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[Resenha] A Lista Negra, de Jennifer Brown e Gutenberg (Grupo Autêntica)

A Lista Negra (Hate List)
Jennifer Brown - Gutenberg / Grupo Autêntica
Tradução: Claudio Blanc
272 páginas - R$ 39,90 (impresso) e R$ 19,90 (ebook) - trecho
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Sinopse:
"E se você desejasse a morte de uma pessoa e isso acontecesse? E se o assassino fosse alguém que você ama?
O namorado de Valerie Leftman, Nick Levil, abriu fogo contra vários alunos na cantina da escola em que estudavam. Atingida ao tentar detê-lo, Valerie também acaba salvando a vida de uma colega que a maltratava, mas é responsabilizada pela tragédia por causa da lista que ajudou a criar. A lista com o nome dos estudantes que praticavam bullying contra os dois. A lista que ele usou para escolher seus alvos.
Agora, ainda se recuperando do ferimento e do trauma, Val é forçada a enfrentar uma dura realidade ao voltar para a escola para terminar o Ensino Médio. Assombrada pela lembrança do namorado, que ainda ama, passando por problemas de relacionamento com a família, com os ex-amigos e a garota a quem salvou, Val deve enfrentar seus fantasmas e encontrar seu papel nessa história em que todos são, ao mesmo tempo, responsáveis e vítimas.
A lista Negra, de Jennifer Brown, é um romance instigante, que toca o leitor; leitura obrigatória, profunda e comovente. Um livro sobre bullying praticado dentro das escolas que provoca reflexões sobre as atitudes, responsabilidades e, principalmente, sobre o comportamento humano. Enfim, uma bela história sobre auto-conhecimento e o perdão."

Resenha:

A estadunidense Jennifer Brown é jornalista e escritora de Young Adult e seu mais recente livro é Mil Palavras (Thousand Words, 2013), lançamento no Brasil em agosto de 2018, pela Editora Gutenberg do Grupo Autêntica. A autora também utiliza o pseudônimo Jennifer Scott. Pela mesma casa editorial já foram publicados Amor Amargo (Bitter End, 2011) em 2015, um conto na antologia As Fases da Lua em 2016 e A Lista Negra em 2012 (Hate List, 2009). Esta edição possui tradução de Claudio Blanc, páginas amareladas, orelhas e ótimas diagramação e revisão.
Este é romance de estreia de Jennifer Brown e possui temática delicada e impactante. Um Jovem Adulto contemporâneo, dramático, complexo e excelente que me fez refletir muito sobre o quanto a intolerância pode ser destruidora e como existem traumas que possam talvez nunca ser esquecidos, mas sim superados. Uma análise sobre as consequências do bullying no ambiente escolar, um debate sobre comportamento humano em geral e uma reflexão sobre como evitar situações descontroladas.
Massacres em escolas e universidades ocorrem no mundo todo e sempre nos chocam (saiba sobre alguns casos nesta reportagem da Superinteressante). Como será estar na pele de um dos sobreviventes e retornar à rotina? Jennifer Brown, sem romantizar o terrorismo, explora a complexidade do tema de modo acessível mas profundo, com uma história emocionante e geradora de empatia.


A narrativa é muito interessante. A maior parte é em primeira pessoa pela protagonista Valerie Leftman, uma adolescente que cursa o penúltimo ano do Ensino Médio. Mas este não será um ano típico, nem para Val, nem para ninguém no Colégio Garvin. Os alunos, seus familiares, professores e funcionários enfrentaram uma catástrofe na praça de alimentação da escola: Nick Levil, aluno do último ano, simplesmente levou uma arma escondida e atirou em várias pessoas na escola. Além do relato de Val existem fragmentos de reportagens do jornal Tribuna de Garvin, quase sempre como introdução de capítulo. Nestes textos em terceira pessoa você observa o ponto de vista da imprensa, ou seja, de pessoas de fora, e acessa informações oficiais do caso e também depoimentos de várias pessoas que estavam presentes durante a tragédia e seus parentes. Há a questão da imprensa tendenciosa em busca de audiência, sem preocupação humana.
a narração de Val é muito íntima, visto que ela mostra tudo o que pensa e sente sobre o ocorrido. Acompanhá-la foi uma experiência enriquecedora, pois sob um olhar de fora é fácil julgar e simplificar várias coisas; muitas vezes só quem sofreu uma situação específica é capaz de agir de tal forma. Por isso esse tipo de livro é tão importante, para lembrar que cada pessoa é diferente e pode reagir de modo bem particular. Val demora a perceber certos aspectos como outras perspectivas, assim como abaixar a guarda a quem tenta ajudá-la.


