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[Leitura do Dia] It: a Coisa, de Stephen King e Suma — Parte 2 (Junho de 1958)

Seguindo o cronograma da leitura coletiva da obra-prima de Stephen King, It: a Coisa, organizada pela Editora Suma, hoje é dia do segundo debate! Relacionado à segunda parte do livro (da página 163 até a 459), que possui tradução de Regiane Winarski, a Suma reserva uma publicação no Instagram e outra no Facebook para que todos comentem com spoilers. Desça ao final desta postagem para visualizar as publicações da editora. Ah, estão rolando sorteios!
Estou lendo e seguindo a agenda proposta. Qualquer pessoa se manifesta nas redes sociais utilizando a hashtag #SumaLendoIT para compartilhar sua experiência.

Também estou postando no blog observações, pensamentos e sensações que tive sobre a segunda parte desta leitura, além de alguns trechos do livro que me marcaram ou achei bem interessantes. Atenção: CONTÉM MUITOS SPOILERS!


(Para ler minha experiência com a primeira parte do livro, também postei sobre isso no dia do primeiro debate, veja aqui.)
Agora as personagens estão voltando para Derry e neste processo, cada uma tem flashbacks do verão de 1958, quando eram crianças na faixa de 10 anos de idade e encararam a Coisa que estava matando crianças e adolescentes da cidade. E mesmo na narrativa em terceira pessoa sobre as lembranças deles, existem mais flashbacks inseridos, compondo uma narrativa não-linear.
Cada um encontra a Coisa em situações diferentes, também as aparições são diferentes, mas têm algo em comum: a forma de um medo irracional, profundo e desesperador. Outra semelhança: todos escapam e talvez tenha sido este o motivo para Pennywise ter ainda mais raiva destas crianças.

"Parte 2  Junho de 1958
Capítulo 4: Ben Hanscom sofre uma queda
Capítulo 5: Bill Denbrough vence o diabo (I)
Capítulo 6: Um dos desaparecidos: uma história na rua Neibolt
Capítulo 7: A represa no Barrens
Capítulo 8: O quarto de Georgie e a casa na rua Neibolt
Capítulo 9: Arrumação
Derry: Segundo interlúdio"

Capítulo 4: Ben Hanscom sofre uma queda contém 12 partes. Através das memórias de Ben descobrimos que os desaparecimentos e assassinatos se tornaram frequentes e perigosos ao ponto da polícia e a cidade adotarem um toque de recolher.

"LEMBREM-SE DO TOQUE DE RECOLHER.
19H.
DEPARTAMENTO DE POLÍCIA DE DERRY."

Mas ao mesmo tempo eu pensava se isso era suficiente, porque parecia que as autoridades davam desculpas sobre os sumiços, como se fosse normal uma criança ou adolescente simplesmente desaparecer. Talvez fosse para evitar pânico em massa?

"Ele propôs o toque de recolher de 19h em uma sessão especial da Câmara Municipal na noite seguinte, que foi adotado de forma unânime e começou a valer no dia seguinte. Crianças pequenas deviam ser vigiadas por um "adulto qualificado" o tempo todo, de acordo com a história que falava sobre o toque de recolher no News."

Ben é um garoto que não tem amigos, muito solitário, embora seja bom menino, até mesmo bem solícito. Ele gosta de ficar muito tempo entre os livros da biblioteca, fora da vista de Henry Bowers, Arroto Huggins e Victor Criss, valentões maiores que gostam de bater em meninos mais fracos como Ben, constantemente ridicularizado devido ao seu sobrepeso.
Este trecho me comoveu, porque imaginava se tratar de algum trauma, possivelmente uma mistura de sua solidão com algum contato com a Coisa:

"Quando Ben acordou na manhã seguinte, tinha esquecido o sonho, mas o travesseiro estava úmido... como se ele tivesse chorado à noite."

Mas ainda se passam algumas páginas até King mostrar o encontro de Ben com a Coisa. Ele escapa, claro. Ele passa a conversar com Beverly Marsh, por quem se encanta e se apaixona; e continua sendo muito perseguido pelos bullies.

"Apenas veja. Calça rasgada. tornozelo esquerdo talvez quebrado, com uma torção forte, com certeza. Perna toda cortada, língua toda cortada, com a letra da porra de Henry Bowers na barriga."

