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Resenha: 1984 (edição em quadrinhos), de George Orwell, Fido Nesti e Quadrinhos na Cia. (Grupo Companhia das Letras)

1984 (edição em quadrinhos)
George Orwell (autor da obra original) e Fido Nesti (adaptação e arte) - Quadrinhos na Cia. (Grupo Companhia das Letras)
Tradução do texto original do livro: Alexandre Hubner e Heloisa Jahn
224 páginas - R$ 84,90 (impresso) e R$ 39,90 (e-book)



Sinopse:
"No traço magistral do artista paulistano Fido Nesti, a obra mais poderosa de George Orwell ganha sua primeira adaptação para os quadrinhos. 1984 conta a história do angustiado Winston Smith, refém de um mundo feito de opressão absoluta. Em Oceânia, ter uma mente livre é considerado crime gravíssimo. Numa sociedade em que a mentira foi institucionalizada, Winston se rebela e, em seu anseio por verdade e liberdade, arrisca a vida ao se apaixonar por uma colega, a bela Julia, e se voltar contra o poder vigente. Publicada originalmente em 1949, a profecia de Orwell encontra seu rosto neste romance gráfico extraordinário."

"A arte sublime de Fido Nesti faz deste livro um prazer completo. Um triunfo visual da mais alta ordem!" -- Emil Ferris, autora de Minha Coisa Favorita é Monstro.

"Nenhum livro do século XX teve maior influência do que 1984." -- George Packer.

"A obra mais impressionante de Orwell." -- V.S. Pritchett.

"Um pesadelo em que a política removeu a humanidade e o Estado asfixiou a sociedade, 1984 nos leva ao fim da linha." -- Irving Howe.

"Um alerta ao mundo, uma apresentação vívida do terror que poderia se instaurar no futuro próximo se todas as implicações das ideias totalitárias fossem implantadas na prática, e fôssemos obrigados a viver num mundo de medo." -- Golo Mann.

"O fim dos seres humanos como os conhecemos." -- Martha C. Nussbaum.

Resenha:
O livro 1984, uma crítica feroz ao totalitarismo, foi publicado pelo jornalista e escritor George Orwell, um dos escritores mais importantes do século XX. A obra é uma das mais influentes e importantes da ficção, sendo traduzida para mais de sessenta e cinco países. Inspirou adaptações em filmes, minissérie, mangás e até mesmo uma ópera. Nomeou o reality show da produtora Endemol, que a partir de 1999 se espalhou pelas televisões de todo o planeta, o Big Brother (Grande Irmão).
O título é o ano em que ocorre a história. Como o livro havia sido finalizado em 1948, trocaram apenas os dois últimos dígitos, pois a intenção foi mostrar que os acontecimentos do livro poderiam não estar muito distantes da realidade da época.
E agora, em 2021, além de ter se tornado um dos clássicos mais importantes e consagrados, é leitura obrigatória para fãs de distopias. Se mantém atualizado, assustador e urgentemente relevante. No Brasil, desde 1º de janeiro, as obras de George Orwell entraram em domínio público, portanto, as livrarias então repletas de edições diferentes de 1984 e A Revolução dos Bichos, principalmente, por isso, dentre tantas opções, traduções e trabalhos gráficos atraentes e variados de tantas editoras, esta graphic novel publicada em novembro de 2020 se destaca, por ser a primeira adaptação em quadrinhos de 1984.


Adaptada e ilustrada pelo paulista Fido Nesti
, que já publicou na Folha de S.Paulo e na revista The New Yorker, e foi o responsável pelas HQs Os Lusíadas em Quadrinhos e A Máquina de Gildberg, ambas pelo mesmo selo de 1984, o de histórias em quadrinhos do Grupo Companhia das Letras, o Quadrinhos na Cia.. 1984, edição em quadrinhos, pode ser a melhor escolha para muitas pessoas que buscam descobrir e compreender a obra através de uma linguagem diferente da do livro, ou para quem deseja reler viajando por uma nova experiência. Nem é preciso dizer que fãs do livro precisam conferir esta adaptação em quadrinhos esplêndida.


