Colleen Houck - Arqueiro
Tradução: Ana Ban
336 páginas - R$ 54,90 (impresso) ou R$ 39,99 (ebook)
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Sinopse:
"Colleen Houck dá nova vida ao folclore clássico que envolve o espírito do Halloween.
Bem-vindo ao Outro Mundo, onde reinam criaturas aterrorizantes...
Quinhentos anos atrás, Jack fez um pacto com um demônio e acabou condenado a uma eternidade de servidão. Como um lanterna, seu único dever é guardar um dos portais que levam ao reino imortal, garantindo que nenhuma alma se infiltre onde não é bem-vinda. Jack sempre fez um excelente trabalho... até conhecer a bela Ember O’Dare.
Há tempos, a bruxa de 17 anos vem tentando enganar Jack para atravessar o portal. Insistente, sem temer os alertas dele, Ember enfim consegue adentrar a dimensão proibida com a ajuda de um vampiro afável e misterioso, e então tem início uma perseguição frenética através de um mundo deslumbrante e perigoso.
Agora Jack precisa resgatar Ember antes que os universos terreno e sobrenatural entrem em colapso e se tornem um caos."
Resenha:
Colleen Houck é autora de duas séries de bastante sucesso publicadas no Brasil pela Editora Arqueiro: A Maldição do Tigre e Deuses do Egito. Juntas, já venderam mais de dois milhões de exemplares no mundo; destes, mais de setecentos mil livros apenas no Brasil. Após explorar as mitologias indiana e egípcia para criar sagas de fantasia voltadas ao público Jovem Adulto (Young Adult), é a vez de se inspirar no Halloween para uma nova trama mágica e adolescente: A Chama de Ember (The Lantern's Ember).
É uma oportunidade para se conhecer o trabalho da autora sem a necessidade de se aventurar em uma nova série, pois é um volume único. Publicado originalmente em final de 2018, chegou aqui em agosto de 2019 com tradução de Ana Ban. Houck se baseou no folclore do Dia das Bruxas para sua esta criação, especialmente na Lenda do Cavaleiro sem Cabeça ou A Lenda de Sleepy Hollow, protagonizado por Ichabod Crane, e na de Jack-O'-Lantern, mito que originou os rostos esculpidos nas abóboras.
A Lenda de Jack é sobre um alcoólatra que fez um pacto com o demônio, ou melhor, que o enrolou com esperteza. Ele decide se tornar uma pessoa melhor para ir ao céu e fugir de seu destino no inferno. Porém ele foi recusado pelo céu e impedido de entrar no inferno. O diabo, humilhado e ofendido, não permitiu sua entrada e, portanto, Jack foi condenado a permanecer no limbo com sua chama para iluminar o caminho. Esta foi colocada dentro de um nabo para durar mais. A lenda, de origem irlandesa, depois foi modificada com a migração de irlandeses aos Estados Unidos, onde abóboras são mais abundantes que nabos.
Já A Lenda de Sleepy Hollow foi um conto publicado em 1820, sendo atualmente um clássico importante da ficção estadunidense, escrito por Washington Irving, inspirado por mitos do folclore irlandês. Ichabod Crane, um professor que visita Sleepy Hollow, um vilarejo nos Estados Unidos, e se apaixona por uma filha de um importante fazendeiro, a jovem Katrina Van Tassel. Mas precisa disputá-la em casamento com Abraham Van Brunt. O antagonista é na verdade a assombração do Cavaleiro Sem Cabeça, fantasma de um soldado germânico que teve a cabeça arrancada durante a Revolução Americana.
Houck pegou um pouco de cada uma das lendas irlandesas para compor uma das personagens principais de A Chama de Ember: o lanterna Jack.
Na versão de Houck, Jack, um jovem apaixonado, realiza um pacto com um demônio. Tudo por amor romântico e boas intenções, o rapaz é enganado e amaldiçoado a se tornar um lanterna, nem morto nem vivo. Sua energia ou alma, uma chama, permanece dentro de uma abóbora a tiracolo. Carente por humanidade, Jack esculpiu um rosto nela. A abóbora pode fazer coisas especiais e é um dos destaques da trama. Achei muito curioso, ela praticamente é como uma personagem. Jack está há mais de quinhentos anos preso em um limbo entre a Terra, o nosso mundo, e o Outro Mundo, uma dimensão sobrenatural e mágica repleta de seres exóticos como lobisomens, vampiros, espectros, trolls e gnomos. Jack, portanto, não tem escolha senão obedecer seu chefe, Rune, e permanecer na encruzilhada a ele designada.
Jack é a melhor personagem do livro. Desde a criatividade da autora em misturar o Cavaleiro Sem Cabeça ao Jack Lanterna (e com um pouco de Jack Esqueleto de O Estranho Mundo de Jack de Tim Burton) até o visual extraordinário, origem gótica e romântica e a abóbora mágica. Tudo relacionado ao Jack é muito cativante.
Ele possui deveres e obrigações, como capturar seres do Outro Mundo que acabam fugindo e perambulando pela Terra, assim como comunicar o surgimento de humanos com sangue de bruxa(o), ao sentir um sopro de magia no local. Porque se um feiticeiro ou feiticeira atravessar para o além, será uma ameaça ao Senhor do Outro Mundo. Será que é verdade?
