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[Resenha] Graça & Fúria, livro 2: Glória & Ruína, de Tracy Banghart e Editora Seguinte

Glória & Ruína (Queen of Ruin)
Graça & Fúria (The Iron Flowers) - livro 2
Tracy Banghart - Editora Seguinte (Grupo Companhia das Letras)
Tradução: Isadora Prospero
308 páginas - R$ 49,90 (impresso) ou R$ 34,90 (ebook)
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Sinopse:
"As irmãs Serina e Nomi Tessaro nunca imaginaram que acabariam em lugares tão distintos: Serina em uma ilha-prisão, Monte Ruína; Nomi no palácio de Bellaqua, como uma graça, à disposição do príncipe herdeiro do reino. Depois de sofrer uma grande traição, Nomi também é mandada para a ilha e, ao chegar lá, para sua surpresa, encontra Serina à frente de uma rebelião das prisioneiras contra os guardas.
Agora as irmãs têm um objetivo em comum: mudar o funcionamento de toda a sociedade. Além disso, elas sabem que Renzo, gêmeo de Nomi, está em perigo. Relutantes, elas se separam mais uma vez, e Nomi retorna à capital, enquanto Serina permanece em Monte Ruína para garantir que todas as mulheres encontrem um lugar seguro para viver. Só que nada sai como o planejado – e as duas vão ter de enfrentar os seus maiores medos para mudar o país de uma vez por todas."

Resenha:

Glória & Ruína (Queen of Ruin), lançado em 2019 pela Editora Seguinte, selo jovem do Grupo Companhia das Letras, é a sequência e desfecho da trama iniciada em Graça & Fúria (Grace and Fury), publicação de 2018, duologia escrita pela estadunidense Tracy Banghart. Gostei tanto do primeiro que logo peguei o segundo para ler, enviado para resenha como cortesia da editora. Também resenhei o primeiro livro, caso queira conferir, clique aqui.
Embora o desfecho esteja abaixo da qualidade do início e desenvolvimento, com soluções previsíveis e rápidas para os conflitos, Glória & Ruína é excelente e satisfatório. Até porque, se fosse uma saga extensa ou mais complexa, acabaria se tornando uma fantasia adulta e, sinceramente, o fato da autora ter escolhido o público jovem adulto para lançar esta história é o mais importante. Poder recomendar este livro para adolescentes e jovens adultos com a certeza de que será instigante e compreensível, é um verdadeiro tesouro. Porque assuntos relacionados à representatividade feminina e feminismo são urgentes, e esta duologia é incrível e essencial. A linguagem acessível e entretenimento garantido fazem destes livros uma ferramenta valiosa. Portanto, é totalmente justificável o desfecho ser simples, e também dinâmico e empolgante.

"Ela nunca tinha tomado tantas decisões quanto na semana anterior. Tinha sido criada para acreditar que as escolhas eram feitas por homens e que seu trabalho era ser bonita e manter a boca fechada."


Se antes o cenário cruel aonde Serina é levada simboliza em como a sociedade machista muitas vezes joga mulheres umas contra as outras em disputas desnecessárias e dolorosas, agora a trama mostra como quase sempre para uma revolução acontecer é preciso o uso de algum tipo de embate ou violência. Para que mudanças sociais profundas realmente cheguem ao povo são essenciais atitudes diretas e ousadas e é isso que as protagonistas Serina e Nomi e seus aliados precisam fazer: uma revolução em Viridia. É drástico e violento, mas tudo numa dosagem correta para a faixa etária do público-alvo.
Antes de tudo, as mulheres precisam superar rixas e diferenças de ideias para poder iniciar as lutas contra a opressão. Através da união, respeitando suas diferenças, elas se tornam mais fortes e mais corajosas. O apoio mútuo é fundamental, assim como enxergar as qualidades umas das outras, sem nenhuma competição, para maiores chances. O próximo passo é a busca pela liberdade. Todas foram presas, quase todas por motivos machistas, injustos e opressores, porque em Viridia, desobedecer ou discordar dos homens é motivo para punição das mulheres.
É necessário frisar que o enredo apresenta uma sociedade misógina, mas sem jamais focar na violência ou tortura contra a mulher. É uma trama que valoriza a mulher e o poder feminino.
"A prisão não é só para assassinas e conspiradoras, entende? É para qualquer mulher que desafia o funcionamento de Viridia, em qualquer instância. É para as desobedientes."


