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Entrevista de Patricia Schultz, convidada desse último dia da Bienal

Em tempos de TripAdvisor, qualquer pessoa pode se achar um turista profissional. Ler e dar dicas de viagens e roteiro nunca foi tão fácil, mas isso não rebaixa o trabalho de pessoas como Patricia Schultz..A jornalista americana se tornou uma autoridade no mundo do turismo há duas décadas, desde que passou a assinar uma coluna no “The New York Times” e, principalmente, após escrever o livro “1.000 lugares para conhecer antes de morrer” (Editora Sextante).

A obra, que costuma ser confundida com a série literária caça-níquel de nome parecido ("1.001.."), destoa pela profundidade que Patricia destrincha sobre os lugares que visitou pelo mundo – e foram muitos. Boa de garfo e de copo, ela dá dicas sensoriais por onde passa e, às vezes, pessoais até demais. No capítulo sobre a Costa Amalfitana, na Itália, ela coloca de forma bem-humorada um certo pescador Sergio como “atração local”, por exemplo.

"1.000 lugares" rendeu um reality show de mesmo nome exibido no Brasil pelo canal fechado Discovery Travel & Living. A obra levou sete anos para ficar pronta e já foi traduzida em dezenas de idiomas. E ela é o motivo que fez a jornalista ser convidada para participar da 15ª Bienal do Livro no Rio. Neste domingo (11), Patricia conversa com o público a partir das 17h em uma mesa que leva o mesmo nome de seu best-seller.
Antes, enquanto ainda estava em Nova Guiné, ela tirou um tempo para conceder uma entrevista ao G1.

G1 - Quando viajar se tornou uma profissão?
Patricia Schultz - Eu estava morando em Florença após terminar a universidade em Washington, EUA. O amigo de um amigo que trabalhava em uma empresa de guia de livros em Nova York me perguntou se não estava interessada em fazer um capítulo sobre a Toscana no novo guia da Itália que estavam publicando. O texto do escritor que estava combinado antes estava imprestável, eles não tinham dinheiro para me pagar e precisavam de algo urgentemente. Eu não pude dizer não, eu até teria pago eles! Isso foi em 1985.

G1 - A senhora se recorda de suas experiências favoritas no Brasil?
PS - Eu me recordo de uma “expedição” no Pantanal. Senti como se estivesse na Amazônia ou na África: a vida selvagem era imensa e exótica. Lembro de jantarem longos e informais em pequenos restaurantes especializados em cozinha “minera” na sonolenta Tiradentes. De primorosos jantares em lugares como o D.O.M e o Fasano depois de um dia em São Paulo em que visitei museus de arte.
E jamais esquecerei de andar pelas ladeiras de Salvador, de ouvir as casas praticarem percussão e do aroma dos pequenos restaurantes que flutuava pelas ruas. Às vezes me sentia ali no oeste da África, em outras em Alfama, um distrito de Lisboa. Meu sonho é voltar para Salvador para um desses grandes festivais.

G1 - É verdade que pretende atualizar o capítulo sobre o Brasil?
PS - Sim, acredito que ainda em 2012.

G1 - O Brasil é um bom lugar para se visitar? O que costuma recomendar daqui a quem lhe pede dicas de viagem sobre nosso país?
PS - Claro que sim! Nos Estados Unidos, rebanhos de turistas vão de Nova York a San Fransico e perdem tudo o que há no meio deles. Em um país do tamanho do Brasil, eu imagino então muitos turistas vendo apenas o Rio e as Cataratas do Iguaçu.  Ver só esses dois lugares é uma vergonha, porque cidades e regiões como Ouro Preto, Angra dos Reis, Olinda e Fernando de Noronha ajustam a ilustrar a diversidade e a rica herança de seu país.

G1 - No capítulo de Positano, na Costa Amalfitana, a senhora cita um pescador local, chamado Sergio, entre as “atrações locais”. Houve romances durante a produção do livro que foram deixados de fora?
PS - Sergio é o homem mais simpático de Positano. Ele é casado com a minha melhor amiga da Austrália 20 anos atrás. Eles agora têm um filho lindo da mesma idade, que é tão bonito quanto o Sergio que conhecia há duas décadas. E, sim, eu tive alguns “romances” durante as minhas viagens, a maioria em meus sonhos. Nunca fiquei tempo suficiente em um lugar para que eles fossem reais. Com a exceção de Giovanni: ele foi o meu “grand amore” durante os cinco anos que vivi em Florença e, depois, durante os três anos que passei em Nova York. Encontrávamos-nos durante longas semanas em Viena, Paris, Roma, Istambul... Era como se estivesse vivendo em um filme!

G1 - A senhora costuma usar sites como o TripAdvisor? O que acha destas redes sociais em que qualquer viajante pode deixar sugestões de passeio?
PS - Sim, eu faço bastante pesquisa e sempre checo o TripAdvisor. Mas lá há muita coisa louca e muitas das análises são pobres e não me levam a lugar algum. Mas elas ajudam, por outro lado, a evitar quartos barulhentos de hotéis e coisas do tipo.

G1 - Como a senhora se prepara hoje antes de viajar para um novo lugar? É a mesma rotina de 20 anos atrás?
PS - Houve viagens recentes em que achei mais prático me inscrever em pacotes fechados, como um Safári na África ou a Trilha Inca. Sempre escolho grupos pequenos ou guias que realmente sejam especializados em determinada região. Se viajo sozinha, costumo procurar um guia turístico bastante experiente para o meu primeiro dia. Eu faço milhões de perguntas a ele e pego sugestões do que fazer nos meus dias restantes. É como ter um curso intensivo de um dia sobre uma cidade. Depois eu me viro sozinha. Geralmente eu não podia bancar esse tipo de viagem quando tinha 20 ou 30 anos, mas as experiências que tive naquela época não são menos especiais ou menos memoráveis.

G1 - A senhora concorda quando dizem que seu livro é glamoroso demais? Por exemplo, muitos hotéis recomendados ali são bastante caros
PS - Concordo! Muitos dos hotéis que recomendo são caros porque eles são históricos ou únicos. É especial passar um tempo neles, nem que seja apenas para ficar no lobby ou no bar tomando um chá ou comendo um aperitivo observando toda aquela atmosfera e história. Para o seu aniversário de 50 anos ou para o aniversário de casamento de 40 anos de seus pais, esses são o tipo de luxo que você deve se dar antes de morrer. Esse é o espírito do livro. Mas na nova versão eu coloquei um número maior de opções para orçamentos mais humanos.

G1 - Para finalizar, qual a melhor maneira de viajar?
PS - Eu, particularmente, gosto de uma mistura de tudo: ambientes modestos e familiares e, ocasionalmente, hotéis histórico, que tenham restaurantes especiais e bares por perto. Gosto de passar as manhãs em museus e passar as tardes flanando e me perdendo. Gosto de estar em grandes cidades, mas também das aventuras de estar em vilarejos e pequenas cidades. No final das contas, o viajante tem de reconhecer o que torna uma viagem especial para ele. Cultura? Vida selvagem? Comida? Daí é só seguir o que seu coração mandar.

Fonte: G1

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