Sério, eu senti muito por Ben sofrer nas mãos dos valentões! Durante o momento em que ele se esconde do trio para não apanhar mais, ele se recorda do encontro com a Coisa. Achei de arrepiar. King me fez sentir até mesmo frio durante esta passagem. Ao imaginar Ben sozinho no meio da neve e o Pennywise ali, atrás do menino... foi sinistro mesmo.

"O palhaço começou a andar pelo gelo na direção da ponte do canal, onde Ben estava. Ben o viu se aproximar sem se mover; viu da mesma forma que um pássaro vê uma cobra se aproximar. Os balões deveriam ter estourado no frio intenso, mas não estouraram; eles flutuaram acima e à frente do palhaço quando deviam estar voando para trás dele, tentando escapar de volta para o Barrens... de onde, uma parte da mente de Ben lhe garantia, essa criatura tinha saído.
Agora Ben reparou em outra coisa.
Apesar das últimas luzes do dia terem lançado um brilho rosado no gelo do canal, o palhaço não fazia sombra. Nenhuma."

Para Ben a Coisa é um palhaço apodrecido como uma múmia. Foi a aparição que considerei mais "realista", se fosse possível um monstro-palhaço-serial-killer existir. A descrição da pele, dos dentes, dos olhos... muito incrível. Tenho que destacar aqui:

"Não era maquiagem que o palhaço estava usando. Nem estava ele enrolado em um monte de ataduras. Havia ataduras, a maior parte ao redor do pescoço e pulsos, voando ao vento, mas ben conseguia ver o rosto do palhaço claramente. Tinha linhas profundas, a pele como um mapa de rugas em um pergaminho, bochechas rasgadas, carne desgastada. A pele da testa estava ferida, mas sem sangue. Lábios mortos sorriam sobre uma mandíbula nas quais dentes se inclinavam como lápides. As gengivas eram esburacadas e negras. Ben não conseguia ver os olhos, mas alguma coisa brilhava no interior dos buracos negros como carvão, alguma coisa como pedras preciosas frias nos olhos de escaravelhos egípcios."

Em Capítulo 5: Bill Denbrough vence o diabo (I), a história continua em mais 9 partes, mas  o ponto de vista muda de Ben para Bill. Ele é um líder natural, empático e com atitude, mesmo sendo um menino tímido. Por ser gago, também é alvo dos valentões, portanto, ele tenta não atrair a atenção deles, não que seja covarde; é corajoso, mas esperto, não quer ficar apanhando.


"Derry, ah, Derry! Vamos escrever uma ode a Derry? O fedor de suas fábricas e de seus rios? O silêncio majestoso de suas ruas cheias de árvores? A biblioteca? A Torre de águas? O parque Basey? A Escola Derry?O Barrens?"

Enquanto está no avião a caminho de Derry, Bill adulto se lembra do Barrens. E lá, onde Ben sofreu uma queda e encontrou Bill e Eddie, Bill reunia seus melhores amigos para as brincadeiras. Um local onde os valentões os deixavam em paz, onde eles, renegados socialmente, conversavam e se divertiam. Lá foi o ponto de encontro do verão de 1958.
Bill, logicamente, ainda sofre com a morte de George, seu irmão mais jovem, mas quando ele sobe na sua bicicleta nomeada Silver, ele momentaneamente ignora sua dor:


"George saindo na chuva usando a capa amarela, carregando o barquinho de jornal com o brilho de parafina; o sr. Gardener subindo a rua 20 minutos depois com o corpo dele enrolado em uma colcha manchada de sangue; o grito sofrido da mãe. Tudo para trás."

O toque de recolher, os desaparecimentos e assassinatos continuam assombrando  Derry e Bill, por perder George, pensa bastante a respeito e se questiona sobre a identidade do assassino.


"Algumas pessoas achavam que o assassinato de seu irmão não tinha relação nenhuma com os assassinatos de Betty, Ripsom, Cheryl Lamonica, Matthew Clements e Veronica Grogan. Outros alegavam que George, Ripsom e Lamonica foram morsos por um homem, e os outros dois eram produto de um "assassino imitador". Uma terceira linha de pensamento dizia que os garotos foram mortos por um homem, enquanto as garotas, por outro.
Bill acreditava que todos foram mortos pela mesma pessoa... se é que era uma pessoa."