No livro anterior, sem spoilers, Serina foi treinada a vida toda para competir para ser escolhida como uma das Graças do príncipe herdeiro, uma espécie de concubina. Nomi, sua irmã mais jovem, sempre foi rebelde e questionadora. Ao ser designada para acompanhar Serina no palácio real como sua aia, Nomi é quem acaba sendo selecionada para ser uma Graça. As irmãs enfrentam um grave problema e Serina é punida, levada para uma prisão, enquanto Nomi vive como refém no palácio. Elas são obrigadas a se adaptar para sobreviver, e é um caminho muito difícil.
Agora, após muitos acontecimentos, os dois filhos do rei se tornaram inimigos. Nomi cometeu um erro de consequências radicais e nocivas para ela, sua irmã, sua família e até mesmo para o reino de Viridia. Paralelamente, Serina reuniu as mulheres na prisão para uma rebelião e fuga. Mas, claro, muitos obstáculos aparecem para ambas. Entretanto, o objetivo não é apenas salvar o próprio pescoço: é mudar a sociedade de Viridia, revolucionar o reino e garantir às mulheres os direitos básicos que todos devem ter, e mais importante: a liberdade de escolha para toda menina e mulher ser quem quiser, estudar e/ou trabalhar com o que preferir, se relacionar com quem desejar e ser independente e respeitada.
O destaque continua sendo o desenvolvimento de Serina. Ela mudou e se tornou uma lutadora, literalmente. Além de todo o seu fortalecimento físico e psicológico, ela se tornou uma líder inspiradora, sensata, justa e ativa, do tipo que toma a frente e ali permanece, mesmo quando a situação é perigosa. Ganhou a simpatia e o respeito de todas as mulheres. Estas ainda formam um núcleo extraordinário, de personagens carismáticas e histórias atraentes e interessantes. Conforme comentei na resenha do livro anterior, eu adoraria contos sobre algumas delas, com suas histórias sobre como foram parar na prisão.

"Nomi a encarou como se fosse uma desconhecida. Sua irmã tinha perdido todos os traços de suavidade e submissão. Não tinha nada de graça. [...] Serina havia se tornado um guerreira."


Mas desta vez, Nomi ganha seus momentos de evidência e se nivela à irmã como protagonista interessante, finalmente se livrando da prisão que é ser ser uma Graça. Em busca de redenção e justiça, ela usa o lado racional, controlando as emoções que anteriormente a enganaram, e finalmente mostra como é valente e tenaz.
Ainda sobre os destaques, todavia sem dar spoilers de nenhum dos dois livros, existem momentos com uma "inversão de papéis de gênero", ou seja, funções geralmente designadas aos heróis na ficção aqui são desempenhadas pelas heroínas, e vice-versa. Malachi, o príncipe mais velho, Asa, o mais novo, Renzo, o gêmeo de Nomi, e Val, o guarda, são coadjuvantes em meio às personagens femininas. Não apenas isso, mas atitudes geralmente reservadas aos heróis, como, por exemplo, tentar assassinar o vilão, e atividades quase sempre voltadas às mocinhas, como ser a ajudante e/ou interesse romântico do protagonista, sobram para os homens.
Outro item importante é como os homens que as apoiam precisam, antes de tudo, enxergar e aceitar seus privilégios, para então lutar com sinceridade ao lado das mulheres. E estas não os isentam da culpa.

"Você sabia que eu morreria aqui, de um jeito ou de outro. E por quê? Por ler? Algumas mulheres daqui não fizeram nada além de desagradar aos pais. 
E você sabia. [...] você ainda é parte do problema."


O livro continua narrado em terceira pessoa alternando os pontos de vista entre Nomi e Serina. Conforme o enredo avança ao clímax, os capítulos se tornam mais curtos e em ritmo mais alucinante, gostei muito! Dentre os dois, prefiro o primeiro, até porque ele foi uma agradável surpresa, enquanto este é a continuação. Esta duologia honestamente se tornou uma das minhas fantasias Young Adult preferidas e uma das que mais vou recomendar! Espero que a autora tenha outras boas ideias para publicar, certamente leria outra obra dela.
A edição brasileira mantém o mesmo nível do volume anterior. Também mantiveram a mesma tradutora, Isadora Prospero, para preservar a personalidade do texto continuar. A capa dupla, de Claudia Espínola de Carvalho com ilustração de Carolina Pontes, do mesmo modo que no volume anterior, é fantástica! As letras em dourado também são lindas. No início do livro, finalmente há um mapa. A equipe da Editora Seguinte está de parabéns pelo visual, além da qualidade de todo o resto, claro. O exemplar físico possui orelhas, miolo amarelado, marcador de páginas destacável e excelentes revisão, preparação e diagramação.
Livro incrível para quem curte fantasia em livros Young Adults e protagonistas inspiradoras, obstinadas e valentes. A lição principal é sobre buscar seus direitos, mesmo que olhares feios caiam sobre você. Recomendo a leitura mais ainda para garotas adolescentes e jovens mulheres, com exemplos de como meninas e mulheres devem se unir e se apoiar. E, muitas vezes, lutar!

"— Por que estão fazendo isso? — perguntou, estranhamente perturbado. — Mulheres não lutam. [...]
Nós lutamos."
A autora:
Tracy Banghart cresceu na zona rural de Maryland, nos Estados Unidos. É formada em inglês pelo Davidson College, na Carolina do Norte, e pós-graduada em editoração pela Universidade Oxford Brookes, na Inglaterra.
Atualmente, Tracy se dedica totalmente à escrita e viaja o mundo com o marido, o filho e seus animais de estimação.
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Dicas de leitura:
Você também pode se interessar por estes outros livros cheios de fantasia e Girl Power:
Se já curte algum deles, com certeza vai adorar Graça & Fúria / Glória & Ruína!



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