publicidade

Jogos Vorazes, de Suzanne Collins, Editora Rocco

Jogos Vorazes (The Hunger Games)
Jogos Vorazes - volume 1
Suzanne Collins - Editora Rocco
400 páginas - Ano: 2010 - R$39,50
Tradução: Alexandre D'Elia

Sinopse:
"Após o fim da América do Norte, uma nova nação chamada Panem surge. Formada por doze distritos, é comandada com mão de ferro pela Capital. Uma das formas com que demonstram seu poder sobre o resto do carente país é com Jogos Vorazes, uma competição anual transmitida ao vivo pela televisão, em que um garoto e uma garota de doze a dezoito anos de cada distrito são selecionados e obrigados a lutar até a morte!
Para evitar que sua irmã seja a mais nova vítima do programa, Katniss se oferece para participar em seu lugar. Vinda do empobrecido distrito 12, ela sabe como sobreviver em um ambiente hostil. Peeta, um garoto que ajudou sua família no passado, também foi selecionado. Caso vença, terá fama e fortuna. Se perder, morre. Mas para ganhar a competição, será preciso muito mais do que habilidade. Até onde Katniss estará disposta a ir para ser vitoriosa nos Jogos Vorazes?"

Links: Rocco | Skoob | degustação
Resenha:
Desde que vi esse livro noticiado pela blogosfera afora, meu interesse em lê-lo foi imediato. Muito antes dessa moda de romances juvenis distópicos e pós-apocalípticos, o tema já era apreciado por mim. O sucesso de Jogos Vorazes foi aumentando e eu nunca conseguia adquirir o livro. Até que sua versão cinematográfica entrou em cartaz e resisti a tentação em assistir ao filme. Sempre gosto de ler o livro em primeiro lugar. Pensei que acrescentando ao valor do ingresso mais uma pouco de grana, compraria o livro. Para minha surpresa, dia 31 de março, o ganhei de presente de aniversário de meu marido.
Mesmo tendo decorado a sinopse e assistido ao trailer do filme, me segurei para não ler resenha alguma na internet, sempre evitei estar fora do assunto, para ter as maiores surpresas possíveis durante a leitura. Não queria spoiler algum, nada além da sinopse e do trailer do cinema.

A capa com aquele símbolo do Distrito 12, que por um momento pensei ser simplória demais, se demonstra ser perfeita, na medida do livro, depois que seu simbolismo é mostrado, depois que descobrimos haver muito mais por detrás daquele pássaro segurando uma flecha com o bico. A capa parece uma bandeira e o fundo negro é sombrio.

Em primeiro lugar, o maior acerto da autora certamente é a premissa. Um futuro não muito distante, um governo totalitário, uma sociedade estilhaçada em diferentes mazelas, um falso ar de ordem e gigantescas desigualdades sociais. Um governo que para lembrar a todos que o sistema deve continuar violento, controlador e imutável, apresenta anualmente um reality show intitulado Jogos Vorazes.
Só de imaginar adolescentes obrigados a estarem num programa de televisão onde apenas um deve sobreviver, já é revoltante e inimaginável, certo? Como a sociedade pode se divertir e assistir a jovens se matando e lutando pela sobrevivência num cenário selvagem e precário? Matando uns aos outros? Morrendo de frio, fome, desidratação ou mortos por animais selvagens? Não há como uma pessoa não se interessar por esse tipo de história. Isso mexe e aterroriza o ser humano: a crueldade gratuita fantasiada de luta pela sobrevivência.

Ponto para a Suzanne, que usa a guerra e o confronto, algumas das piores coisas já criadas pelo homem, que existe desde sempre, que já dizimou e traumatizou povos e civilizações e que provavelmente sempre existirá; uniu a uma grande moda ocidental: os programas de vida real. Existem programas desse tipo em todos os formatos: pessoas enclausuradas numa casa, concurso de modelo, de astro da música, de cozinheiro, adestrador de cães, luta, tiro ao alvo, venda e compra de antiguidades... por que não um reality show de guerra? Gladiadores?
A Declaração dos Direitos Humanos jamais permitiria esse tipo de programa... isso é coisa mesmo de ficção, uma história inquietante e criativa da Suzanne... não é!