Bill sente que não era um ser humano matando... era uma Coisa. O reforço da ideia é o encontro que, de certa forma, Bill tem com a Coisa. Ela está no álbum de fotografias de George, guardado no quarto intocado do menino.


"Todas essas fotos, tiradas por pessoas perdidas e por motivos perdidos, trancadas aqui no álbum de um garoto morto."

Achei este trecho acima particularmente doloroso. Após morrer, o que sobra de você? Objetos que possuem grande significado podem não significar mais nada sem a pessoa proprietária estar viva.

"Ele olhou fixamente para a foto por algum tempo e estava prestes a fechar o álbum quando o que acontecera em dezembro aconteceu de novo. Os olhos de George se moveram na foto. Eles se ergueram para olhar nos de Bill. O sorriso artificial de George se transformou em um esgar horrível. Seu olho direito fechou em uma piscadela: Te vejo em breve, Bill. no meu armário. Talvez esta noite."

Isso acontece mais de uma vez, portanto não tem como ser alucinação, tem?
Imagina o que Bill deve ter sentido, além do medo. Ele é apenas uma criança, enfrentando o luto pelo irmão ainda mais jovem, que não deveria ter morrido cedo, muito menos ter sido assassinado brutalmente, descobrindo uma coisa sobrenatural envolvida na morte. E que são várias mortes. Ele está em risco e nenhum adulto vai acreditar ou entender.


Capítulo 6: Um dos desaparecidos: uma história na rua Neibolt possui 6 partes e é dividido entre um menino que morreu e um menino que sobreviveu ao encontro com a Coisa.

Primeiramente, são atualizações sobre os desaparecimentos em Derry através de comunicados oficiais à imprensa, notícias publicadas e depoimentos policiais e judiciais. Em seguida, a narrativa mostra como o desaparecimento de Eddie Corcoran não é apenas um "sumiço". Se a população tem dúvidas, quem lê não tem mais. Ele estava mesmo morto. Primeiro o irmão mais novo morreu assassinado, e depois algo aconteceu com Eddie. Neste momento uma triste história sobre violência doméstica sofrida por dois meninos. Achei muito triste mesmo, alguns trechos foram pesados:

"As notas de Eddie não eram as melhores porque ele faltou muitas aulas desde que a mãe casou, mas ele não era um garoto burro. Ele achava que sabia o que tinha acontecido ao martelo sem retrocesso Scotti. Achava que talvez o padrasto o tivesse usado em Dorsey e enterrado no jardim, ou talvez jogado no canal. Era o tipo de coisa que acontecia com frequência nos quadrinhos de terror que Eddie lia, os que ele guardava na prateleira do alto do armário."

King aqui consegue uma proeza: ele já avisa de antemão que além de Dorsey, Eddie também foi morto, mas ainda assim me comoveu. Mesmo sabendo que ele estava morto, sofri com o acontecimento.
Pensei nas diferenças e semelhanças das situações de Bill e Eddie Corcoran. Ambos perderam o irmão mais jovem violentamente. Mas Bill perdeu para o Pennywise, enquanto Eddie perdeu para o próprio padrasto. (será que a presença da Coisa potencializa ou influencia comportamentos? Ou será que a violência cria ou fortalece a Coisa?) Bill e Eddie se encontram então com Pennywise; e este aparece para ambos, de certo modo, na forma do respectivo irmão. A diferença é que Eddie Corcoran morre e Bill sobrevive.

Para Eddie Corcoran, Pennywise aparece como o irmão Dorsey para em seguida se transformar em monstro. Outra descrição fabulosa de King!

"Não era Dorsey que estava atrás dele agora; era o Monstro da Lagoa Negra. O focinho da coisa era longo e pregueado. Fluido verde escorria de rasgos negros como bocais verticais em suas bochechas. Seus olhos eram brancos e gelatinosos. Os dedos unidos por membranas tinham garras como lâminas nas pontas. A respiração era borbulhante e profunda, o som de um mergulhador com regulador ruim. Quando ele viu Eddie olhando, seus lábios verde-enegrecidos se repuxaram sobre dentes enormes em um sorriso morto e vazio."

Seguidamente, o ponto de vista é de Michael Hanlon, o que sobreviveu. Ele é um garoto que gosta de explorar a cidade entre o trabalho que tem ajudando os pais na fazenda da família. A cada exploração sugerida pelo pai, Mike coleta uma lembrança do local.