O mundo vive uma constante guerra entre três grandes estados transcontinentais: Oceânia, Eurásia e Lestásia. O protagonista é Winston Smith, um homem de classe média e funcionário do Departamento de Documentação do Ministério da Verdade, um dos quatro que governam Oceânia. Ele reescreve registros históricos, de periódicos a todo e qualquer tipo de texto que seja contrário aos interesses e discursos do atual governo do Partido e do Grande Irmão. Falsificando o passado, alteram o presente e moldam o futuro, de acordo com as diretrizes do governo ditador. No trabalho ou em casa, assim como todos os cidadãos, Winston é vigiado por teletelas, que também são espalhadas em locais públicos, assim como microfones embutidos. As teletelas monitoram, vigiam, gravam e interagem com todos, transmitindo também discursos e ordens do Partido. Cada pessoa tem até o sono e expressões faciais e corporais vigiadas. As ruas possuem cartazes com o aviso "O Grande Irmão está de olho em você". Imagine uma sociedade onde cada indivíduo é monitorado e controlado, ao ponto de ter cada passo e fala vigiados?


São infinitas proibições, sob os lemas "Guerra é paz. Liberdade é escravidão. Ignorância é força": relacionamentos amorosos, ler ou escrever, assim como se expressar ou produzir qualquer arte, ter qualquer tipo de comportamento fora das regras.


O protagonista possui apenas vagas lembranças sobre uma vida antes do Partido no poder, ele não tem certeza de nada. Nem de que realmente esteja em 1984. Como a História foi totalmente modificada pelo Partido, não se sabe como os fatos ocorreram. Apesar de tudo, Winston odeia o sistema em que vive, mas por enquanto apenas ousa escrever um diário secreto, o que já pode lhe custar a vida. Ao conhecer Júlia, funcionária do Departamento de Ficção, seus sentimentos subversivos e transgressores crescem e é muito difícil domá-los e continuar sua vida medíocre. Ele anseia saber mais, saber a verdade.

O Partido manipula a população de variadas formas, como com a modificação do inglês para a criação da novafala, que num futuro próximo substituirá totalmente o antigo idioma. Com a desculpa de tornar a comunicação mais simples e fácil, mas com a intenção de modificar o pensamento. Se faltarem palavras no vocabulário ou determinados tempos verbais não existirem, como questionar, apontar e explicar certas ideias?


A militarização da educação é uma das maiores armas do Partido, pois as crianças doutrinadas desde o nascimento amam mais o Partido que os próprios pais, adorando os exercícios militares e o culto ao Grande Irmão. Qualquer desvio de comportamento dos adultos, as crianças os entregam ao Partido.


A lavagem cerebral atinge os adultos também, como o treinamento e estímulo do ódio, realizado no ambiente de trabalho, nas incontáveis transmissões e discursos nas teletelas ao longo do dia e nos assassinatos em praças públicas de rebeldes, criminosos e reféns de guerra. A guerra ininterrupta é outro controle, pois além de ser o ponto de partida para ódio, é usado como a desculpa para a falta ou racionalização de insumos básicos, deixando a população em penúria. A guerra também mantém um inimigo em comum ou mal absoluto, que se sobrepõe a qualquer vontade individual. Quem vai pensar em si quando toda a sociedade está em guerra?


O uso sistemático de mentiras e mudanças constantes da História e das notícias, sem nenhum pudor, é outra ferramenta do Partido. Uma notícia pode ser contada pelo Governo e num momento seguinte ser modificada por ele mesmo como se nunca houvesse a versão anterior. Ninguém questiona: "2 + 2 = 5". A realidade física não existe se as percepções foram controladas e manipuladas para se adequarem ao desejo do Partido. Um mundo dominado pelas fake news, que foram oficializadas e normalizadas. Há ainda o Duplipensamento, onde é obrigatório aceitar duas crenças simultâneas e contraditórias, mas sem a percepção disso. É como contar uma mentira, ciente de que não é verdade, mas ao mesmo tempo acreditar genuinamente nela.


A censura e manipulação da realidade através da falsificação dos registros históricos é tão intensa, implacável e planejada, que na alteração ou destruição de documentos, matérias em jornais, fotos, vídeos e até mesmo literatura, considerados inapropriados, se torna impossível saber como o fato realmente aconteceu. Pessoas deixam de existir para que seja possível reescrever a História de forma conveniente ao Partido, que possui também como lema: "Quem controla o passado controla o futuro; quem controla o presente controla o passado."


Conforme o enredo se desenvolve muitos detalhes sobre o controle do Estado são mostrados até chegarmos à tortura física e psicológica capaz de mudar comportamento e pensamento.

