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Resenha: A Gaiola de Ouro, de Camilla Läckberg e Arqueiro

A Gaiola de Ouro (The Golden Cage)
Revenge - livro 1
Camilla Läckberg - Arqueiro
Tradução: Fernanda Åkesson
320 páginas - R$ 49,90 (impresso) e R$ 29,99 (e-book)
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Sinopse:
"Novo suspense de Camilla Läckberg. Com 26 milhões de livros vendidos, ela é considerada a rainha europeia do crime.
A vingança de uma mulher é bela e brutal.
Jack e Faye começaram a namorar na faculdade: um garoto criado em berço de ouro e uma jovem que se esforçou para enterrar um passado sombrio. Quando ele decide criar uma empresa, ela deixa os estudos e passa a trabalhar de dia, dedicando as noites a traçar a estratégia do novo negócio.
A companhia se torna um sucesso bilionário, mas Faye se sente como um lindo pássaro preso numa gaiola, apenas cuidando da filha em casa e sendo exibida pelo marido, que toma todas as decisões da empresa. Jack agora despreza sua inteligência, esquecendo tudo o que ela sacrificou por ele.
Quando Faye descobre que ele tem um caso, a bela fachada de sua vida desmorona. De uma hora para outra, ela está sozinha, emocionalmente abalada e sem nenhum centavo – porém nada pode se comparar à fúria de uma mulher com um passado violento determinada a se vingar
Jack está prestes a receber o que merece, e muito mais.
Nesta eletrizante história de sexo, traição e segredos, Camilla Läckberg prova ser uma das vozes mais importantes do suspense mundial."

Resenha:
O livro começa com um crime brutal: segundo as investigações iniciais, um pai matou a própria filha, uma criança, e a mãe está incrédula. Ela é a protagonista, Faye, mas é necessário voltar uma década.
Ela se mudou do interior da Suécia, Fjällbacka, para a capital Estocolmo após terminar a escola. Ela conhece outros jovens, incluindo Viktor, um rapaz com quem engata um relacionamento romântico. Faye entrou para uma faculdade para cursar economia após o estímulo do namorado, sob a intenção de ser um sucesso nos negócios. Lá ela conhece Chris, que se tornaria sua melhor amiga, e Henriq e Jack, veteranos no curso que tentavam fundar uma empresa. O projeto finalmente deu certo graças às ideias de Faye, que trocou Viktor por Jack. Sem medir esforços, abdicou de si mesma e de terminar os estudos, focou na empresa, a Compare, e se casou com Jack. A moça que parecia tão esperta e inteligente comete erros que não parecem causados por ingenuidade, e sim por estar cegamente apaixonada. Nos bastidores da Compare, continua orientando o marido. Eles têm então uma filha, Julienne, e o sucesso nos negócios é tão grande que entram para o seleto grupo de bilionários. A vida parecia perfeita: um marido que todas desejavam, uma filha maravilhosa, viagens encantadoras e o mais puro luxo.
Jack deixa de consultar Faye sobre as finanças, deixando-a cada vez menos ciente do desenvolvimento da Compare. O relacionamento entre eles muda, especialmente depois do nascimento da filha, quando Faye ganhou vários quilos e grosserias do marido. Este se torna mais frio e distante, tratando a esposa muito mal, como se ela fosse uma leiga nos negócios. Ele se tranca com mais frequência no escritório, isolando-se em sites pornôs.
Faye percebe que vive aprisionada em uma gaiola de ouro, muito glamourosa e cara, mas, ainda assim, uma prisão solitária, mas demora mais para perceber que está em um relacionamento tóxico. Ao descobrir as traições do marido, que a troca por uma mulher mais jovem e bem-sucedida — tudo o que Faye deveria ter sido — ela perde tudo: a autoestima, perspectivas de vida, a empresa, a fortuna e, até mesmo, a guarda da filha. Sem dinheiro e desesperada, finalmente Faye percebe que Jack nunca foi algo positivo em sua vida. Ela planeja friamente se vingar dele. Para isso, ela traça metas, inclusive de repetir o sucesso que teve ao criar a Compare. Mas desta vez será a sua empresa, a Revenge. Mas o inesperado acontece: Julienne é assassinada e o suspeito principal é Jack.