"Na extremidade, ele desceu e começou a examinar coisas: mais tijolos, moldes retorcidos, pedaços de madeira, partes de máquinas enferrujadas. Traga uma lembrança, dizia o bilhete do pai. ele queria uma boa."

E o que deveria ser apenas uma aventura, se torna um encontro com a Coisa. Porque Mike está no local onde já aconteceu uma desgraça enorme. Ele vai até a estrada Pasture ver as construções destruídas e abandonadas, mas acaba entrando onde o pai avisou para não entrar: nos restos da Siderúrgica Kitchener. É só retornar ao Primeiro Interlúdio do livro para se lembrar que ali não é um bom local para se estar.
Para Mike, a Coisa aparece como um pássaro monstro.

"Não foi só o choque de ver um pássaro monstro, um pássaro cujo peito era laranja como o de um tordo americano e cujas penas eram comuns, cinza e fofas como as de um pardal; mais do que tudo, foi o choque do puramente inesperado. ele esperava monólitos de maquinário meio suspensos em poças paradas e lama preta; em vez disso, estava olhando para um ninho gigante que enchia o porão de uma ponta a outra e de um lado a outro."

Ao sobreviver ao encontro com aquela Coisa, Mike, ao ler a notícia de desaparecimento de Eddie Corcoran, ele sabe que na verdade que o menino está morto.

Capítulo 7: A represa no Barrens ocorre novamente troca de ponto de vista. Desta vez é o de Eddie Kaspbrak, em 8 atos. No caminho até Derry, Eddie tenta se lembrar de detalhes, inutilmente.

"Estou com medo, pensa Eddie. No fundo, sempre foi isso. O simples medo. Isso era tudo. Mas no final acho que contornamos isso de alguma forma. Nós o usamos. Mas como?"

Esta parece ser a grande questão: a Coisa ataca as crianças através de seus medos, tanto que surge para cada uma com uma aparência e situação peculiar, exclusiva. Logo no comecinho deste capítulo, Eddie traz uma pista para vencer Pennywise.

Mas retornando ao verão de 1958, pelas lembranças de Eddie; ele, Bill, Ben, Richie (o menino que não controla o que diz, apanhando dos bullies por isso. Ele faz uma dezena de Vozes diferentes, ou seja, imitações e criações próprias) e Stan (um menino pequeno que vive doente, portanto está um ano letivo atrás por perder aulas. Ele é mais um saco de pancadas dos valentões. E é judeu, portanto sofre também preconceito.) brincam no Barrens construindo uma represa com o lixo encontrado na região. Mesmo se divertindo, Eddie está preocupado com Bill, pelos mesmos motivos que eu fiquei. O menino perdeu o irmãozinho. Mas Eddie ainda não sabe sobre o álbum de fotografias assombrado.
Até que Bill conta aos amigos o ocorrido.

"Eddie viu uma expressão idêntica nos rostos de Ben, Richie e Stan. Era medo solene e assombrado. Não tinha nuance nenhuma de descrença.
...
porque aquele expressão de medo solene também estava em seu próprio rosto. ele não conseguia ver, mas conseguia sentir.
...
E agora Eddie via mais uma coisa. Não no rosto de Richie, pelo menos ele achava que não, mas no rosto de Stan e no de Ben com certeza. ele sabia o que era essa coisa; sabia porque aquela expressão também estava em seu rosto."

Como já sabia que Ben e Bill (e Mike que não pertence ao grupo) encontraram a Coisa, pensei se pelo menos Eddie e Stan também tinham. Mas talvez não Richie. Me perguntava o que eles viram ou presenciaram. Ou melhor, o que de estranho, perigoso ou sobrenatural eles presenciaram.
Logo King mostra que Eddie passou por um sufoco na casa abandonada e velha na rua Neibolt:

"Mas à esquerda da varanda havia um enorme pedaço vazio no gramado, e dava para ver as janelas sujas do porão na base de tijolo da casa. Foi em uma dessas janelas que Eddie Kaspbrak viu pela primeira vez o rosto do leproso, seis semanas antes."

Outra vez King já entrega o que aconteceu e, ainda assim, quando conta detalhadamente, me impressionei muito. Eddie andava pela linha 4 do trem observando tudo ao longo do trilho, o mato, as gaivotas, e às vezes encontrava coisas interessantes. Mas um dia encontrou um mendigo que o assustou muito. E então, pronto! A Coisa aparece para ele turbinando esta imagem traumatizadora. 