É um mundo totalitário, sombrio e terrível. A leitura me deixou obcecada, tanto pela trama como pela arte de Fido Nesti, que transmite o quanto a sociedade de 1984 é perturbadora e assustadora. Com uma paleta de cores acinzentada e apagada simbolizando o controle, o cansaço e a falta de sonhos, pensamentos e perspectiva de vida, e o vermelho em destaque representando ódio, guerra, morte, dor e medo, as ilustrações são formidáveis. Ricas em detalhes, "dão vida" a um dos livros mais importantes da literatura, de forma magistral. Ninguém agora fica sem ler 1984, pois quem não gosta ou tem o hábito de ler livros, mas adora histórias em quadrinhos, tem a oportunidade de apreciar este clássico com reflexões extensas.


É inimaginável perder totalmente a capacidade de pensar e refletir, de questionar e discordar, discutir e explorar ideias. Mas o que me deixou estarrecida foi encontrar similaridades com a sociedade atual. Especialmente em relação às fake news; em como tantas pessoas as reproduzem sem checar fontes, acreditando totalmente nelas, chegando ao ponto de, mesmo sendo apresentadas a verdade, com todas as informações e provas, ainda assim continuam acreditando e disseminando as mentiras. O ódio com que as pessoas se agarram e preferem se apegar do que partir para o diálogo e acordos também me trouxe muitas reflexões. Atualmente muitos parecem adorar odiar e demonstrar este sentimento, incluindo com ataques, ameaças e linchamentos virtuais. Não é muito diferente do ódio coletivo estimulado pelo Partido na obra. Por isso, ficção especulativa, incluindo distopias, não são exatamente alertas sobre o que pode acontecer ou sobre uma futura transformação da sociedade; é sobre os atos do presente, sobre o que podemos fazer agora para tornar nossa existência mais humana, justa e agradável. 1984 nunca foi um alerta sobre o futuro e sim uma crítica ao presente.

Esta edição possui um apêndice sobre a novafala muito esclarecedor. O exemplar físico possui formato 26,8 por 20,4 centímetro, com orelhas grandes e papel branco e fosco "alta alvura Suzano". A fonte é exclusiva, criada a partir da digitalização da caligrafia do Fido Nesti. A equipe realizou ótimo trabalho gráfico e de revisão. A adaptação da tradução foi feita por Alexandre Hubner e Heloisa Jahn, e é fiel ao texto original de George Orwell. Além da edição em quadrinhos, pela Quadrinhos na Cia., a Companhia das Letras possui também as versões clássica (a primeira lançada pela editora), a especial de luxo (em capa dura e conteúdo complementar) e a básica (texto integral e edição mais barata pela Penguin Companhia). O mesmo vale para outra obra de Orwell, A Revolução dos Bichos / A Fazenda dos Animais.

Os autores:
George Orwell
nasceu em Motihari, norte da Índia, em 1903. Filho de funcionário da administração britânica do comércio de ópio, estudou em colégios tradicionais na Inglaterra. Na década de 1920, foi agente da polícia colonial na Birmânia. Nas décadas seguintes, publicou romances, ensaios e textos jornalísticos. É considerado um dos autores mais importantes do século XX. Morreu em Londres, em 1950.

Fido Nesti
nasceu em São Paulo em 1971. Trabalha com ilustração e quadrinhos há mais de trinta anos. Seus desenhos podem ser vistos no jornal Folha de S.Paulo e na revista The New Yorker, entre outras, assim como em capas e livros de várias editoras, incluindo a Companhia das Letras. Ilustrou Os Lusíadas em Quadrinhos (Peirópolis, 2006) e A Máquina de Goldberg (Quadrinhos na Cia., 2012).


As edições de 1984 e A Revolução dos Bichos pela Companhia das Letras: história em quadrinhos, clássica, especial e popular.


4 comentários

  1. Adaptação perfeita para quadrinhos. Me impressionou como Fido Nesti conseguiu sintetizar tão bem o romance de Orwell.

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    1. Uma das melhores HQs que li! Gostei de saber que é ótima adaptação (ainda mais recebendo a informação de você, uma opinião que confio), pois ainda não li o livro.

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  2. Oi
    eu tenho muita vontade de ler essa história, mas ela parece ser meio complexa de ler, então ler em HQ parece ser uma boa opção, esse é um livro antigo, mas que continua tão atual ainda mais por muitas situações que vivemos hoje.

    http://momentocrivelli.blogspot.com/

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    1. Pode ler ser receio de ser complexo! O tema pode até ser, mas a HQ é perfeita para quem tem esse pé atrás com o clássico.

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