Já pararam para imaginar quantos "Jogos Vorazes" existem a todo o momento em diversos locais? Crianças pegam em armas, matam, torturam e traficam em várias partes do mundo, muitas até mesmo mais jovens que a idade mínima necessária para entrarem nos Jogos Vorazes, casos eles fossem reais. Crianças com menos de doze anos de idade já fizeram coisas mais violentas que o imaginário do cidadão comum conseguiria acreditar.
Foi exatamente nisso que pensei durante a leitura. Não precisamos estar num futuro distópico para ver chacina e sangue derramado de crianças, por crianças. Basta acompanhar o cotidiano de uma favela violenta do Rio de Janeiro, por exemplo, para descobrir que um menino de doze anos já assassinou e já participou de torturas e coisas piores dentro do tráfico de drogas e do mundo do crime; basta descobrir como é a vida de jovens (jovens mesmo) guerrilheiros, crianças que nascem, vivem e morrem em guerras civis em meio a retalhados territórios africanos e em escolas formadoras de terroristas; às vezes mal tem o que comer, mas já sabem utilizar diversas armas. Jogos Vorazes da vida real.

Suzanne criou seus cenários, as regras de seus jogos, suas personagens, história e através de um enredo ameaçador, chocante e violento, ela faz grandes críticas a realidade atual. Sem contar a grande e distorcida sociedade em que vivemos, onde as desigualdades sociais são tão gritantes e embora disfarçadas pelos governos continuam a ter uma margem cada vez maior. Muitos morrem de fome, enquanto outros esbanjam ótima vida luxuosa. Os mirrados e mortos de fome Tributos dos Distritos mais pobres em contraste com os Tributos Carreiristas dos Distritos ricos, fortes e bem treinados.

Minha opinião é essa: a autora pegou a trágica participação de crianças nas guerrilhas, colocou uma pitada de Jogos Mortais (sim, a franquia de filmes, mas aqui quem escolhe as armadilhas e vicia os acontecimentos são os Idealizadores dos Jogos) e televisionou tudo, como se fosse a coisa mais natural do mundo acompanhar o desespero, as mortes e o sofrimento dos jovens.
Assim como na Roma Antiga e em outras civilizações assistir a escravos e gladiadores se matando violentamente nas arenas era um dos entretenimentos mais comuns da época e talvez uns dos primeiros formatos de reality show a ser criado pelo homem.
Os Jogos Vorazes juntam a fome por carnificina ao voyeurismo moderno.
E critica a forma como parece que estamos sempre vigiados. O "sorria, você está sendo filmado" que nos protege, passando pelo perigo da falta de privacidade e chegando ao fato de que muitos programas de estilo reality show beiram a banalidade e o ridículo.

Esse é meu primeiro grande elogio para a autora: ela traz realidade ao mundo dos romances do estilo Young Adult.
Ela faz ressurgir pitadas de sentimentos de rebeldia presentes em clássicos da Ficção Científica como 1984 (George Orwell), Fahrenheit 451 (Ray Bradbury), Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley), Laranja Mecânica (Anthony Burgess) e até mesmo O Planeta dos Macacos (Peirre Boulle) - todos distopias que criticam a sociedade das épocas em que foram escritos, de forma inteligente.
Embora Suzanne Collins não consiga atingir este mesmo patamar das obras citadas, ela tem a capacidade de alertar aos jovens mais observadores de que nem tudo está certo no mundo em que vivemos. Porém, imagino que a maioria não enxergue o livro de uma forma mais profunda, parando na diversão.
Estejam em alerta para as falsas ilusões criadas pelos governos, que utilizam eventos, festas e entretenimento para mascarar crises econômicas, precariedades dos serviços prestados a população. Isso então parece uma tradição no Brasil! No caso da autora, que é dos Estados Unidos, ela também faz uma crítica a militarização excessiva e a supremacia bélica de um país que invade, controla e destrói a nação que quiser.

Além de se basear nos gladiadores do Império Romano para as batalhas dos Jogos Vorazes, Suzanne também encontrou em outro lugar o envio obrigatório de uma menina e um menino aos Jogos Vorazes por cada um dos doze Distritos: a famosa história da Mitologia Grega de Teseu e o Minotauro. Neste mito, o Rei Minos faz o mesmo, enviando a cada nove anos como tributos sete moças e sete moços atenienses ao Labirinto do Minotauro em Creta, para serem devorados pelo monstro.

O segundo ponto positivo da autora: além do grande acerto na premissa, elogio a narrativa. O maior acerto está no livro ser todo contado em primeira pessoa, pela protagonista Katniss. Apesar de existirem mais vinte e três Tributos disputando os Jogos Vorazes, milhares de cidadãos de Pagem assistindo às cenas da transmissão, e as personagens que ficam de fora da competição, o ponto de vista é único e exclusivo da Katniss.
Não sabemos como o público está reagindo aos acontecimentos. Nem se Katniss está sendo avaliada positiva ou negativamente por cada um dos Distritos e pela Capital. Não imaginamos como sua mãe depressiva, sua irmã frágil ou seus amigos estão sofrendo ou torcendo vendo-a lutar pela própria vida. Desconhecemos se ela está conseguindo Patrocinadores para lhe enviarem alguma ajuda.
E o melhor: não sabemos como está a disputa, brigas e mortes entre os outros participantes. Katniss apenas sabe quem morreu no fim do dia. Ela nem sabe, por exemplo, o que está sendo mostrado dela. Será que agora existe uma câmera filmando o que ela está fazendo, como está reagindo? Será que algo mais importante está ocorrendo ao redor e ela nem imagina o que pode ser?
Esse suspense causa maior curiosidade e enorme tensão no leitor, que acompanha, torce e sofre com Katniss.

