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[Resenha] O Instituto de Stephen King e Suma (Grupo Companhia das Letras)

O Instituto (The Institute)
Stephen King - Editora Suma / Grupo Companhia das Letras
Tradução: Regiane Winarski
544 páginas - R$ 69,90 (impresso) e R$ 39,90 (ebook) - trecho
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Sinopse:
"No meio da noite, em uma casa no subúrbio de Minneapolis, um grupo de invasores assassina os pais de Luke e sequestra silenciosamente o menino de doze anos. A operação leva menos de dois minutos.
Quando Luke acorda, ele está no Instituto, em um quarto que parece muito o dele, exceto pelo fato de que não tem janela. E do lado de fora tem outras portas, e atrás delas, outras crianças com talentos especiais, que chegaram àquele lugar do mesmo jeito que Luke. O grupo formado por ele, Kalisha, Nick, George, Iris e o caçula, Avery Dixon, de apenas dez anos, está na Parte da Frente. Outros jovens, Luke descobre, foram levados para a Parte de Trás e nunca mais vistos.
Nessa instituição sinistra, a equipe se dedica impiedosamente a extrair dessas crianças toda a força de seus poderes paranormais. Não existem escrúpulos. Conforme cada nova vítima vai desaparecendo para a Parte de Trás, Luke fica mais e mais desesperado para escapar e procurar ajuda. Mas até hoje ninguém nunca conseguiu fugir do Instituto.
Tão aterrorizante quanto A Incendiária e tão espetacular quando It: a Coisa, este novo livro de Stephen King mostra um mundo onde o bem nem sempre vence o mal."

Resenha:

O Instituto (The Institute) é o mais recente romance de Stephen King, publicado no Brasil em setembro de 2019 pela Editora Suma, com tradução da incrível Regiane Winarski. Antes mesmo de ser lançado, o livro teve seus direitos para adaptação disputados e, portanto, sua série de TV anunciada. O projeto está sendo produzido por David E. Kelly e Jack Bender, mesma dupla que adaptou Mr. Mercedes, e pelo Spyglass Media Group.
O Instituto traz itens já utilizados pelo Mestre do Terror (e apreciados pelos Leitores Fiéis) como, por exemplo, uma pequena cidade, um projeto ultrassecreto, um grupo de crianças espertas, o bem contra o mal e superpoderes. Mais uma vez King explora mentes habilidosas, assim como foi com Carrie White em A Estranha, Danny Torrance em O Iluminado e Charlie McGee de A Incendiária. Conforme a editora original e a Suma têm divulgado: "Tão aterrorizante quanto A Incendiária e tão espetacular quando It: a Coisa", O Instituto é mesmo uma obra com um pouco destes sucessos de King. O Instituto, local onde se passa quase toda a história, lembra muito o projeto A Oficina, de A Incendiária. E se Charlie não estivesse sozinha? E se outras crianças com dons super-humanos, como as vistas nas obras de King, formassem um grupo? E se fossem amigos como Bill, Ben, Bev, Eddie, Richie, Stan e Mike, em It: a Coisa? King pensou nisso, ainda mais com o sucesso da nova adaptação de It para o cinema.
Mais que influenciar culturalmente produções recentes, a fórmula de King "crianças unidas contra o mal com algum item fantástico" nunca esteve tão em alta, como vemos em séries como Dark, Stranger Things e Rim of the World. Ninguém melhor que King para revisar seu próprio modelo e criar uma nova ótima história.


No entanto, o livro, com narrativa em terceira pessoa, não começa com o Instituto. Conheça Tim Jamieson, um ex-policial que ao viajar para Nova York, tem uma intuição inexplicável e literalmente muda o rumo de sua vida. Ele segue para o norte e termina em uma pacata cidade no meio do nada, DuPray, um local pequeno o suficiente para todos se conhecerem, mas grande o bastante para que algo sinistro possa se infiltrar. O que liga DuPray ao mundo é a estação ferroviária local, onde Tim consegue um trabalho como carregador. Porém ele possui também um emprego noturno, como vigia da cidade, até conquistar a confiança do xerife com suas patrulhas eficientes. Duas personagens coadjuvantes se destacam no núcleo de DuPray: a policial Wendy Gullickson e uma das personagens que mais gostei, a Órfã Annie, uma idosa sem-teto viciada em teorias de conspirações.
Então Jamieson e DuPray dão espaço ao desenlace de outra história completamente diferente. Em algum momento as duas vão se fundir.