Há pelo menos quatro agravantes para Val: Nick foi seu namorado nos três últimos anos; ele também atirou nela; Nick se suicidou; ele seguiu uma lista negra que escreveu em parceria com Val, onde anotaram tudo e todos que odiavam.
Portanto, Val está devastada em todos os sentidos. Como não imaginou que ele praticaria o atentado? Por que ele fez isso? Ela se sente culpada, mas ao mesmo tempo acha que não foi sua culpa, pois desconhecia o plano e jamais desejou ferir alguém de verdade. Val carrega um peso e um conflito muito sombrio, além de estar sofrendo com o luto, afinal, ele era seu namorado e ela o amava. Mas agora ele se tornou um monstro para todos e ela acha que deve sentir saudades em segredo. As pessoas estão reagindo de formas distintas, porém Val não sente mais que pertence a algum lugar, seja na escola ou em casa, porque até seus pais e seu irmão mais novo estão diferentes. Toda a vizinhança e todos na escola mudaram com ela, que tenta convencer a todos de sua inocência. Mais que uma ferida física e sequelas psicológicas, ela está com a alma machucada e precisa encarar a rotina e finalizar seus estudos na mesma escola onde tudo aconteceu. Val precisa aceitar, assumir e se desapegar de muitas coisas, a perdoar e se deixar ser perdoada. Para isso ela conta com a ajuda de um psicólogo e outras pessoas, algumas inusitadas.
As personagens são multifacetadas, até mesmo as que ficam em segundo plano, e causam oscilantes sentimentos em Val.


São temas mais que atuais; são universais e humanos. Todo adolescente vivencia na pele ou presencia situações de bullying, preconceito e rejeição, seja como vítima ou culpado e é exatamente esse o ponto mais importante: todos podem se tornar vilões ao se armarem de intolerância, muitas vezes depende apenas de um ponto de vista ou uma determinada situação.
Uma leitura poderosa que relembra o quanto é importante termos empatia em todo momento e local. Que devemos sempre olhar para o próximo, até mesmo aquele que odiamos ou muito diferente, e pensar nele como uma pessoa complexa, com sentimentos, problemas e traumas. Que todos merecem respeito. Não precisamos gostar de todas as pessoas nem agradar a todo mundo, mas o respeito é primordial.
A Lista Negra debate sentimentos fortes como vingança, perdão e redenção. As questões sobre saúde mental também são diversas e sempre presentes, mostrando como várias pessoas enfrentando o luto e um profundo e impactante trauma, sofrendo variações de estresse pós-traumático, depressão, distúrbios alimentares, pensamentos suicidas. A autora destaca a importância do tratamento psicológico, dos cuidados médicos muitas vezes necessários e da presença da família, mesmo fragmentada ou desfalcada, e das amizades, incluindo as pouco duradouras ou em constante mudança.
O melhor da trama é o realismo da superação lenta e difícil. Traz esperança e um olhar sobre como toda vida é importante; e como viver, embora difícil, pode trazer muita beleza, englobando também os momentos mais tristes ou desesperadores. A superação da escola e dos parentes das vítimas e envolvidos é retratada de forma muito honesta. Não acontece repentinamente e além de difícil (aparentemente quase impossível para alguns), ninguém sai milagrosamente perdoando ou se redimindo e muito menos quem se odiava passa a ser melhores amigos para sempre.
O final me deixou com lágrimas e o achei incrível, cheio de coragem, emoção e força. É uma luz piscando em alerta e aquecendo o coração de esperança sobre como devemos respeitar as diferenças e tentar praticar empatia cotidianamente.
Leitura essencial para qualquer pessoa, especialmente adolescentes. Toda biblioteca deveria ter um exemplar, assim como o livro deveria ser trabalhado e explorado nas escolas.

A autora:
Jennifer Brown vive na região de Kansas City, Missouri, Estados Unidos, com seu marido e seus três filhos. Quando não está escrevendo sobre assuntos sérios, Jennifer, que venceu duas vezes o Prêmio Erma Bombeck de Humor Global, é colunista do jornal Kansas City Star. A Lista Negra é seu romance de estreia.
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