Primeiro livro da série Revenge, A Gaiola de Ouro (The Golden Cage, 2019), foi escrito por Camilla Läckberg, e publicado no Brasil em 2020 pela Editora Arqueiro, sob tradução de Fernanda Åkesson. Formada em economia, Läckberg já publicou mais de dez romances policiais, tornando-se a autora contemporânea mais lida na Suécia, e uma das mais lidas da Europa, com adaptações para o cinema e televisão. Vendeu mais de 26 milhões de exemplares em 60 países, incluindo seu livro de estreia A Princesa do Gelo (The Ice Princess, 2003), e ganhou da crítica o título de "Rainha do Crime", por suas tramas de crimes ambientadas em sua cidade natal, com destaques para suas personagens complexas. A autora possui uma empresa que investe em empreendedoras mulheres, a Invest in Her, e esta experiência é claramente presente em A Gaiola de Ouro, dando um toque mais pessoal.
Mas esta é uma história de vingança. Não é de superação, nem de redenção e muito menos de amor romântico. Este é um suspense de vingança, que faz refletir sobre ética profissional, casamentos de fachada e busca desenfreada por dinheiro. Também aborda temas sérios como infidelidade, machismo, violência doméstica e relacionamentos tóxicos ou abusivos. Com uma ambientação sombria, adulta e selvagem, A Gaiola de Ouro tenta apontar a sororidade entre as mulheres e é logo neste detalhe que a tentativa não atinge o potencial. É compreensível, pois a protagonista é uma mulher obscura, ambígua e complexa, muito longe de ser classificada como heroína. O suspense possui traços de feminismo e empoderamento, mas peca justamente na sororidade, porque a protagonista não apoia e se une às mulheres por altruísmo (embora tenha duas amigas verdadeiras), e sim para atingir suas metas. Se ao sofrer com o machismo do marido e o casamento tóxico Faye decidisse se vingar e empoderar outras mulheres que passam ou passaram por situação semelhantes, o livro seria perfeito. Mas ela se aproveita de mulheres enraivecidas ou sofridas para conseguir o investimento e apoio logístico necessário para seu próprio sucesso.
Outro detalhe importante: embora tenha visto opiniões de leitores que acharam que a personagem (ou a autora) demonstra algum ódio aos homens, discordo totalmente. Até porque temos três bons exemplos de personagens masculinos nada misóginos, mesmo que sejam apenas dois coadjuvantes e um figurante. Um deles engata um relacionamento saudável e normal com uma personagem; outros até aparentam querer, mas é Faye que os dispensa. Porém ela não generaliza os homens, apenas não  tem tempo ou foco para o amor. Se os papéis fossem invertidos (e geralmente eles são) você julgaria um homem amargurado pelo passado e pelo sofrimento em um casamento ao qual se dedicou e foi traído, abusado e roubado por não querer mais ter um relacionamento amoroso e procurar vingança? Talvez, mas julgaria do mesmo modo que julga uma mulher? O ódio de Faye é voltado aos abusadores, machistas e misóginos, e seu ex-marido é isso tudo.