O protagonista é um menino de doze anos de idade, Luke Ellis. Ele é tão genial que já se prepara para ingressar na faculdade. É quase invencível no xadrez, mas também procura ser um menino comum, se saindo razoável no basquete e assistindo a desenhos animados. Mas ele é longe do comum. Possui habilidades mentais: vira as páginas dos livros e derruba da mesa travessas de pizza vazias. Mas nada que chame a atenção dos pais, pois é uma telecinesia muito fraca, que jamais o permitiria entrar para uma equipe de super-heróis, caso a Marvel ou a DC existissem.
Até que numa noite, estranhos invadem sua casa em Minneapolis, matam seus pais, e o sequestram, levando-o a um instituto para crianças com poderes paranormais. O núcleo principal é apresentado, formado por crianças com dons como os de Luke, telecinesia, mas também outras com telepatia.
Kalisha Benson, George Iles, Nicholas Wilholm, Helen Simms e o caçula de apenas dez anos, Avery Dixon, são as coprotagonistas no Instituto e King dá a cada uma personalidades completas e interessantes, tornando-as muito carismáticas. Há ainda Iris Stanhope, Katie Givens, Hal Leonard, Donna Gibson, Jimmy Cullum e outras crianças.
Da mesma forma como em It: a Coisa, o grupo infantojuvenil precisa enfrentar um grande e poderoso mal. Interessante notar que as crianças possuem habilidades paranormais e o inimigo não, o oposto de It. Esta trama não possui vampiros, criaturas sobrenaturais, entidades cósmicas, fantasmas ou invasores de outras dimensões ou planetas. O mal é muito real e, ainda assim, extremamente assustador. Na verdade, é terrível e inescrupuloso ao extremo, justamente por ser realista.


O livro pode ser classificado como de terror, não aquele de dar susto, com monstros ou que causa incômodo quando se lê à meia luz. O terror são as pessoas e suas instituições. O terror está na política e nas justificativas para se romper a ética ou os direitos humanos. Quantas vezes na História atos terríveis foram cometidos com desculpas de "se proteger pessoas, princípios ou locais", sob, na verdade, o disfarce de se defender determinados interesses? Porque King é politizado e sempre fez questão de expor isso em suas obras. Ele não critica o presidente dos Estados Unidos apenas pelas redes sociais, por exemplo; ele expõe suas críticas e pensamentos em suas histórias. E aqui, ele faz referência explícita não apenas aos campos de concentração mundo afora, mas ao Holocausto e seus testes sinistros, em "nome da ciência e do avanço da medicina". King, aqui, critica também questões mais atuais como a política de seu país no tratamento aos imigrantes, como as crianças em cercados iguais a jaulas, separadas de seus pais. King faz muitas críticas, algumas bem explícitas.
A carga psicológica é muito forte, porque você se conecta às crianças e torce pelo bem-estar delas. O suspense é desesperador, principalmente porque parece que elas não terão tempo suficiente para se salvarem ou serem salvas. O Instituto, além de selvagem e implacável, é rápido. Quando você começa a descobrir tudo o que acontece dentro dele, se choca, se desespera.
A parte "de terror" na história é a violência usada contra as crianças. Desde o início, percebe-se que não é um antagonismo simples. As crianças inocentes são cobaias e os adultos que trabalham no Instituto as sujeitam a experimentos estranhos, desconfortáveis e dolorosos: injeções, retiradas de amostras, exames invasivos e, o pior de tudo, torturas psicológicas e físicas desnecessárias que nada têm a ver com as experiências. Se prepare para odiar mortalmente as personagens que trabalham no Instituto, como a Sra. Sigsby, Gladys e Dr. Stackhouse.