"Não era o mendigo com o nariz carcomido, mas havia semelhanças. Semelhanças terríveis. Por outro lado... essa coisa não podia ser humana. Nada podia ser tão carcomido e continuar vivo."

Foi uma aparição bem trash! Até que Eddie repara que o leproso-zumbi-tarado veste uma roupa de palhaço. E uma língua nojenta de mais de 90 centímetros de cumprimento, que deixa um rastro de morte no cenário por onde se arrasta. Fiquei muito assustada mesmo. Mais pela atitude da coisa que pela aparência em si, embora seja supernojenta. Eddie mesmo asmático e sem ar dá um jeito de fugir. Um desespero.

Continuando a conversa dos cinco no Barrens, após a confissão de Bill, Ben e Eddie também contam sobre a aparição do palhaço-múmia e do palhaço-leproso. Richie e Stan dizem que não passaram por isso. Richie nega mesmo, porém Stan está prestes a contar que para ele não foi um palhaço, foi outra coisa, mas todos são interrompidos pelo sr. Nell.


Com a interrupção, o ponto de vista muda para Richie no Capítulo 8: O quarto de Georgie e a casa na rua Neibolt, em 14 segmentos. Richie também volta ao passado e sua primeira lembrança após o Barrens é dele e Bill conversando sobre as mortes das crianças e as aparições desta Coisa, tanto no álbum de fotografias de George como em Derry, especialmente na rua Neibolt. Durante a conversa, me comovi com os sentimentos de Bill e o "vazio no sofá", onde ele se senta entre os pais e percebe o vazio que agora é a vida em família após a morte de George. Os dois meninos decidem olhar o álbum de fotos juntos e, claro, a Coisa está lá! Mas a experiência muda. Achei muito perturbadora.

"— Mas é m-mesmo um p-p-palhaço?
— É um monstro — disse richie com voz séria. — Algum tipo de monstro. Algum tipo de monstro bem aqui em Derry. E está matando crianças."

Richie e Ben vão ao cinema assistir filmes de terror, mas Richie encontra Bev no caminho e a convida também. Os dois parecem estar apaixonados por Bev. O trio assiste a filmes e em um o destaque é um lobisomem adolescente. Nem tudo é diversão, pois encontram outro trio: o dos valentões e eles se enfrentam. É um momento legal para desenvolvimento de Richie, Ben e Bev.

Depois de investigarem o quarto de George, Bill convida Richie para olharem a casa 29 da rua Neibolt e assim verificarem o que Eddie pode ter visto debaixo da caranda. Eles acabam se encontrando novamente com a Coisa, mas desta vez é um encontro mais íntimo para Richie. Os meninos levam até mesmo uma arma e eu morri de medo por toda a situação em que eles se meteram. Percebi que Bill está cada vez mais corajoso (e zangado) em relação ao Pennywise. Ele surge desta vez como uma versão monstruosa do lobisomem adolescente do filme que Richie viu.

Não consegui achar a aparência do palhaço-lobisomem tão assustadora quanto as anteriores, mas confesso que a achei a mais perigosa até aqui. Não sei se Pennywise está ficando (assim como Bill) cada vez mais raivoso com estes meninos que ele não consegue pegar, mas ele parecia definitivamente louco para matar Richie e Bill. Eu só sabia que eles escapariam porque é um fato, mas durante a perseguição parecia impossível. Eles quase morreram, mas eu adorei esta cena com bastante ação!

"Mas ele também começou a chorar, e os dois apenas se abraçaram de joelhos na rua ao lado da bicicleta caída, e as lágrimas fizeram marcas claras nas bochechas deles, cobertas de poeira de carvão."

A amizade entre as crianças se fortalece cada vez mais e eu acho isso emocionante.

No Capítulo 9: Arrumação é a vez do ponto de vista de Beverly. Depois de, no presente, dar um pontapé no marido violento e abusivo, ela também se dirige a Derry. Ela logo tem o flashback com o encontro com a Coisa no banheiro de sua antiga e pobre casa. Ela morava com os pais e, embora não seja um encontro de verdade, ela escuta vozes pelo ralo da pia do banheiro, que culminam em bolhas de sangue saindo dele e explodindo no banheiro todo. Porém parece mais que Pennywise quer mais enviar um recado para Bill que verdadeiramente traumatizar Bev:

"Você vai flutuar aqui com seus amigos, Beverly, todos flutuamos aqui, diz pro Bill que Georgie diz olá, diz pro Bill que Georgie tem saudade dele, mas vai ver ele logo, diz que Georgie vai estar no armário uma noite dessas com uma corda de piano pra enfiar nos olhos dele, diz pra ele..."