Este não é um livro com uma protagonista admirável, mas seu antagonista é tão detestável e abominável que é impossível não torcer pelo sucesso da vingança de Faye. Justamente por ser ficção, podemos observar métodos e decisões de Faye que na vida real, por mais odioso que fosse Jack, seriam inaceitáveis. Ela é a vítima, mas decide inverter os papéis e, se não fosse por um detalhe angustiante no final da trama, jamais aprovaria nada do que ela faz. Por isso, prepare-se: quando parece que já conhecemos todos os podres de Jack, mais uma revelação surge na reta final. E Faye não é uma pessoa correta nem para ser admirada. Mas um fato Faye não esconde desde o princípio: seu passado é muito sinistro e perturbador e ela não é uma santa, deixando claro que isso pode influenciar seu comportamento e sua vingança. A autora não revela tudo de uma vez, alternando capítulos da atualidade com os flashbacks que contam a trajetória de Faye.
Tive a sensação de que a qualquer momento ela não aguentaria mais ter suas asas aprisionadas na gaiola de ouro e que além de escapar e voar alto colocaria as garras afiadas de fora. Por isso o livro é dividido em três partes, de acordo com a evolução de Faye, de vítima cega a sociopata vingativa. Na primeira parte a autora faz as apresentações e joga a protagonista no fundo do poço. A segunda é sobre planejamento e tentativa de vingança. E a terceira é onde todas as peças do quebra-cabeça de passado e presente são encaixadas, novas peças são reveladas e Faye finaliza o plano audacioso e inescrupuloso. O início não parecia tão promissor, por isso me surpreendi e curti muito o meio e o final, embora o desfecho tenha sido um pouco acelerado.
A narrativa influencia a forma como quem lê interage e enxerga a protagonista. É tudo muito bem planejado pela autora. Na linha cronológica do presente, a narrativa é em terceira pessoa, para distanciar a protagonista de quem lê e, assim, aumentar a ansiedade, curiosidade e dúvidas sobre o que realmente a protagonista está pensando, sentindo e planejando. Por mais que pareça mostrar, há um limite. Já os flashbacks mostram aos poucos acontecimentos que parecem agora tão distantes que se assemelham mais à vida de outra pessoa que a de Faye, porém sempre em primeira pessoa, para criar empatia e afeição pela vida dela, e assim, influenciar a visão sobre seu presente. A ligação entre passado e presente afeta o julgamento do(a) leitor(a) sobre os atos ilícitos ou sem ética da protagonista. É uma manipulação incrível feita pela autora!

Desde o início, Faye sofre nas mãos do marido, embora ela não esteja ciente. E eu me perguntava: por que ela ficou com ele e o deixou ficar com a Compare? Por que abandonou os estudos se era ela a mais inteligente e visionária? Por que assinou o acordo pré-nupcial abdicando da empresa e da fortuna? Por que aceitava as transas grosseiras e desrespeitosas para satisfazê-lo? E caí na reflexão de como isso é bem realista, de como as mulheres, até mesmo as mais inteligentes, caem sim nestas enrascadas e depois se sentem culpadas, idiotas e desvalorizadas. Como se deixam ter as asas cortadas com a falsa sensação de estarem sendo protegidas, quando na verdade são aprisionadas em gaiolas e controladas. Acho que é muito raro uma mulher não vivenciar um relacionamento assim (ao menos uma tentativa de ser assim), ou conhecer uma amiga que passe por isso, mesmo em diferentes intensidades.
Então se você quer ver uma pessoa no fundo do poço dar a volta por cima, mesmo que cometendo atos muito questionáveis, este livro é para você: um bom suspense de vingança, com algumas personagens imperfeitas e duvidosas e trama dinâmica. Indicado para quem gosta de romances policiais sombrios e adultos ou de protagonistas justiceiras.

Li a versão digital, uma cortesia da Editora Arqueiro, e não encontrei erros ou problemas com o e-book. Espero que a continuação, Asas de Prata, não demore a ser publicada!


Se você gostou de A Gaiola de Ouro, provavelmente vai gosta dos seguintes livros (e vice-versa):
Garota Exemplar (Gillian Flynn, Intrínseca)
A Mulher na Janela (A. J. Finn, Arqueiro)
A Garota no Trem (Paula Hawkins, Record)
Pequenas Grandes Mentiras (Liane Moriarty, Intrínseca)
A Outra Senhora Parrish (Liv Constantine, HarperCollins Brasil)


A autora:
Camilla Läckberg nasceu em 1974, em Fjällbacka, uma cidadezinha na costa sueca, onde se passa a maior parte dos seus romances. Trabalhou por anos como economista até lançar, em 2003, A princesa de gelo. Desde então, publicou mais dez romances policiais, dois livros de culinária e seis infantis, que venderam juntos mais de 26 milhões de exemplares em 60 países, rendendo-lhe o título de autora contemporânea mais lida na Suécia, acima até mesmo de Stieg Larsson, e uma das mais lidas em toda a Europa. Já teve obras adaptadas para a TV e o cinema.
Além de escritora, é uma das responsáveis por um projeto de investimento que aposta em empresas com produtos voltados para as necessidades das mulheres, sejam dirigidas por mulheres ou com políticas de igualdade de gênero.
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