Quando as crianças obedecem, recebem fichas para trocarem por guloseimas nas máquinas automáticas. Mas há também cigarros e bebidas alcoólicas. Para que crianças e adolescentes de dez a quinze anos se tornem viciadas e mais fragilizadas. Quando não cooperam, apanham, levam choques e ficam sem itens básicos. É o pior uso possível da Psicologia para se obter determinado comportamento.
Luke está na Parte da Frente e sabe apenas que após um período, se desconhece o padrão, todos vão para a Parte de Trás, onde realmente parece que não há esperança. E as crianças não conseguem usar seus dons para lutarem, porque não são como Professor Xavier e Jean Grey dos X-Men, por exemplo. Suas habilidades são muito fracas, eles não conseguem simplesmente invadir mentes, controlar pessoas ou arrebentar trancas e rachar paredes só por desejarem. E com os experimentos, elas sentem efeitos colaterais, dores e mal-estar que as enfraquecem. É muito triste, pois eles pensam que se nem eles com habilidades extraordinárias conseguem reagir e fugir, quem poderá salvá-los? Os funcionários dizem que todos voltarão para casa e é doloroso ver que por mais inteligentes que algumas crianças possam ser, são apenas crianças sonhando com o retorno aos lares e família, e em parte, acabam acreditando.


O destaque é a capacidade de King em explorar os maiores medos da alma humana, apontar o lado sombrio e feio da humanidade, mas também em resgatar o que as pessoas podem ter de melhor: uma esperança necessária aos dias atuais.
King possui uma habilidade admirável em criar personagens cativantes e inesquecíveis, principalmente heróis improváveis, aqueles que jamais pensaríamos que salvariam o mundo, como pessoas traumatizadas, perdedores, crianças inocentes ou idosos cansados, por exemplo.
King tem um mecanismo de narrativa incrível, sempre mantendo-a atraente, com seus diálogos naturais e suas personagens bem desenvolvidas, mesmo que às vezes parte do público diga que seus finais nem sempre são tão bons quanto o restante das tramas. Suas histórias são longas, detalhadas e profundamente humanas, mesmo que recheadas de itens sobrenaturais e fantásticos, na maioria das vezes, mescladas ao terror e suspense.
Minha única reclamação sobre O Instituto é que ele não é tão longo quanto It: a Coisa, pois eu queria mais detalhes, mais acontecimentos. Espero que King retorne a esta obra, ao menos em um conto ou noveleta. O mistério sobre o que a instituição é exatamente e quem está por trás de sua administração, é mantido até a reta final. Um final épico!
Como uma pessoa chega ao ponto de achar que abusar e torturar outro ser humano é normal, mesmo tendo em vista algo supostamente mais importante que aquela vida? Como alguém chega ao ponto de considerar isso normal, rotineiro? Ainda mais crianças! Dentre tantas ameaças fantásticas, sobrenaturais, cósmicas, que as crianças das obras de King já enfrentaram, esta é a mais difícil: a humanidade. O pior lado da humanidade.


O exemplar da Suma possui orelhas, páginas amareladas e uma excelente revisão. A Suma cedeu um exemplar do livro para esta resenha.

E atenção, já temos mais um livro do King em 1º de dezembro, também traduzido por Regiane Winarski: Ascensão, 144 páginas, edição em capa dura e card exclusivo de Castle Rock como brinde para quem comprar na pré-venda! Leia a sinopse e reserve o seu exemplar aqui.



O autor:
Stephen King é autor de mais de cinquenta livros best-sellers no mundo. Os mais recentes incluem Outsider, Revival, Mr. Mercedes, Escuridão Total Sem Estrelas, Doutor Sono, Joyland e Novembro de 63. Em 2003, King recebeu a medalha de Eminente Contribuição às Letras Americanas da National Book Foundation e, em 2007, foi nomeado Grão-Mestre dos Escritores de Mistério dos Estados Unidos. Ele mora em Bangor, no Maine, com a esposa, a escritora Tabitha King.
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