É o que acontece na cidadezinha de Hallowell: um vento de bruxaria. O solitário Jack percebe a magia de bruxa no ar de sua encruzilhada. É Ember O' Dare, órfã criada pela tia-avó. Jack não avisa ao seu superior e passa a acompanhar o crescimento e desenvolvimento da criança até ela se tornar uma bela e corajosa jovem bruxa. Aos dezessete anos, Ember é bastante dedicada e ousada, sempre testando feitiços e preparando poções, mesmo quando seus experimentos têm resultados diferentes do esperado, ou seja, dão errado ou causam pequenas confusões. Ela sente a presença de Jack e sabe que ele é um ser sobrenatural, mas nunca a faz mal. Portanto, Ember deduz que ele talvez seja algum tipo de guardião.
O que ela mais deseja no momento é conhecer o Outro Mundo, porque sente uma poderosa e inevitável atração. Jack não permite que Ember atravesse, porém não a dedura para Rune, escondendo-a dos outros seres sombrios.
Até que um charmoso vampiro, sob uma misteriosa missão, se aproxima de Ember, convidando-a a uma excitante e perigosa aventura pelo Outro Mundo. É Deverell, personagem também interessante, que completa o triângulo amoroso Jack — Ember — Dev.
Jack logo está no rastro de Ember e Dev, com o auxílio do genial amigo de Ember, o rapaz Finney, também apaixonado por ela. Ou seja, é um quadrado amoroso.
Outras personagens surgem, como Delia, vampira e irmã de Dev, com o coração partido por um lobisomem e capitã pirata de uma nave celestial auxiliada pelo remendado Frank, e outros seres assombrosos.
O livro possui narrativa em terceira pessoa e os pontos fortes são certamente Jack e, em menor proporção, Dev, além do folclore de Halloween que inspirou a autora, aliados ao cenário do Outro Mundo, uma mistura de sobrenatural com itens Steampunk. A tecnologia, a fonte de energia e o funcionamento dos aparatos misturam luz de bruxa, a mais poderosa magia do Outro Mundo, com parafernália analógica e vitoriana. É um visual bem interessante e aventureiro, repleto de seres meio mecânicos, meio orgânicos.
Porém, o livro tem muitas fraquezas. Mitologia, magia e clima sobrenatural e extravagante são sufocados na maior do tempo pelo triângulo (ou quadrilátero) amoroso. Os momentos de Ember e seus pretendentes se sobressaem ao enredo central e isso atrapalhou demais a minha experiência. Sei que é fantasia Young Adult e que os interesses românticos de protagonistas de dezessete anos são quase que uma tradição neste tipo de história, mas simplesmente perdi a paciência. Eu queria saber mais do Outro Mundo, esperava por outros conflitos voltados à aventura, mas o lado romântico da trama colocou quase tudo a perder para mim.
Outro incômodo (mas muito particular mesmo), foi que no fundo não aprovei as possibilidades de Ember ficar com Jack ou Dev, por mais que eles fossem interessantes. Porque são muito velhos e ela tem apenas dezessete anos. Um é um vampiro nem sei de quantos anos, tão velho que parece imortal aos nossos olhos humanos, e o outro é um lanterna de mais de quinhentos anos. Então meu subconsciente não aprovava Ember com nenhum deles. A escolha caía em Finney, rapaz da idade de Ember. Conforme citado, é um item muito particular, não um problema com a trama.
Uma premissa empolgante, uma mitologia criativa e personagens e cenário interessantes se perderam um pouco em um desenvolvimento fraco que prioriza o romance. Por isso, se você gosta ou não se importa com este tipo de foco, não terá os mesmos problemas que eu tive.
Se curte Fantasia Sobrenatural Young Adult com protagonistas femininas fortes em dúvida sobre com qual lindo rapaz (ou lanterna ou vampiro) ficar, A Chama de Ember será um ótimo livro. Especialmente se sente curiosidade pelo Steampunk, mas teme cair em uma trama de Ficção Científica complicada, aproveite esta oportunidade de leitura fluida e simples.
Agora, se é fã de qualquer coisa inspirada no folclore do Halloween, mas sem o clima de terror, pode ler A Chama de Ember sem medo. É uma trama adolescente romântica em um universo Steampunk e sobrenatural baseado em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça e Jack-O'-Lantern, com um clima que remete a Sabrina (Aprendiz de Feiticeira), e um pouco a Buffy, a Caça-Vampiros.
A edição da Arqueiro tem ótima revisão e o exemplar físico possui orelhas, páginas amareladas, diagramação bonita e uma das capas mais lindas que já vi, com dourado como de fosse luz por toda parte. Este exemplar foi uma cortesia para resenha.
Colleen Houck é uma leitora voraz que adora títulos de ação, aventura, temas paranormais, ficção científica e romance. Ela entrou para a lista de livros mais vendidos do The New York Times com a série A Maldição do Tigre, que já vendeu cerca de 650 mil exemplares no Brasil. A obra teve os direitos adquiridos pela Paramount Pictures. Também é autora da série Deuses do Egito.
Colleen estudou na Universidade do Arizona e trabalhou como intérprete de língua de sinais durante 17 anos. Ela mora em Salem, no Oregon, com o marido e uma imensa coleção de tigres de pelúcia.
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