Acredito que o filme possua outro formato, que demonstre os fatos de forma mais abrangente, o que funciona melhor para esse tipo de mídia. Mas para um livro, onde a imaginação e o poder de dedução é o mais importante no ato de ler, Suzanne acertou 100% na escolha da narrativa e do ponto de vista. Como o livro é dividido em capítulos, temi por um breve instante que talvez alguns deles fossem contados sob outras visões, no entanto foi um alívio notar que apenas Katniss nos mostra os acontecimentos.

O terceiro grande acerto de Jogos Vorazes: a protagonista. Katniss é uma adolescente diferente da maioria dos Young Adult da moda. Ela é complexa. Foi obrigada a se tornar adulta antes da hora, mesmo para essa realidade distópica. Ela criou uma armadura grossa. Lembranças, sentimentos, medos e desejos estão trancafiados em sua mente e coração, enfraquecendo apenas vez ou outra quando tem pesadelos sobre o passado ou quando imagina faltar comida na mesa de casa.
Ela, praticamente, se viu obrigada a se tornar pai e mãe de sua irmã mais jovem, Prim. E é aí que a simpatia do leitor por ela começa, por isso ela vai para os Jogos Vorazes no lugar da irmã. Mas será que Katniss conseguirá manter essa proteção psicológica em meio à brutalidade dos jogos? Será que além de sofrer física e mentalmente ela terá de enfrentar a si mesma e deixar fluir seus sentimentos?
Admirei a personagens em diversos aspectos, no amor pela irmã e na garra, força e resistência em meio aos Jogos.
Gostei dela não ser uma mocinha romântica que sonha em encontrar o príncipe encantado para protegê-la e terem filhos. (apesar de existirem Gale e Peeta no cenário)
Sua meta na vida sempre foi e é a sua sobrevivência e a de sua família. E agora nos Jogos Vorazes, isso torna-se algo muito mais forte, pesado e doloroso. Ela não pode fraquejar perante as câmeras. Afinal, sua irmãzinha a assiste em casa.
Nasce uma líder revolucionária?

Desejo imensamente ler os outros dois volumes. Que raiva não tê-los aqui para devorá-los, estou tão curiosa! Pelo menos este primeiro, é super recomendado por mim.
Como não vejo um paraquedas enviado por Patrocinadores descendo em minha direção com Em Chamas e A Esperança dentro do pacote, esta leitura provavelmente terá de esperar eu mesma lutar pelos meus exemplares.

Queria também assistir ao filme, mas já saiu de cartaz na minha região. Terei de esperar sair em DVD.

Booktrailer:


Trailer do filme:
Não consegui nenhum no Youtube que permitisse incorporar o código a um blog ou site. Então clique aqui para ir ao Youtube assistir ao trailer do filme.


A série:
Mistura de ficção científica com reality show, passando pela mitologia e pela filosofia com muita ação e aventura, Jogos vorazes é o novo fenômeno da literatura jovem. A série é composta por três livros: Jogos Vorazes, Em Chamas e A Esperança.
Ambientado num futuro sombrio, Jogos vorazes é pioneiro de uma tendência que vem ganhando força no mercado de best sellers "Young Adult": a dos romances distópicos e pós-apocalípticos.

No primeiro volume de uma trilogia, o livro narra uma luta mortal encenada por crianças e transmitida ao vivo para todos os habitantes de uma nação construída sobre as ruínas de um lugar anteriormente conhecido como América do Norte. Com sua narrativa ágil e ousada, Jogos vorazes foi traduzido para mais de 30 idiomas e vem atraindo leitores de diversas faixas etárias.

Constituída por uma suntuosa Capital cercada de 12 distritos periféricos, a nação de Panem se ergueu após a destruição dos Estados Unidos. Como represália por um levante contra a capital, a cada ano os distritos são forçados a enviar um menino e uma menina entre 12 e 18 anos para participar dos Jogos Vorazes. As regras são simples: os 24 tributos, como são chamados os jovens, são levados a uma gigantesca arena e devem lutar entre si até só restar um sobrevivente. O Vitorioso, além da glória, leva grandes vantagens para o seu distrito.