O pai de Bev estava em casa e a escuta gritar, porque lógico que ela se assustou muito. Mas só ela está ouvindo e vendo aquilo, o pai não. Como ele é violento e bate muito nela, pois já a vimos marcada anteriormente, logo ela finge que tinha visto uma aranha e o pai não lhe dá mais uma surra, pois acha normal meninas se assustarem com aranhas em banheiros. Imagina se ela conta que escutou vozes malignas imitando crianças mortas e que há sangue invisível por todo o banheiro.

Este ponto de vista era um dos mais aguardados por mim, pois além de Bev ser a única menina do grupo, apenas a vimos sob a visão dos meninos. Estava querendo muito descobrir quem ela é por ela mesma. Pensei se a aparição da Coisa para ela no banheiro tem a ver com a ansiedade dela em se tornar moça (sangue no banheiro, um simbolismo à menstruação), pois ela sempre se observa no espelho e torce para o busto ter crescido um pouco mais. Acho que ela deseja crescer para se tornar independente do pai violento. Paralelamente ela parece sofrer com isso, pois acha que a mãe precisa dela. Entre tudo isso, Bev é condicionada a ser passiva, submissa e obediente ao pai, e acho que foi por isso que ela se casou com um homem muito parecido, violento e dominador. A Bev adulta acha que tudo é culpa dela e este vislumbre dela criança já mostra os motivos para isso. Portanto, ela se sentia muito bem com os meninos no Barrens porque lá ela se sentia livre para brincar como quisesse, do jeito que quisesse, sem ter precisado interpretar a personagem que o pai exigia.
Neste momento, confesso que tive muito, muito mais medo do pai de Bev que da Coisa!

Bev sente que pode confiar nos meninos; mais que isso: ela sente que todos fazem parte de algo maior. Ela conta a Eddie, Ben e Stan sobre o banheiro, que ela vê o sangue, mas os pais não. Eles vão até lá e também o enxergam. Os meninos fazem um mutirão e limpam o banheiro. Enquanto lavam o sangue invisível dos panos de chão antes que os pais de Bev cheguem, conversam na lavanderia. Eles contam então para Bev sobre os acontecimentos bizarros e sinistros. Cada vez mais admiro a amizade do Clube dos Otários!

"Porque sentia que nenhuma dessas histórias eram inventadas, monstros inventados: a múmia de Ben, o leproso de Eddie... qualquer um dos dois ou os dois poderiam aparecer quando o sol se pusesse. Ou o irmão de Bill Denbrough, com um braço só e implacável, passeando pelos canos pretos debaixo da cidade com moedas de prata no lugar dos olhos."

Até que Stan conta o que aconteceu de assustador com ele, na Torre de Água de Derry, local onde dizem que algumas crianças, incluindo um bebê, caíram e se afogaram. Fiquei nervosa imaginando uma coisa assim, antes mesmo de Stan contar a história dele. Só em saber que o local envolve água e mortes por afogamento, fiquei nervosa por antecipação. Então me lembrei que 27 anos depois Stan cortou os braços na banheira de casa só em pensar em retornar à Derry. Gelei.

Stan gostava de sair com binóculos, o livro sobre pássaros e procurar por eles para observá-los. Ele tinha ido ao Parque Memorial, onde está a torre. Aqui King também cria uma ambientação e cenário inquietantes. Stan andava pelo parque de capa em um chuvisco incessante quase invisível, quase neblina, quando escuta um barulho estrondoso. Era a porta da torre.
Sinceramente, todo este trecho me deixou meio que em pânico. O cenário obscuro e claustrofóbico, a água perigosa, as descrições dos odores, a música de realejo tocando ao fundo... as sombras, a aparição da Coisa, como um morto estragado pela ação da água e do tempo... não é à toa que esta aparição ficou por último. É de longe, para mim, a mais assustadora e cruel. Destaco apenas este trechinho, porque minha vontade é de eternizar toda a cena de tanto que mexeu comigo, especialmente os passos molhados, a música alegre se tornando fúnebre e a porta fechada!

