacunas e, principalmente, o lado psicológico e emocional, foram tecidos pela imaginação formidável e respeitosa de Sue Monk Kidd, resultando em um romance histórico fictício perfeito! Poderia mesmo grande parte ter sido a realidade.
A realidade impressiona e a ficção emociona: A autora descobriu que Sarah quando criança realmente ganhou uma escrava chamada Hetty de presente para ser sua dama de companhia. Baseada nessa informação, a autora viajou e habilmente criou Hetty "Encrenca" Grimké, a escrava um ano mais jovem que Sarah.
Sinhá e escrava são as protagonistas de A Invenção das Asas, misto de realidade e ficção. Um livro impactante e emocionante, tão bem escrito e crível, que parece um clássico perfeito e atemporal.
Ás vezes parece uma fábula sobre a liberdade; outras vezes, um romance de época. É uma história adulta e excelente, e se me dissessem tratar de um livro clássico, eu acreditaria! Mas The Invention of Wings foi originalmente publicado em língua inglesa em 2014.

A capa é perfeita: Uma menina em um fundo laranja-avermelhado observando pássaros negros voando, livres no céu. Logo no início da leitura já se compreende a escolha da ilustração e essa imagem torna-se cada vez mais querida pelo leitor. O título do livro é magistral. Tantas personagens em busca de suas asas, de suas liberdades.
A trama começa em novembro de 1803 e termina em junho de 1838. O cenário dos Estados Unidos do século XIX é apresentado aos leitores e, lentamente, a autora mostra as tradições da época, a política, as leis, religiões, culturas... É incrível mergulhar em uma sociedade distante, que do mesmo jeito que soa tão diferente, consegue ser ao mesmo tempo tão parecida... Os preconceitos ainda resistem mesmo com a passagem do tempo.
O livro é dividido em seis partes e a narrativa se alterna entre as de Sarah e as de Encrenca. Hábil escolha da autora, contar sob os pontos de vista, confissões e opiniões de duas personagens distintas na sociedade e, ao mesmo tempo, tão semelhantes. Em terceira pessoa jamais teríamos o desenvolvimento da trama tão pessoal e sensível.

A diferença entre elas não é apenas íntima, mas cultural. O modo como cada uma narra os fatos mostra bem o contraste entre elas. Enquanto Sarah sabe (ama!) ler e escrever e, mesmo contra a tradição da época, aprendeu muitas outras coisas, como latim, por exemplo, devido ao irmão que a ensinava, Encrenca sabe apenas se expressar verbalmente e de forma muito básica e precária.
Já Sarah sofre também com suas carências: Por causa de um trauma, ela possui gagueira inesperada e temporária. Se expressa melhor escrevendo que falando. Não possui amigas nem pretendentes românticos.
Diferenças à parte, as duas são inteligentes e mostram, aos poucos, grande bravura. Iniciam o livro meninas e, conforme o tempo avança, as vemos se tornando mulheres resistentes. O desenvolvimento delas é nítido também na forma como narram a história.

As duas estão presas: A avó de Encrenca foi uma africana levada como escrava aos Estados Unidos, portanto, Encrenca é uma negra que nasceu escrava. É considera pela política e religião da época como inferior aos brancos; uma propriedade, objeto de seus donos.
Seu corpo pode estar preso, mas sua mente viaja. Voa longe, nas fábulas contadas pela mãe sobre as tradições de seu povo africano; voa na leitura, palavras que Sarah a ensina clandestinamente; voa junto a seus sonhos de liberdade. Como sua mãe Charlotte sempre a lembra, os espíritos delas não pertencem a ninguém.
Já Sarah é uma branca nascida em uma poderosa família tradicional e rural. Pertence a aristocracia sulista, derivada de uma classe social inglesa requintada.
Seu corpo pode estar livre e, embora inicialmente ela pense ter a mente livre, percebe que está presa. É enganada pela família a achar que tem voz social, mas conforme cresce, suas opiniões passam a ser caladas e ignoradas. Ela precisa baixar a cabeça para os homens e regras da sociedade patriarcal, machista e cristã.
De certa forma, Sarah também está presa, não apenas Encrenca. Suas vidas começam a mudar quando Sarah passa a libertar sua mente e Encrenca tenta libertar seu corpo. As duas precisam, juntas e separadas, criar asas - esse é o ponto principal! Ah, não é fácil. Asas não brotam por magia das costas, mas através de sangue, suor, lágrimas, esforço, planos, ousadia.
A luta de duas mulheres diferentes, mas irmãs de coração, a se libertarem. O livro é lindo, maravilhoso.
As personagens são todas sensacionais e o modo como a autora as desenvolve, formidável.

Ela utiliza dois pares de irmãs para representarem a batalha das minorias ao longo da História. Com duas protagonistas complexas e raras, misturando ficção e fantasia, Sue Monk Kidd utiliza uma escrita rica. Cria um romance impecável que emociona, entretém e remete ao leitor as mais profundas reflexões da verdadeira natureza humana.
Um enredo encantador, cativante e, em certos momentos, chocante, elaborado para relembrar a todos o quanto a escravidão e exploração é abominável; o quanto o preconceito, o racismo e a intolerância são inaceitáveis.
A história de mulheres que enfrentaram suas origens, suas religiões, suas realidades e toda a sociedade contra a barbárie da escravidão e a censura à liberdade, incluindo a da expressão, negada às mulheres e negros. Quantas minorias ainda sofrem censura, exploração e dor?
Um livro para lembrar o quanto se lutou e sonhou com a igualdade em todos os sentidos. O quanto, ainda, há lutas e sonhos tentando levantar voo, caindo, tombando, se reerguendo, criando asas e, finalmente, voando!
Quando as minhas asas falharem, lembrarei de tantas pessoas que batalham / batalharam pela liberdade e igualdade e tiveram seus feitos históricos apagados ou nunca registrados e / ou suas vozes abafadas. Nós sabemos disso, imaginamos e as honramos.

Booktrailer:



A autora:
Sue Monk Kidd mora perto de Charleston, na Carolina do Sul.
Primeiro livro de Sue, A Vida Secreta das Abelhas ficou por mais de um ano e meio na lista de mais vendidos do New York Times e foi adaptado para o cinema em 2008.
Seu segundo romance, O Monge e a Sereia, que alcançou a primeira posição na lista de mais vendidos do New York Times, ganhou o prêmio Quill de 2005 para melhor obra de ficção e foi transformado em um filme para a TV.
Seu livro mais recente, A Invenção das Asas, também foi publicado pela Editora Paralela.

Links: Site | Twitter | Facebook

Nenhum comentário

Os comentários são moderados, portanto, aguarde aprovação.
Comentários considerados spams, agressivos ou preconceituosos não serão publicados, assim como os que contenham pirataria.
Caso tenha um blog, retribuirei seu comentário assim que possível.

Pesquise no blog

Parcerias