A autora:
Suzanne Collins é escritora e roteirista de programas infantis, formada em escrita dramática pela New York University. Fez vários roteiros para a Nickelodeon. Entre 2003 e 2007, Suzanne escreveu os cinco livros da série de fantasia The Underland Chronicles.
Em 2008, lançou The Hunger Games, primeiro livro da trilogia homônima. A inspiração veio quando ela assistia TV: mudando de canal, viu um reality show que passava ao mesmo tempo em que outro canal transmitia cenas da Guerra do Iraque. Suzanne inseriu essa junção num contexto de mitologia grega e em suas noções de efeitos de guerra. Jogos Vorazes ganhou sua adaptação cinematográfica.
Site oficial.

14 comentários

  1. Sempre gosto de ler o livro antes de ver o filme também, Tatiana. Confesso que quando vi esse Boom de "Jogoz Vorazes" fiquei meio duvidando de sua qualidade, mas após ler algumas resenhas de pessoas em que confio mudei minha opinião, pode até ser que eu não goste, por questão individual, mas sei que essa é uma obra que merece ser lida. A sua resenha me deixou com ainda mais vontade de ler "Jogos Vorazes" xD Parabéns!

    Beijos!
    http://policialdabiblioteca.blogspot.com/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Eu gostei muito do livro, espero que goste também! Beijos.
      E quanto a comparar JV com Harry Potter ou Crepúsculo, literalmente falando, os 3 são completamente distintos!

      Excluir
  2. Oi Tati, muito boa a sua resenha para Jogos Vorazes, eu tb li o livro antes de assistir o filme e te digo que não me decepcionei, é muito bom!!!!! Adorei o filme tb, o que para mim é um grande avanço pois de todos, salvo o senhor dos anéis, eu sai meio decepcionada.
    Mas Jogos Vorazes foi muito bom!!!!
    Eu não costumo fazer comparaçoes de nada, e comparar HP. Crepúsculo e Jogos Vorazes, é complicado por varias razoes, mas o principal é que sao propostas diferentes e tb porque eu não gosto de Crepusculo rsrsrsrs então não é nada estranho eu ter achado JV mil vezes melhor, mas é claro que é só a minha opinão!
    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Realmente as adaptações cinematográficas costumam decepcionar os leitores... poucos filmes baseados em livros me agradaram, como Harry Potter e O Senhor dos Anéis são ótimos. O mesmo ocorre com os filmes de HQs, os fãs sempre reclamam dos detalhes.
      Também não gosto dos filmes de Crepúsculo, na verdade os acho péssimos, mas o volume um o li e achei mais ou menos.
      Estou bem curiosa com o filme de Jogos Vorazes. Quando sair em DVD correrei para assisti-lo.
      Beijos.

      Excluir
  3. Oi Tati! Adorei a resenha.=)
    Bjos, Analígia

    ResponderExcluir
  4. Oi Tatinda,

    Nossa, parabéns pela resenha simplemente MARAVILHOSA!
    Foi a resenha mais completa sobre Jogos Vorazes que eu já li!
    Tudo o que eu havia lido a respeito do livro até agora só fazia menção
    a imagem lúdica que o universo distópico desperta nas pessoas. Nada tão
    profundo e reflexivo quanto a sua resenha.
    Parabéns mesmo, adorei!
    Eu fiquei fã dessa série apesar de não ter nenhum dos livros físicos ainda, tive que recorrer ao e-book tamanha a minha curiosidade. Super recomendo, são livros ótimos! Uma trilogia 5 estrelas na minha opinião. Há, e assista o filme, também é ótimo (claro que quem leu o livro vai perceber algumas diferenças) mas, mesmo assim é um bom filme.
    Beijos

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Lindsay, você não sabe a satisfação em ler o seu comentário, estou muito feliz com seus elogios, muito mesmo! Ainda mais vendo o quanto você é fã da série! Obrigada imensamente por ler a resenha e comentar!! Um grande abraço!

      Excluir
  5. Já li tanta resenha desse livro mas a sua me cativou Tati, realmente a premissa de Jogos Vorazes é pra se pensar... Ainda não li, não sei quando vou ler, mas quero muito ler logo esse livro! xD
    Abraços!

    ResponderExcluir
  6. Ótima resenha, considero um dos melhores livros da atualidade, "sem fantasia" apenas a realidade.

    ResponderExcluir
  7. adorei a resenha, você situou coisas que antes não havia percebido no filme e no livro. parabens! :*
    @mundodoesmalte

    ResponderExcluir

Os comentários são moderados, portanto, aguarde aprovação.
Comentários considerados spams, agressivos ou preconceituosos não serão publicados, assim como os que contenham pirataria.
Caso tenha um blog, retribuirei seu comentário assim que possível.

Pesquise no blog

Parcerias