"— Quem está aqui? — gritou ele com a voz alta e trêmula.
A resposta foi uma voz baixa e borbulhante que parecia engasgada em lama e água velha.
— Os mortos, Stanley. Somos os mortos. Afundamos, mas agora flutuamos... e você também vai flutuar."

A "brincadeira" de Pennywise sobre flutuar, se já era sinistra, ganhou um significado mais pesado para mim depois desta cena. Chuva, enchente, alagamentos, o canal, o Barrens pantanoso, a Torre de Água... todo este cenário parece ter ligação com a forma da Coisa agir e matar.

Stan não resistiu reencontrar a Coisa. O pobrezinho nem queria enfrentá-la pela primeira vez, porque logo após a conversa na lavanderia e a confissão, ele queria apenas esquecer da existência dela. A Coisa não era apenas medo, o medo normal, o medo que toda pessoa sente. Não, a Coisa era algo que não deveria existir, que poderia enlouquecer pessoas. Algo acima da lógica e da realidade. E se não segue nenhuma regra da Física, se não é real, a Coisa pode TUDO.

Derry: Segundo interlúdio
Mais história de Derry e informações sobre os desaparecimentos e mortes na localidade, em épocas variadas, no diário de Mike, escrito em 1985. Ele também cita novos desaparecimentos, de mais duas crianças, uma menina e um menino. Mas o destaque ocorreu um 1930: um incêndio criminoso, o incêndio de Black Spot, onde morreram muitos negros e brancos que socializavam com eles. Foi um crime racial de ódio horrível e embora o pai de Mike insista em dizer ao filho que em parte, a culpa é do solo de Derry, tipo uma maldição, não fui particularmente convencida, porque crimes raciais ocorrem até hoje em muitos lugares. A questão é que onde ficava o alojamento Black Spot atualmente (1985) é o Parque Memorial e o que o pai de Mike viu: um pássaro enorme voando no momento do incêndio. O mesmo que Mike viu em 1958. A Coisa.
O final é simples mas assustador. O balão!
Este Segundo Interlúdio é um trecho importantíssimo!


Debate - Parte 2, no Facebook + sorteio de um par de ingressos para assistir It: Capítulo 2 nos cinemas:



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🎈 DEBATE PARTE 2 + SORTEIO #SumaLendoIT ⚠ Atenção: esse post contém SPOILERS. Quem aí continua firme e forte na nossa leitura coletiva de IT: A COISA? 📖 Na segunda parte do livro finalmente vemos o Clube dos Otários se formando. 💖 Como está sendo sua experiência de leitura até agora? Algumas perguntas pra guiar a conversa: 🎈 Qual foi a cena que mais te deu aflição nessa segunda parte? 🎈 Você já tem um personagem favorito? Qual? 🎈 O que você veria se encontrasse a Coisa? 👀 . . ⚠ Atenção: se você está relendo o livro, cuidado pra não dar spoiler das Partes 3 a 5 pros amiguinhos que estão lendo pela primeira vez! 😉 . . 🎈 SORTEIO: todo mundo que comentar nesse post estará concorrendo a um par de ingressos pra ver IT: Capítulo 2 nos cinemas! 🎥 O resultado sai no dia 22/08 nos stories. . . . #ITACoisa #IT #Pennywise #Itmovie #StephenKing #leituracoletiva #amoler #livroseleitura #instalivros #livrosdeterror #terror #itcapitulo2 #sorteio #bookstagram
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A leitura coletiva de It continua! E ainda dá para você ler a obra antes de ir ao cinema conferir o desfecho dela na telona! Compre seu exemplar físico ou ebook.

  • De 07 a 11 de agosto: Parte 1, até a página nº 162
  • De 12 a 19 de agosto: Parte 2, até a página nº 459
  • De 20 a 24 de agosto: Parte 3, até a página nº 635
  • De 25 a 30 de agosto: Parte 4, até a página nº 868
  • De 31 de agosto a 07 de setembro: Parte 5, até a página nº 1102.
Esta postagem ficou longa, meio que quase um resumo do livro It: a Coisa, mas é que amei esta parte!

Um comentário

  1. Oi Tati, amiga, este livro não é para mim, em todos os sentidos, mas fico feliz por vc estar animada e por ter tanto a contar, mesmo com spoiler hehe

    Beijinho Mila

    Daily of Books Mila

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